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Andy Warhol do outro lado do mundo

Uma das maiores exposições de Andy Warhol com cerca de 260 pinturas, desenhos, esculturas, filmes e vídeos acaba de chegar a Cingapura e vai percorrer outros quatro países asiáticos nos próximos dois anos. A mostra faz parte das homenagens e tributos pelo mundo que marcam os 25 anos da morte do rei do pop. Além das famosas latas de sopa Campbell e dos clássicos retratos de Marilyn Monroe, a exposição também apresenta obras menos conhecidas do período artístico inicial de Warhol, nos anos 1940 e 1950.

Estes primeiros trabalhos, segundo o curador da mostra Andy Warhol: 15 minutos eterno, têm a marca da “magia e da fantasia” e fogem um pouco do estamos acostumados a ver quando o tema é Andy Warhol. Uma das surpresas da exposição é a obra “Folding Screen”, da década de 1950, representando o que parecem ser anjos olhando um para o outro, com asas coloridas em tons brilhantes.

Pode confessar: você jamais diria que esta é uma obra de Andy Warhol, né? Quem tiver a oportunidade não pode deixar de visitar a exposição e se surpreender com as obras que formaram o alicerce da arte de um dos maiores gênios do século 20.

Depois de Cingapura, a previsão é passar por Hong Kong, Xangai, Pequim e Tóquio.

Pela primeira vez em português: “O idiota da família”, de Sartre

“Flaubert representa, para mim, exatamente o contrário da minha própria concepção da literatura: um alienamento total e a procura de um ideal formal que não é, de modo algum, o meu…”. A frase, dita por Jean-Paul Sartre, talvez justifique a obsessão dele por Flaubert. Obsessão essa que consumiu anos da vida do escritor e o levou a escrever a biografia definitiva do autor de Madame Bovary. Em O idiota da família, Sartre proporciona ao leitor um livro enorme, dividido em três tomos, que é lido como uma grande aventura. É uma investigação minuciosa e maníaca do início da infância do menino Gustave, literalmente o idiota da família, em que Sartre procura, nas trajetórias individuais do pai, da mãe, do irmão mais velho, da irmã caçula, nas características socioeconômicas da família Flaubert, nos acontecimentos históricos da época, elementos de explicação para essa estranha criança que foi Gustave: espremido entre os irmãos, meio apatetado, que aos sete anos ainda não sabia ler, mas aos treze já escrevia cartas e livros.

O contrato para a publicação de O idiota da família em português acaba de ser assinado e a tradutora Júlia da Rosa Simões já começou a tradução do volume 1 que será lançado em 2013. Ou seja: finalmente os brasileiros poderão ler – em português – este que é considerado um projeto soberbo, o livro que encerra a obra sartriana.

Houve um momento, no final dos anos 1960, em que a maioria dos críticos considerou a carreira literária de Jean Paul Sartre esgotada e encerrada. Foi quando o grande filósofo e escritor surpreendeu o mundo com as quase 3000 páginas – impecavelmente escritas – dos três volumes d’O Idiota da Família, um estudo sem precedentes da vida e da obra de Gustave Flaubert, que na infância chegou a ser considerado quase um débil mental e, na idade madura, com devoção de sacerdote e o trabalho obstinado de operário, construiu o monumento Madame Bovary. Sartre percorreu as páginas do grande romance de Flaubert com um olhar inteiramente novo, descobrindo as delicadas linhas que ligaram a vida pessoal do escritor e a sua extraordinária ficção. O idiota da infância, percebeu Sartre, transformou-se num gênio capaz de sublimar sua própria fragilidade. A leitura dessa obra colossal deixa uma suspeita inevitável: talvez Flaubert tenha sido para Sartre o que Madame Bovary foi para Flaubert. (Palavras do escritor, jornalista e advogado José Antônio Pinheiro Machado, o Anonymus Gourmet, que leu a obra em francês)

Os três volumes em francês de "O idiota da família" que serão publicados pela L&PM

Mais cartazes do filme “On the road”

A produção do filme On the road está nos deixando cada vez mais ansiosos para conferir o resultado do trabalho de Walter Salles na adaptação do livro mais famoso de Jack Kerouac para o cinema. Depois do trailer oficial divulgado no início de março, esta semana conhecemos alguns posteres alternativos do longa. Por meio da página oficial do filme no Facebook, foram divulgados dois cartazes que dão destaque para os personagens Carlo Marx, inspirado em Allen Ginsberg e vivido pelo ator Tom Sturridge, e Old Bull Lee, inspirado em William Burroughs e vivido pelo ator Viggo Mortensen.

O personagem Carlo Marx inspirado em Allen Ginsberg

Viggo Mortensen vive Old Bull Lee no filme "On the road"

E aí, o que acharam?

