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Tolstói em diferentes tempos

Aristocrata russo, filho do conde Nicolau Ilich Tolstói e da princesa Maria Nikolayevna Volkonski, Leon Tolstói nasceu em 9 de setembro de 1828 e teve uma infância carente e complicada. Sua mãe morreu quando ele tinha dois anos e seu pai foi vítima fatal de uma apoplexia antes do pequeno Leon completar dez anos. Ele e os três irmãos foram criados por parentes próximos na província de Kazan. Já adulto e incentivado por seu irmão, o tenente Nicolai Tolstói, Leon alistou-se no exército e participou da guerra da Turquia e da guerra da Criméia, onde conheceu profundamente a vida militar, os horrores e os heroísmos de uma guerra. Quando finalmente desligou-se do exército, já com 30 anos, ele conheceu a bela e moscovita Sofia, com quem se casou e teve 13 filhos. Foi neste período que ele escreveu suas obras mais conhecidas: Guerra e paz e Anna Karenina.

Anarquista convicto, Tolstói era admirado pelo filósofo Joseph Proudhon, cujas ideias coincidiam com a filosofia que ele difundia entre seus empregados e vizinhos. Seus escritos foram aplaudidos também por seus contemporâneos russos Fiódor Dostoiévski, Ivan Turguêniev e Anton Tchékhov e festejados por Gustave Flaubert, que comparou-o a William Shakespeare.

No final de sua vida, trocou intensa correspondência com Mahatma Ghandi, cuja teoria de resistência não-violenta tinha muito em comum com suas teses, inclusive as que ficaram imortalizadas no tratado pacifista Guerra e paz, uma das maiores obras da literatura mundial – não só em volume de páginas mas também em excelência literária.

Abaixo, o grande escritor em diferentes tempos e imagens. Acompanhe a barba de Tolstói crescendo até chegar no Doodle publicado no dia de seu aniversário de 2014:

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Conheça os livros de Tolstói publicados pela L&PM Editores:

Slim Gaillard, mais do que um personagem de Kerouac

Em seu blog, Claudio Willer escreveu um post onde centrava suas atenções sobre Slim Gaillard, músico que ocupa algumas páginas de On the Road, de Jack Kerouac (219 a 221 na edição da L&PM). No recentemente lançado Os rebeldes: Geração Beat e anarquismo místico, de sua autoria, Willer também dedica alguns parágrafos para o jazzista. E conta que, quando preparou o livro, não achou quase nada sobre Gaillard no meio digital. “Mas, nesse manancial infinito, aparecem agora bons registros; inclusive um documentário extenso da BBC, descoberto pelo músico Pita Araujo, que colaborou em dois dos meus cursos sobre Geração Beat.” escreve ele.  A seguir, dois vídeos com Gaillard.

Um trecho dos comentários de Os rebeldes, incluindo citação de Kerouac.

Um dos trechos exaltados da louvação a jazzistas em On the Road é sobre um dos mais originais dentre aqueles músicos. É quando Kerouac e Cassady se encontram com Slim Gaillard, o excêntrico guitarrista negro que, ao falar, se expressa através de glossolalias, fonemas não-semantizados. Cassady o proclama “Deus”; Kerouac o retrata como iluminado, xamã: “Slim Gaillard é um negro alto e magro com grandes olhos melancólicos que tá sempre dizendo “Legal-oruni” e “que tal um bourbon-oruni?” […] E então [depois de interpretar seu jazz] ele se levanta lentamente, pega o microfone e diz, com muita calma: “Grande-oruni…. belo-ovauti… olá-oruni…. bourbon-oruni… tudo-oruni…. como estão os garotos da primeira fila, fazendo a cabeça com suas garotas-oruni…. oruni…. vauti…. orunirumi….” (Kerouac 2004, pgs. 219-221)

Ele ainda “grita coisas malucas em espanhol, em árabe, em dialetos peruanos e egípcios, e em cada língua que conhece, e ele conhece inúmeras línguas”. Sim, “inúmeras línguas” – mais a língua pessoal, equivalente ao “falar em línguas” pentecostal: às glossolalias, os fonemas não-semantizados dos rituais em doutrinas iniciáticas. Conforme a antropóloga Felicitas Goodman, há padrões em comum nessas manifestações em contextos tão distintos: cultos pentecostais, tribais e outras práticas religiosas nas quais ocorrem transes ou possessões (Goodman, em Eliade 1985, vol. VI, pgs. 563-566). Correspondem à “outra língua” aprendida pelos xamãs em seu trajeto iniciático, segundo Eliade.

