Arquivo mensais:dezembro 2010

Pequeno momento nostálgico

Era um pequeno pedaço de papel estampado, geralmente quadrado ou retangular, com picotes em todos os seus vértices. Pássavamos cola em seu verso – outras vezes, num ato de paixão, era a língua que, como um pincel, liberava sua goma – e assim o colávamos nos envelopes e cartões postais. Cuidadosamente desenhado, com figuras variadas, o minúsculo papel tinha diferentes valores. Cada desenho ou cor continha em si uma espécie de tributo. Impossível atravessar uma fronteira sem ele. Muitos eram os colecionadores. Os caçadores de raridades. Os que iam em busca de carimbos distantes. Hoje, os selos continuam sendo impressos, mas se distanciam cada vez mais das palavras. Uma pena… (Paula Taitelbaum) 

Separamos alguns selos com estampas de escritores. Quem sabe você não se empolga e começa uma nova coleção? Aqui estão Edgar Allan Poe, Tolstói, Dostoiévski, Machado de Assis, Alexandre Dumas, Shakespeare, Rimbaud, Balzac, Kafka, Émile Zola, Allen Ginsberg, Jack London, Kerouak, Stefan Sweig, Tennessee Williams, Sir Arthur Conan Doyle e Agatha Christie.

5. Frankfurt: onde o mundo dos livros se encontra

Por Ivan Pinheiro Machado*

A Feira Internacional de Frankfurt faz parte da vida dos editores de todo o mundo. Ela funciona no seu atual formato desde o final da Segunda Guerra e é a maior feira de negócios de direitos autorais do planeta. E tradição é o que não falta ao local: foi há poucos quilômetros de Frankfurt, no século XV, que Johannes Gutenberg inventou os tipos móveis, causando a grande revolução da imprensa. A partir do seu invento, os livros e os jornais poderiam ser impressos aos milhares. Mas voltemos à Feira. São mais de 30 hectares de pavilhões interligados por esteiras rolantes onde se reúnem cerca de 7 mil expositores de 200 países. Apesar destes números impressionantes, mais da metade da Feira de Frankfurt é ocupada por seis países: Grã Bretanha, Estados Unidos, Alemanha, França, Espanha e Itália. E destes seis, EUA, Grã Bretanha e Alemanha comparecem com quase 3 mil expositores. Na pré-história, ou seja, na era pré-fax e pré-internet, era lá que se aceleravam os negócios. Até meados da década de 80, seguindo o time dos correios, para adquirir os direitos autorais de um livro, se levava em média uns quatro, cinco meses. Hoje, numa eficiente troca de e-mails com um agente literário, é feita proposta, contraproposta e pode se fechar um negócio numa manhã. Naqueles tempos bem mais vagarosos, nós chegávamos em Frankfurt com a mala abarrotada de contratos e pendências. Era lá que tudo se resolvia. Minha primeira Feira foi em 1976. Naquela época havia sempre um “tema” que concentrava as atividades culturais (a partir de 1990, devido a confusões políticas e religiosas, foram extintos os “temas”, e o centro cultural do evento passou a girar em torno de um país homenageado). Naquele ano, foi “Literatura latino-americana”. Eu tinha 24 anos. Meu amigo Fernando Gasparian, dono da editora Paz e Terra, falecido no ano passado, me apresentou para um jovem e promissor escritor uruguaio, Eduardo Galeano, seu editado. Trinta e dois anos depois, Galeano é uma celebridade internacional e toda a sua obra é agora publicada pela L&PM. “Veias abertas da América Latina”, seu grande bestseller, foi relançado há pouco em versão convencional e pocket, com nova tradução de Sergio Faraco. Lembro muito bem daquela Feira e do grande debate sobre o “Literatura Latino-americana”. Na platéia do enorme auditório, havia mais de duas mil pessoas. Na mesa estavam Mario Vargas Llosa, Gabriel Garcia Marquez, José Donoso, Jorge Amado, Mario Benedetti, Julio Cortázar, Juan Rulfo, Augusto Roa Bastos, entre outros. Jorge Luis Borges declinara do convite porque havia muito comunista…

