Arquivo mensais:julho 2011

A Ressurreição de Machado

“Não sei o que deva pensar deste livro; ignoro sobretudo o que pensará dele o leitor. A benevolência com que foi recebido um volume de contos e novelas, que há dois anos publiquei, me animou a escrevê-lo. É um ensaio. Vai despretensiosamente às mãos da crítica e do público, que o tratarão com a justiça que merecer. (…) Não quis fazer um romance de costumes; tentei o esboço de uma situação e o contaste de dois caracteres; com esses simples elementos busquei o interesse do livro. A crítica decidirá se a obra corresponde ao intuito, e sobretudo se o operário tem jeito para ela. É o que lhe peço com o coração nas mãos.” (Machado de Assis no prólogo de Ressurreição

O recém lançado "Ressurreição" em edição comentada

 Ressurreição é o romance de estreia de Machado de Assis. Publicado originalmente em 1872, o livro que inaugurou uma nova fase do grande escritor agora chega à Coleção L&PM POCKET para completar a série de dez romances machadianos em edição anotada, com biografia do autor e panorama da vida cotidiana da época. Além de Ressurreição, os romances Dom CasmurroCasa Velha, Esaú e Jacó, Helena, Iaiá  Garcia, A mão e a luva, Memorial de Aires, Memórias Póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba apresentam notas e posfácios produzidos por especialistas – em Ressurreição elas são de Eliana Inge Pritsch. 

Neste romance curto, Machado apresenta as diferenças entre Félix, um bon-vivant, e Lívia, uma jovem e bela viúva. O amor que os une será posto à prova diversas vezes, num vai e vem de paixões perpassado pelo ciúme e por suspeitas de traição, tema que depois o escritor retomaria magistralmente em Dom Casmurro. 

Os dez romances de Machado de Assis publicados em pocket pela L&PM têm seu texto cotejado com a edição crítica do Instituto Nacional do Livro, estabelecida pela Comissão Machado de Assis. A coordenação deste projeto é de Luís Augusto Fischer que, na L&PM WebTV, apresenta um vídeo com a vida e obra do autor.  Vale a pena assistir.

O primeiro Grenal da história

Panfleto de divulgação do jogo

Há exatos 102 anos, num Domingo à tarde, acontecia aquele que daria origem ao maior de todos os clássicos futebolísticos do Rio Grande do Sul (e um dos grandes do Brasil). Em Porto Alegre, no campo do Moinhos de Vento, aconteceu o primeiro embate entre Sport-Club Internacional e Gremio Foot-Ball Porto-Alegrense. A batalha de estreia entre vermelhos e azuis acabou em goleada e deu início a uma rivalidade que completa mais de um século e que está contada em detalhes no livro A história dos Grenais. Escrito por David Coimbra, Nico Noronha, Mário Marcos de Souza e Carlos André Moreira, os autores dizem que “Pode-se até achar que esta rivalidade foi longe demais. Mas foram 100 anos a aquecer este caldeirão onde os líquidos não se misturam”. Leia um trecho do capítulo “Phrases pouco gentis”, cujo título é autoexplicativo:

(…) as páginas róseas do Correio do Povo de domingo, 18 de julho de 1909, advertiram, abaixo do texto de apresentação do jogo:

Somos obrigados, a fim de evitar factos desagradaveis, a aconselhar aos espectadores a que não se pronunciem, por ocasião do jogo, em favor de um ou de outro team. Ainda domingo ultimo, durante o torneio, deu-se, entre um dos juizes e um grupo de assistentes, lamentavel incidente, tendo os espectadores imprudentes ouvido phrases pouco gentis.

Achamos justo que se formem partidos sympathicos aos teams combatentes, porém que o enthusiasmo seja sempre moderado, para honra dos jogadores. Como se sabe, em todos os matches numerosa é a assistencia nos grounds, notando-se, entre ella, grande numero de senhoras e senhoritas, às quaes não se deve dar o desgosto de testemunhar discussões inconvenientes. Si fazemos esta pequena observação é porque desejamos ver o progresso do sport bretão, que está caindo no agrado da mocidade porto-alegrense.

