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Teste: “Por que você não se casou… ainda”

Por que você não se casou… ainda é, como o próprio subtítulo indica “A conversa séria que você precisa para conseguir o relacionamento que merece”. O bom é que a autora, a roteirista de TV norteamericana Tracy McMillan, consegue colocar o máximo de bom humor nesse assunto que é a busca pela outra metade da sua laranja. Usando a própria vida como exemplo, Tracy acaba soando como a melhor amiga em uma conversa do tipo “caia na real”.

Você está em dúvida se precisa ler ou não este livro? Então dê uma olhada no teste que Tracy McMillan propõe logo nas primeiras páginas. É bem divertido:

Teste
Ou 38 motivos pelos quais você pode precisar deste livro

Responda com o máximo de sinceridade possível. Se não tiver certeza, deixe para lá e pule para a próxima pergunta.

Marque verdadeiro (v) ou falso (f)

1. Às vezes me pergunto o que tem de mais estar em um relacionamento amoroso.

2. A coisa de que mais gosto é estar certa.

3. Quero muito ser amada pelo que sou.

4. Fico tanto tempo no trabalho que tenho pensado em pintar meu escritório.

5. Pessoas legais me tiram do sério.

6. Tenho mais de dois afilhados (some 1 ponto extra para cada afilhado adicional).

7. Não me importo com aparência, a menos que o cara seja pobre ou burro.

8. Tenho especialização em uma área que não resulta em emprego algum.

9. Nunca traí ninguém na vida – exceto aquela única vez.

10. No que diz respeito à maternidade, minha idade está entre QSF e PQP.

11. Os homens se apaixonam quando transam.

12. Já bisbilhotei o celular ou o computador de um homem.

13. Já encaminhei a mim mesma e-mails ou torpedos do celular ou do computador de um homem (some 3 pontos).

14. Já apareci de surpresa no local de trabalho de um homem.

15. Às vezes me pergunto como a Grande Muralha da China foi construída sem minha contribuição.

16. Já me disseram que sou carente. Achei uma bobagem.

17. Já terminei um relacionamento por torpedo ou correio de voz.

18. Já olhei para a foto de um homem na internet e realmente senti que nos casaríamos (se você se casou mesmo com ele, some 10 pontos).

19. Tenho certeza de que sou médium.

20. Somando tudo, fiz terapia por mais de cinco anos.

21. Sou assinante da revista Caras. (Contigo, some 5 pontos. Ana Maria, some 8 pontos.)

22. Tenho um comportamento ou hábito com o qual juro parar assim que meu marido aparecer.

23. Esquecer é algo supervalorizado. Eu gosto de insistir nas coisas.

24. Gosto de namorar caras com emprego, rosto ou família melhores do que os meus.

25. Às vezes me acho gorda/feia/burra – mas não tenho autoestima baixa.

26. Minha estante está cheia de livros de autoajuda.

27. Eu li Crepúsculo (se leu até o fim, some 3 pontos; se comprou

ingresso antecipado para o filme, some 7 pontos; se acampou na fila à porta do cinema, some 23 pontos).

28. Tentei fazer a coreografia de “Single Ladies” pelo menos uma vez.

29. Descubro o signo de um cara na primeira semana.

30. Sei o que é zabasearch.com.

31. Já mandei e-mail e torpedo fofo ou bicho de pelúcia dentro de uma caneca para um cara – mesmo quando, tecnicamente, não estávamos namorando.

32. Meu pai era mentiroso, trapaceiro, apostador, criminoso e/ou mesquinho.

33. Minha mãe era alcoólatra, deprimida, furiosa, linda e/ ou extremamente bem-vestida.

34. Meus irmãos eram mais bonitos, inteligentes, atléticos do que eu e/ou do tipo que gosta de demonstrar superioridade.

35. O cão da família gostava de transar com as pernas das pessoas ou tinha outros problemas psicológicos.

36. Já escolhi o nome dos meus filhos (se for Bella ou Edward, some 12 pontos).

37. Estou solteira e não consigo entender o porquê.

38. Casamento é ridículo. E os homens são uns cretinos.

Calcule o resultado. Um ponto para cada “verdadeiro”, mais os pontos extra indicados. Não trapaceie.

