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A natureza em livro

No Dia Mundial do Meio Ambiente, que tal um pouco da natureza semeada em letras? Leia abaixo, pequenos trechos de cinco livros que fazem parte da Coleção L&PM Pocket:

MANUAL DE ECOLOGIA – DO JARDIM AO PODER, de José Lutzenberger: No terreno desnudado ou na floresta degradada pelo fogo, as enxurradas destroem em minutos ou horas o que a Natureza levou milhares de anos para fazer. Uma polegada de solo fértil pode levar até quinhentos anos para formar-se.

O CHAMADO DA FLORESTA, de Jack London: O silêncio espectral do inverno dera lugar ao grande murmúrio primaveril da vida que despertava. Este murmúrio surgia de toda a terra, pleno da alegria de viver. Provinha dos seres que viviam e se moviam novamente…

O LIVRO DA SELVA, de Rudyard Kipling: Naquele outono deixou a ilha logo que pôde, com um objetivo em mente. Queria encontrar a Vaca-Marinha, se é que existia tal criatura, e depois queria encontrar uma ilha tranquila, com praias seguras, onde as focas pudessem ficar a salvo dos homens.

O LIVRO DAS PERGUNTAS, de Pablo Neruda: Se todos os rios são doces de onde tira sal o mar? Como sabem as estações que devem mudar de camisa? Por que tão lentas no inverno e tão palpitantes depois? E como sabem as raízes que devem subir para a luz?

WALDEN – A VIDA NOS BOSQUES, de Thoreau: Os homens se tornaram o instrumento de seus instrumentos. O homem independente que colhia os frutos quando estava com fome virou agricultor; aquele que se abrigava sob uma árvore agora tem uma casa para cuidar.

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O Marquês de Sade e seu castelo

Foi em 2 de junho de 1740, em Paris, que nasceu Donatien Alphonse François de Sade. A partir desse dia, com o passar dos anos, o Marquês de Sade, como ficaria conhecido, jamais se contentou em ser um mero nobre, muito menos um escritor como outro qualquer. Sem-vergonha, sem pudores e sem medo de ser feliz, ele colocou em prática todos os seus desejos. Como resultado, batizou um adjetivo: “sádico” e um substantivo: “sadismo”. E entrou para a história como um dos autores mais libertinos de todos os tempos. A simples menção de seu nome, ainda hoje, é capaz de despertar fantasias. Ou seja: o Marquês de Sade é pop.

Mas antes de se dedicar com força total à vida de “pura sacanagem”, Sade teve um currículo aparentemente comportado: estudou na Escola de Cavalaria Ligeira, foi subtenente do regimento de infantaria do rei, virou oficial e tornou-se capitão de cavalaria de Bourgogne. Mas preferiu largar tudo para cavalgar outros tipos de… bom, deixa pra lá.

Em 1774, depois de vários escândalos, alguns envolvendo prostitutas sodomizadas, ele acabou isolando-se no castelo da família, na pequena cidade de Lacoste, região da Provence francesa. Por estar no topo da colina, o chateau de Sade fazia com que ele ficasse observando a cidade (e talvez imaginando o que os pobres mortais estavam fazendo em suas alcovas). A imensa propriedade, com dezenas de quartos e cômodos, foi palco de inúmeras orgias – e quem sabe de algumas festas de aniversário. Abandonado, semi-destruído e cercado de mistérios, o castelo de Lacoste foi comprado, em 2001, pelo renomado estilista Pierre Cardin que então iniciou um projeto de restauração. A antiga casa de Sade permanece fechada ao público, mas algumas obras de arte ficam em exposição permanente ao ar livre. Só passear em volta dele, imaginando o que o Marquês aprontava por lá, já vale a visita. Então fica a dica para a sua próxima viagem.

Chegando em Lacoste já se vê o castelo do Marquês de Sade no alto da colina

As ruínas que já estão sendo restauradas, ainda escondem mistérios

A escultura surreal de Ettore Greco homenageia o Marquês de Sade

Mais uma escultura de Ettore Greco no castelo

Ao descer a colina, bom mesmo é aproveitar o Café de Sade, também de Pierre Cardin

Do Marquês de Sade, a L&PM publica Os crimes do amor e O marido complacente.

A Irlanda, país natal de Oscar Wilde, aprova casamento gay por referendo popular

Oscar Wilde foi uma das mais célebres vítimas da intolerância contra homossexuais e foi encarcerado na prisão por isso. Agora, a Irlanda natal de Wilde tornou-se o primeiro país na História a reconhecer o casamento gay por referendo popular. Foi uma vitória esmagadora do “sim”. Leia artigo escrito por Beatriz Viégas-Faria a convite do jornal Zero Hora. Beatriz é tradutora de O fantasma de Canterville da Coleção L&PM Pocket.

