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Os labirintos de Borges

Hoje, quem entrar no Google vai encontrar um doodle que marca o 112º aniversário de Jorge Luis Borges. O desenho, que representa a mente labiríntica do autor, mostra um homem idoso, de bengala, vestindo um terno e mirando um labirinto de escadas, edifícios e estantes. Segundo o Google, este “cenário de arquitetura fantástica” pode ser considerado a representação de uma das histórias mais famosas de Borges: “A biblioteca de Babel”.

“O universo (que outros chamam de Biblioteca) é composto por um número indefinido, e talvez infinito, de galerias hexagonais, com vastos poços de ventilação, cercado por grades muito baixas” escreveu Borges, que morreu em 1986. “Por aí passa a escada espiral, que se abisma e se eleva ao infinito remoto. No corredor, há um espelho, que fielmente duplica as aparências. Os homens costumam perceber nesse espelho que a Biblioteca não é infinita (se fosse, porque causaria essa ilusória duplicação)? Eu prefiro sonhar que as superfícies polidas representam e prometem o infinito”.

O desenho também pode ser considerado uma homenagem à obra “O jardim dos caminhos que se bifurcam”, no qual ele escreve: “Pensei em um labirinto de labirintos, um labirinto sinuoso que conteria o passado e o futuro que, de alguma forma, envolve as estrelas.”   

Contista, poeta e ensaísta, Borges foi um dos gigantes da literatura do século XX. Nascido em Buenos Aires em 24 de agosto de 1899, ele trabalhou como bibliotecário e começou a carreira de escritor publicando poesias. Sua fama internacional veio somente a partir de 1961, quando recebeu o Prix Formentor, categoria ficção, junto com Samuel Beckett, e foi traduzido para o inglês no ano seguinte com a coleção “Labirintos”. Em 1965, John Updike observou que “a América do Norte reconheceu tardiamente o gênio que era Jorge Luis Borges”, em um ensaio para a revista New Yorker. Mas apesar de ser considerado gênio, Borges nunca ganhou o Prêmio Nobel. “Não me conceder o prêmio Nobel tornou-se uma tradição escandinava “, disse ele uma vez.

“As obras de Borges têm contribuído para o gênero da ficção científica, bem como o do realismo mágico. Feliz aniversário, Jorge Luis Borges”, disse o Google em uma animação do seu doodle e postada no YouTube:

De Jorge Luis Borges, a Coleção L&PM POCKET publica Martín Fierro.

No livro Guia de leitura – Cem autores que você precisa ler, há um texto sobre Borges que você pode ler aqui.

“Maigret e os flamengos” (não confunda com os flamenguistas)

Você sabe o que é “Flamengo”? Se respondeu que é o time que tem a maior torcida do mundo, errou. Flamengos eram chamados aqueles que, originalmente, nasciam na região de Flandres, no norte da Bélgica, território que historicamente fazia parte dos Países Baixos – e que até hoje fala neerlandês (idioma oficial da Holanda e que também é conhecido como língua… flamenga). Com o tempo, todos aqueles que falavam neerlandês acabaram sendo chamados de “flamengos” (a Praia do Flamengo, onde nasceu o time rubro negro, foi assim batizada porque lá morava um holandês).

Em amarelo, colada à Holanda, a região de origem dos flamengos, no norte da Bélgica

Os flamengos acabaram se tornando maioria na Bélgica, mas por terem sido incorporados ao país mais tarde e por não falarem o francês, sofreram discriminação. Prova disso é que somente em 1930 a Universidade de Gent começou a dar aulas de neerlandês e só em 1967 a constituição belga foi traduzida para este idioma.

Em Maigret e os flamengos, mais recente lançamento da Série Simenon (inédito no Brasil), Georges Simenon faz uma espécie de resgate histórico do preconceito aos flamengos belgas, mostrando um grupo fechado de comerciantes do norte da Bélgica que vive em Givet, na França, e que é suspeito de estar envolvido em um crime. Extra-oficialmente, o comissário Maigret vai à Givet investigar o caso:

“Era preciso falar muito alto, devido à barulheira do vento. Em Givet, a quinhentos metros, era apenas um conjunto de luzes. A casa dos flamengos se desenhava sobre um céu de tormenta e mostrava janelas amareladas por luzes suaves.