Vista de um dos pavilhões da Feira de Frankfurt – Foto: Ivan Pinheiro Machado

Hoje, Frankfurt é uma cidade totalmente diferente, com enormes arranha-céus. Tem muito pouco daquela cidade pós-guerra, sequelada pelos bombardeios aliados. Nestes tempos modernos, a balada pós-feira é no lobby do luxuoso hotel Frankfurter Hoff, onde transitam os agentes, editores, candidatos a autores e autores consagrados. É comum, entre uma taça de champanhe Veuve Clicquot  e outra – à bagatela de 20 euros cada taça – , tropeçarmos em algum prêmio Nobel, como a romeno-alemã Herta Muller, Nobel do ano passado que circulava alegremente em todos os lugares de Frankfurt. Depois do advento da internet, a Frankfurter Buchmesse perdeu sua potência, mas não perdeu seu charme e importância. Com a velocidade estonteante das comunicações, os negócios, quando chegamos à Frankfurt, no início do outono europeu, já estão andando ou realizados. Com sorte, descobrimos alguma novidade entre os milhares de livros expostos. Mas é inegável que o contato pessoal ainda é o que nos faz atravessar o oceano e enfrentar os aeroportos insuportáveis. Trocamos e-mails furiosamente durante o ano inteiro com centenas de agentes, editores internacionais e autores. É muito eficiente, mas tudo é muito impessoal. No fundo, nós ainda vamos a Frankfurt para olhar no olho dos agentes e abraçar os velhos amigos, o que (ainda) é impossível fazer pelo Skype…Para ler o próximo post da série “Era uma vez uma editora…” clique aqui.

 

O sucesso de Dom Quixote na internet

Dom Quixote está fazendo sucesso na internet. Em outubro deste ano, a Real Academia Española (RAE) fechou uma parceria com o canal de vídeos Youtube para a realização de uma leitura coletiva do clássico espanhol Dom Quixote, de Miguel de Cervantes. Apenas 30 dias depois do inicio do projeto, já foram lidos mais de 1650 fragmentos dos 2149 necessários para completar a leitura online feita por internautas de língua espanhola de todo o mundo. Para saber mais sobre o projeto acesse www.youtube.com/elquijote

Peça de teatro inspirada em textos de Eduardo Galeano

Eduardo Galeano vai estar mais perto dos baianos em dezembro. A Companhia baiana  Teatro da Queda apresenta, neste mês, Bacad, montagem inspirada no panorama cultural da América Latina. O trabalho,  é baseado em ampla pesquisa de textos do escritor uruguaio, autor de As veias abertas da América Latina, relançado em outubro pela L&PM. A peça está em cartaz até dia 19 de dezembro na cidade de Salvador, Bahia.

Bacad parte da idéia de reconhecimento cultural latino americano para buscar as raízes históricas dos brasileiros. O projeto da encenação terá, também, um ciclo de leituras  e a realização da oficina “A Poética da Invenção – do processo colaborativo de construção do espetáculo Bacad”, que acontece em dois encontros no mesmo período em que a peça fica em cartaz.

Foto: Divulgação

SERVIÇO

Bacad

3 a 19 de dezembro de 2010

Sextas, Sábados e Domingos

20 horas

Teatro Vila Velha – Sala Principal

Ingressos: R$ 10,00 e R$ 5,00 (meia entrada)

Oficina
Data: 11 e 18/12 (Sábados)
Horário: das 13h às 17h
Local: Teatro Vila Velha – Salvador
Inscrição Gratuita

Ciclo de Leitura
Data: 07/12 (terça-feira)
Horário: das 14h às 18h
Local: Colégio Estadual da Bahia (Colégio Central)
Inscrição Gratuita

O dia em que Alexandre Dumas ganhou um lugar no Panteão

Seu nome de batismo era Dumas Davy de La Pailleterie. Mas ele ficou conhecido com a alcunha que escolheu para assinar seus livros: Alexandre Dumas. Neto de um marquês com uma negra, Dumas morreu em 5 de dezembro de 1870 e foi sepultado no mesmo local onde nasceu: Villers-Cotterêts. E lá ficou até que, em 30 de novembro de 2002, o então presidente francês Jacques Chirac promoveu uma cerimônia em que seu corpo foi exumado e levado para o Panteão de Paris, o mausoléu onde descansam célebres escritores e pensadores franceses como Victor Hugo e Voltaire. Eu seu discurso, o presidente Chirac afirmou que “Contigo, nós fomos D’Artagnan, Monte Cristo ou Balsamo, cavalgando pelas estradas da França, percorrendo campos de batalha, visitando palácios e castelos. Contigo, nós sonhamos.” Numa entrevista após a cerimônia, Chirac disse ainda que um erro havia sido reparado e que a partir de então Alexandre Dumas ganhava o local de descanso que merecia, pois apesar da França ter produzido vários grandes escritores, nenhum deles foi tão lido quanto ele. Seus livros já foram traduzidos para cerca de uma centena de idiomas e inspiraram mais de 200 filmes. Na Coleção L&PM POCKET, você pode ler Dumas em O colar de veludo e Memórias de Garibaldi. Clique aqui e assista vídeo da homenagem.