1-9 PONTOS: VOCÊ PRECISA UM POUCO DESTE LIVRO

Mas certamente já vai saber tudo o que há nele. Então leia bem rapidinho, depois faça um favor à sua melhor amiga, irmã, falsa amiga ou colega de trabalho que está solteira e compre um exemplar para ela. Diga que considera tudo uma grande bobagem, mas que achou tão idiota que precisou dar a ela. Sugira que, quando ela terminar de ler, vocês se reúnam para rir das bobagens do livro. Torça para que ela acabe aprendendo algo mesmo assim.

10-19 PONTOS: VOCÊ PRECISA DESTE LIVRO

No mundo da medicina, pode-se dizer que uma pessoa está bem ou que está-bem-mas-precisa-se-cuidar. Você se encaixa no segundo caso. Não significa que nunca terá um relacionamento amoroso feliz se não descobrir o que está acontecendo com você, apenas que isso acontecerá muito mais rápido se descobrir. E, como um fungo, quanto mais se espera, pior fica. É necessário saber exatamente com que tipo(s) de fungo(s) se está lidando. Quando terminar de ler este livro, você saberá.

20-29 PONTOS: VOCÊ PRECISA MUITO DESTE LIVRO

Sua vida amorosa é como a véspera de ano-novo de um ano cheio de comilança, bebedeira e cigarros. Você está exausta. Não há como negar que você até se divertiu, mas agora está aliviada porque o ano acabou e finalmente poderá fazer algumas resoluções e se ocupar descumprindo-as. Para você, este livro é como 1o de janeiro – uma chance para recomeçar e fazer certo dessa vez. E, se estiver preocupada em sair da linha, saiba que não é necessário. Porque aprenderá neste livro que você é a linha.

30+ PONTOS: VOCÊ PRECISA MUITO, MUITO, MUITO DESTE LIVRO

Você já sabe que algo em sua vida amorosa não está dando certo. O que não sabe é que nada em sua vida amorosa está dando certo. Mas não se desespere. Resolver isso será muito mais fácil e agradável do que o que você está fazendo agora, que é tentar continuar em negação. Isso não é nada fácil.

A mãe das jornalistas, por Eduardo Galeano

Os filhos dos dias, mais recente livro de Eduardo Galeano, conta que, na manhã de 14 de novembro de 1889, há exatos 123 anos atrás, uma jovem de 20 anos começou a viagem que faria com que se tornasse a primeira grande repórter que o mundo teve notícia.

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Feira do Livro de Porto Alegre foi muito além dos tons de cinza

A Câmara Riograndense divulgou ontem o balanço da 58ª Feira do Livro de Porto Alegre. Durante seus 17 dias, o evento recebeu 1,3 milhão de pessoas e foram vendidos 411.056 livros. Já a lista dos títulos que mais venderam ficou a cargo do Jornal Zero Hora – já que a Câmara abandonou a prática de mostrar os preferidos do público.

Uma semana antes do final da Feira, Zero Hora percorreu as 106 bancas da Área Geral para elaborar o ranking. Os livreiros foram solicitados a informar os três livros nacionais e três internacionais mais procurados. Com a divulgação de que os mais vendidos da literatura nacional eram David Coimbra com Uma história do mundo e Martha Medeiros com Um lugar na janela, estes títulos da L&PM Editores passaram a ter uma procura ainda maior e fizeram com que a Feira do Livro ganhasse outras cores além dos “50 tons de cinza”.

É bom lembrar que, em meio a tantas opções de livros, a lista de mais vendidos funciona como uma indicação ao leitor que, muitas vezes, sente-se perdido no mar de títulos que vê pela frente.

Martha Medeiros autografou por quase quatro horas na Feira do Livro de Porto Alegre

A fila de David Coimbra também durou muitas horas e seu livro já está na terceira edição

Um romance marcante

Por Paula Taitelbaum*

Antes de trabalhar na L&PM, eu já tinha uma ligação forte com essa casa. Primeiro, porque como escritora venho publicando por aqui desde 1999. Segundo, porque há alguns anos sou colaboradora de jornais e revistas – o que fazia de mim uma potencial habitante do mailing da editora. Digo isso para contar que eu costumava receber muitos dos lançamentos da L&PM. Foi assim que, um certo dia lá por novembro de 2007, cheguei em casa e encontrei mais um  embrulho em papel pardo. Ao abrir o pacote, dei de cara com um nome que nunca tinha ouvido falar na vida: Nancy Huston. Além do nome da autora, o livro recém chegado trazia a foto de uma menina em preto e branco e possuía um título bastante poético: Marcas de Nascença.