(…)

Às duas da tarde, os footballers rubros saíram em bonde expresso da sede do club, na Avenida Redenção, em direção ao Moinhos de Vento. Uma hora e dez minutos depois, as duas equipes cruzaram lado a lado a roleta à margem do campo e entraram no gramado, precedidas pelos respectivos presidentes e pela banda da Brigada Militar. As 2 mil pessoas da assistência aplaudiram com entusiasmo. Os jogadores do Grêmio ostentavam fardamento estilo inglês, com camisas metade azul, metade branca, e calções pretos; os colorados, camisas listradas de vermelho e branco e calções brancos, à moda italiana. O árbitro foi Waldemar Bromberg, auxiliado por Castro Silva e Sommes (juízes de linha) e Theobaldo Förnges e Theodoro Bugs (juízes de gol). Os juízes de gol ficavam sentadinhos num banquinho ao lado das goleiras. Eram muito necessários por uma razão bem simples: as goleiras ainda não estavam equipadas com redes. Aí, qualquer chute que passasse próximo às traves originava a maior discussão: foi gol, não foi. Aos juízes de gol competia deliberar acerca dessas angustiantes polêmicas.

Às 15h25 “foi dado o signal de kick-off”, batendo na bola o center forward Booth, do Grêmio. Nos primeiros minutos, indecisão. O Grêmio estudava a força do adversário. Mas logo os “porto-alegrenses”, como eram chamados os gremistas, tomaram conta da partida. Aos dez minutos, Booth marcou o primeiro gol do jogo e da história do clássico Grenal. O goleiro do Inter, Poppe II, até então bem na partida, começou a dar sinais de nervosismo. Aos vinte ele tomou o segundo gol. O Grêmio faria um terceiro, anulado por off-side (impedimento). O primeiro tempo terminou em 2 x 0.

Naquela época, cada tempo durava quarenta minutos, às vezes só meia hora, com um intervalo de dez minutos. O primeiro Grenal teve dois tempos de quarenta minutos. O Grêmio voltou para o segundo período ainda mais empenhado em provar a sua superioridade. O Inter tentou dois ataques, mas, em ambas as vezes, a bola parou nas poças de lama do campo de defesa do Grêmio. Aos dez, quando os gremistas ampliaram para 3 x 0, os colorados mostravam-se cansados. Só os forwards Mendonça, Carvalho e Poppe I continuavam correndo. Foi uma tranquilidade para os bem treinados e experientes jogadores do Grêmio. Em trinta minutos, assinalaram sete gols. O jogo transcorreu todo no lado do campo do Internacional. Estava tão fácil que o goleiro Kallfelz e os beques Deppermann e Becker passaram vários minutos conversando com os torcedores à beira do gramado. No dia seguinte, o juiz Bromberg confessaria ter se cansado de dar a saída de jogo tantas vezes. Quando ele encerrou a partida, o placar estava em 10 x 0 para o Grêmio.

O campo foi invadido pela torcida, que carregou os jogadores do Grêmio sobre os ombros. Às seis da tarde, juízes, jogadores e dirigentes foram até a sede dos Atiradores Alemães, ao lado da Baixada, e lá beberam cerveja e bailaram até a madrugada. Os colorados brindaram e homenagearam os vencedores, como rezava a boa educação, e aproveitaram a festa.

Alguns, contudo, se deixaram abater pela humilhação do primeiro Grenal. Caso do presidente João Leopoldo Seferin. Aos poucos, desanimado, ele foi se afastando do clube, dedicando-se mais ao seu trabalho na Pharmacia Fischer. No final do ano, entregaria a presidência em definitivo para Henrique Poppe. O time passou três meses sem jogar, bem próximo do fechamento. O que não ocorreu devido à fibra de alguns bravos. Com destaque para dois, entre eles: o maragato gritão Antenor Lemos e o primeiro ídolo da torcida, Carlos Kluwe.

No dia seguinte, a chamada na capa de um dos jornais de Porto Alegre

Para conhecer um pouco mais sobre a megarrivalidade entre as torcidas de Grêmio e Intenacional, nossa dica é acompanhar a minissérie Gre-nal é Gre-nal (apenas 4 capítulos), veiculada pela RBS TV, que retransmite a TV Globo no Rio Grande do Sul. O roteiro foi escrito com base no livro A história dos Grenais, de onde foi extraído o trecho acima.