Franz Kafka + Hunter Thompson

Se dá samba, nós não sabemos, mas que dá um belo vídeo de animação, isso dá! O pessoal da editora neozelandesa Good Books juntou as principais referências do livro A metamorfose, de Franz Kafka, e da história de Medo e delírio em Las Vegas, de Hunter Thompson, desenhou, coloriu, renderizou e deu nisso:

O vídeo está circulando na rede com o objetivo de divulgar o trabalho da Good Books que vende livros pela web com frete grátis para o mundo inteiro e investe 100% de seu lucro em projetos de caridade.

via Facool

Alain de Botton no trem de Martha Medeiros

Em 1998, Martha Medeiros escreveu uma crônica sobre Alain de Botton que foi publicada no seu livro Trem-bala. E é porque este texto continua super atual e porque agora publicamos Alain de Botton na Coleção L&PM Pocket (Ensaios de Amor foi lançado em 2011 e este ano chegam Consolações da filosofia e Ansiedade de status) que resolvemos transcrevê-lo aqui no blog. Aliás, por falar em Martha Medeiros e Alain de Botton, em dezembro, a GloboNews fez uma matéria sobre felicidade centrada justamente neles. Depois de ler a crônica de Martha, vale clicar aqui e assistir.

Quem tem medo de Alain de Botton?

Alain de Botton não é um completo desconhecido: é um suiço radicado em Londres que lançou ano passado, no Brasil, o livro Ensaios de amor, e que repete a dose, agora, com o seu O movimento romântico, promessa de um novo sucesso editorial.

A crítica gosta dos livros de Botton, mas com reticências. Muitos acham que o escritor é apenas um produto bem divulgado da Cool Britannia, o movimento renovador da cultura inglesa que endeusa bandas como o Oasis e que tem como expoente o primeiro-ministro Tony Blair. Apenas isso? Acho que é mais do que isso.

Alain de Botton é um extraterrestre: um homem que gosta de discutir a relação. As mulheres curvam-se aos seus pés, os homens olham enviesado. O movimento romântico é quase uma continuação de Ensaios de amor, só mudam os nomes dos personagens. O que importa é o que acontece entre eles. Botton monta e desmonta o quebra-cabeças do amor com habilidade cirúrgica. Está tudo ali: a banalização dos sentimentos, os mal-entendidos e suas entrelinhas, a idealização, a influência que os ícones românticos exercem sobre nós, os questionamentos sobre a própria identidade, o desequilibro de poder (quando um ama mais do que o outro), o ceticismo de quem tem medo de se apaixonar, a nudez emocional feminina e outras armadilhas. Um manual de autoajuda? Nenhum parentesco. Alain de Botton tem duas armas secretas que elevam o status de seus livros.

O primeiro é que ele nunca resume seus pontos de vista baseando-se na experiência de um casal que interage apenas entre si: ele cria triângulos amorosos para melhor defender suas teses, abrindo o leque das especulações. O que é considerado infantilidade pela ótica de um parceiro pode ser considerado maturidade pela ótica de outro, estimulando a busca pela verdade. O recurso não é novo: até as telenovelas fazem isto, mas é aí que entra a segunda arma secreta.

O filósofo preferido de Alain de Botton não é Gilberto Braga. Durante o livro inteiro ele cita Platão, Schopenhauer, Nietzsche e Pavlov como se fossem a sua turma de bar. Tudo com pertinência e, aleluia, simplicidade. Os livros encurtam a distância entre filosofia e vida real e nos oferecem verdadeiros achados, seja uma análise pouco convencional sobre o comportamento de Madame Bovary, seja a função social das telas de Andy Warhol. Tudo ganha uma lógica atraente e inovadora, e nem é preciso doutorado para entender. Não há razão para ter medo de gostar de Alain de Botton. Ele mesmo defende a ideia de que não se deve ler um livro para tirar uma lição. Livros não têm uma finalidade, como os aspiradores de pó. Ensaios de amor e O movimento romântico são entretenimento e dissecação. Redimem nossas piores fraquezas, afagam nossas melhores intenções e, diante do quadro desestabilizante das idas e vindas amorosas, nos dão vontade de continuar a tentar.

Martha Medeiros, do livro Trem-bala 

180 anos depois de sua morte, Goethe continua sendo… Goethe

Como Goethe, só Goethe. Tanto que a literatura alemã divide-se em antes e depois de Os sofrimentos do jovem Werther, livro escrito por ele em 1774. 

Goethe era uma celebridade, um pop star da sua época. Escreveu Os sofrimentos do jovem Werther em apenas quatro semanas e sempre se gabou de que Napoleão havia lido o livro sete vezes e o carregava consigo em sua Biblioteca de Campanha. Quando o escritor e o imperador se encontraram, aliás, em 2 de outubro de 1808, Napoleão o louvou, afirmando “Eis um homem”, ao que Goethe, descontente pela invasão francesa na Alemanha teria respondido laconicamente. Ao final do encontro, Napoleão convidou-o para visitá-lo em Paris, mas o encontro jamais aconteceu.

Em 1831, já com mais de 80 anos, Goethe terminou sua obra-prima, aquela que ocupou por muito tempo: Fausto. O manuscrito da parte final foi então selado e guardado para ser publicado apenas depois de sua morte, o que viria a acontecer cerca de um ano mais tarde, em  22 de março de 1832, há exatos 180 anos.

