“O mulato” sobe ao palco em São Luís

A peça adaptada do romance homônimo de Aluísio Azevedo terá sessão aberta ao público às 20h de hoje, 4 de setembro. O espetáculo, que faz parte das comemorações dos 400 anos de São Luís e conta com o apoio da L&PM Editores, tem direção de Ivaldo Cantanhede Junior e traz no elenco Felipe Correa, Carla Pocina, Raphael Brito e Leônidas Portela. A montagem foi premiada no Edital “São Luís em Cena” da Secretária de Estado da Cultura/MA.

Aluísio Azevedo, autor de O mulato, nasceu no Maranhão em 1857 e é considerado um dos introdutores do romance naturalista no Brasil. Nesta história, ele aborda a questão do preconceito racial através do protagonista deste grande romance, o dr. Raimundo José da Silva, um atraente e culto mestiço de olhos azuis que afronta a sociedade maranhense ao não perceber sua condição racial.

Quem for prestigiar a montagem, concorrerá a exemplares de O mulato da Coleção L&PM Pocket no final.

Serviço:

Espetáculo “O mulato”
Dia 4 de setembro, às 20h
Teatro Arthur Azevedo
Entrada franca

Georges Simenon, o escritor que amava as mulheres

Quantas mulheres terão chorado a morte do escritor Georges Simenon, ocorrida em 04 de setembro de 1989 aos 86 anos?  Isso porque, segundo ele mesmo revelou em uma entrevista concedida ao italiano Roberto Gervaso – publicada na íntegra pela Revista Oitenta, editada pela L&PM em 1984 –  seu número de conquistas girava em torno de dez mil:

Quantas mulheres você conheceu biblicamente?
SIMENON – Falaram em dez mil.

E você, o que diz?
SIMENON – Talvez uma a mais, ou uma a menos.

Profissionais ou amadoras?
SIMENON – Muitas jovens atrizes e bailarinas.

Georges Simenon e Betta St. John in Cannes no ano de 1957

Entre as paixões de Simenon, esteve a famosa atriz, cantora e dançarina negra Josephine Baker. Na mesma entrevista, Gervaso pergunta sobre ela:

Você esteve verdadeiramente apaixonado por Josephine Baker?
SIMENON – Eu tinha 22 anos, inexperiente, desconhecido, e ela era ultracélebre. Mas foi uma relação brevíssima.

Como acabou?
SIMENON – Num certo momento, fugi para uma ilha.

Por quê?
SIMENON – Não queria me tornar o sr. Baker.

O jovem Simenon divertindo-se com as caretas de Josephine Baker

Simenon em nada lembrava seu mais célebre personagem, o comissário Jules Maigret. Bem-comportado e fiel à sua esposa, Maigret  pulou a cerca apenas uma vez e só teria feito isso para conseguir uma informação importante de uma prostituta. Já Simenon era um infiel inveterado, como ele também contou a Gervaso:  

Quando o ciúme impede o adultério?
SIMENON – Casei em primeiras núpcias com uma mulher ciumentíssima, que, depois do primeiro dia de casados, ou da primeira noite, não recordo, ameaçou de se suicidar se algum dia eu a traísse.

E você?
SIMENON – Eu a traí escondido durante vinte anos, odiando-a.

Odiando-a?
SIMENON – Sim, porque não há nada mais humilhante, mais ofensivo à nossa dignidade do que a coerção à mentira.

Nos 23 anos da morte de Georges Simenon, vale a pena ler a entrevista na íntegra que está à disposição no site da L&PM. Clique aqui e divirta-se!

Com mais de 80 anos, Simenon continuava com cara de sedutor

A Coleção L&PM Pocket publica mais de 40 livros com histórias do comissário Maigret, criadas por Georges Simenon.

Uma ponta de Bukowski

Você já assisitiu ao filme Barfly? Lançado em 1987, ele tem roteiro de Charles Bukowski, feito a partir de uma encomenda do diretor francês Barbet Schroeder. Na verdade, ele é exatamente como os livros do velho Buk e tem como personagem principal seu alter-ego Henry Chinaski que, em Barfly é vivido por um Mickey Rourke ainda com cara de gente.  A partir do roteiro do filme, Bukowski escreveu o livro Hollywood (Coleção L&PM Pocket), em que narra a história de um escritor que ganha um bom dinheiro para escrever um roteiro para o cinema. Qualquer semelhança com a realidade, não é mera coincidência.

Charles Bukowski entre os atores Faye Dunaway e Mickey Rourke

Bukowski não apenas acompanhou a filmagem de várias cenas, como participou de uma delas. Melhor do que contarmos, é você mesmo ver. Ele aparece em uma ponta no início da cena em um bar, em que Mickey Rourke contracena com Faye Dunaway. É apenas uma ponta, mas os olhares do escritor (ou a falta deles) são memoráveis.