Autor de hoje: Jane Austen

Steventon, Inglaterra, 1775 – † Winchester, Inglaterra, 1817

Filha de um pastor anglicano, pertencente à aristocracia rural inglesa, encontrou, na experiência de viver em um presbitério, material suficiente para a criação de narrativas. Em sua obra, trata o cotidiano de pessoas comuns, contribuindo para dar ao romance inglês o primeiro impulso para a modernidade. Sua aguda percepção psicológica revela-se na ironia do estilo, dissimulado pela leveza da narrativa. Com temas de aparente trivialidade, criou romances de amor, construindo um mundo denso. Neles a ação, o senso cômico e a técnica do ofício oferecem um quadro de crítica social contrário à falsidade, à vulgaridade e à presunção. Sua obra mais conhecida, Orgulho e preconceito, mostra a superação das barreiras de diferença social, colocando em evidência o escasso poder de decisão concedido à mulher.

OBRAS PRINCIPAIS: Razão e sensibilidade, 1811; Orgulho e preconceito, 1813; Emma, 1816; A abadia de Northanger, 1817; Persuasão, 1818

JANE AUSTEN por Elizamari R. Becker

A permanência de Jane Austen junto ao público leitor pode ser explicada, em primeiro lugar, pela natureza de seu confronto com os romancistas de sua época, mostrando-se ela bastante sensível ao gosto literário em voga ao escrever A abadia de Northanger, no qual satiriza o romance gótico. Em segundo lugar, pelo caráter de modernidade conferido ao conjunto de sua obra, como resultado da escolha de temas que circulam em torno de pequenos núcleos de pessoas aparentemente comuns, em cenários também limitados, e que focalizam pequenos incidentes da vida cotidiana.

De natureza recatada, Jane Austen viveu uma vida pacata e sem grandes acontecimentos, o que lhe rendeu estudos biográficos que a apontam como contemplativa, devido à ambientação quase claustrofóbica de seus romances. Em razão disso, sua arte tem sido designada miniaturista. Suas personagens são provincianas de classe média, cuja maior preocupação parece girar em torno do casamento – casamento por amor, segurança financeira, status social –, tema que ela explora com uma ironia sutil e um humor refinado. Sua apurada visão acerca dos relacionamentos humanos, retratando com vivacidade a vida da classe média britânica do século XVIII, trouxe para sua obra de ficção uma sensível mudança na caracterização das personagens femininas. Suas heroínas são, apesar de sua condição social pouco confortável, fortes a ponto de não se sujeitarem ao que a sociedade delas espera, quando não travam uma luta íntima intensa contra os próprios sentimentos, como as heroínas em Emma e Orgulho e preconceito. Também não são belas, ou pelo menos não possuem a beleza frágil e enternecedora que a maioria das heroínas românticas normalmente exibem. Assim o são Elizabeth Bennet, de Orgulho e preconceito, cuja beleza é descrita como tolerável, e Catherine Morland, de A abadia de Northanger, descrita como “uma magricela de aparência desajeitada, pálida, de cabelos escuros escorridos e feições marcadas”.

Sandra M. Gilbert e Sandra Gubar, em seu The Madwoman in the Attic, logram aproximá-la a outras escritoras de sua época – tais como Charlotte e Emily Brontë, Mary Shelley, Emily Dickinson e outras – no maior desconforto de que compartilham: a angústia da autoria. Toda uma tradição literária que só concebia textos oriundos de uma autoria masculina e patriarcal forçou-a ao anonimato, mas não a impediu de criticar os danos causados às mulheres inseridas em uma cultura criada por homens e para homens. Esse poder econômico, social e político masculino vê-se representado em sua obra nas muitas dramatizações de como importa à sobrevivência da mulher saber angariar a aprovação e a proteção dos homens, bem como buscar aqueles que sejam mais sensíveis, embora permaneçam como representantes de toda a autoridade. Dessa forma, Austen soube representar como nenhuma outra escritora de sua época tanto o papel de subordinação da mulher na sociedade patriarcal, quanto suas restritas – ainda que existentes – ações no sentido de melhorar sua condição no cenário familiar e social.