"Goethe e Napoleão I", gravura feita a partir do desenho de Eugène Ernest Hillemacher

O encontro de Goethe e Napoleão - Desenho de 1828, feito por Jahrgang Angsburg, "Goethe e Napoleão I", gravura feita a partir do desenho de Eugène Ernest Hillemacher

Pocket News em nova fase

A ideia nasceu há um ano atrás: produzir um programa diário em que pudéssemos contar as novidades da editora na WebTV. Aproveitando o nome da mais conhecida coleção de livros da L&PM, nasceu o Pocket News. E assim, de segunda a sexta, desde março de 2011, mostramos as novidades que chegam, as reedições que surgem e as datas comemorativas do dia como o aniversário de algum autor publicado pela casa.

Apresentado pelas meninas do Núcleo de Comunicação, o Pocket News agora ganhou, em comemoração ao seu primeiro aniversário, uma nova abertura, uma nova trilha e uma edição mais dinâmica que passa a contar com interações do pessoal de outros departamentos. Até agora foram três programas nesse novo formato que promete trazer ainda mais novidades. A responsável pela produção e edição é Nathália Silva.

Assista a um dos programas e sinta o novo clima:

O sucesso de Flávio Tavares no Rio

Muita gente foi até a Livraria Argumento do Leblon, ontem, 20 de março, para ver e ouvir os escritores Flávio Tavares e Zuenir Ventura. Os amigos de longa data conversaram sobre “1961: o golpe derrotado“, novo livro de Flávio que, após o bate-papo, teve sessão de autógrafos. “1961: o golpe derrotado” conta os bastidores do Movimento da Legalidade e mostra que ele foi um prenúncio do que aconteceria três anos mais tarde. Uma das perguntas que a plateia fez ao autor foi se ele acha que o povo deveria ter resistido ao golpe militar de 1964. Flávio respondeu que sim, que na sua opinião, as pessoas deveriam ter resistido como resistem ao crime e à violência atuais, pois o golpe de 64 foi um crime. Neste momento, ele foi aplaudido pelos presentes. O evento, que começou às 19h, estendeu-se até às 22h, com uma longa fila para os autógrafos. Uma equipe da Globo News acompanhou todo o lançamento e preparou uma matéria que vai ao ar nesta sexta-feira, 23 de março, as 21h30min.

Flávio Tavares e Zuenir Ventura na Livraria Argumento do Leblon

Entre as centenas de presentes, estiveram por lá o presidente da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), Maurício Azêdo; o escritor e tradutor Eric Nepomuceno; a juíza e ex-deputada Denise Frossard; o  neto de Leonel Brizola,  vereador Leonel Brizola Neto; o embaixador e acadêmico Affonso Arinos de Mello Franco; a colunista social Hildegard Angel; os cineastas Tetê Moraes e Silvio Da-Rin; o novelista Manuel Carlos; o jornalista Wilson Figueiredo e a filha de Luiz Carlos Prestes, Zóia Ribeiro Prestes.

Ainda está para nascer alguém como Gogol

No ministério de… Não, é melhor não dizer seu nome. Ninguém é mais suscetível do que funcionários, empregados de repartições e gente da esfera pública. Nos dias que correm, todo sujeito acredita que, se nós atingimos a sua pessoa, toda a sociedade foi ofendida.

Não, o trecho acima não faz parte de alguma crônica recente publicada no jornal mais próximo. Ele foi escrito em 1842 e dá início a O Capote, conto escrito por Nikolai Gogol. “Todos nós viemos de O Capote” proclamou Dostoiévski referindo-se ao mais célebre texto de Gogol e dando força à teoria de que foi a partir dele que a literatura moderna russa surgiu.

A história de Akaki Akakiévitch, personagem de O Capote, seria trágica, não fosse cômica. Sua narrativa traz o burocrata em sua forma mais pura. Só que aqui, ao contrário de alguns funcionários públicos de hospitais do Rio de Janeiro, a maior ambição de Akaki é comprar um capote novo. 

Nascido no dia de hoje, 20 de março, há exatos 203 anos atrás (alguns dizem que, na verdade ele nasceu ontem, em 19 de março), em 1809, o ucraniano Nikolai Gogol criou textos que orbitam entre o fantástico e o real e deu vida a personagens que perdem tudo – o nariz, a razão, o sentido, o juízo, a identidade – e que parecem flertar, ao mesmo tempo, com Deus e o diabo. Criado sob forte influência religiosa e muito ligado à mãe, Gogol jamais teve um amor na vida, conforme atestam seus biógrafos.

Mas se Gogol foi incapaz de amar, ele conseguiu despertar em muitos leitores, paixões nunca antes experimentadas. Seu estilo, seu jogo de palavras, seu ritmo e sonoridade, permanecem tão fascinantes e modernos quanto na época em que vieram ao mundo. Prova de que, assim como alguns aspectos do funcionalismo público, há coisas que não mudaram  nos últimos 200 anos. (Paula Taitelbaum)

"O Capote" está na Coleção L&PM Pocket