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Saudades de Glauco, o pai do Geraldão

Hoje, 10 de março, seria o dia de celebrar o aniversário de um dos maiores cartunistas que o Brasil já conheceu. Glauco Villas Boas nasceu em Jandaia do Sul, no Paraná, há exatos 54 anos. Mas no início de 2010, um trágico incidente tirou a vida do criador dos personagens Geraldão, Dona Marta, Zé do Apocalipse, Zé Malária e Ozetês.

Pela L&PM, Glauco publicou três livros com as tirinhas do Geraldão – sempre pelado e politicamente incorreto – e o célebre “Abobrinhas da Brasilônia“, com prefácio do Angeli – que junto com Laerte e Glauco forma a chamada “santíssima trindade dos quadrinhos brasileiros”.

Glauco era uma figura muito querida entre os artistas, a imprensa e o público em geral.  Há um ano, quando a notícia de sua morte violenta chocou o país, dezenas de cartunistas prestaram a sua homenagem. No que depender da gente, o Geraldão vai continuar por aí, nas bancas e livrarias do país, divertindo e provocando como o Glauco gostava de fazer. Veja algumas:

O imortal Bukowski

Apesar do estilo intenso de Bukowski levar a vida – tinha o álcool como fiel companheiro e não raro estava metido com drogas e orgias –  foi a leucemia que, em 9 de março de 1994, deu fim à vida de Henry Charles Bukowski Jr. – ou Hank para os íntimos.

“Don’t try” é o recado que ficou na lápide de seu túmulo, em Los Angeles. Parece que nem mesmo ele acreditava que chegaria tão longe, pois sempre que o assunto era morte, o tom era de conformismo, beirando a ironia:

“Sei que vou morrer logo e isso me parece estranho. Sou egoísta, gostaria de continuar a escrever mais palavras. Isso me dá um brilho, me joga no ar dourado. Mas, na verdade, por quanto tempo posso continuar ainda? Não é certo continuar. Diabos, de qualquer forma, a morte é gasolina no tanque. Nós precisamos dela. Eu preciso. Você precisa. Nós emporcalhamos o lugar se demorarmos demais.” (em O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio)

No site oficial do escritor, encontramos estas duas fotos em que ele simula seu próprio enterro:

Mas se depender da L&PM, o velho Hank jamais morrerá. Prova disso são os livros da série Bukowski.

Aline X BBB

Por Paula Taitelbaum

Aline tem dois maridos. Mas não se contenta só com eles. Ela é tarada e totalmente pirada, anda nua na rua, faz suruba, faz de tudo, faz o diabo (e até com o diabo!). Aline é a personagem criada pelo talentosíssimo Adão Iturrusgarai. E quando a gente lê as tirinhas com ela, só tem vontade de fazer uma coisa: rir. Mesmo assim, apesar dos pedidos insistentes da minha filha de nove anos, eu prefiro deixá-la afastada da personagem. Melhor esperar mais um tempo… Pois a Globo adaptou a Aline para a TV e colocou no ar a série homônima que estreou no dia 3 de fevereiro com a promessa de que seriam exibidos oito episódios. A Aline global, vivida pela atriz Maria Flor, ficou muito mais light do que a Aline dos quadrinhos. Os maridos viraram namorados, ela deixou de ser tarada e ficou romântica, as pernas de fora deram lugar a meias-calças coloridas e ela praticamente virou uma menina de família.