Morre Universindo Díaz, um dos uruguaios sequestrados na Operação Condor

O nome do historiador uruguaio Universindo Díaz pode não soar familiar para a maioria dos brasileiros que nasceu no pós ditadura. Mas, hoje, um dia após sua morte, ele merece ser lembrado por todos. Díaz faz parte da história de um tempo infeliz em que o governo militar punia os discordantes com tortura, desaparecimento e morte. Faleceu no domingo, 02 de setembro, aos 60 anos, vítima de câncer. Mas seu nome continuará vivo graças ao livro Operação Condor: o sequestro dos uruguaios, de Luiz Cláudio Cunha. Lançado em 2008 pela L&PM Editores, a obra conta a história do sequestro de Universindo Díaz e da também uruguaia Lílian Celiberti, ocorrido em Porto Alegre no ano de 1978 em uma ação dos órgãos de repressão do Uruguai e do Brasil na sinistra Operação Condor fundada em 1975 no Chile de Pinochet.

Fotos de Universindo e Lílian em 1978

O jornal Zero Hora, em matéria publicada hoje, 3 de outubro, explica o que veio a ser essa operação cujo nome, Condor, fazia referência à típica ave dos Andes, famosa pela astúcia na caça às suas presas.

Morre Universindo Díaz, um dos uruguaios

Sobrevivente da ditadura uruguaia, pela qual foi sequestrado em Porto Alegre em 1978 durante uma operação conjunta com forças brasileiras, sendo barbaramente torturado, o historiador Universindo Rodríguez Díaz, 60 anos, morreu neste domingo em Montevidéu  após uma luta de seis meses contra um câncer na medula.

Universindo deixa o filho, Carlos Iván Rodríguez Trías, e a ex-mulher Ivonne Trías, que cuidavam dele durante a doença.

Mesmo após ter identificado o câncer em janeiro passado, o historiador mantinha intactos seus planos de publicação de livros e criação de documentários. Com a abertura dos arquivos da repressão uruguaia, procurava por informações sobre as vítimas da ditadura, na incansável tarefa de resgatar a história dessa época sombria no Uruguai e nos países vizinhos.

— O que ele não previa era morrer — diz o amigo Jair Krischke, do Movimento de Justiça e Direitos Humanos.

Krischke esteve pela última vez com Universindo no início de julho, em Montevidéu. Na época, o uruguaio estava bem e falou de seus projetos. A recaída fatal ocorreu no último sábado. Krischke recebeu um e-mail da ex-mulher do historiador que o prevenia sobre o que poderia acontecer em seguida. Universindo passara por um transplante de medula e estava com nível zero de glóbulos brancos no sangue.

Mesmo torturado ao longo dos cinco anos em que passou preso, Universindo não demonstrava revolta. Entrou com um processo contra seus algozes ainda durante a ditadura. A ação foi bloqueada pela anistia uruguaia, mas o atual presidente, José “Pepe” Mujica, permitiu a reabertura das 80 investigações sobre crimes no período de exceção. Um deles é o de Universindo e sua companheira do Partido por la Victoria del Pueblo (PVP), Lílian Celiberti, também sequestrada em Porto Alegre, ao lado dos filhos dela, então com três e oito anos.

— Universindo não tinha mágoas. Estava de bem com a vida, era apaixonado pela sua profissão. O Uruguai perdeu um filho ilustre, um homem bom que honrou a tradição charrua de não se entregar — afirmou Krischke.

O sequestro

Porto Alegre entrou na rota da Operação Condor em 17 de novembro de 1978, quando se consumou o sequestro dos uruguaios Lílian Celiberti e Universindo Díaz. Perseguidos pela ditadura militar do Uruguai, os dois tentavam se esconder num apartamento da Rua Botafogo, no bairro Menino Deus. Foram capturados por policiais gaúchos, chefiados pelo delegado Pedro Seelig, e agentes uruguaios que tiveram permissão para entrar no território brasileiro.

À época, não se imaginava que o seqüestro era uma típica ação da Condor — a aliança secreta criada pelas ditaduras da Argentina, do Chile, do Brasil, do Uruguai e do Paraguai para caçar opositores políticos além das fronteiras. Cogitou-se que fosse somente uma cooperação eventual entre o Departamento de Ordem Política e Social (Dops) e a Companhia de Contrainformações do exército uruguaio. Não era.