– De onde eles vêm?

– Do Norte da Bélgica… O pai Peeters nasceu logo acima de Limburgo, na fronteira holandesa…”

Nunca é tarde para ler Josué Guimarães

SOMBRAS E DORES DA DITADURA

Sergius Gonzaga*

"É tarde para saber" foi o quinto romance escrito por Josué Guimarães

Quando Josué Guimarães escreveu É tarde para saber, em 1976, o Brasil ainda vivia sob o signo de uma longa ditadura militar que se estendeu por vinte anos (1964-1984). Apesar de seu projeto desenvolvimentista, do crescimento econômico ocorrido, em especial nos primeiros anos da década de 1970, e da unificação definitiva do país através de uma múltipla rede de comunicações (televisão, correios, telefonia), o regime autoritário trouxe consigo um universo de sombras e dores. (…) Centenas de rapazes e moças, ultrapassando o medo, a dor, a ameaça da tortura – praticada indiscriminadamente em quartéis e delegacias de polícia -, ultrapassando o próprio horror à morte, fizeram da luta armada a sua situação-limite, o seu enfrentamento radical com o sistema. Despreparados do ponto de vista militar, sem entender o processo social, cultural e econômico que o Brasil experimentava, sem lideranças capazes ou representativas, sem calcular a força brutal do inimigo, inocentes e, ao mesmo tempo, aventureiros, muitos desses jovens foram fácil e impiedosamente derrotados pelas forças repressivas.

Escrever sobre um deles, como Josué o fez em É tarde para saber, exigia coragem e sutileza, porque a ditadura continuava com seu manto assustador de censura, intimidação e controle das existências individuais. Coube também ao escritor, através da figura de Mariana, evocar uma parte da juventude brasileira que se mantinha alienada do que ocorria nos substerrâneos do regime. Fez isso sem acusá-la ou reprová-la. Simplesmente desvelou sua inocente inconsciência, produzindo assim um estranho romance político em que não se discute política. Por isso, mais do que uma bela história de amor adolescente, mais do que um Romeu e Julieta ambientado no Rio de Janeiro de algumas décadas atrás, mais do que um relato de suspense, esta novela é uma obra de grande tradição realista brasileira e ocidental: uma obra que, simultaneamente, mostra e desmascara o seu tempo histórico.

* Sergius Gonzaga é Secretário de Cultura de Porto Alegre, professor, editor, especialista em literatura brasileira e grande conhecedor da obra de Josué Guimarães. Este texto é parte da introdução da edição de É tarde para saber da Coleção L&PM Pocket.

Apertem os cintos, a Mona Lisa sumiu!

No final da tarde de 20 de agosto de 1911, um domingo, três homens entraram no Museu do Louvre, em Paris. Disfarçados de funcionários, esconderam-se até o cair da noite. Dezesseis horas depois, o quadro mais famoso do mundo, a Mona Lisa, tinha desaparecido. Com o museu não abria às segunda-feira, passaram-se 24 horas até que alguém percebesse o roubo. Foi somente na terça-feira, 22 de agosto de 1911, a exatos 100 anos atrás, que a notícia se espalhou. A polícia apressou-se até a cena do crime, as portas foram trancadas e funcionários e visitantes, detidos. Mas o quadro já não estava lá há muito tempo. A França fechou suas fronteiras. E quando o museu reabriu, uma semana depois do roubo, os parisienses fizeram filas gigantescas para ver o lugar vazio em que o famoso quadro antes ficava pendurado. Uma caçada mundial estendeu-se de Paris a Nova York, da Argentina à Itália, mas a misteriosa Mona Lisa não foi encontrada em lugar nenhum.