Guia de Leitura – 100 autores que você precisa ler é um livro organizado por Léa Masina que faz parte da Coleção L&PM POCKET. Todo domingo,você conhecerá um desses 100 autores. Para melhor configurar a proposta de apresentar uma leitura nova de textos clássicos, Léa convidou intelectuais para escreverem uma lauda sobre cada um dos autores.

 

A sobremesa do inverno

Segundo Célia Ribeiro, autora do livro 100 receitas de sobremesa, de onde foi extraída esta iguaria, o pudim de queijo é a sobremesa perfeita para servir após uma deliciosa refeição com fondue. Perfeito para os dias frios de inverno, uma sobremesa charmosa e que deixará todos os convidados encantados.

PUDIM DE QUEIJO

Ingredientes:

700g de açúcar, 2 xícaras de água, 2 colheres de manteiga, 100g de queijo parmesão ralado, 12 ovos.
Rendimento: 8 porções

Como preparar:

Prepare a calda com o açúcar e a água , em ponto médio (108 graus) e, ainda quente, acrescente a ela a manteiga e o queijo ralado. Deixe esfriar e peneire. O queijo que sobrou na peneira junte novamente à calda.

À parte, misture os ovos e passe-os por peneira, uma ou duas vezes. Aos poucos, agregue os ovos na calda. Derrame a preparação em uma forma para pudim untada com manteiga. Leve ao forno moderado para assar; desenforme o doce depois de frio.

O creme peneirado do pudim deixa-o aveludado e o queijo que ficou na peneira forma uma deliciosa base crocante.

Sábado tem sempre uma “Receita do dia” vinda diretamente dos livros da Série Gastronomia L&PM.

17 formas de amar Neruda

A Barcarola, Cantos cerimoniais, Cem sonetos de amor, O coração amarelo, Crepusculário, Elegia, Jardim de inverno, Livro das perguntas, A Rosa Separada, Memorial de Isla Negra, Residência na Terra I, Residência na Terra II, Terceira residência, Últimos Poemas, As uvas e o vento, Defeitos escolhidos e 2000 (este último, dois livros em um volume). Mais do que 17 títulos que fazem parte da Coleção L&PM POCKET, estas são diferentes formas de descobrir, se encantar e amar Pablo Neruda.

Um dos mais importantes e influentes poetas de língua espanhola em todos os tempos, e Prêmio Nobel de Literatura 1971, o chileno Pablo Neruda  (1904-1973) deixou sua marca no século XX com uma poesia que pontificou na vanguarda das tendências literárias, além de reunir um lirismo genuíno e arrebatador, combinado com um profundo comprometimento com as causas sociais latino-americanas.

No início da década de 80, a L&PM Editores passou a publicar grande parte da obra poética de Neruda, até então desconhecida no Brasil. Na época, os leitores brasileiros tinham acesso apenas à sua biografia, “Confesso que vivi”, e à coletânea “Vinte poemas de amor e uma canção desesperada”. As edições da L&PM, a maioria delas bilígues, tiveram a colaboração de grandes tradutores brasileiros, como os poetas Paulo Mendes, Olga Savary, José Eduardo Degrazia, Luiz de Miranda, Geraldo Galvão Ferraz e Carlos Nejar. Foram publicados 16 livros de poemas, com destaque para a poesia social e aos poemas póstumos. Este grande conjunto significa mais da metade da obra poética de Neruda.

Quando recebeu o Prêmio Nobel de literatura, em 1971, Pablo Neruda proferiu um discurso que tornou-se célebre pela veemência e lirismo. Leia aqui.