O lado Wilde da História

Por Beatriz Viégas-Faria

Oscar Wilde (1854 – 1900) foi autor de alguns títulos clássicos das literaturas de língua inglesa, entre eles um romance (O Retrato de Dorian Gray), contos, poesia e várias peças teatrais (escritas entre 1891 e 1895) que o tornaram popular em seu tempo e que vêm sendo estudadas, filmadas e traduzidas até hoje (entre elas, Salomé, O Leque de Lady Windermere, Uma Mulher sem Importância, Um Marido Ideal, The Importance of Being Earnest – o título desta em português varia conforme a tradução).

A Irlanda era parte do império britânico, e Oscar Wilde, nascido em Dublin, viveu na era vitoriana (o reinado da rainha Vitória durou de 1837 até sua morte, em 1901). Foi um tempo que pode ser caracterizado como de hipocrisia social. Conforme se pode ler na introdução ao compêndio Essays and Nonfiction of Oscar Wilde (Golgotha Press, 2011): “havia casas de prostituição, maridos tinham e mantinham amantes, as mulheres nem sempre eram fiéis aos seus maridos, casais moravam em casas separadas, e a homossexualidade era praticada, mas a grande maioria das pessoas preferia ignorar tais assuntos e varrê-los para debaixo do tapete. […] Os homossexuais eram marginalizados, mas, se optassem por não viver à margem da sociedade, eram forçados a viver uma mentira ou fazer o possível e o impossível para disfarçar sua orientação sexual”.

Contudo, os pais de Oscar Wilde não tinham nada de convencionais para a época. O pai, William, foi um oftalmologista de renome que não fazia questão de esconder seus casos antes e depois do casamento. A mãe, Jane F. Elgee, era uma intelectual poliglota que publicava poesia e, já como Lady Wilde, foi uma ativista da causa pela independência da Irlanda.

Sabe-se que Oscar Wilde flertou com mulheres e com homens. Diz-se que ele foi um homossexual que lutava contra sua orientação, mas há autores que sustentam que era bissexual. A cerimônia de casamento com Constance Mary Lloyd, filha de um importante advogado irlandês, em 1884, foi impregnada de teatralidade – aparentemente, Londres não esperava outra coisa de Wilde. Do casamento, nasceram dois filhos homens – Cyril e Vyvyan.

Depois do nascimento do segundo filho, Wilde passou a frequentar locais em Londres onde mantinha encontros sexuais com outros homens, pagos ou não. Parece ter sido Lorde Alfred “Bosie” Douglas quem apresentou Wilde à prostituição masculina. No começo dos anos 1890, Bosie, com vinte e poucos anos, tornara-se amante do famoso Wilde. Quando o pai do rapaz, um marquês, acusou Wilde de homossexualidade (um crime à época), o próprio escritor, ingenuamente, resolveu processá-lo.

O dramaturgo negou ser homossexual quando perguntado em juízo. E deu continuidade a seu affair com Bosie. O pai do rapaz contratou quem coletasse provas da homossexualidade de Wilde. O marquês ganhou a causa e tomou para si os bens do autor, que foi condenado a dois anos de trabalhos forçados em Reading Gaol. O juiz alertou-o contra “atos piores que estupro ou assassinato”. Seu amante foi considerado “vítima”.

Na prisão, Wilde a princípio não teve acesso a material de escrita. Quando teve, escreveu um texto que até hoje impressiona, e muito – como literatura, como a anatomia de uma paixão, como um dossiê sobre alegrias e arrependimentos quando o assunto são os relacionamentos amorosos. De Profundis é livro sempre reeditado, sempre traduzido: uma longa carta ao seu querido Bosie, a quem ele acusa de nunca ter ido visitá-lo na prisão; um testemunho vívido de como podem sofrer os encarcerados.

Em maio de 1897, o prisioneiro C.3.3 de Reading Gaol foi libertado depois de cumprir sua pena, mudou-se para a França. Depois da condenação, Wilde não viu mais os filhos nem a esposa. Constance trocou seu sobrenome e o das crianças para Holland. O escritor passou os três últimos anos de sua vida na miséria, vivendo da caridade de amigos. Morreu em Paris, doente e sem conseguir voltar à literatura.