Confesso que quase nunca eu folheava o livro na hora em que ele chegava – muito porque eu sempre estava atrasada para ir ou fazer alguma coisa –, mas Marcas de Nascença foi como um imã e, ali mesmo, de pé na sala, abri na primeira página. Instanteneamente, fui sugada pela história, pelas frases que não chegavam ao fim do parágrafo e pelos espaçamentos diferentes que soavam como um poema, além do fluxo de pensamento muitas vezes sem vírgula, ponto:

Estou acordado.
É como ligar o interruptor e encher o quarto de luz.
Assim que escapo do sono, estou ligado alerta     eletrificado,     com a cabeça e o corpo funcionando perfeitamente. Tenho seis anos e sou um gênio. Esse é o primeiro pensamento do dia.
O meu cérebro preenche o mundo e o mundo preenche o meu cérebro,
eu controlo e possuo cada parcela dele.
Domingo de Ramos                 muito cedo
A bisa de visita aqui em casa
A mamãe e o papai ainda estão dormindo um domingo
ensolarado             sol           sol         sol        Rei sol
Sol           Solly       Solomon
Sou uma onda de luz                instantânea             invisível       e    todo-poderosa que se espalha pelos cantos mais sombrios do universo se a menor dificuldade

Aquelas palavras – e todas as que vieram a seguir – pareciam ser tudo o que eu queria ter escrito na vida. Não larguei mais o livro. Dividido em quatro capítulos, ele conta as histórias de quatro membros da mesma família judia que possuem uma idêntica marca de nascença em diferentes lugares do corpo. Histórias sempre narradas do ponto de vista de uma criança de seis anos e com um estilo diferentes para cada capítulo. Dessa forma, vai se desenrolando um novelo familiar que conta em primeira pessoa a vida do bisneto, pai, avó e bisavó. Tudo começa com Solomon, passando para seu pai Randall, indo para sua avó Sadie e terminando em sua bisavó Kristina. Num período que vai de 2004 até 1945.

Digo, com certeza, que Marcas de Nascença foi um dos melhores livros que já li na vida. E este ano, ele foi relançado na Coleção L&PM Pocket. Ou seja: provavelmente é fácil encontrá-lo por aí. Vá atrás!

* Toda semana, a Série “Relembrando um grande livro” traz um texto assinado em que grandes livros são (re)lembrados. Livros imperdíveis e inesquecíveis.

Começou a Bienal do Livro do Ceará

Começou na semana passada e vai até domingo, dia 18, a Bienal Internacional do Livro do Ceará, com intensa programação cultural gratuita. Tem teatro, cinema, música, oficinas, programação infantil, recreação, além das tradicionais sessões de autógrafos com lançamentos de livros.

A programação completa está no site do evento. Agende-se e aproveite!

Serviço:
Data: 8 a 18 de novembro de 2012
Local: Centro de Eventos do Ceará – Fortaleza (CE)
Horário de Visitação: das 9 horas às 22 horas
Entrada gratuita

Quando o anjo modernista voou

(…) em novembro de 1914, Orris Soares e Heitor Lima encontraram-se com Olavo Bilac e o informaram do prematuro falecimento de Augusto. “E quem é esse Augusto?”, perguntou Bilac. Um grande poeta, responderam-lhe, e Heitor Lima recitou o soneto Versos a um coveiro. Bilac sorriu superiormente e comentou: “Fez bem em morrer, não se perde grande coisa”. Bilac não viveu o bastante para perceber que se enganara. Os anos da guerra modificavam o gosto dos leitores e a literatura excedia o frívolo tropo de “sorriso da sociedade”. Da terceira edição de Eu, em 1928, venderam-se 5.500 exemplares em dois meses, os primeiros 3.000 em apenas quinze dias. Era o começo da longa e acidentada via de reconhecimento público, que faria de Augusto o que ele é hoje, um dos mais admirados poetas brasileiros e, por certo, o mais original. (Trecho da introdução de Eu e outras poesias, de Augusto dos Anjos – Coleção L&PM Pocket).