Octavio Paz mostrou que a mesma manifestação reaparecia em poetas modernos: Huidobro, Khlébnikov, Artaud, Schwitters. Interpretou-a como tentativa de recuperar a linguagem adâmica ou divina; aquela do tempo que precedeu a Queda (Paz 1991, no ensaio “Leitura e contemplação”). A fala sagrada, mágica, é não-significativa, puramente sonora, como também expõe Gershom Scholem:”O fato de que a atuação da palavra vai muito além de todo “entendimento” é algo que não precisa apoiar-se na especulação religiosa, pois tal é a experiência do poeta, do místico e de todo falante que se delicia com o elemento sensível da palavra.” (Scholem 1999, p. 15)

Slim Gaillard foi, sem dúvida, um personagem sob medida para corresponder à preferência de Kerouac por excêntricos e marginais. Mestiço, teria nascido em Cuba, filho de uma afro-cubana e de um grego. Segundo outra versão, era norte-americano, de Detroit; levou uma vida errante, morou na África e de fato sabia oito línguas, além de haver criado um dicionário para seu vocabulário particular. Como músico, foi ao mesmo tempo um intérprete típico de blues, da mesma estirpe do exuberante Cab Calloway, e um precursor e improvisador. Seu “Tutti Frutti”, dos anos de 1930, antecipou, de modo evidente, o rock que se imporia duas décadas mais tarde. E seu ecletismo o aproxima das modernas correntes ‘fusion’. Por haver misturado repertórios e ter sido provocador e performático (chegou a apresentar-se tocando piano com as palmas para cima e guitarra com a mão esquerda, um comportamento ofensivo para profissionais), foi um marginal até no mundo jazzístico, embora se houvesse apresentado com Parker, Gillespie e outros expoentes.
O trecho sobre Gaillard, em especial, e os relatos de encontros com vagabundos, em geral, permitem uma interpretação da devoção de Kerouac por tais personagens, tanto à luz do misticismo, quanto literária: eles falam. São oraculares, sibilinos: a frase cifrada, enigmática, é, assim como na Antiguidade, uma profecia. Representam a língua falada em sua expressão mais genuína. A intenção de Kerouac – realizada especialmente em Visões de Cody, com suas páginas de transcrição de fita gravada – era trazer tais sons para a escrita.

Valentina repaginada e anotada

Valentina Rosselli é a mulher mais sexy do mundo dos quadrinhos. Criada pelo italiano Guido Crepax (1933 – 2003), ela trabalha como fotógrafa e transita entre o mundo real e o onírico, explorando as mais diversas e picantes fantasias sexuais. Bissexual, mas apaixonada por Phil Rembrandt (de quem fica grávida na história “O bebê de Valentina”), a personagem volta agora repaginada em um livro que traz notas super interessantes, escritas por Luisa e Antonio Crepax – esposa e filho do autor.

Em Valentina – Biografia de uma personagem são reveladas as origens de Valentina, da infância ao nascimento de seu filho, em quatro histórias (três delas inéditas) que misturam sonhos, realidade e erotismo: “Intrépida Valentina”, “Intrépida Valentina de papel”, “A curva de Lesmo” e “O bebê de Valentina”.

Valentina-Biografia-de-uma-Personagem

A capa da nova Valentina

As notas revelam os bastidores de cada história. Entre as notas de “A curva de Lesmo”, por exemplo, há uma que revela que Guido Crepax adorava colocar os amigos em seus quadrinhos. Abaixo, uma nota escrita por Luisa Crepax e o respectivo quadro a que ela se refere.