Eis que essa semana foi divulgada a notícia de que Aline estava se despedindo da programação e que, no lugar de oito, a segunda temporada da série teria apenas cinco episódios. A matéria dizia que a razão para o adiantamento do fim teria sido uma baixa audiência. Fazer o quê… nem tudo o que é bom agrada a todos. A questão é que, hoje, a Folha de S. Paulo traz um texto cujo título é “Cena de suposto suingue fez Globo encurtar série ‘Aline’”. Hein???!!!! A nota diz ainda que “Segundo fontes ligadas à produção, a direção do canal teria ficado incomodada com cena do capítulo em que os pais de Aline (Maria Flor) e seus respectivos marido e mulher (eles são separados na história) se encontram no motel e vão para a cama, o que de alguma forma sugere um suingue (troca de casais).”. Confesso que fiquei com vontade de rir. Pra não chorar… Porque não posso acreditar que a mesma emissora que exibe o Big Brother, a novela das nove e mais uma penca de programas recheados de “sugestões” eróticas explícitas possa ter tirado a Aline do ar por causa de uma suposta cena de suingue exibida após às 23h20min. A assessoria da Globo negou que o motivo do fim da série tenha sido a tal cena. Mesmo assim, fica a pulga atrás da orelha… Felizmente, pra compensar, as tirinhas continuam aí, sem censura, para quem quiser se divertir com a Aline original.

O livro-escultura

O livro pode ter diversas funções além da leitura. Há quem use como peso de papel, apoio para o monitor do computador e até enfeite de estantes, dando um ar cult para a decoração da sala. Mas alguns artistas viram nos livros uma outra utilidade talvez tão nobre quando a leitura: a escultura. Só que atenção: não tente fazer isso em casa! Até porque você certamente não vai conseguir chegar no resultado da norte-americana Jennifer Khoshbin e do alemão Alexander Korzer-Robinson:

Jennifer Khoshbin

Jennifer Khoshbin

Alexander Korzer-Robinson

Outro estadunidense que faz verdadeiras obras de arte com livros é Brian Dettmer. Com ou sem ilustrações, quanto mais páginas tiver o livro, melhor:

Brian Dettmer

Brian Dettmer

Via Zupi.

Hoje é “World Book Day” no Reino Unido

Tradicionalmente, o Dia do Livro é comemorado em todo o mundo em 23 de abril,  mas no Reino Unido a festa começa bem antes. No dia 3 de março, escolas, bibliotecas e livrarias de todo o país promovem o World Book Day, com vasta programação de peças de teatro infantis e grupos de leituras. Neste dia, as crianças se vestem como seus personagens preferidos e é possível encontrar piratas, fadas, príncipes e princesas andando pelas ruas.

Indeciso, este garoto publicou uma vídeo-enquete em seu canal no Youtube para saber a opinião das pessoas sobre qual fantasia usar no World Book Day. Ele explica a situação com detalhes:

O homem que pagou por Dorian Gray

Você já ouviu falar em J.M. Stoddart? Pois prepare-se para guardar esse nome. Editor de uma reconhecida revista literária americana, a Lippincott´s Monthly Magazine, Stoddart estava de passagem por Londres no dia 30 de agosto de 1889, quando resolveu convidar para jantar seus escritores preferidos: Arthur Conan Doyle e Oscar Wilde. Durante o encontro, ele aproveitou para pedir à dupla (e que dupla!) que escrevesse textos originais para seu periódico. Diante de uma boa proposta de remuneração – e já sabendo que a Lippincott´s não era qualquer revista – os dois aceitaram na hora. Em fevereiro, Conan Doyle enviou a Stoddart O signo dos quatro, segundo romance que trazia o personagem Sherlock Holmes. Já Wilde, que também havia prometido um manuscrito inédito para o início do ano seguinte, entregou, em março, nada menos do que a primeira versão de O retrato de Dorian Gray, publicada na edição de julho de 1890 da Lippincott´s. Ou seja: se não fosse o editor americano J.M. Stoddart sabe-se lá se Dorian Gray teria mesmo nascido.

A capa da Revista Lippincott´s de julho de 1890, onde pela primeira vez foi publicado "O retrato de Dorian Gray"

Esta e muitas outras histórias do autor de Dorian Gray estão em Oscar Wilde, livro que faz parte da Série Biografia L&PM.

O Rio de Janeiro de Machado continua lindo…

O Rio de Janeiro de Machado de Assis era um Rio de Janeiro de laudes, horas canônicas e vestidos de musselina. Um Rio de Janeiro de modinhas, passeios públicos, patacões e contos de réis. O Rio de Janeiro de Machado de Assis era um Rio de Janeiro embalado nas melodias dos cabriolés, paquetes, cupês e faetons.  

