Os bonecos escritores

Oscar Wilde, célebre, respeitado e excêntrico escritor ficou famoso não só por suas peças de comédia e ironia, mas também por usar roupas sempre muito diferentes das usadas no seu tempo. O Oscar Wilde Action Figure é um boneco que dá vida ao grande dramaturgo inglês e, é claro, vem vestido à caráter.  Além de Wilde, outros escritores como  Edgar Allan Poe, Jane Austen, Arthur Conan Doyle e Freud fazem parte da coleção. Veja outros personagens aqui.

Lendo Walden

Por Denise Bottmann*

Dizem que Thoreau fez três coisas quando morava em Walden: escreveu Uma semana nos rios Concord e Merrimack, foi preso por não ter pagado o imposto do município e escreveu muitas notas que vieram a fazer parte de sua obra mais famosa, Walden.

Já comentei que a leitura de Walden às vezes pode ser opaca, embora todas as pistas estejam lá. É o caso de uma passagem belíssima, onde se mesclam ironias, coloquialismos, metáforas, repetições, jogos de palavras e outras figuras de estilo, misturam-se planos temporais, fazem-se digressões de caráter geral e apenas insinua-se o sentido:

Não faz muito tempo, um índio andarilho foi vender cestos na casa de um famoso advogado de minha vizinhança. “Querem comprar cestos?”, perguntou ele. “Não, não queremos”, foi a resposta. “O quê!”, exclamou o índio ao sair pelo portão, “querem nos matar de fome?” Tendo visto seus industriosos vizinhos brancos tão bem de vida – que bastava o advogado tecer argumentos e, por algum passe de mágica, logo se seguiam a riqueza e a posição –, ele falou consigo mesmo: vou montar um negócio; vou tecer cestos; é uma coisa que sei fazer. Pensando que, feitos os cestos, estava feita sua parte, agora caberia ao homem branco comprá-los. Ele não tinha descoberto que precisava fazer com que valesse a pena, para o outro, comprá-los, ou pelo menos fazê-lo pensar que valia, ou fazer alguma outra coisa que, para ele, valesse a pena comprar. Eu também tinha tecido uma espécie de cesto de tessitura delicada, mas não tinha feito com que valesse a pena, para ninguém, comprá-los. Mas nem por isso, em meu caso, deixei de pensar que valia a pena tecê-los e, em vez de estudar como fazer com que valesse a pena para os outros comprar meus cestos, preferi estudar como evitar a necessidade de vendê-los. A vida que os homens louvam e consideram bem-sucedida é apenas um tipo de vida. Por que havemos de exagerar só um tipo de vida em detrimento dos demais?

Vendo que meus concidadãos não pareciam dispostos a me oferecer nenhuma sala no tribunal de justiça ou nenhum curato ou sinecura em qualquer outro lugar, mas que eu teria de me arranjar sozinho, passei a me dedicar em caráter mais exclusivo do que nunca às matas, onde eu era mais conhecido. Decidi montar logo meu negócio, em vez de esperar até conseguir o capital habitual, usando os magros recursos que eu já tinha. Meu objetivo ao ir para o lago Walden não era viver barato nem viver caro, e sim dar andamento a alguns negócios privados com o mínimo possível de obstáculos; mais do que triste, parecia-me tolo ter de adiá-los somente por falta de um pouco de siso, um pouco de tino empresarial e comercial.

A que “negócios privados” Thoreau queria dar andamento ao se mudar para Walden? E que “cesto de tessitura delicada” seria aquele para o qual não conseguiu compradores?

Por muitos anos Thoreau alimentou a vontade de ir morar sozinho na mata, e vários elementos se compuseram para que decidisse ir para Walden. A oportunidade propícia surgiu quando Emerson comprou uma propriedade no local. O poeta Ellery Channing, conhecendo os anseios do amigo Thoreau, sugeriu que se instalasse lá. Thoreau combinou com Emerson, e assim foi.

Mas uma das ideias que por anos vinham ocupando seu espírito era fazer uma homenagem à memória ao irmão, falecido em idade prematura em 1842, e escrever um livro narrando a excursão que ambos tinham feito em 1839, percorrendo os rios Concord e Merrimack. Morando em Concord, não tinha o vagar e a liberdade mental de que precisava para escrever a obra. Estes eram os “negócios privados” (ou assuntos particulares) a que queria dar andamento “com o mínimo de obstáculos”.

Tendo efetivamente escrito A Week on the Concord and Merrimack Rivers durante sua permanência em Walden, o livro foi publicado em 1849. Nos anos em que refletiu sobre a experiência em Walden e reelaborou essas reflexões ao longo de cinco a sete versões diferentes de Walden (que viria a ser publicado em 1854), Thoreau pôde conhecer a fortuna do tributo que fizera ao irmão: um fracasso de vendas – duzentos exemplares vendidos em quatro anos… Diga-se de passagem que apenas em décadas recentes tem-se reconhecido a finíssima lavra de A Week: até então, era tida como obra canhestra e desconjuntada.