Em maio de 2015, a Irlanda natal de Wilde tornou-se o primeiro país na História a reconhecer o casamento de duas pessoas do mesmo sexo por referendo popular. Em vitória esmagadora do “sim” ao casamento gay, um país predominantemente católico revisa seus valores e atesta ser parte atuante do mundo conectado pelas redes sociais. Até 1993, há meros 22 anos, a homossexualidade ainda era crime na Irlanda, como no tempo de Wilde. O poder da Igreja Católica Apostólica Romana na Irlanda foi feroz, em todos os sentidos (filmes como The Magdalene Sisters (2002) e Philomena (2013) discutem essa ferocidade). Só em 1972 a Constituição da Irlanda retirou (também por referendo popular e por ampla maioria) de seu texto uma cláusula que reconhecia a “posição especial” da Igreja Católica no governo e na governabilidade do país.

Numa Irlanda onde as escolas e os hospitais foram tradicionalmente administrados por ordens religiosas, os resultados do referendo fazem pensar: o país está se movendo no sentido de tirar o poder da Igreja sobre assuntos seculares, sim. Mas o que mais? Encontrei uma resposta plausível em um artigo do periódico The Atlantic. O texto, assinado por Mo Moulton, sugere que os conterrâneos de Wilde podem ter votado por uma rejeição da autoridade da Igreja sobre certos valores morais, mas não votaram contra ideais católicos. Abraçam a causa LGBT e, ao mesmo tempo, os vínculos afetivos da família – não mais a família tradicional. Assim, a Irlanda pode estar sinalizando ao mundo caminhos outros para o próprio catolicismo.

Oscar Wilde e bosie

Oscar Wilde e Bosie

 

Conheça os títulos de Oscar Wilde publicados pela L&PM Editores.

G. K. Chesterton, o criador do Padre Brown

O que há de mais acreditável nos milagres é que eles acontecem. Algumas nuvens no céu agrupam-se para formar um olho humano. Uma árvore destaca-se na paisagem de uma jornada duvidosa na forma exata e elaborada de um sinal de interrogação. Eu mesmo vi as duas coisas nos últimos dias. Nelson morre, de fato, no instante da vitória; e um homem chamado Williams mata de forma completamente acidental um homem chamado Williams Jr., isso soa meio como um infanticídio. Resumindo, na vida existe um elemento mágico nas coincidências que as pessoas ao pensar no prosaico talvez nunca notem. Como bem expressa o paradoxo de Poe, a sabedoria tem que levar em conta o inesperado.

O texto acima está em A inocência do Padre Brown, de G. K. Chesterton (Coleção L&PM Pocket), livro que traz doze histórias sobre crimes misteriosos. O londrino Chesterton, que  nasceu em 29 de maio de 1874, criou um padre detetive que utiliza a intuição – além de métodos excêntricos – para desvendar os crimes. Além de suas histórias de mistério, Chesterton conquistou legiões de fãs com poesias, epopeias, artigos jornalísticos, livros de crítica literária e romances. Segundo Jorge Luis Borges, nenhum outro escritor foi capaz de lhe proporcionar tantas horas felizes quanto Chesterton.

Chesterton e sua esposa, Frances.

Chesterton e sua esposa, Frances.

 

Rooney Mara premiada como melhor atriz em Cannes pelo no filme “Carol”

A história de amor entre duas mulheres de idades e classes sociais diferentes. Este é o storyline de “Carol”, filme baseado no livro de Patricia Highsmith escrito em 1953 e cujo título original é The Price of Salt. “Carol” tem direção de Todd Haynes como personagens principais estão Cate Blanchett e Rooney Mara. O filme está previsto para chegar aos cinemas em dezembro, mas, exibido no Festival de Cannes no final de semana passado, ele já levou dois prêmios: melhor atriz para Rooney Mara e o “Queer Palm 2015” que destaca, a cada ano, um filme de temática homossexual, bissexual ou transex. Enquanto dezembro não chega, você pode assistir algumas cenas do filme na entrevista com a equipe em Cannes:

Rooney Mara é Therese Belivet, aspirante a cenógrafa que trabalha como vendedora na seção de bonecas de uma loja de departamentos e Cate Blanchet é Carol, uma bela e elegante mulher recém separada e mãe de uma filha que, na época do Natal, em meio à loja lotada, chama atenção de Therese. A vendedora fica hipnotizada por ela: “Alta e clara, com um longo corpo elegante dentro de um casaco de pele folgado (…), seus olhos eram cinzentos, claros e, no entanto, dominadores, como luz ou fogo” – assim começa o livro.

A L&PM publica Carol na Coleção L&PM Pocket e está prevendo também uma nova edição em formato maior..

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(Cuidado que a seguir há um Spoiler!!!)

