Arquivo mensais:maio 2012

E por falar em silêncio…

Abaixe o som, não grite, tire a mão da buzina, evite até mesmo ler em voz alta. Hoje, 7 de maio, é Dia do Silêncio no Brasil. Não conseguimos descobrir quando e como ele começou a ser comemorado, mas para marcar esta data separamos alguns trechos de livros que homenageiam a ausência de som:

Você já amou uma mulher silenciosa / Que não levanta a voz por raiva / Nem má educação / Que anda com seus pés de seda / Num mundo de algodão / Que não bate / fecha a porta / Como quem fecha o casaco de um filho / Ou abre um coração? (De Poemas, Millôr Fernandes)

O teu silêncio é uma nau com todas as velas pandas… / Brandas, as brisas brincam nas flâmulas, teu sorriso… / E o teu sorriso no teu silêncio é as escadas e as andas / Com que me finjo mais alto e ao pé de qualquer paraíso… (De Poesias, Fernando Pessoa)

Pior do que uma voz que cala é um silêncio que fala. (De Ménage à Trois, Paula Taitelbaum)

O resto é silêncio. (De Hamlet, Shakespeare)

E de repente o silêncio, / Com os passos da ilusão / perseguem a criança-sonho / Pelas terras da invenção, / Falando a seres bizarros… / Uma verdade, outra não. (De Alice no País das Maravilhas, Lewis Carroll

Você sabia que… répteis, aves e mamíferos têm um ancestral comum?

Répteis, aves e mamíferos são chamados coletivamente de amniotas, porque todos eles têm um ancestral comum, um animal próximo ao Hylonomus. Os pássaros evoluíram dos dinossauros no Jurássico e os mamíferos evoluíram de outro grupo de répteis no Triássico. Mas os mamíferos põem ovos, como acabo de afirmar? Bem, os mamíferos atuais mais primitivos – o ornitorrinco e a equidna da Austrália – de fato põem ovos com uma casca calcária dura. Os detalhes da anatomia dos ovos de répteis, de aves e de mamíferos são todos iguais, e portanto todos eles evoluíram de um mesmo ancestral. Se recuarmos ainda mais na árvore evolutiva, chegaremos ao Hylonomus; sendo assim, o Hylonomus deve ter botado o mesmo tipo de ovo.

Trecho do livro História da vida da Série Encyclopaedia.

Afinal, por que e como Van Gogh cortou sua orelha?

A automutilação de Vincent Van Gogh, cortando a própria orelha, é um dos acontecimentos mais célebres da história da arte e, como tal, sujeito às mais variadas versões. Na verdade, existem duas vertentes historicamente aceitas e que muito se assemelham. A da chefatura de polícia da cidade de Arles, no sul da França, e o depoimento de Paul Gauguin, ambos tidos como “fontes primárias” confiáveis e que descrevem o drama da amputação da orelha. No caso de Paul Gauguin, veremos que, muito mais de que uma testemunha, ele foi praticamente um protagonista.

Autorretrato de Van Gogh com a orelha mutilada

Naquele final de ano de 1888, Gauguin compartilhava com Van Gogh a famosa Casa Amarela em Arles, uma espécie de estúdio moradia que Théo Van Gogh alugara para os dois pintores. 

Van Gogh pintou a Casa Amarela em Arles

No dia 25 de dezembro, Vincent tem um ataque de loucura e faz com que exploda a crise que se armava entre ele e seu amigo Gauguin. Van Gogh corta com uma navalha a própria orelha e entrega à um policial (segundo Gauguin).  

"Vincent Van Gogh Painting Sun Flowers", a pintura de Gauguin em que Van Gogh se viu como um louco e que teria despertado uma de suas mais terríveis crises (leia o texto em anexo do livro "Antes e Depois)

A relação entre ambos estava extremamente tumultuada e terminou exatamente quando Van Gogh cortou sua orelha. O testemunho de Paul Gauguin está imortalizado no seu livro “Antes e Depois” (Coleção L&PM Pocket). É um longo e riquíssimo depoimento, onde Gauguin faz considerações sobre o estado mental àquela altura já bastante deteriorado de Van Gogh. Abaixo, selecionamos exatamente o trecho em que ele o descreve jornalisticamente e reconstitui a noite em que se deu o célebre drama (clique sobre a imagem para folhear as páginas).

Quem resiste a Simon’s cat?