Noitada mundana na casa de Franco De Pas (na verdade, trata-se de Franco Crepax, irmão de Guido). Nessas ocasiões, Guido gostava de mesclar seus personagens e pessoas reais do seu cotidiano: no alto à esquerda, sentados no sofá, ao meu lado (com alguns discos de música clássica), a jornalista Natalia Aspesi e Phil Rembrandt. Perto de Natalia, de pé, o arquiteto Gio Vercelloni; no sofá, à direita, a dona da casa, Luciana Crepax (mulher de Franco), o editor Enzo Belli Nicoletti e Franco Crepax, sentado em uma espreguiçadeira Thonet. Embaixo, o arquiteto Franco Mazzuchelli conversando com a jornalista Isa Vercelloni, que parece interessada num exemplar do Espresso. Ainda mais abaixo, Valentina, de costas, que se entretém com o arquiteto Guido Canella.

Valentina_festa_NOTA

O dia que o Império Romano chegou ao fim

4 de setembro de 476 d.C. é o data que marca, oficialmente, o fim do Império Romano e o Início da Idade Média. No recém lançado Roma Antiga – De Rômulo a Justiniano, o historiador e professor norteamericano Thomas R. Martin oferece dez capítulos fartamente ilustrados que perpassam os três períodos da cronologia tradicional romana: Monarquia, República e Império. E mais do que um simples relato dos eventos transcorridos, Martin apresenta uma saga que abre uma janela única para as diversas facetas da história de Roma e a extensa e duradoura influência dessa civilização.

Leia um trecho do livro que conta o que aconteceu logo após aquele 4 de setembro:

Roma_AntigaEm 476 d.C., após uma disputa a respeito de pagamento, o comandante germânico Odoacro depôs Rômulo Augusto, mas, apiedando-se de sua juventude, deu a ele uma pensão para viver em exílio próximo a Nápoles. Odoacro nomeou a si mesmo rei independente, encerrando formalmente o período de cinco séculos de imperadores de etnia romana no Império Ocidental. Portanto, ocorrera, por fim, a “queda” do Império Romano (Ocidental) no sentido político. Apesar disso, Odoacro cultivou o ainda existente Senado de Roma e os cônsules para demonstrar amor pela tradição e esperança pelo prestígio. No mesmo espírito, enviou uma embaixada a Constantinopla para reconhecer o respeito ao imperador oriental e a disposição em cooperar. Suspeitando do embuste, o imperador oriental contratou Teodorico, o Grande, rei dos ostrogodos, para suprimir Odoacro. Depois de assassinar o usurpador, Teodorico traiu seu empregador criando o próprio reino germânico na Itália e dirigindo o regime ostrogodo a partir da agora tradicional capital ocidental em Ravena até a morte em 536 d.C.

 

O parceiro de Bukowski

MEU PARCEIRO

sentado sob esta
luz
olhando para o
Buda.

o Buda
ri
de mim
e de
todas as coisas:

chegamos
tão longe
e fomos
a lugar nenhum.

vivemos
muito
e
tão pouco
afinal.

o Buda
está rindo.

o Buda é
esta estátua de
porcelana
diante
de mim
nesta noite.

enquanto os poemas
não
chegam.

(De Miscelânea septuagenária, livro recém lançado de Bukowski que traz contos e poemas inéditos)

Miscelanea_Septuagenaria

Martha Medeiros no Programa Roda Viva

Na segunda-feira, 01 de setembro, Martha Medeiros foi a entrevistada do Programa Roda Viva. Nesta edição, além do âncora Augusto Nunes, participaram da bancada Marina Caruso, diretora de redação da revista Marie Claire; Fernanda Pompeu, webcronista do Yahoo! Brasil e do blog Nota de Rodapé; Ivan Martins, editor-executivo e colunista da revista Época; Marcelino Freire, escritor e Mariana Kalil, editora da revista Donna, do jornal Zero Hora.

Durante uma hora e meia, Martha Medeiros respondeu às perguntas e falou sobre seus 20 anos de carreira como cronista. Se você perdeu, pode assistir aqui:

A L&PM Editores acaba de lançar três livros de Martha Medeiros: Paixão crônica, Felicidade crônica e Liberdade crônica.

Livro inédito com 26 ensaios de Aldous Huxley

Aldous Huxley ficou famoso por ter escrito o clássico romance “Admirável mundo novo”, de 1932. Um ano antes disso, no entanto, ele lançou 26 ensaios em que refletia sobre a expressão do inexprimível na música, sobre a vulgaridade nas artes, sobre as mudanças sexuais e de pensamento, sobre as ambiguidades do progresso, sobre a busca eterna por novos prazeres. Estes textos estão em Música da noite & outros ensaios que acaba de ser chegar, pela primeira vez no Brasil. A tradução é de Rodrigo Breunig. Leia abaixo alguns trechos iniciais.