O paraibano Augusto dos Anjos morreu precocemente de pneumonia aos 30 anos em 12 de novembro de 1914. Poeta que costumava compor “de cabeça”, enquanto gesticulava e pronunciava os versos de forma excêntrica para só depois transcrever suas palavras para o papel, Augusto publicou apenas um livro em vida: Eu. Após sua morte, o amigo Orris Soares organizou uma edição chamada Eu e Outras Poesias que incluiu poemas até então inéditos para o público, entre eles Versos a um coveiro. Este belíssimo soneto que, naquela época, era moderno demais para parnasianos como Olavo Bilac. 

VERSOS A UM COVEIRO

Numerar sepulturas e carneiros,
Reduzir carnes podres a algarismos,
– Tal é, sem complicados silogismos,
A aritmética hedionda dos coveiros!

Um, dois, três, quatro, cinco… Esoterismos
Da Morte! E eu vejo, em fúlgidos letreiros,
Na progressão dos números inteiros
A gênese de todos os abismos!

Oh! Pitágoras da última aritmética,
Continua a contar na paz ascética
Dos tábidos carneiros sepulcrais

Tíbias, cérebros, crânios, rádios e úmeros,
Porque, infinita como os próprios números,
A tua conta não acaba mais!

Haicais de Jack Kerouac por Claudio Willer

Um presente da L&PM para os fãs de literatura beat: quatro Haicais inéditos de Jack Kerouac em tradução de Claudio Willer (autor de Geração Beat). O livro com estes pequenos poemas, escritos pelo autor de On the Road, chega no início de 2013.

A árvore parece
um cão
Latindo ao Céu

Nenhum telegrama hoje
– Nada a não ser
Mais folhas caídas

Os moinhos de vento de
Oklahoma olham
em todas as direções

Agachada na
nevasca, a antiga
Miséria do gato

Martha Medeiros e Assis Brasil autografam na Feira do Livro de Porto Alegre

Hoje, 10 de novembro, Martha Medeiros e Luiz Antonio de Assis Brasil têm encontros marcados com os leitores na Feira do Livro de Porto Alegre. Martha autografa seu livro, Um lugar na janela, às 16h. E Luiz Antônio de Assis Brasil falará sobre Figura na sombra na Sala Oeste do Santander Cultural às 18h e, às 19h, vai autografar seu novo livro. Leia aqui os textos publicados hoje no Caderno Especial Feira do Livro do Jornal Zero Hora.

O jeito Martha de viajar

Escritora lança “Um Lugar na Janela: Relatos de Viagem”

Por Rosane Tremea – Jornalista

É bem lá no final de Um Lugar na Janela que Martha Medeiros deixa clara a impressão das primeiras páginas do livro. Seus relatos de viagem podem ser traduzidos como anotações despretensiosas, daquelas que os mais ou menos viajantes fazem ao final de cada dia, recostados à cama da pousada, na sacada do hotel ou na mesa de um café. Tudo para não deixar escapar um detalhe, para não esquecer uma sensação, um sabor, um aroma, para não ser traído pela memória. Ainda que não se tenha, como ela diz, pretensões jornalísticas ou literárias.

Para perceber isso, não seria preciso chegar exatamente ao final do livro, que será lançado hoje, às 16h, na Praça de Autógrafos. Desde o início, Martha esclarece não se tratar de um guia de viagens, nem de tratados filosóficos ou antropológicos de autores como Paul Theroux ou Alain de Botton, ou da literatura que emerge das incursões de Pablo Neruda e Erico Verissimo.

Muito antes de se tornar uma escritora, Martha viajava. Diz ela, aliás, que a aventura começou às 14h do dia 20 de agosto de 1961, em Porto Alegre. Ou seja, os motivos que a levam a se mover por cidades, países e continentes são os que a fazem viver desde a hora do nascimento: o desejo da descoberta, para resumir.

É assim desde a primeira ida à Europa, aos 20 e poucos anos (naquele tempo, e não faz tanto tempo, a primeira vez não era tão precoce!), pulando de país em país, hospedando-se na casa de amigos de amigos, até o mais recente pouso em Nova York, a última escala descrita, na companhia das duas filhas.