Assim se entende qual era o cesto de delicada tessitura que ninguém se interessara em comprar… Notem-se os movimentos temporais: o parágrafo inicial é uma reflexão posterior ao relato apresentado no parágrafo seguinte; dentro do inicial, há também uma sutil circunvolução: o episódio do índio funciona como uma espécie de justificativa a posteriori de sua decisão em adotar uma forma de vida que lhe permitisse tecer seus textos/cestos em paz, sem a premência de vendê-los. Vivendo em Walden, pôde construir uma narrativa com trama de singular e complexo lirismo, que demandaria mais de cem anos para vir a ser devidamente reavaliada.

De passagem, entende-se também o sentido, de outra forma obscuro, do adjetivo triste: “mais do que triste, seria tolo” adiar seus planos de construir o memorial ao irmão, se fosse apenas por questões de fundo pragmático.

Outra característica de Walden, também ilustrada nos trechos acima: as referências, em sua imensa maioria, são concretas. O episódio do índio é autêntico, e Thoreau chegou a registrar em seu diário o nome do advogado (Samuel Hoar, figura muito conhecida na cidade).

(Uma boa fonte de consulta é a bela edição anotada de Walden com introdução e notas de Walter Harding, Houghton Mifflin, 1995. Também interessante é The Thoreau Reader, site com suas obras anotadas. Ilustração: verso de página da primeira edição de A Week, em exemplar pessoal de Thoreau. Citação dos trechos: Walden, tradução minha, L&PM, 2010, pp. 31-32. Para o original, ver aqui.)

*Denise Bottmann é tradutora de Walden, publicado pela L&PM. Semanalmente Denise escreve no seu blog Não gosto de plágio


As bonecas da aniversariante Emily Dickinson

Hoje é aniversário de Emily Dickinson. Nascida em 10 de dezembro de 1830, em uma casa chamada The Homestead, seus 1.775 poemas só foram descobertos depois de sua morte, em 1886. Aproveitamos a data comemorativa para mostrar aqui algumas bonecas da escritora que estão à venda no Ebay, o site onde é possível comprar de tudo no mundo.

Da famosa Madame Alexander, essa Emily vem com um livrinho e é vendida no Ebay por preços que variam de U$ 65 e U$ 95

Fofa, de pano, e custa apenas U$ 9,99

A boneca Emily que é um pote e vem com certificado é vendida por U$ 14,99

 Se no lugar de bonecas, você prefere mesmo literatura, a L&PM publica, na coleção POCKET Plus, Emily Dickinson, poemas escolhidos, em edição bilingue e com tradução de Ivo Bender.

Vem chegando o verão

A previsão para os próximos meses é de um verão mais quente no Brasil…Você já sabe a velha história, não esqueça o filtro solar. E tome muita, mas muita água. Não gosta de beber água? Então anote a receita deste delicioso suco sugerido por Helena e Ângela Tonetto no livro Alimentação Saudável – Dicas e receitas

Suco green (Rende 2 copos – 78 kcal por copo)

Ingredientes

Suco de 1 limão

1 colher de sopa de hortelã

1 xícara de melão picado

4 filhas de agrião

1 xícara de chá de gelo picado

1 colher de sopa de essência de menta

2 fatias de kiwi sem casca ( para decorar)

Adoçante a gosto

Modo de preparo

Bata todos os ingredientes no liquidificador, menos o kiwi.

Coe com uma peneira e distribua em dois copos com uma pedrinha de gelo.

Decore com as fatias de kiwi

Encontradas obras desconhecidas de Picasso

O mundo da arte ficou atônito na última semana com a descoberta de 271 obras de Pablo Picasso. Sim, isso mesmo. Duzentas e setenta e uma obras desconhecidas de Picasso. São quadros até agora inéditos, do homem que revolucionou a pintura do Século Vinte. Estavam na posse de um electricista que trabalhou com ele na Côte d’Azur, e tentava certificar as obras. A coleção data do período mais criativo do artista, de 1900 a 1932. Entre as obras estão colagens cubistas, uma aquarela do período azul, alguns guaches, estudos de mãos em tela, cerca de trinta litografias, além de 200 desenhos. Claude Picasso, filho do grande pintor, disse que seu pai era conhecido por sua generosidade, mas sempre dedicava, datava e assinava seus presentes, pois sabia que alguns dos presenteados tentariam vender o material algum dia. A justiça francesa trabalha para desvendar o mistério.