Para quem não conseguiu entender 100 por cento do palavreado antiquado (mas na nossa opinião carregado de lirismo), basta dar uma folheada nas primeiras páginas de Casa velha, livro de Machado de Assis que acaba de chegar à Coleção L&PM POCKET. Assim como em Dom Casmurro, Quincas Borba, Memórias Póstumas de Brás Cubas, Esaú e Jacó, Helena, A mão e a luva e Memorial de Aires, a edição de Casa Velha da L&PM vem acompanhada de um panorama da vida cotidiana do Rio de Janeiro machadiano e de um glossário das palavras e expressões usadas na época. E o diferencial não para por aí. O escritor, doutor em literatura e especialista em Machado, Luis Augusto Fischer, incluiu ainda nestes livros uma biografia do autor e uma completa cronologia. 

Casa velha nasceu como um conjunto de 25 episódios publicados entre 1885 e 1886 na revista carioca A Estação e conta a polêmica história de um amor incestuoso a partir das lembranças de um padre que faz um balanço das perdas e ganhos dessa paixão. 

Machado de Assis, de cartola, em uma das ruas do centro do Rio de Janeiro

 

O livro fashion

Ainda no clima da premiação do Oscar, encontramos esta foto da ganhadora do prêmio de Melhor Atriz, Natalie Portman, no dia da estreia de Cisne Negro (2010), em que o figurino e o penteado básicos jogam luz sobre um acessório inusitado.

O livro (!) que ela carrega é, na verdade, uma bolsa criada pela designer francesa Olympia Le Tan, que se inspira em clássicos da literatura para fazer suas peças. Além de Lolita, de Nabokov, obras-primas de Salinger, Conrad e Melville também viraram bolsas.

Mas o nosso preferido é, sem dúvidas, o modelo inspirado no Drácula, de Bram Stoker. E você? Com qual visual combinaria o acessório?

Obrigado Doutor Scliar!

Por Ivan Pinheiro Machado

Era o ano de 1977, a L&PM Editores, literalmente, engatinhava. Estávamos na Livraria Lima, na rua Borges de Medeiros em Porto Alegre, quando entrou o jovem escritor e médico Moacyr Scliar. Ele já havia escrito o livro de contos “O carnaval dos animais” e tivera uma excelente repercussão de público e crítica com dois romances, “A guerra no Bom Fim” e “O exército de um homem só”. Começamos a conversar, ele cumprimentou-nos pela ousadia de fazer uma editora naquela época tão difícil, econômica e politicamente. Foi um papo simpático, o Lima e eu ficamos muito tocados pela atenção. Tínhamos 24 e 23 anos, respectivamente, e uma editora com 25 livros publicados e dois anos e meio de vida. Poucos dias depois, o telefone tocou na “sede” da L&PM, na rua 24 de Outubro, numa velha casa que dividíamos com o arquiteto Roque Fiori (tínhamos duas salas).

– Vou direto ao ponto. Disse Scliar. Vocês querem publicar um livro meu?

"Doutor" Scliar entre Edgar Vasques, Luis Fernando Veríssimo e Josué Guimarães, o grupo de "Pega pra Kaputt"

Ficamos eufóricos. Recém havíamos publicado “É tarde para saber” de Josué Guimarães, e “Devora-me ou te decifro” de Millôr Fernandes. A editora ia bem e publicar Scliar seria um passo muito importante. Foi assim que editamos “Mês de Cães Danados”, um romance que se passa na época da célebre Campanha da Legalidade, quando Leonel Brizola evitou o golpe militar que teria sucesso três anos mais tarde em 1964. Neste mesmo ano de 1977, fizemos “Pega pra Kaputt”, o primeiro (e único) romance coletivo brasileiro que misturava texto e quadrinhos, com Josué Guimarães, Moacyr Scliar, Luis Fernando Veríssimo e Edgar Vasques na HQ e emplacamos o livro mais vendido da Feira do Livro de Porto Alegre com “Mês de Cães Danados”. Logo no ano seguinte, publicamos “Os Deuses de Raquel”, “”Doutor Miragem”. Em 1979, editamos “Os voluntários”. Em 1980, reeditamos o maravilhoso “O exército de um homem só” e “A guerra no Bom Fim”. Em 1983, relançamos o premiadíssimo “O centauro no jardim”, lançado pela Editora de Sérgio Lacerda, a Nova Fronteira, em 1980.