Escrevendo inicialmente sob o pseudônimo de Claire Morgan, Patricia Highsmith criou um romance que aborda uma relação amorosa entre mulheres que, pela primeira vez na literatura, teve um final feliz. Mas não pense que esta é uma simples história de amor: a escritora criou uma trama cheia de aventura, suspense e contornos noir.

“Sapiens” ganha destaque em Brasília

Sapiens, de Yuval Noah Harari, é um livro sobre nós todos: seres humanos. Ler suas páginas é mergulhar no nosso passado, mas principalmente no nosso futuro, pois ele não mostra apenas de onde viemos, mas questiona para onde vamos.

O jornal de Brasília Correio Braziliense dedicou uma página inteira ao livro e a seu autor, o israelense Yuval Noah Harari. Clique sobre a imagem para ler a matéria assinada por Nahima Maciel:

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Clique sobre a imagem para ampliar e ler a matéria

 

O verdadeiro Sherlock Holmes

WisherNem todo mundo sabe, mas o mais famoso detetive da literatura, Sherlock Holmes, criado por Sir Arthur Conan Doyle, foi inspirado em um homem de carne e osso. Seu nome era Jonathan Whicher e ele era um dos oito investigadores da Scotland Yard em meados do século XIX, na Inglaterra vitoriana. Conhecido como o “príncipe dos detetives”, pela sua capacidade de dedução e percepção apurada, Whicher foi o inspetor designado para solucionar um trágico caso: o de um garoto de três anos sequestrado e degolado na casa de campo dos seus pais, o casal Mary e Samuel Kent, na manhã de 29 de junho de 1860. O crime escandalizou a sociedade inglesa e ficou conhecido como “o assassinato de Road Hill”. A forma como Whicher solucionou o caso o tornou famoso e desencadeou uma “febre detetivesca”. Mas, cá entre nós, a fama dele não chegou nem aos pés de Sherlock Holmes, né?

Conheça os livros de Sir Arthur Conan Doyle publicados pela L&PM Editores.

É ou não é Shakespeare, eis a questão

O historiador e botânico britânico Mark Griffith acaba de plantar uma polêmica: ele afirma ter encontrado aquele que seria o único retrato fiel do dramaturgo William Shakespeare (1564-1616). Griffith diz ter chegado à identificação do bardo em uma gravura do final do século XVI após de ter decifrado um quebra-cabeça engenhoso.

O botânico defende que a gravura mostra Shakespeare por volta dos 33 anos. Ele teria descoberto que se tratava do autor de Hamlet quando pesquisava a biografia de John Gerard (1545-1612), um pioneiro da botânica a quem se deve a monumental obra de referência The Herball or Generall Historie of Plantes, um calhamaço de quase 1500 páginas originalmente publicado em 1597.

Dos exemplares dessa primeira edição que chegaram até aos nossos dias, só uma dezena preserva a página de rosto, decorada com uma gravura de autoria de William Rogers, na qual figuram quatro personagens que, até então, todos achavam que teriam saído da imaginação do artista. Até a tese de Griffith.

Ele defende que Rogers figurou quatro pessoas reais e que os motivos vegetais e heráldicos que rodeiam cada uma das personagens revelam a respectiva identidade. Ainda de acordo com o investigador, seriam elas o próprio autor do livro, John Gerard, um famoso botânico flamengo, Rembert Dodoens, o tesoureiro-mor da Rainha Isabel, Lord Burghley, e William Shakespeare.

A identificação do dramaturgo inglês apoia-se no fato de que a quarta figura representada por Rogers segura uma espiga de milho e uma fritilária, planta da família das liliáceas, motivos que apontariam para o poema Venus e Adônis, de Shakespeare, e para a sua peça Tito Andrônico.

O achado de Griffith foi relevado pela revista britânica Country Life, que o rotulou como “a descoberta literária do século”. Uma declaração um pouco imprudente, dizem alguns, já que a solidez da prova é um tanto quanto duvidosa e existe um histórico de retratos de Shakespeare que foram apresentados e contestados nos últimos anos. Mas não deixa de ser curioso mesmo assim.

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A L&PM Editores possui uma coleção inteira dedicada a Shakespeare. Veja aqui.

Pesquisadores identificam Machado de Assis em foto histórica sobre abolição

“Onde está Machado?”. Este é o título da matéria da Folha de S. Paulo que traz a incrível foto feita no dia 17 de maio de 1888, quatro dias depois da assinatura da Lei Áurea, e onde pesquisadores do portal Brasiliana Fotográfica identificaram a presença do escritor Machado de Assis. O título é perfeito, já que há uma multidão na imagem.