Um dos estudos de mão em tela encontrados com Pierre Le Guennec, o eletricista que supostamente recebeu as obras de presente de Picasso

A L&PM publica Picasso, na Série Biografias.

Pequeno momento nostálgico

Era um pequeno pedaço de papel estampado, geralmente quadrado ou retangular, com picotes em todos os seus vértices. Pássavamos cola em seu verso – outras vezes, num ato de paixão, era a língua que, como um pincel, liberava sua goma – e assim o colávamos nos envelopes e cartões postais. Cuidadosamente desenhado, com figuras variadas, o minúsculo papel tinha diferentes valores. Cada desenho ou cor continha em si uma espécie de tributo. Impossível atravessar uma fronteira sem ele. Muitos eram os colecionadores. Os caçadores de raridades. Os que iam em busca de carimbos distantes. Hoje, os selos continuam sendo impressos, mas se distanciam cada vez mais das palavras. Uma pena… (Paula Taitelbaum) 

Separamos alguns selos com estampas de escritores. Quem sabe você não se empolga e começa uma nova coleção? Aqui estão Edgar Allan Poe, Tolstói, Dostoiévski, Machado de Assis, Alexandre Dumas, Shakespeare, Rimbaud, Balzac, Kafka, Émile Zola, Allen Ginsberg, Jack London, Kerouak, Stefan Sweig, Tennessee Williams, Sir Arthur Conan Doyle e Agatha Christie.

5. Frankfurt: onde o mundo dos livros se encontra

Por Ivan Pinheiro Machado*

A Feira Internacional de Frankfurt faz parte da vida dos editores de todo o mundo. Ela funciona no seu atual formato desde o final da Segunda Guerra e é a maior feira de negócios de direitos autorais do planeta. E tradição é o que não falta ao local: foi há poucos quilômetros de Frankfurt, no século XV, que Johannes Gutenberg inventou os tipos móveis, causando a grande revolução da imprensa. A partir do seu invento, os livros e os jornais poderiam ser impressos aos milhares. Mas voltemos à Feira. São mais de 30 hectares de pavilhões interligados por esteiras rolantes onde se reúnem cerca de 7 mil expositores de 200 países. Apesar destes números impressionantes, mais da metade da Feira de Frankfurt é ocupada por seis países: Grã Bretanha, Estados Unidos, Alemanha, França, Espanha e Itália. E destes seis, EUA, Grã Bretanha e Alemanha comparecem com quase 3 mil expositores. Na pré-história, ou seja, na era pré-fax e pré-internet, era lá que se aceleravam os negócios. Até meados da década de 80, seguindo o time dos correios, para adquirir os direitos autorais de um livro, se levava em média uns quatro, cinco meses. Hoje, numa eficiente troca de e-mails com um agente literário, é feita proposta, contraproposta e pode se fechar um negócio numa manhã. Naqueles tempos bem mais vagarosos, nós chegávamos em Frankfurt com a mala abarrotada de contratos e pendências. Era lá que tudo se resolvia. Minha primeira Feira foi em 1976. Naquela época havia sempre um “tema” que concentrava as atividades culturais (a partir de 1990, devido a confusões políticas e religiosas, foram extintos os “temas”, e o centro cultural do evento passou a girar em torno de um país homenageado). Naquele ano, foi “Literatura latino-americana”. Eu tinha 24 anos. Meu amigo Fernando Gasparian, dono da editora Paz e Terra, falecido no ano passado, me apresentou para um jovem e promissor escritor uruguaio, Eduardo Galeano, seu editado. Trinta e dois anos depois, Galeano é uma celebridade internacional e toda a sua obra é agora publicada pela L&PM. “Veias abertas da América Latina”, seu grande bestseller, foi relançado há pouco em versão convencional e pocket, com nova tradução de Sergio Faraco. Lembro muito bem daquela Feira e do grande debate sobre o “Literatura Latino-americana”. Na platéia do enorme auditório, havia mais de duas mil pessoas. Na mesa estavam Mario Vargas Llosa, Gabriel Garcia Marquez, José Donoso, Jorge Amado, Mario Benedetti, Julio Cortázar, Juan Rulfo, Augusto Roa Bastos, entre outros. Jorge Luis Borges declinara do convite porque havia muito comunista…