Pensando em fazer uma “faxina” em casa neste final de semana? Simon’s Cat, o gato mais famoso do Youtube, dá a dica de por onde começar:

O livro Simon’s Cat – as aventuras de um gato travesso e comilão fez tanto sucesso que esgotou rapidinho. Mas não se preocupe, se você ainda não levou este gatinho pra casa, saiba que a segunda edição já está pronta e chegando nas livrarias.

“On the road” ganha exposição em Paris

O Museu de Letras e Manuscritos de Paris vai receber uma exposição que comemora os 60 anos de “On the road” e a estreia do filme de Walter Salles no Festival de Cannes. “Sur la route de Jack Kerouac. L’épopée, de l’écrit à l’écran” vai exibir o manuscrito original (conhecido como “scroll”), a máquina de escrever Underwood usada no filme, croquis e objetos de cena, fotos, anotações e diversas “relíquias” da filmagem. A exposição abre no dia 16 de maio e vai até 19 de agosto.

Se você não conhece a história de On the road, dá tempo de ler até a estreia do filme, marcada para o dia 23 de maio no Festival de Cannes.

Começa, em São Paulo, mostra de polaroides de Andy Warhol

Andy Warhol Superfícies Polaroides (1969-1986) é a exposição que começa amanhã, 4 de maio (hoje só para convidados), no MIS – Museu da Imagem e do Som em São Paulo e que chega para celebrar os 25 anos da morte de Warhol, ocorrida em 1987. A mostra reúne 300 retratos, entre eles, 200 imagens inéditas no Brasil, feitas com uma máquina Polaroid. São amigos do artista, detalhes de interiores, objetos e pessoas famosas. Nomes como Mick Jagger, Jane Fonda, John Lennon, Truman Capote e William Burroughs. Leia aqui o texto do curador, Diógenes Moura:

Refletido no espelho, Andy Warhol vê sua vida e sua obra. Seus dias e suas noites são parte do seu trabalho tecnológico como talvez em nenhuma outra obra de um artista de seu tempo. Warhol queria ser uma máquina e produzir um trabalho sobre e para a cultura americana de massa, e lançou uma pergunta sem respostas sobre o conjunto da sua obra que até hoje os Estados Unidos procuram entender realmente do que se trata nas páginas da sua história. “Quem sou eu?” perguntou Warhol, e ele mesmo respondeu com uma versão coloridíssima de uma lata de sopa Campbell. A exposição Andy Warhol Superfície Polaroides (1969-1986) nos mostra, em trezentas imagens, uma significativa parte do processo de trabalho e da construção das imagens pública e privada de Warhol. Toda a série de polaroides que ele fez em seu estúdio ou nos registros produzidos nos encontros e nas noites por onde andou era o mais ou menos o que os paparazzi ainda procuram nos dias atuais. Mas, então, qual é a diferença? A diferença é, antes, quem estava atrás e na frente da câmera. E, hoje, quem está atrás e na frente das bilhões de câmeras espalhadas pelos quatro cantos da Terra, onde toda a humanidade é fotógrafo. Portanto, a diferença é: quem vê o quê?

Para chegar ao resultado final das suas serigrafias, Warhol fazia cerca de sessenta retratos usando uma câmera Big Shot da Polaroid. Depois escolhia quatro imagens e passava para o impressor de tela para obter imagens positivas em acetato. Quando os acetatos voltavam, ele decidia os cortes e os retoques, para fazer com que a pessoa se tornasse o mais atraente possível: alongava o pescoço, afinava narizes, aumentava os lábios. Era também o modo como gostaria de ser visto pelos outros e, assim, criar um mito para chamar de seu. As trezentas polaroides produzidas pelo artista entre 1969 e 1986 nos dão uma ideia desse seu modo de ver. Aqui estão os retratos de verdadeiros artistas, de celebridades descartáveis (e Warhol sabia como ninguém que celebridade com celebridade se vende, se paga e se joga no lixo), resquícios de objetos e composições, como os sapatos que marcaram a primeira fase de sua carreira, planos abertos de torsos nus, retratos 3 x 4 de personagens como Grace Jones e Lana Turner, exercícios de composições e sombras, como na imagem de Caroline de Mônaco, o corpo despido de Jean-Michel Basquiat fragmentado em detalhes e silêncio, os músculos iniciantes de Stallone e Schwarzenegger, o doce olhar de Muhammad Ali. Todos no mundo de Warhol, que os mantém vivos no mundo de hoje. Todos em pequenas polaroides. Na superfície atemporal que o artista dizia ser fundamental para reconhecê-lo. Na superfície das palavras e obra de “um herói cultural” que, nos momentos de introspecção, era capaz de elucubrar: “Quero inventar um novo tipo de fast food e estava pensando como seria uma coisa de waffles que tenha a comida de um lado e a bebida de outro – como presunto e Coca-Cola. Você poderia comer e beber ao mesmo tempo”.