A última viagem de Robert Louis Stevenson

A luz intermitente das tochas de 200 samoanos cortava o caminho que levava a um dos lados do Monte Vaea, Upolu, Samoa. Enquanto isso, outros cavavam uma sepultura no topo. Pelo caminho íngreme, com o estandarte do barco Casco sobre ele, ía o caixão, levado na altura dos ombros dos homens mais poderosos do lugar. Depois que Robert Louis Stevenson foi colocado para descansar no cume do Vaea, o chefe Samoa proibiu o uso de armas de fogo na montanha. Assim, as aves não seriam perturbadas e poderiam cantar sobre seu túmulo.

A cerimônia de adeus a Robert Louis Stevenson, no alto do Monte Vaea, no dia 3 de dezembro de 1894

Robert Louis Stevenson chegara em Samoa em 26 de junho de 1888 a bordo do Casco. Com ele, foram sua esposa, sua mãe e uma empregada francesa. A viagem, que tinha como objetivo tratar a saúde do escritor, deveria durar alguns meses. Mas acabou se transformando em um exílio voluntário que se prolongou até o momento de sua morte, por hemorragia cerebral, em 3 de dezembro de 1894. Stevenson tinha apenas 44 anos e deixou uma obra inacabada: Weir of Hermiston. 

O barco Casco, a escuna que levou Robert Louis Stevenson a Samoa

De Robert Louis Stevenson, a L&PM publica A Ilha do Tesouro O médico e o monstro na Coleção L&PM POCKET e também na Série Ouro – Clássicos do Horror.

Os escritores e suas manias

No blog do escritor e jornalista Michael Laub encontramos um projeto muito bacana. Laub criou a serie Cem escritores brasileiros e suas manias quando escrevem. Por lá estão as manias de dois escritores publicados pela L&PM: Moacyr Scliar e Luiz Antonio de Assis Brasil.

Luiz Antonio de Assis Brasil – “Escrevo por acaso, isto é, nunca pensei em ser escritor. Tudo foi acontecendo e eu me fui acostumando. Hoje já não posso me conceber julgando processos, que era o destino que minha família me dissera para cumprir. Escrevo no meu melhor à tardinha: já não é mais tarde, e ainda não é noite. Mas se eu me empolgo, posso entrar noite a dentro, desde que tenha começado à tardinha. Antes eu escrevia melhor pela manhã, cedo. Depois descobri que sofria de deficiência de um produto químico no sangue. Corrigi isso e hoje me acordo tarde, isto é, pelas 7, quando tenho de sair correndo para a Universidade. Uma pequena mania: não termino uma cena, ou capítulo, no mesmo dia em que estive trabalhando nele. Deixo correr uma noite e aí, no dia seguinte, descansado, escrevo o final. E enfim: só sei escrever romances. Fico paralisado ante o conto e a poesia. Poesia e conto são para quem sabe.”

Moacyr Scliar – “Em termos de escrever, o meu método, ou mania, ou superstição consiste em não ter método, ou mania, ou superstição. Desenvolvi minha atividade literária paralelamente a uma intensa carreira médica (primeiro clínica, depois em saúde pública), escrevia quando podia, quando dava tempo. E isso podia acontecer em qualquer lugar: numa lanchonete, esperando a comida, num hotel, no aeroporto (o laptop ajudou muito). Não preciso de silêncio, não preciso de solidão, não preciso de condições especiais – só preciso de um teclado. E ah, sim, de ideias (mas diante do teclado as ideias surgem).”

Quer saber outras manias de escritores brasileiros? Clica aqui.

Doidas e Santas segue em cartaz no Rio

Quem estiver no Rio de Janeiro não pode deixar de ver “Doidas e Santas”, peça baseada no livro homônimo de Martha Medeiros, publicado pela L&PM. A atriz Cissa Guimarães interpreta Beatriz, uma mulher moderna, psicanalista atuante, e casada com Orlando (Giuseppe Oristanio), um marido tradicional, que usa terno nos dias úteis e é amante da cervejinha com futebol nos finais de semana. Estão juntos há 20 anos, num casamento rotineiro, sem grandes eventos, e são pais da adolescente Marina (Josie Antello).