Picasso e Apollinaire foram presos sob suspeita do roubo, mas acabaram soltos por falta de provas. A direção do Louvre, o governo francês e o jornal Le Figaro ofereceram recompensas pela devolução da pintura, mas as pistas efriaram… até que, dois anos depois, o marchand florentino Alfredo Geri recebeu uma carta que trazia a seguinte assinatura: “Leonardo”. A Mona Lisa estava à venda.

Onde ela estava? Quem a levara? No livro Roubaram a Mona Lisa!, a escritora R.A. Scotti volta no tempo e faz um relato vívido e minucioso deste que foi o maior roubo de arte da História. A autora revisita as origens da obra-prima de Leonardo da Vinci e contrói um romance policial baseado em fatos reais. Vivo, pulsante, fluente, Roubaram a Mona Lisa! é o tipo de livro que não se consegue parar de ler.

O espaço vazio deixado pela Mona Lisa, no maior roubo de arte da história

“Naquela manhã de terça-feira, o lugar dela na parede estava vazio. Só restavam quatro ganchos de ferro e uma marca retangular vários tons mais escura do que a área a seu redor – uma imagem fantasmagórica marcando o espaço que a Mona Lisa preenchera. À exceção de uma breve imagem a Brest, para onde ela fora enviada a fim de que ficasse em segurança durante a guerra franco-prussiana, ela não saía do Louvre desde que Napoleão havia sido exilado em Santa Helena.”  (Trecho de Roubaram a Mona Lisa!, de R.A. Scotti)

Um mergulho na Legalidade, 50 anos depois

Em 25 de agosto, o Movimento da Legalidade completa exatos 50 anos. Para os que já ouviram falar, mas não lembram direito desta aula de História, ele foi o movimento de resistência comandado pelo governador gaúcho Leonel Brizola à tentativa de golpe militar que queria evitar que o vice-presidente da República, João Goulart, assumisse no lugar de Jânio Quadros, presidente que havia renunciado. Para marcar este cinquentenário, e para relembrar cada detalhe do episódio de agosto de 1961, o jornalista e escritor Flávio Tavares preparou um livro que será lançado em setembro pela L&PM Editores. Flávio foi, na época, o enviado especial do Jornal Última Hora ao centro de operações do movimento e acabou atuando como um porta-voz informal de Brizola, já que os outros jornais sofreram censura e estavam proibidos de cobrir a Legalidade.

Aqui, você pode ler um artigo de Flávio publicado no Domingo, 21 de agosto, no Jornal Zero Hora e conhecer, com exclusividade, um trecho do primeiro capítulo de seu livro.

A renúncia de Jânio, por Flávio Tavares*

O estranho gesto da renúncia de Jânio Quadros à presidência da República completa 50 anos no dia 25. Nada foi tão rocambolesco nem gerou tantas consequências quanto aquele ofício seco e direto que seu ministro da Justiça levou ao presidente do Congresso naquela tarde de 1961: “Nesta data e por este instrumento, deixando com o ministro da Justiça as razões do meu ato, renuncio ao mandato de presidente da República”. Em apenas 24 palavras, se esvaía como água pelos dedos das mãos o poder de quem governara o país durante sete meses de forma imperial, com o apoio até de antigos adversários.

Com a renúncia, veio o golpe de Estado do ministro da Guerra, vetando a posse do vice-presidente João Goulart – para ele “um comunista”. Logo, o Movimento da Legalidade – a rebelião do governador Leonel Brizola reuniu o III Exército e a população, paralisando o golpe. Mas o grande protagonista foram armas inusitadas – primeiro, a imprensa; logo (e principalmente) o rádio. Brizola foi o grande artífice, mas sem a Cadeia da Legalidade seus discursos não teriam tido o poder de convocação direta, pessoa a pessoa, mobilizando tudo e todos.