Lílian e Universindo foram interrogados e torturados na Capital gaúcha, sofrendo a primeira etapa do ritual Condor. Enfrentaram a segunda fase, o traslado até os calabouços do Uruguai. Escaparam da provável solução final — a morte e o desaparecimento nas águas do Oceano Atlântico ou do Rio da Prata — graças ao repórter Luiz Cláudio Cunha e ao fotógrafo J. B. Scalco, que descobriram e denunciaram o crime nas páginas da revista Veja.

A operação Condor

O que foi
Organizada no final de 1975, em Santiago do Chile, a Operação Condor sistematizou as cooperações eventuais já existentes entre as ditaduras do Cone Sul. O general Augusto Pinochet entendia que os governos fardados deveriam agir de forma articulada contra o que julgava ser a “ameaça internacional do comunismo”. Agindo além das fronteiras, a Condor assassinou um ex-presidente de República (o boliviano Juan José Torres), dois parlamentares uruguaios (Zelmar Michelini e Héctor Gutiérrez Ruiz), um general e ex-ministro (o chileno Carlos Prats), um ex-chanceler (o chileno Orlando Letelier) e centenas de opositores políticos.

Países participantes
Principalmente Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai, Chile e Bolívia.

Objetivo
Neutralizar os grupos guerrilheiros de esquerda opositores aos regimes militares de direita, tais como Tupamaros (Uruguai), Montoneros (Argentina) e MIR (Chile).

Estratégia
Unificar esforços de todos os aparatos repressivos para combater os focos de resistência.

Papel dos EUA
Tinha conhecimento, conforme demonstram documentos secretos divulgados pelo Departamento de Estado em 2001

Por que Condor
Porque é a ave típica dos Andes, famosa pela sua astúcia na caça as suas presas.

Quando ocorreu
Iniciou-se na primeira metade dos anos 70 e terminou em meados dos anos 80.
Chega a 100 mil o número de mortos e desaparecidos no continente

Os 72 anos de Eduardo Galeano

Há exatos 72 anos, em 3 de setembro de 1940, nascia Eduardo Galeano. Veio ao mundo na capital uruguaia de Montevidéu, onde voltou a viver depois de anos de exílio. Galeano jornalista, escritor, historiador, poeta. Galeano da memória do fogo, das pernas pro ar, das palavras andantes, dos abraços, das mulheres, dos espelhos, do futebol, dos dias e noites de anos e de guerras. Galeano que é pai do recém nascido Os filhos dos dias. Galeano das veias, sorriso e peito aberto.

Galeano nasceu em plena Segunda Guerra Mundial. E no recém lançado Os filhos dos dias, o texto dedicado a 3 de setembro fala exatamente sobre isso.

Os candidatos de Angeli

Angeli, o criador de Rê Bordosa, Walter Ego, Bob Cuspe e Os Skrotinhos nasceu em 31 de agosto de 1956.  E como estamos em época de horário eleitoral gratuito, vale dar uma olhada em alguns dos candidatos criados pelo grande chargista. Saídos diretamente do livro E agora são cinzas.  

A folha em branco

Tudo começa com uma folha – ou uma tela – em branco. É ali que um escritor deposita o fruto de sua imaginação, de sua observação, de suas ideias. O branco que precisa ser preenchido e dominado. Jean-Paul Sartre inicia o livro A imaginação falando nela, a temida folha em branco. Nessa obra, escrita no início da sua carreira de pensador, Sartre propõe uma teoria única para analisar a imaginação, observando de que maneira os grandes filósofos como Descartes, Leibniz, Hume e Spinoza pensaram o assunto. A imaginação está entre as reedições importantes que acabam de chegar. Para quem quer ir fundo na análise da imagem, é um prato cheio. Ou melhor: um livro cheio.     

Olho esta folha em branco colocada sobre minha mesa; percebo sua forma, sua cor, sua posição. Essas diferentes qualidades têm características comuns: em primeiro lugar, elas se oferecem ao meu olhar como existências que posso apenas constatar e cujo ser não depende de modo algum do meu capricho. Elas são para mim, não são eu.  (…) De nada serve discutir se essa folha se reduz a um conjunto de representações ou se ela é e deve ser algo mais. O certo é que o branco que constato não é minha espontaneidade que pode produzi-lo. Essa forma inerte, que está aquém de todas as espontaneidades conscientes, que deve ser observada, aprendida aos poucos, é o que chamamos uma coisa. (Sartre em A imaginação, tradução de Paulo Neves)

As muitas faces do monstro de Frankenstein

Foi em 1910 que os Estúdios Edison lançaram o primeiro filme com a história de Frankenstein de Mary Shelley. Escrito e dirigido por J. Searle Dawley tinha os atores Augustus Phillips como Dr. Frankenstein, Charles Ogle como o monstro e Mary Fuller como a noiva do doutor.