A divulgação dessa descoberta foi feita exatamente no aniversário da foto, domingo passado, em 17 de maio de 2015.

Essa fotografia mostra a missa campal celebrada em São Cristóvão, no Rio, em homenagem à abolição da escravatura e que reuniu cerca de 30 mil pessoas. A imagem foi registrada pelo fotógrafo Antonio Luiz Ferreira e pertence hoje à coleção do IMS (Instituto Moreira Salles). No canto esquerdo, está a princesa Isabel e seu marido, o conde D’Eu. Analisando a foto, os pesquisadores notaram a presença de Machado de Assis à direita, próximo ao casal real.

MACHADO ONDE

Clique sobre a imagem para ampliá-la e passear por ela em uma interação feita pela Folha de S. Paulo

A equipe da Brasiliana Fotográfica, portal que foi lançado em abril deste ano, digitalizou a fotografia em alta resolução e se dedicou a examinar os detalhes da cena. O palco em que está a princesa Isabel foi ampliado 15 vezes e isso fez com que eles notassem um homem bastante semelhante ao autor de “Dom Casmurro”. Depois disso, especialistas em Machado confirmaram se tratar mesmo dele.

MACHADO PRINCESA

Olha o Machado aqui!

Historicamente, esta descoberta é bastante importante porque, segundo Ubiratan Machado, autor de “Dicionário de Machado de Assis” e um dos principais estudiosos da documentação machadiana, a presença do escritor na missa era “fato até hoje desconhecido pelos biógrafos”.

Já Valentim Facioli, professor aposentado da USP, dono da editora Nankin e pesquisador de Machado há 50 anos, ainda está desconfiado: “Não bato o martelo de que é Machado, mas realmente parece muito com ele”.

O inglês John Gledson, outro estudioso do autor também disse que realmente se parece muito com o escritor brasileiro, mas há uma coisa que lhe intriga: “Me surpreende que ele estivesse tão perto da princesa. Ele não era exatamente membro da elite, embora já fosse famoso na época”.

Sergio Faraco nos conta sobre seu encontro com Eduardo Galeano em 2008

PAVANA PARA UM SEDUTOR

Sergio Faraco*

A foto de Zero Hora de 17 de abril, na página de Roger Lerina, em que estamos juntos Eduardo Galeano e eu, foi tirada em 2008, durante a 54ª Feira do Livro de Porto Alegre. Para a L&PM, eu já traduzira dois livros dele, e mais tarde traduziria sua obra mais notória, “As veias abertas da América Latina”. Não era nosso primeiro encontro, que tinha sido em 1998, no Hotel Plaza San Rafael. O editor Ivan Pinheiro Machado me encomendara a tradução do livro “Patas arriba: la escuela del mundo al revés” e pediu que eu fosse ao hotel, pois Eduardo queria me conhecer.

Um tanto dispersa é minha memória dessa visita. Falamos de Shakespeare, isto eu lembro, porque justo naqueles dias eu estava terminando de ler as peças do inglês para organizar um volume de suas frases lapidares. Lembro também que falei muito e ele pouco, e tenho absoluta certeza de que não conversamos sobre o livro que eu ia traduzir nem sobre minha experiência de tradutor. Acho que ele só queria ter uma ligeira ideia sobre o fulano que ia reescrever seu livro em português.

Se não pude conservar melhor lembrança foi em virtude da impressão que Eduardo me causou, certa emoção que se antepunha às palavras e como as apagava, tão desnecessárias pareciam. Era inacreditável. Era como se estivesse a conversar com ele desde sempre e desde sempre gostasse dele como se gosta de um irmão ou de um verdadeiro amigo.

Este foi o Eduardo que conheci e que lembro tanto, apesar de termos nos visto apenas três ou quatro vezes. Como se ele estivesse sempre com a mão em meu ombro, como nessa foto de 2008. Ele foi sobremodo admirado por seu fremente humanismo, por seu combate contra todos os matizes da opressão, por sua percepção de grandezas em pequenas coisas da vida social, por escrever tão bem e, igualmente, por suas conferências, em que a política e a história caminhavam de mãos dadas com a poesia. Mas o fato é que ele te cativava até em silêncio.

Sergio Faraco e Eduardo Galeano na Feira do Livro de Porto Alegre 2008 / Arquivo pessoal

Sergio Faraco e Eduardo Galeano na Feira do Livro de Porto Alegre 2008 / Arquivo pessoal

*Escritor e tradutor. É autor, entre outros, de Lágrimas na chuvaDançar tango em Porto Alegre Contos completos.