Por que Jânio Quadros renunciou? Nas “razões” deixadas com o ministro da Justiça, disse só uma frase de efeito: “Fui vencido pela reação e assim deixo o governo”. Sem dar explicações, esquivou-se sempre a responder ou se enfurecia ao ouvir a pergunta. Em 1980, 19 anos após a renúncia, eu o visitei em São Paulo e, durante três horas, ele falou sem parar de Napoleão e Churchill, verbos e conjunções, José Bonifácio, metais e metaloides, Getúlio e Che Guevara, moeda e câmbio, sem dar pretexto a que eu tocasse na renúncia. Entendi aí que a genialidade extravagante e desordenada do ciclotímico o tinha feito líder político imbatível em 1960.

Com esse estilo, ele conquistou a presidência num triunfo eleitoral avassalador. Nele, tudo era mutante, como se fosse gerado e parido pelo imponderável, mas para o público isso era genialidade. No governo, fez o que quis, com momentos deslumbrantes de estadista e outros mesquinhos, de míope político distrital. A renúncia inesperada, porém, ficou atravancada na História, num desafio sem explicações.

Em tudo, só hipóteses. A mais estapafúrdia era de que ele tentou um “golpe branco” para, após renunciar, ser reconduzido pelo povo com poderes amplos, tipo “ditador constitucional”. Em termos concretos, porém, isto era absurda fantasia: Jânio nunca preparou nenhuma força popular de mobilização nem tentou seduzir os ministros militares, que sempre o apoiaram e também se surpreenderam com o gesto.

O povo-povão deu explicação mais simples: a renúncia foi coisa da cabeça de cachaceiro!

Jânio morreu em fevereiro de 1992, sem explicar-se em público. Agora, ao preparar um livro sobre o Movimento da Legalidade (que a L&PM lança em setembro), deparei com um depoimento do ex-presidente a seu neto (também Jânio), feito em 1991, em que abertamente afirma que renunciou “por crer que os militares, os governadores e o povo exigiriam que continuasse no poder”.

Numa confissão de avô, nada ocultando, conta que mandou o vice-presidente João Goulart à China, “lá longe” para “não haver quem assumisse o poder, pois Jango era inaceitável para a elite”. E conclui: “Achei que voltaria a Brasília na glória. Deu tudo errado”.

Seria ele um ator louco que representava para si mesmo? Ou, traído pela mitomania, acreditou que o sonho de poder viraria realidade numa mágica? Em qualquer caso, faltou a Jânio o que sobrou a Brizola: audácia e capacidade de mobilizar o povo.

* Este texto de Flávio Tavares foi originalmente publicado na página 15 do Jornal Zero Hora do dia 21 de agosto de 2011.

Clique sobre as páginas para ler um trecho do primeiro capítulo do livro de Flávio Tavares a ser publicado em breve:

Marilyn nas terras da rainha

No dia 13 de julho de 1956, o mais célebre casal do mundo chega à Inglaterra, onde é acolhido com todas as honras e inevitável alvoroço por sir Laurence Olivier, Vivien Leight e centenas de jornalistas saídos por uma vez de sua fleuma lendária. Os recém-casados vão se esconder em um castelo suntuoso, em Parkside House, propriedade de cinco hectares vizinha à da rainha, cercada de muros altos, que dispõe de uma boa dúzia de quartos e de uma meia dúzia de empregados.

O trecho acima, retirado da biografia de Marilyn Monroe (Coleção L&PM Pocket), é também uma das cenas do filme My Week With Marilyn, de Simon Curtis, que tem estreia prevista para o fim do ano. A produção do filme divulgou na semana passada uma foto das filmagens que mostra exatamente o momento em que a maior estrela do cinema da época desembarca em Londres ao lado de seu marido, Arthur Miller, para participar das filmagens de O príncipe encantado, estrelado e dirigido por Olivier. Compare a imagem divulgada pela produção de My Week With Marilyn com uma foto da época, que certamente foi utilizada como referência para compor a cena:

O filme de Simon Curtis é baseado no livro de memórias escrito por Colin Clark, que foi assistente de sir Laurence Olivier durante as filmagens e acompanhou a estadia de Marilyn Monroe nas terras da rainha. Depois deste teaser, mal podemos esperar pela estreia do filme!