Serviço:

Quando: 04 maio a 24 junho de 2012
Horário: terças a sextas, das 12h às 21h; sábados,
domingos e feriados, das 11h às 20h
Ingressos: R$ 4,00 (50% de desconto para estudantes)
Onde: MIS (Espaço redondo)
Avenida Europa, 158, Jardim Europa, São Paulo

Galeano na mais bela livraria de Buenos Aires

Visitar a livraria El Ateneo Grand Splendid, em Buenos Aires, é uma experiência um tanto esplendorosa, como o próprio nome indica. Não apenas pela quantidade de livros que habitam os 2 mil metros quadrados de seus três andares, mas porque a arquitetura do que um dia foi o famoso Teatro Grand Splendid segue preservada. Considerada a segunda livraria mais bonita do mundo pelo jornal britânico The Guardian, lá ainda estão as varandas originais das galerias e as esculturas e os ornamentos tal como eram no tempo em que recebiam grandes artistas em noites de gala. Hoje, é possível subir ao palco para tomar um bom café com medialunas, sentar nas cadeiras espalhadas pelos salões sem precisar pagar ingresso e ler um livro num dos balcões que nos primórdios era ocupado pela nata da sociedade argentina.  Mas o ponto alto – e bota alto nisso – do prédio erguido em 1919 está no teto do salão principal: a cúpula pintada pelo italiano Nazareno Orlandi.

E é sob essa pintura que atualmente encontra-se Eduardo Galeano. Ou melhor: seu mais recente livro, Los hijos de los días (Os filhos dos dias), que será lançado pela L&PM este ano com tradução de Eric Nepomuceno. Galeano é bastante popular em Buenos Aires e já figura como o segundo mais vendido na El Ateneo. Aproveitando o clima de teatro só o que temos a dizer é: palmas para ele!  

Pintura no teto, cortinas vermelhas e afrescos são a moldura do café sobre o palco / Foto: Dudu Contursi, feita com iPhone

Na imagem recente, a pilha de livros de Eduardo Galeano se mostra convidativa / Foto: Dudu Contursi com iPhone

"Los hijos de los días" é o segundo mais vendido da El Ateneo

A Livraria El Ateneo Grand Splendid fica na Avenida Santa Fé, 1860, na Recoleta.  

Nos 100 anos de “Contos Gauchescos”, um presente para os leitores

No ano exato do centenário da chique e urbaníssima cidade pelotense, seu mais ilustre letrado publica os Contos gauchescos, série de histórias pacientemente tramadas, escritas com a linguagem da vida rural do Rio Grande do Sul, devida e competentemente transformada em literatura. Na folha de rosto, logo abaixo do título, que é genérico, vinha uma espécie de enquadramento: “Folclore regional”. Era uma advertência ao leitor urbano? Um pedido de desculpas? De tolerância? De clemência? E por que adjetivar como “regional” aquele material, na verdade contos que nem eram exatamente folclore? (Trecho do texto de Luís Augusto Fischer para a introdução da nova edição de Contos Gauchescos e Lendas do Sul que acaba de chegar)

Pois é, 1912 não foi mesmo um ano qualquer para “a cosmopolita, a francófila, a elegante” Pelotas. A cidade festejava seus 100 anos e, em meio a tamanha comemoração, o agitador cultural João Simões Lopes Neto lançou a Revista Centenária e um novo livro: Contos Gauchescos. E é justamente para marcar o centenário de lançamento dos Contos Gauchescos que agora acaba de chegar uma nova edição, em formato convencional, que vem acompanhada de Lendas do Sul e foi preparada por Luís Augusto Fischer. Além de escritor, Fischer é professor de literatura brasileira na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e grande estudioso da obra simoniana. Aqui, ele nos oferece uma edição feita sob os melhores critérios filológicos, levando em conta a distância entre o leitor atual e o escritor, contendo fartas notas de rodapé para esclarecer dificuldades do vocabulário, referências históricas contidas no texto e aspectos importantes da estrutura e da visão de mundo da obra, além de uma completa biografia e de uma introdução ao fascinante universo do autor.