Pablo Neruda recebendo o Nobel de Literatura em 1971

Smurfs: como tudo começou

Não há dúvidas de que Pierre Culliford – o Peyo, como é conhecido – é um contador de histórias de mão cheia, afinal as aventuras dos Smurfs marcaram gerações e continuam conquistando fãs por todo o mundo. A prova disso é a exposição “A vida e a obra de um contador de histórias maravilhosas“, recém inaugurada na França, com mais de 150 peças, entre desenhos originais, objetos, documentos e fotografias do criador dos Smurfs e diversos outros personagens como “Johan et Pirlouit”, “Benoît Brisefer”, “Poussy” e “Jacky et Célestin”.

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E por falar nas criaturinhas azuis, você conhece O Smurf Repórter? É a primeira história de Peyo publicada pela L&PM. E vem aí, também, O bebê Smurf.

Woody Allen, câmera, ação!

O cara de camisa azul e calça bege da foto abaixo é ninguém mais, ninguém menos do que Woody Allen. O diretor foi clicado hoje no centro de Roma durante as filmagens de seu novo filme, Bop Decameron. Note que os inseparáveis óculos de aro preto não fazem parte da cena. Provavelmente porque, naquele momento, Woody usava outras lentes: as da câmera.

Woody Allen iniciou as filmagens de Bop Decameron no último domingo, dia 11 de julho. O diretor fará novamente parte do seu próprio elenco e atuará ao lado de nomes como Ellen Page (de “Juno”), Jesse Eisenberg (de “A Rede Social”), Alec Baldwin, Penélope Cruz e os italianos Roberto Benigni e Ornella Muti. Já estamos curiosos para conferir o resultado. Por enquanto, veja as primeiras fotos das gravações.

As viagens amorosas de Bocage

Manuel Maria Barbosa du Bocage gostava de uma boa sacanagem. Mas não gostava só disto. Como bem coloca a doutora em literatura Jane Tutikian no prefácio de O delírio amoroso e outros poemas, “Se é possível falar em um homem entre fronteiras, esse homem é Bocage: o das anedotas sujas e criações obscenas ao lado de poemas sensíveis, plenos de confissões amorosas, amargura e sofrimento, e mais: um homem situado entre dois mundos, entre as regras rígidas de um Arcadismo decadente, refletindo um mundo racional, ordenado e concreto, e a liberdade de um Romantismo descendente, quando a literatura se abre à individualidade e à renovação. Bocage é um homem do seu tempo e à frente do seu tempo.”

Pois durante o tempo em que viveu, Bocage mostrou ser apaixonado pela vida, pelas palavras e, claro, pelas mulheres. E foi justamente porque uma delas partiu-lhe o coração que ele deixou sua Portugal natal para aventurar-se por mares distantes. Em 1786, Bocage embarcou rumo à Índia no navio “Nossa Senhora da Vida, Santo Antônio e Madalena” e levou no coração sua namorada Gertrudes, a Gertrúria de Arcádia, responsável por dar um toque a mais de amor e amargura a seus poemas – já que ela acabou trocando o poeta por seu irmão Gil. No caminho para a Índia, entretanto, uma tormenta obrigou a nau em que ele viajava a fazer uma escala no Rio de Janeiro. Lá, Bocage foi recebido pelo governador Luís de Vasconcelos e ficou alguns dias aproveitando as terras tropicais até partir novamente para Goa, onde acabaria vivendo por 28 meses. Se o Rio de Janeiro inspirou Bocage a criar algumas de suas piadas picantes e versos libidinosos, não sabemos. Mas é difícil pensar que a cidade carioca não o tenha  encantado. 

Abaixo, um dos poemas dedicados à Gertrúria, que está em O delírio amoroso e outros poemas, livro que acaba de ser reeditado na Coleção L&PM POCKET com nova capa, feita a partir de uma foto de Ivan Pinheiro Machado de “Psyché ranimée par le baiser de l´Amor”, escultura de Antonio Canova que está exposta no museu do Louvre em Paris.

RECORDANDO-SE DA INCONSTÂNCIA DE GERTÚRIA

Da pérfida Gertúria o juramento
Parece-me que estou inda escutando.
E que inda ao som da voz suave e brando
Encolhe as asas, de encantado, o vento:

No vasto, infatigável pensamento
Os mimos da perjura estou notando…
Eis Amor, eis as Graças festejando
Dos ternos votos o feliz momento.