Enquanto isso, vale a leitura do livro Marilyn Monroe da Série Biografias.

Muerto cayó Federico

Em 19 de agosto de 1936, em pleno verão andaluz, o poeta Federico Garcia Lorca, que afrontava as normas do regime com sua poesia, foi friamente assassinado pelo exército nacionalista. Sem julgamento ou misericórdia, deram-lhe um tiro de fuzil na nuca e se livraram de seu corpo num lugar qualquer da província de Granada.

A morte de Lorca foi um soco no estômago de poetas e artistas de todo o mundo, que reagiram à triste notícia usando o que tinham de melhor para expressar sua tristeza: a arte. No ano seguinte ao assassinado de Lorca, Picasso fez um de seus quadros mais famosos, a Guernica. Ao ser questionado por um oficial alemão se ele teria pintado o quadro, Picasso respondeu: “não, os senhores é que o fizeram”.

Profundamente abalado com a barbárie da Guerra Civil Espanhola e tocado pela morte do amigo, Pablo Neruda escreveu os poemas reunidos no livro Terceira residência, um verdadeiro libelo contra a guerra com versos sobre política e liberdade.

No Brasil, Lorca foi homenageado por Vinicius de Moraes, que compôs o belíssimo poema “A morte de madrugada”. A seguir, os versos de Vinicius na voz do ator português Mario Viégas e abaixo, a última estrofe do poema:

Atiraram-lhe na cara
Os vendilhões de sua pátria
Nos seus olhos andaluzes
Em sua boca de palavras.
Muerto cayó Federico
Sobre a terra de Granada
La tierra del inocente
No la tierra del culpable.
Nos olhos que tinha abertos
Numa infinita mirada
Em meio a flores de sangue
A expressão se conservava
Como a segredar-me: – A morte
É simples, de madrugada…

Parte da obra poética de Federico Garcia Lorca está no livro Antologia Poética – Garcia Lorca, da Coleção L&PM Pocket.

A arqueóloga que fascinou Agatha Christie

Acaba de chegar por aqui um novo título de Agatha Christie. E ao abrir a primeira página de Os 13 problemas, o que se lê antes do Sumário é uma dedicatória: “Para Leonard e Katherine Wooley”. Mas, afinal, quem é o casal Wooley a quem a Rainha do Crime dedicou este seu livro?

Depois de se divorciar de seu primeiro marido, Archie, Agatha resolveu viajar pelo Oriente. Após passar por Bagdá, decidiu que iria a Ur. Como já era uma escritora famosa, seus agentes organizaram tudo. Entre os preparativos, foram contatados Leonard e Katherine Woolley, os arqueólogos que estava à frente de uma grande escavação em Ur. Em sua autobiografia, Agatha Christie conta seu primeiro encontro com eles: “Os Wooleys tinham tudo muito bem organizado: os visitantes iam sozinhos dar uma volta pelas escavações, sendo-lhes mostrado o essencial, e depois eram delicadamente postos para fora. Fui recebida, porém, amavelmente, como hóspede importante e deveria ter dado a esse fato muito maior apreço do que realmente dei. Esse tratamento em relação a mim foi inteiramente devido ao fato de Katherine Wooley, a mulher de Leonard Wooley, ter justamente acabado de ler um dos meus livros, O Assassinato de Roger Ackroyd (…). A Sra. Wooley levou tão longe seu entusiasmo que perguntou aos outros membros da expedição se já haviam lido meu livro, e os que não leram foram severamente censurados”

Agatha Christie descreveu Katherine Wolley como uma mulher extraordinária (que logo se tornaria uma de suas melhores amigas): “As pessoas ficavam sempre divididas entre detestarem-na com ódio feroz e vingativo, ou ficarem fascinadas por ela – possivelmente por mudar tão rapidamente de disposição que tudo nela era imprevisível (…) Os assuntos que ela falava nunca eram banais. Tinha capacidade de estimular o intelecto dos outros, encaminhando-os por veredas que antes jamais lhes haviam sido sugeridas”. Tão encantada Agatha ficou por ela que a personagem principal de Morte na Mesopotâmia, Louise Leidner, foi inspirada nela. Poirot, assim como sua criadora, fica fascinado pela personalidade da esposa do arqueólogo-chefe. Que mulher não devia ser mesmo essa Katherine…