Vista de um dos pavilhões da Feira de Frankfurt – Foto: Ivan Pinheiro Machado

Hoje, Frankfurt é uma cidade totalmente diferente, com enormes arranha-céus. Tem muito pouco daquela cidade pós-guerra, sequelada pelos bombardeios aliados. Nestes tempos modernos, a balada pós-feira é no lobby do luxuoso hotel Frankfurter Hoff, onde transitam os agentes, editores, candidatos a autores e autores consagrados. É comum, entre uma taça de champanhe Veuve Clicquot  e outra – à bagatela de 20 euros cada taça – , tropeçarmos em algum prêmio Nobel, como a romeno-alemã Herta Muller, Nobel do ano passado que circulava alegremente em todos os lugares de Frankfurt. Depois do advento da internet, a Frankfurter Buchmesse perdeu sua potência, mas não perdeu seu charme e importância. Com a velocidade estonteante das comunicações, os negócios, quando chegamos à Frankfurt, no início do outono europeu, já estão andando ou realizados. Com sorte, descobrimos alguma novidade entre os milhares de livros expostos. Mas é inegável que o contato pessoal ainda é o que nos faz atravessar o oceano e enfrentar os aeroportos insuportáveis. Trocamos e-mails furiosamente durante o ano inteiro com centenas de agentes, editores internacionais e autores. É muito eficiente, mas tudo é muito impessoal. No fundo, nós ainda vamos a Frankfurt para olhar no olho dos agentes e abraçar os velhos amigos, o que (ainda) é impossível fazer pelo Skype…Para ler o próximo post da série “Era uma vez uma editora…” clique aqui.

 

O sucesso de Dom Quixote na internet

Dom Quixote está fazendo sucesso na internet. Em outubro deste ano, a Real Academia Española (RAE) fechou uma parceria com o canal de vídeos Youtube para a realização de uma leitura coletiva do clássico espanhol Dom Quixote, de Miguel de Cervantes. Apenas 30 dias depois do inicio do projeto, já foram lidos mais de 1650 fragmentos dos 2149 necessários para completar a leitura online feita por internautas de língua espanhola de todo o mundo. Para saber mais sobre o projeto acesse www.youtube.com/elquijote

Peça de teatro inspirada em textos de Eduardo Galeano

Eduardo Galeano vai estar mais perto dos baianos em dezembro. A Companhia baiana  Teatro da Queda apresenta, neste mês, Bacad, montagem inspirada no panorama cultural da América Latina. O trabalho,  é baseado em ampla pesquisa de textos do escritor uruguaio, autor de As veias abertas da América Latina, relançado em outubro pela L&PM. A peça está em cartaz até dia 19 de dezembro na cidade de Salvador, Bahia.

Bacad parte da idéia de reconhecimento cultural latino americano para buscar as raízes históricas dos brasileiros. O projeto da encenação terá, também, um ciclo de leituras  e a realização da oficina “A Poética da Invenção – do processo colaborativo de construção do espetáculo Bacad”, que acontece em dois encontros no mesmo período em que a peça fica em cartaz.

Foto: Divulgação

SERVIÇO

Bacad

3 a 19 de dezembro de 2010

Sextas, Sábados e Domingos

20 horas

Teatro Vila Velha – Sala Principal

Ingressos: R$ 10,00 e R$ 5,00 (meia entrada)

Oficina
Data: 11 e 18/12 (Sábados)
Horário: das 13h às 17h
Local: Teatro Vila Velha – Salvador
Inscrição Gratuita

Ciclo de Leitura
Data: 07/12 (terça-feira)
Horário: das 14h às 18h
Local: Colégio Estadual da Bahia (Colégio Central)
Inscrição Gratuita

O dia em que Alexandre Dumas ganhou um lugar no Panteão

Seu nome de batismo era Dumas Davy de La Pailleterie. Mas ele ficou conhecido com a alcunha que escolheu para assinar seus livros: Alexandre Dumas. Neto de um marquês com uma negra, Dumas morreu em 5 de dezembro de 1870 e foi sepultado no mesmo local onde nasceu: Villers-Cotterêts. E lá ficou até que, em 30 de novembro de 2002, o então presidente francês Jacques Chirac promoveu uma cerimônia em que seu corpo foi exumado e levado para o Panteão de Paris, o mausoléu onde descansam célebres escritores e pensadores franceses como Victor Hugo e Voltaire. Eu seu discurso, o presidente Chirac afirmou que “Contigo, nós fomos D’Artagnan, Monte Cristo ou Balsamo, cavalgando pelas estradas da França, percorrendo campos de batalha, visitando palácios e castelos. Contigo, nós sonhamos.” Numa entrevista após a cerimônia, Chirac disse ainda que um erro havia sido reparado e que a partir de então Alexandre Dumas ganhava o local de descanso que merecia, pois apesar da França ter produzido vários grandes escritores, nenhum deles foi tão lido quanto ele. Seus livros já foram traduzidos para cerca de uma centena de idiomas e inspiraram mais de 200 filmes. Na Coleção L&PM POCKET, você pode ler Dumas em O colar de veludo e Memórias de Garibaldi. Clique aqui e assista vídeo da homenagem.