Há de tudo no diário de bordo de Martha. De situações prosaicas – como embriagar-se de um pôr do sol, esperar em vão pela bagagem ao lado de uma esteira –, a outras nem tanto, como sentar perto de Harrison Ford num aeroporto sem conseguir dirigir-lhe a palavra. Ou, ainda, aquelas que a própria abominava, como cantar em coro num ônibus de excursão a caminho de Marrakesh.

Há passagens em que se imiscui a cronista, e ela dá um toque de autoajuda materna ao revelar momentos da convivência com uma das filhas, então com 19 anos, no longínquo Japão:“Só mesmo se afastando da rotina para estabelecer uma intimidade menos invasiva e mais calorosa. Viagens propiciam isso, uma quebra de hierarquia e uma democrática união diante do desconhecimento mútuo”.

Em Um Lugar na Janela, Martha confessa render-se a alguns de seus preconceitos, a manter muitos de seus princípios, a não se render ao consumismo e nem ao invasivo e às vezes inadequado hábito de fotografar tudo o tempo todo, de não abrir mão de uma boa companhia – ainda mais se for o amor de sua vida –, mas de não deixar de embarcar quando houver só a sua própria parceria.

Martha revela seu jeito de viajar. Que não é melhor nem pior que o de ninguém. É apenas o seu jeito, leve, de ver o mundo.

* * *

Ilustres visitantes

Por Luiz Paulo Faccioli – Escritor

Porto Alegre, 1998. Luiz Antonio de Assis Brasil trabalha com avidez em seu novo romance, muitas páginas já escritas – talvez 80 –, quando estaca. A obra vai tomando a forma dos romances que o fizeram um dos mais importantes autores de sua geração. O texto à sua frente tem a prosa luxuosa, o andamento lento e as sutilezas estilísticas que sempre foram sua marca registrada. Mas o escritor sente que precisa mudar. Fiel ao que sempre ensinou a seus alunos, ele não tem dúvidas: deleta impiedosamente tudo o que havia escrito e recomeça do zero.

Em 2001, surge O Pintor de Retratos, obra demarcadora da nova fase. O público não estranhou: detrás daquela prosa agora econômica, atenta ao essencial – e, por isso mesmo, muito mais forte –, está o mesmíssimo autor, só que renovado.

De lá para cá, foram quatro romances formando uma espécie de tetralogia: todos eles são protagonizados por visitantes que chegam ao pampa e o decifram com olhos forasteiros. Esses personagens são o italiano Sandro Lanari, de O Pintor de Retratos, o cronista emissário do imperador, de A Margem Imóvel do Rio, o Maestro Mendanha, de Música Perdida. No mais recente, Figura na Sombra, figuram dois ainda mais ilustres: o médico e botânico francês Aimé Bonpland, que empreendeu diversas expedições científicas mundo afora acompanhando o naturalista e geógrafo alemão Alexander von Humboldt. A expedição às Américas, que durou cinco anos, definiu uma mudança de rumo: Humboldt retorna à Europa com o objetivo de escrever uma grande obra abrangendo todas as descobertas que fez, enquanto Bonpland decide deixar para trás o prestígio que tem na corte de Napoleão Bonaparte, e um amor incompleto pela imperatriz Josefina, para se estabelecer no pampa, interessado sobremaneira em nossa erva-mate.

Aqui, Aimé vira Don Amado, que aparece no belíssimo prólogo recebendo um emissário de Humboldt em sua estância Santa Ana, em Corrientes, Argentina, no ano de 1858.

Em suas pouco mais de 260 páginas, Figura na Sombra descreve as peripécias dos dois aventureiros em suas fabulosas expedições, em que ficção e história outra vez se mesclam. Porém, o que mais importa é a grande aventura humana: Bonpland e Humboldt têm uma relação tão rica quanto conflituosa, e Assis Brasil nos faz vivê-la em toda sua magnitude e complexidade em outro de seus magistrais romances.

Um link mágico

O Metropolitan Museum of Art de New York – como você sabe – é um dos maiores e melhores museus do mundo. Na minha opinião, o melhor. Pois ele consegue unir o peso clássico do Louvre (claro, não tem a Monalisa) ao despojado modernismo do MoMA (Museu de Arte Moderna de Nova York). Ou seja, você tem desde as tumbas dos faraós, até o mais estonteante Andy Warhol, passando por esculturas gregas, armaduras medievais, quartos decorados da renascença, além de uma poderosa coleção de pintores modernos, onde despontam dezenas de Picassos, Van Goghs, Cezannes, Gauguins, Modiglianis etc, etc. Dia 18 de setembro foi inaugurada uma exposição brilhante sobre arte pop americana, “Regarding Warhol: sixty artists, fifty years”.