Martha Medeiros já assistiu e fez comentários no seu blog :

Josie Antello é uma atriz que faz comédia de um jeito hilário, sem ser histriônica. Me lembrou o início de carreira da Regina Casé. Josie interpreta três papéis na peça: a irmã, a filha e a mãe da protagonista, sendo que, como mãe, arranca aplausos em cena aberta. Guarde esse nome.

Giuseppe Oristanio é um ator que não costuma protagonizar novelas, mas todo mundo lembra dele, é um tipaço e (eu não sabia) engraçadíssimo. Está ótimo no papel do marido que é o último a saber que seu casamento está em crise.

Cissa Guimarães é um presente. Lembro que ela disse numa entrevista, outro dia, que tem um compromisso com a alegria. Fiquei pensando nisso. Parece uma frasezinha de efeito, mas tem algo muito sério nesse propósito. Em tempos onde se dá tanta atenção à depressão, à bipolaridade (e se deve dar mesmo, já que são doenças graves), é também preciso, em contrapartida, valorizar a cura, que passa justamente por esse olhar desestressado e generoso para a vida. Cissa está muito verdadeira em cena, e bonita à beça.

Doidas e Santas

De quinta a domingo no Teatro do Leblon – até 19 de dezembro

21h30min

Você vai perder? Veja um trecho do espetáculo no vídeo abaixo:

Há 196 anos, morria o mais nobre dos pervertidos: o Marquês de Sade

No dia 2 de dezembro de 1814, exatamente dez anos depois de Napoleão ter sido coroado imperador, morria o Marquês de Sade. De seus 74 anos de vida libertina, 29 foram passados em prisões e asilos para doentes mentais. Sade foi encarcerado pela monarquia, pelos revolucionários e pelo império. E também foi até o limite do prazer. Na literatura e na vida. Seus livros descrevem a satisfação de torturar e de humilhar o parceiro em nome do prazer. Quando não estava preso, vivia em alvocas, prostíbulos e apartamentos alugados para onde levava prostitutas que era apresentadas a uma coleção de chicotes, cinturões de couro e correntes. Antes de Sade, não existia o sadismo. Seus escritos chocaram, causaram revolta, foram chamados de grotescos. Mas as mulheres amaram o Marquês. E ele amou as mulheres. Tanto que criou a personagem Justine. Renné de Sade, sua primeira esposa, era habitué nas orgias do marido – a mais célebre delas com a participação de todas as criadas da casa. Em 1801, já velho e separado da mulher, Sade mais uma vez foi preso, dessa vez no Hospício de Charenton, onde encantou-se pela jovem filha de uma carcereira (essa história é narrada em “Contos proibidos do Marquês de Sade”, filme dirigido por Philip Kaufman). Sedutor, Sade planejava produzir peças pornográficas quando saísse do manicômio. Não teve tempo para isso. Morreu em sua cela, numa França regida por Napoleão, obeso e bem menos sedutor do que nos áureos tempos das orgias. Foi enterrado no cemitério de Chareton em uma cova sem nenhuma inscrição, mas que mesmo assim recebeu uma cruz.

Do Marquês de Sade, a L&PM publica Os crimes do amor e O marido complacente.

Woddy Allen faz 75 anos hoje

Desconfio de quem não gosta dos filmes de Woody Allen. Olho atravessado para os que não entendem suas piadas mal humoradas, seu humor neurótico, sua crítica a essa sociedade hipócrita que nos cerca. Rosno até para quem o acusa de “ter casado com a filha” (muito pior, na minha opinião, é acordar ao lado de Mia Farrow). E não venha me dizer que ele está piorando aos longo dos anos. Não quero saber. Não quero concordar. Seu texto é música para meus ouvidos, é inspiração, é alívio. Gosto de saber que ele é baixinho, errado, feio, problemático. Apesar dele já ter dito que isso é coisa de seus personagens. Na vida real, Woody é uma pessoa como todas as outras. Trabalha muito, gosta de jazz, vai ao supermercado, faz aniversário. E, o melhor de tudo: é sagitariano, como eu. (Paula Taitelbaum) 

Woody Allen nos anos 1950, quando ainda era conhecido como Allen Stewart Königsberg

Veja aqui os livros de Woody Allen publicados pela L&PM.