Mas ah!… Da minha rápida alegria
Para que acendes mais as vivas cores,
Lisonjeiro pincel da fantasia?

Basta, cega paixão, loucos amores;
Esqueçam-se os prazeres de algum dia,
Tão belos, tão duráveis como as flores.

“A Revolução Francesa”: um livro para entender o 14 de julho

Por Ivan Pinheiro Machado

Hoje é 14 de julho. Data emblemática da história da humanidade. Neste dia, há 222 anos, um grupo de cidadãos parisienses inconformados com a fome e a monarquia invadiu aquela que era o símbolo do autoritarismo político daqueles tempos: a prisão da Bastilha. Em poucas horas estava revoltada a cidade de Paris e a enorme fortaleza foi incendiada, simbolizando o começo de novos tempos. A Queda da Bastilha é considerado o acontecimento mais importante da história ocidental. Ele retoma o conceito de liberdade e democracia e, se foi turbulento nos seus primeiros anos, o processo revolucionário francês mostrou à humanidade um novo caminho a seguir, com a valorização do homem sobre todas as coisas.

As 694 páginas que compõe os dois volumes de Revolução Francesa, de Max Gallo, são um marco na imensa historiografia disponível sobre o movimento político e revolucionário mais importante dos tempos modernos.

No primeiro volume, O Povo e o rei – 1774 -1793, Gallo compõe o retrato da França pré-revolucionária, esculpe com rara habilidade as causas e o ambiente social que propiciou a revolta de 1789 e, sobretudo, concentra-se na figura patética de Luís XVI e os “luíses” que o precederam, Luís XIV e Luís XV. Ainda neste primeiro volume, ele narra a Queda da Bastilha e, em seguida, a “febre revolucionária” que tomou conta da França.

O leitor acompanha, como numa reportagem, um filme ou um folhetim, a agonia do prestígio do rei e da monarquia, que culmina na manhã gelada de 21 de janeiro de 1793 quando Luís XVI sobe ao cadafalso para ser guilhotinado. Aí então, como Gallo diz, “seu corpo será cortado em dois, e assim será separado o corpo do rei do da nação”. Ou seja, o rei não morreria pela vontade do povo, mas a recém proclamada República ainda era frágil e era preciso “matar” a monarquia que o bom e exitante Luís XVI representava.

Queremos!

Este é o grito que atravessa a inflamada noite de 13 para 14 de julho de 1789. Na aurora já sufocante, bandos correm às ruas. Os homens vão armados de ganchos, lanças, fuzis. Alguns estão “quase nus”. “Vil populacho” murmuram os burgueses.

Grupos se formam diante das portas das casas abastadas, dos inimigos da nação e, portanto, do Terceiro Estado.

Exige-se que as portas sejam abertas:

– Queremos bebida, comida, dinheiro, armas.

À noite, são pilhados os depósitos de armas e armaduras de coleção. Brandem-se sabres, facões, lanças.

Mas o que querem são armas de guerra.

(Revolução Francesa Vol. I, Max Gallo – Trecho que abre o capítulo 16)

Massacre du marquis de Pellepont, le 14 juillet 1789 - La Bastille - Musée Carnavalet

De Max Gallo, a L&PM também publica A Revolução Francesa Vol. 2 – Às armas, cidadãos (1793-1799). Leia uma entrevista exclusiva com o autor.

O trailer do novo filme de Sherlock Holmes finalmente sai das sombras

Quem aguarda ansiosamente (como nós!) a estreia do novo filme de Guy Ritchie sobre o detetive mais famoso da literatura já pode se deliciar com o trailer oficial de Sherlock Holmes – A Game of Shadows, que traz mais uma vez Robert Downey Jr. no papel de Sherlock,  Jude Law como Watson e Rachel McAdamns como a provocante Irene Adler. A novidade agora é que o filme apresenta também o inimigo oficial de Holmes, o vilão Professor Moriarty, vivido por  Jared Harris.

Sherlock Holmes – A Game of Shadow tem estreia prevista para dezembro. Falando nisso, você já viu os cartazes oficiais do filme divulgados no início da semana? Tudo indica que a espera até o fim do ano vai valer a pena.