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O RESTO É SILÊNCIO

Da outra sensação à intuição da beleza, do prazer e da dor ao amor e ao êxtase místico e à morte  – todas as coisas que são fundamentais, todas as coisas que, para o espírito humano, têm o mais profundo significado, podem ser apenas experimentadas, e não exprimidas. O resto é sempre, em qualquer lugar, silêncio. Depois do silêncio, aquilo que mais se aproxima de exprimir o inexprimível é a música.

ARTE E O ÓBVIO

Todas as grandes verdades são verdades óbvias. Mas nem todas as verdades óbvias são grandes verdades. Assim é óbvio até o último grau que a vida é curta e o destino, incerto.

MÚSICA NA NOITE

Sem lua, esta noite de junho é tanto mais viva com estrelas. Sua escuridão é perfumada com rajadas fracas vindas dos florescentes limoeiros, com o cheiro de terra molhada e com o verdor invisível das videiras. Há silêncio; mas é um silêncio que respira com a respiração tranquila do mar e, no meio do fino e estridente ruído de um grilo, de forma insistente, de forma incessante repisa o fato de sua própria perfeição profunda.

MEDITAÇÃO SOBRE EL GRECO

Os prazeres da ignorância são tão grandes, a seu modo, quanto os prazeres do conhecimento. Pois embora a luz seja boa, embora seja satisfatório ao indivíduo que ele tenha condições de colocar as coisas que o rodeiam nas categorias de um sistema ordenado e compreensível, também é bom que o indivíduo se veja por vezes no escuro, é agradável de vez em quando que ele tenha de especular com vaga perplexidade sobre um mundo que a ignorância reduziu (…)

 

Nanini estreia peça inspirada em Wilde

Em 1895, Oscar Wilde foi preso e obrigado a realizar trabalhos forçados, acusado de sodomia e outros “crimes sexuais”, pelo marquês de Queensberry, pai de Lord Alfred Douglas Bosie, na época namorado do escritor. A partir do dia 29 de agosto, a prisão de Wilde – descrita em detalhes no livro De Profundis – volta como pano de fundo de uma peça estrelada por Marco Nanini. “Beije minha lápide” é o nome do espetáculo que inicia sua temporada no Centro Cultural Correios no Rio de Janeiro.

No cenário, uma grande redoma de vidro fará referência à verdadeira lápide de Oscar Wilde – que precisou ser isolada porque, de tanto receber beijos, estava sendo corroída pela acidez das salivas. Bala, o personagem fictício vivido por Nanini é um dos fãs revoltados com essa redoma e, por ter quebrado a barreira, acabou na prisão. E é encarcerado nessa caixa de vidro que a história de Bala confunde-se com a de Wilde.

Marco Nanini é um profundo admirador da obra do autor de O retrato de Dorian Gray e em entrevista ao jornal O Estadão afirmou que sempre ambicionou levar Oscar Wilde ao teatro, mas que jamais quis adaptar algum de seus trabalhos ou mesmo interpretar o escritor. “Eu queria algo que traduzisse a sua essência.”

O roteiro da peça é de Jô Bilac, a direção de Bel Garcia e a cenografia de Daniela Thomas. No elenco, estão também Carolina Pismel, Júlia Marini e Paulo Verling que vivem as únicas pessoas com quem Bala tem contato: sua filha, o carcereiro e uma advogada.

O texto traz diversas passagens das obras de Wilde.

Marco Nanini passa a peça inteira dentro de uma redoma de vidro. Foto: Dani Dacorso (Jornal o Globo)

Marco Nanini passa a peça inteira dentro de uma redoma de vidro. Foto: Dani Dacorso (Jornal o Globo)

Serviço — “Beije minha lápide”

Onde: Centro Cultural Correios — Rua Visconde de Itaboraí, nº 20 (2253-1580)

Quando: De 29/08  a 5/10. Sex a dom, às 19h

Quanto: R$ 20,00

Classificação: 16 anos

Martha Medeiros comemora 20 anos de crônicas

Para comemorar duas décadas como cronista, Martha Medeiros acaba de lançar três livros temáticos pela L&PM.  Ela falou sobre isso para o jornal Zero Hora – onde publicou sua primeira crônica em 1994. Leia a matéria desta quarta-feira, 27 de agosto:

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As muitas montagens de Otelo

E por falar em Shakespeare, a L&M acaba de lançar um guia essencial sobre as peças de Shakespeare

E por falar em Shakespeare, a L&M acaba de lançar um guia essencial sobre as peças de Shakespeare

Apresentada na corte em 1604, no Globe e no Blackfriars, o papel de Otelo foi originalmente interpretado pelo destacado ator trágico do grupo King’s Men, Richard Burbage, e existe alguma evidência de que um ator de comédias fazia o papel de Iago, antecipando a argumentação de W. H. Auden sobre Iago como o “curinga do baralho” (The Dyer’s Hand). A raça de Otelo era provavelmente indicada pelo uso de tinta preta ou rolha queimada, e uma peruca de lã ou outros adereços também podem ter sido utilizados. Interpretar o mouro nos palcos tem sido um dos desafios mais constantes da peça, e começa com séculos de atores brancos se fazendo passar por negros, com o uso de maquiagem, sotaque ou gestos, passa pela tradição de contar com negros no teatro no século XIX e atinge a dominância de atores negros no XX. Marcos posteriores incluem performances por Paul Robeson em Londres em 1930 e em turnê na América em 1943, a atuação de um escurecido Laurence Olivier em 1964 (preservada, talvez inutilmente, em filme, no qual o trabalho de Olivier parece histriônico), e Patrick Stewart como um Otelo branco em meio a um elenco majoritariamente negro em Washington D.C. em 1997.

Com sua abordagem da questão racial, a peça tem, com frequência, flertado com temas da atualidade: uma versão para televisão escrita por Andrew Davies (2001) tinha Otelo como um chefe de polícia contemporâneo em Londres; uma montagem sul-africana dirigida por Janet Suzman, em 1987 (Market Theatre, Joanesburgo), se alimentou da política do apartheid. No palco, a manipulação amoral que Iago faz com a plateia tem muitas vezes suplantado a apresentação mais distanciada de Otelo, e, pelo menos desde a atuação de Garrick no século XVIII, o papel te atraído grandes estrelas. Iagos carismáticos incluem Kenneth Branagh (filme dirigido por Oliver Parker, 1996) e Simon Russel Beale (dirigido por Sam Mendes, National Theatre, 1997).

A filmagem que Orson Welles fez da peça em 1952 traduziu sua linguagem para poesia visual, em particular com os contrastes de preto e branco, teias, armadilhas e sombras; para Shakespeare da BBC, Jonathan Miller enfatizou os interiores no estilo de Mermeer. O (dirigido por Tim Blake Nelson, 2001) deu nova roupagem à história situando-a em uma high school americana, com maioria de alunos brancos e Odin sendo a estrela do time de basquete. Montagens recentes para o teatro têm dado ênfase ao cenário militar ou sentido ao papel dos sexos na peça ao situá-la em universos vitorianos ou eduardianos. Os ritmos do texto e o contraste entre o estilo elevado de Otelo (que o crítico G. Wilson Knight chamou de “a música de Otelo” [The Wheel of Fire]) e a linguagem bestial de Iago tornaram a peça interessante para adaptações musicais, inclusive a ópera Verdi, Otello (1887), e o musical de rock Catch my Soul (1968).

Trecho do livro Guia Cambridge de Shakespeare que traz comentários sobre todas as obras, sinopses, personagens, contextos e interpretações.

Paul Robeson como Otelo em montagem que foi apresentada nos palcos americanos em 1943

Paul Robeson como Otelo em montagem que foi apresentada nos palcos americanos em 1943

Orson Welles incorporou o mouro em filme de 1952

Orson Welles incorporou o mouro em filme de 1952

Laurence Olivier se valeu de muita maquiagem para escurecer a pela em 1964

Laurence Olivier se valeu de muita maquiagem para escurecer a pela em 1964

Em 1997, Patrick Stewart inverteu os papéis e viveu um Otelo branco, enquanto Desdêmona era negra

Em 1997, Patrick Stewart inverteu os papéis e viveu um Otelo branco, enquanto Desdêmona era negra