Através de um olhar sobre a obra de Andy Warhol, o espectador tem a oportunidade de conhecer os artistas contemporâneos de Warhol e de seu universo pop. O resultado é a expressão desta que é mais genuína expressão artística da América. Foram selecionados 60 pintores, cujas obras estão expostas numa ala do Metropolitan, sempre intercalando entre elas algumas das mais representativas obras do inventor (descobridor?) da arte pop.

Neste link que conduz ao site do Metropolitan -> http://bit.ly/UrCHPk está uma seleção de alguns dos melhores momentos da exposição ou, como eles dizem, o “selected highlighs”. (Ivan Pinheiro Machado)

Assis Brasil conta como deu à luz ao livro “Figura na Sombra”

Por Fernanda Scherer*

Luiz Antonio de Assis Brasil, além de escritor, é Secretario de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul, professor universitário e ministrante da Oficina de Criação Literária mais antiga do Brasil. No evento de ontem, em São Paulo, Assis Brasil falou sobre técnicas literárias e sobre seu novo livro, Figura na sombra.

Figura na sombra marca uma nova estética da obra do escritor, com capítulos, parágrafos e frases mais curtas. Cada capítulo é uma unidade autônoma, o romance é fragmentado e o que dá consistência orgânica à obra é a personagem. Na entrevista exclusiva que Assis deu a L&PM WebTV em outubro de 2012, o autor reforça que uma grande história, mesmo uma história real como a do Aimé Bonpland, não é suficiente para um grande romance. Um grande romance, segundo ele, precisa de uma grande personagem e, em Figura na sombra, ele constrói a personalidade e os conflitos de Aimé, preenchendo com a imaginação os pormenores que as pesquisas dos acontecimentos reais não trouxeram.

A história de um francês, reconhecido médico e botânico, que vem parar em uma estância no Rio Grande do Sul já é por si só curiosa, mas, durante o evento de ontem, Assis Brasil revelou de onde veio a inspiração para contar tal história. E a história sobre a história de como ele escolheu o tema também renderia uma nova história.

Tudo começou há décadas atrás, quando Assis Brasil ganhou de um colega professor um livro artesanal, com o título escrito em francês, mas cujo significado era “Viagem de São Borja a Porto Alegre pela serra”. Pois o livro de capa verde foi para a prateleira da biblioteca de Assis e por lá ficou durante muitos anos. Foi somente em 2006 que, embalado por uma taça de vinho, Assis resgatou o livro e resolveu finalmente dar uma olhada. Abriu em uma página aleatória e viu um nome conhecido. Era o nome de seu bisavô. Em seguida, viu também o nome de sua bisavó. Só podiam ser eles. E pensando em tamanha coincidência, leu toda a obra de um gole só e foi em busca de sua origem. Descobriu então que aquele “carnet de Voyage” havia sido copiado à mão por um aluno da UFRGS em visita a uma biblioteca argentina onde estavam guardados todos os cadernos de viagem de Aimé Bonpland. E assim começaram as pesquisas sobre esse fascinante naturalista.

E por que os bisavós do escritor estavam na história? Aimé queria um sócio para entrar com capital para a fabricação de erva-mate em Porto Alegre. O bisavô, felizmente, não aceitou (o porquê do “felizmente” você descobrirá lendo o livro).

Amanhã, sábado, 10 de novembro, Assis Brasil autografa Figura na sombra na Feira do Livro de Porto Alegre às 19h. Mas nesse mesmo dia, às 18h, o autor fala sobre a história do livro no evento “Aimé Bonpland: uma figura na sombra”, na Sala Oeste do Santander Cultural.

No evento em São Paulo, Assis Brasil contou de onde veio a inspiração para escrever "Figura na Sombra". Ao seu lado, Rosangela Petta que mediou o bate-papo

*Fernanda Scherer é gerente de marketing da L&PM Editores e acompanhou o evento de Assis Brasil em São Paulo.