Depois dele, muitos outros filmes vieram com atores que ficaram célebres pelas cicatrizes no rosto, a testa enorme e os pinos no pescoço. Aliás, qual dos m0nstros seria o mais parecido com o que Mary Shelley imaginou? Veja algumas abaixo e vote no seu prerido.

Boris Karloff no filme de 1931

Bela Lugosi em 1943

Glenn Strange em 1944

Cristopher Lee em 1957

Peter Boyle em 1974

Robert de Niro em 1994

Mary Shelley, a escritora que criou Frankenstein aos 19 anos nasceu em 30 de agosto de 1797. Seu célebre livro é publicado na Coleção L&PM Pocket e na Série Ouro.

Mary Shelley e sua visão

No ano de 1816, conhecido como “o Ano sem Verão”, a jovem Mary Wollstonecraft Godwin, então com apenas dezenove anos, hospedou-se às margens do Lago Léman, na Villa Deodati, a convite de Lord Byron. Também integravam a companhia John Polidori, médico pessoal de Byron e escritor e Percy Bysshe Shelley, com quem Mary viria a se casar no mesmo ano. Reunidos no pé da lareira para fugir do frio e da chuva fora de época, os amigos passavam o tempo lendo histórias de fantasmas, até que Byron sugeriu que cada um escrevesse uma história baseada em algum evento sobrenatural. Mal sabia o lorde inglês que esta prosaica sugestão acabaria dando ensejo a uma das ocasiões mais célebres da história da literatura. Dia após dia perguntavam a Mary Godwin se havia pensado em uma história; dia após dia a resposta era uma negativa. Até que, certa noite, a autora teve uma visão:

Depois de repousar a cabeça no travesseiro, não dormi, nem se poderia dizer que eu estivesse pensando. A minha imaginação, agindo por vontade própria, possuiu-me e guiou-me, conferindo sucessivas imagens que surgiram na minha mente uma vividez muito além dos limites ordinários da fantasia. Eu vi – os olhos fechados, mas com uma visão mental precisa -, eu vi o pálido estudante das artes profanas de joelhos ao lado da coisa que havia montado. Vi o odioso espectro de um homem estendido, que então, sob a influência de algum móvel poderoso, deu sinais de vida e agitou-se com movimentos canhestros, dotados de uma espécie de semivida.

Logo o tempo melhorou e o grupo foi passear nos Alpes – porém Mary, obcecada pela ideia do monstro e graças ao incentivo e ao apoio de Shelley, saguiu lapidando o texto que culminaria no romance Frankenstein, finalmente publicado em 1818.

Trecho de Breve esboço sobre a vida literária dos monstros, texto de Guilherme da Silva Braga que abre o livro Clássicos do Horror da Série Ouro L&PM e que traz, no mesmo volume, Frankenstein, Drácula e O médico e o monstro, títulos que também são publicados na Coleção L&PM Pocket.

Charlie Parker e a grande influência na escrita de Kerouac

Quando Charlie Parker surgiu, no início dos anos 1940, apresentando-se no Minton’s Playhouse, andar térreo do Cecil Hotel, no Harlem novaiorquino, Jack Kerouac estava lá, testemunha ocular e auditiva dessa revolução sonora chamada bebop. Kerouac absorveu a novidade e, ao contrário de alguns que se sentiram confusos, ele imediatamente entendeu o que acontecia ali. Não só compreendeu como percebeu que a literatura poderia ter esse ritmo. Segundo Kerouac, o poeta, da mesma forma que o escritor, deveria escrever como quem sopra um sax, sendo que o texto deveria ser elaborado como a trama de um longo solo improvisado e sincopado.

Charlie Parker em ação. O criador do estilo “be bop” seria a grande influência no estilo literário de Jack Kerouac

O autor de On the road foi fiel ao jazz até o fim. E fez de Charlie Parker sua principal e eterna fonte de inspiração. Não apenas pelos acordes musicais, mas também pela intensidade emocional. Poucos meses depois da morte de Parker, no verão de 1955, Kerouac compôs uma série de 242 refrões imitando a forma de construção musical do sax alto, que deu origem à Mexico City Blues, de 1959.

Na trilha sonora do filme Na Estrada / On the Road, como não poderia deixar de ser, há duas músicas de Charlie Parker, Ko-Ko e Salt Peanuts, esta última uma parceria dele com Dizzy Gillespie, outra lenda do jazz. Ouça as duas músicas aqui:

Nascido em 29 de agosto de 1920, este gênio do jazz foi  um pássaro que planou bem acima da técnica e cuja vida meteórica e caótica foi contada no filme “Bird”, de 1988, dirigido por Clint Eastwood.