Katherine e Leonard Wooley, em primeiro plano, nas escavações de Ur (clique para ampliar)

A morte de um gênio chamado Balzac

“Em 18 de agosto, Victor Hugo, tendo ouvido que o seu colega se encontrava em um estado alarmante, apresenta-se ao cair da noite na Rue Fortunée. É recebido. Descreveu a cena. O quarto empestado. Os médicos mandaram colocar produtos destinados a livrar o ar do odor da gangrena que tomou conta de uma das pernas. Balzac está na cama, emagrecido, lívido, o rosto tomado pela barba. Não reconhece o visitante. Morre durante a madrugada. Será impossível, como então era costume, realizar uma máscara mortuária: nas horas que seguem à morte, as carnes do rosto já estão apodrecendo. (…) Durante essa noite de 18 de agosto, Hugo, de volta à sua casa, disse que a Europa ia perder um dos seus grandes espíritos. A sua admiração é real e profunda. O poeta do cérebro épico captou qual era a visão e o alcance do romancista. Durante os funerais em Saint-Philippe-du-Roule, quando um oficial evoca o ‘homem distinto’ que era Balzac, responde em voz alta: ‘Era um gênio’.” (Trecho de Balzac, de François Taillandier, série Biografias L&PM).

Honoré de Balzac e seu amigo Victor Hugo eternizados por Auguste Rodin

Massacrado pela péssima alimentação e atormentado pelas dívidas, Balzac se foi em 18 de agosto de 1850, aos 51 anos, dois meses após ter casado com a condessa polonesa Éve Hanska, o grande amor de sua vida. Três dias depois, em seu enterro, Victor Hugo proferiu o discurso fúnebre em sua homenagem. Ele pode ser lido aqui, em um dos posts da Série Especial Balzac, publicada neste blog.

A L&PM publica dezesseis títulos de autoria de Balzac.

Balzac é destaque na Wikipédia em português

Quem já acessou a página inicial da Wikipédia em português (sem ser pela busca do Google) deve ter observado que há sempre um “Artigo em destaque” dentro de uma caixa azul (como na imagem abaixo). Estar ali significa que o artigo é de “excelente qualidade”. No ambiente colaborativo e aberto da Wikipédia, em que todo mundo pode  escrever o que bem entende, ter este atestado de credibilidade é valioso.

Bom… tudo isso é pra dizer que o artigo sobre a vida e a obra de Honoré de Balzac está lá na página inicial da Wikipédia em destaque já faz uns dias. Isso quer dizer que, se você precisar de informações precisas sobre o autor de A Comédia Humana, a comunidade de colaboradores da Enciclopédia Livre – como é conhecida a Wikipédia – garante que naquele artigo você pode confiar.

E não é fácil virar “Artigo em destaque”: primeiro, o texto tem que se enquadrar em um lista enorme de critérios (deve conter referências, fontes, notas, etc) e só então vai para a fila de votação. Apenas os usuários mais ativos e mais antigos têm direito a voto, ou seja, tem muita gente comprometida com a Wikipédia de olho no que é publicado por lá. E o processo não termina aí: são contabilizados apenas os votos que vêm com justificativa. E não adianta escrever qualquer coisa, pois só vale se a justificativa estiver de acordo com aquela lista de critérios iniciais. Após esta seleção criteriosa (ufa!), o artigo mais bem votado ganha destaque na página inicial da língua correspondente. É por isso que ser eleito como “Artigo em destaque” na Wikipédia é um mérito e tanto para o conteúdo construído colaborativamente.

Outra opção para saber tudo sobre Balzac é assistir ao documentário Vida & Obra – Honoré de Balzac, apresentado pelo editor Ivan Pinheiro Machado na L&PM WebTV.