Enfim, de lá para cá, foram 34 anos de convívio e 24 livros lançados.

Ontem, recebemos a notícia que temíamos desde que, no final de janeiro, Scliar hospitalizara-se acometido de um Acidente Vascular Cerebral. O Doutor, como o chamávamos, tinha lutado, mas não conseguiu resistir à gravidade da doença. Em dezembro, Paulo Lima e eu encontramos Scliar no vôo que ia para o Rio. Nós íamos para uma reunião e ele para uma sessão na Academia. No final da tarde, nos encontramos novamente no Santos Dumont, para pegar o vôo de volta. Na ocasião, conversamos bastante e ele falou de seus planos para o futuro, que eram muitos. Estava trabalhando em vários projetos, tinha “uns três ou quatro” romances na cabeça e estava se dedicando a dois. Gentil como sempre, se disse fascinado com a distribuição dos pockets da L&PM: “Semana passada eu estava no interior do interior de Minas para uma palestra e estava lá o display dos pockets, e tinha livros meus!”

Numa carreira que teve seus primeiros passos com o livro “Histórias de um médico em formação” (uma obra de juventude, escrita em 1962, que ele não gostava muito de incluir na sua bibliografia) e “Carnaval dos Animais”, de 1972, foram mais de 70 títulos entre ensaios, contos e romances. A qualidade, inventividade e originalidade da sua obra o levaram ao reconhecimento nacional, internacional (foi traduzido em várias línguas) e à Academia Brasileira de Letras.

Nascido e criado no Bom Fim, o bairro judeu de Porto Alegre, ele soube como ninguém expressar os mistérios ocultos da suas ruas, as múltiplas vozes de emigrantes, refugiados, o humor ácido cultivado numa tradição de sofrimento e fugas. E esta foi sua grande marca. Traduzir esta compatibilidade de uma cultura universal para os nossos trópicos. Sem perder a alma de tradições ancestrais. Scliar, assim, foi universal, razão pela qual seus livros transitam pelo mundo com naturalidade em várias línguas.

Mas recordando a conversa leve e divertida no aeroporto Santos Dumont, um mês e meio atrás, não posso deixar de pensar na velha e batida precariedade das nossas vidas. Scliar estava bem, lépido em seus 73 anos, rápido como sempre, apressado e cheio de planos. Scliar tinha uma urgência em viver. E ele vivia muito através de suas histórias. Escrevia sempre, sempre.

A multidão dos seus leitores terá como consolo uma obra vasta, de enorme qualidade. Mas aqueles que ficam privados dele terão muita saudade. Scliar era amigo e solidário. Não cultivava nem uma grama de inveja, tão comum entre nós; estimulava os jovens escritores como muito poucos, tinha sempre uma palavra de carinho para todos e usava seu espaço na imprensa para divulgar tudo o que ele achava que tinha qualidade ou era promissor. Aqui na L&PM temos o exemplo clássico da generosidade do Doutor. No final dos anos 90, atravessamos uma crise séria, quase fechamos as portas. Scliar, preocupado, acompanhou a “crise” desde os piores momentos, até o final feliz. E nos ajudou muito mais do que ele imaginava. Pois o voto de confiança que depositou em nós, os livros novos que editamos naquele momento incerto, a sua adesão irrestrita à coleção de bolso, lá em 1997, quando todos – autores, imprensa e livreiros – duvidavam que pudesse dar certo, foi fundamental para chegarmos até aqui. Hoje, a L&PM tem a maior coleção de bolso do país e um lugar de destaque entre as grandes editoras brasileiras. O Doutor Scliar faz parte disso e nós seremos gratos para sempre.