Coppola fala sobre o filme “On the road”

Coppola é co-produtor de "On the road"

A revista francesa Trois Couleus publicou em sua página oficial um depoimento do co-produtor de On the road, Francis Ford Coppola, sobre como foi levar a novela mais famosa de Jack Kerouac ao cinema. Para quem não sabe, a história é antiga e começou há mais ou menos 30 anos, quando Coppola comprou os direitos para fazer o filme. Mas o projeto ficou abandonado até que o brasileiro Walter Salles topou e empreitada.

Adapter “Sur la route” au cinéma fut pour moi un vrai casse-tête, du fait de son intrigue insensée, tout en allers-retours. J’y ai renoncé. Jerry Garcia de Grateful Dead, qui a fréquenté Neal Cassady, m’a dit un jour que Woody Harrelson lorsqu’il avait 22 ans aurait été parfait pour le rôle. Mais Garrett Hedlund possède la même folie frénétique. Je trouve Sam Riley convaincant : il n’est pas Américain, et alors ? Ces acteurs ont l’air trop jeunes ? Mais les Beats étaient jeunes à l’époque des faits ! Des gens se plaignent que le film ait été tourné au Canada, mais les films sont une illusion, l’Amérique des années 1940 n’est plus.

Pra quem não está com o francês em dia, aí vai uma tradução livre pra ajudar:

Adaptar “On the road” para o cinema foi para mim uma verdadeira dor de cabeça, por causa do enredo louco, cheio de idas e vindas. Eu desisti. Jerry Garcia do Grateful Dead, que conviveu com Neal Cassady, me disse um dia que Woody Harrelson, quando tinha 22 anos, seria perfeito para o papel. Mas Garrett Hedlund tem a mesma loucura frenética. Acho Sam Riley convincente: ele não é americano, mas e daí? Os atores parecem muito jovens? Mas os Beats eram jovens naquela época! As pessoas reclamam que o filme foi rodado no Canadá, mas os filmes são uma ilusão, a América dos anos 1940 não existe mais.

O filme On the road tem estreia prevista para o dia 23 de maio no Festival de Cannes e 15 de junho no Brasil. Se você não leu o livro, ainda dá tempo! E logo estaremos colocando nas livrarias uma edição em formato convencional com a imagem do poster do filme.

Morre Nydia Guimarães, viúva do escritor Josué Guimarães

Morreu ontem (01 de maio) em Canela, na serra gaúcha, aos 82 anos, Nydia Guimarães, viúva do escritor Josué Guimarães. Tenho de Nydia muitas e ternas lembranças e a mais comovente é o profundo amor que tinha por Josué, a quem carinhosamente chamava de “Jua”. Desde que o grande escritor morreu, em março de 1986, Nydia nunca mais foi a mesma. Recolheu-se a sua bela casa em Canela e foi curtir sua saudades. Eu e meu irmão, José Antonio, conhecemos Nydia, Josué e seus filhos Adriana e Rodrigo quando eles estavam exilados em Lisboa, em 1975. Ambos passamos uma temporada em sua casa em Cascais. Meu irmão estava em Lisboa quando contraiu uma doença estranha e ardia em febre sem que descobrissem a causa. Nydia foi buscá-lo no hotel onde estava e cuidou dele como de um filho. Meses mais tarde, neste mesmo ano de 1975, logo em seguida à Revolução dos Cravos, cheguei em Lisboa e tive o mesmo tratamento afetivo e carinhoso. No ano seguinte, Paulo Lima e eu passaríamos a editar “É tarde para saber” e daí para frente publicaríamos todos os livros de Josué. Foram quase 40 anos de convívio com Nydia. Embora distante nos últimos anos, pois ela morava em Canela, sempre tínhamos notícias suas. Ao seu lado, Josué encontrou a paz que foi fundamental para escrever toda a sua grande obra. Para nós fica a lembrança da sua gentileza, do carinho, da lealdade e da sincera atenção que tinha para com os amigos e, sobretudo, do seu amor inabalável por Josué que durou até o último segundo da sua vida. (Ivan Pinheiro Machado)

Paulo Lima e Ivan Pinheiro Machado com Nydia, Josué e seus filhos

Nydia foi a grande companheira de Josué Guimarães