O adeus de Charles Schulz

Na manhã do dia 13 de fevereiro de 2000, menos de um dia depois de Charles Schulz falecer devido ao câncer, seu adeus foi publicado nos jornais dos Estados Unidos. Escrita cerca de um mês antes, a despedida ficou guardada para acompanhar seu obituário. Schulz morreu aos 77 anos em sua casa em Santa Rosa, na Califórnia e suas tirinhas chegaram a ser publicadas em 2.600 jornais de todos o mundo, traduzidas para 21 diferentes idiomas. Seu sucesso foi tanto que, dois dias antes de falecer, o criador de Charlie Brown e sua turma recebeu uma Medalha de Ouro do Congresso norte-americano, considerada a maio premiação civil nos EUA.

O adeus de Charles Schulz publicado em 13 de fevereiro de 2000

“Caros amigos, eu tive a honra de desenhar Charlie Brown e seus amigos por quase 50 anos. Foi a realização de minha ambição de infância. Infelizmente, eu não tenho mais como manter o ritmo necessário para uma tirinha diária. A minha família não deseja que Peanuts continue sendo desenhado por mais ninguém, portanto eu estou anunciando minha aposentadoria. Eu sou muito grato por todos esses anos, pela lealdade de nossos editores e o apoio maravilhoso e o amor expressado pelos fãs da tirinha. Charlie Brown, Snoopy, Linus, Lucy… como eu poderia esquecê-los…” Charles Schulz

A L&PM está publicando a obra completa de Charles Schulz no Brasil e o volume 5 da série (com tirinhas que vão de 1959 a 1960) está previsto para chegar em março.

Verbete de hoje: André Le Blanc

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, o Blog L&PM publicará, nos domingos, um verbete do livro. O de hoje é  André Le Blanc (1921-1998)

Antes de chegar ao Brasil (final da década de 40), André Le Blanc trabalhou em Nova York, ajudando Will Eisner nas páginas dominicais das histórias do The Spirit. Instalando-se no nosso país, Le Blanc deu um novo alento aos quadrinhos com o seu estilo perfeito, realista e detalhado, tanto em preto e branco como em aguada, sua técnica preferida. Foi Le Blanc que inaugurou na revista Edição Maravilhosa (Clássicos Ilustrados) a adaptação de obras brasileiras, com O Guarani, de José de Alencar. Uma quadrinização tão bela, dinâmica e limpa que mereceu várias reedições, considerando-se até hoje um dos clássicos dos quadrinhos produzidos por aqui. O Guarani abriu caminho para um rico filão, com o aproveitamento de outros artistas nacionais. Le Blac, entretanto, continuou como o melhor de todos eles, transpondo para a narrativa gráfica as obras Iracema, O tronco do ipê e Ubirajara. E igualmente quase todos os romances de José Lins do Rego (Cangaceiros, Menino do engenho, Doidinho, Banguê, Moleque Ricardo). Também obras avulsas de outros autores (Sinhá Moça, de Maria Dezonne Pacheco Fernandes; Amazônia misteriosa, de Gastão Cruls; Siá menina, de Emi Bulhões Carvalho da Fonseca; A muralha, de Dinah Silveira de Queiroz; e Cascalho, de Herberto Salles). André Le Blanc ainda desenhou uma tira diária para os jornais da época, Morena Flor, antes de estabelecer-se para sempre nos Estados Unidos. Lá se dedicou por completo à ilustração, mas ainda arranjou tempo para desenhar em quadrinhos The Picture Bible for All Ages, para David C. Cook Publishng Co. (mais de 800 páginas), publicada no Brasil, em 1975, pela Editora Betânia de Belo Horizonte. André Le Blanc, por algum tempo, foi também assistente de Sy Barry, desenhando as tiras diárias do Fantasma, mas sem assinatura.

Iracema desenhada por André Le Blanc

Rugas

Estou amando tuas rugas, mulher.
Algumas vi surgir, outras aprofundei.

Olho tuas rugas.
Compartilho-as, narciso exposto
no teu rosto.

Ponho os óculos
para melhor ver a tua pele
as minhas/tuas marcas.

Sei que também me lês
quando nas manhãs percebes
em minha face o estranho texto
que restou do sonho.

O que gastou, somou.
Essas rugas são sulcos
onde aramos a messe do possível amor.

De Affonso Romano de Sant´anna, Poesia reunida volume 2

Exposição sobre Roma em São Paulo

Os fascinados por história antiga, aventuras de guerra e imperadores não podem perder a exposição Roma – A Vida e os Impereradores, que fica em cartaz no Masp, em São Paulo, até o dia 1º de abril. O visitante é convidado a embarcar numa viagem por mais de três séculos, do período tardio da República e primeiros séculos do Império Romano, de Júlio César e Augusto até Septímio Severo e seu filho Caracala, que reinaram entre 193 e 217.

Cabeça Colossal de Júlio César

Composta de 370 relíquias de instituições como o Museu Nacional Romano e a Galeria Uffizi, de Florença, a mostra fornece um painel abrangente sobre os imperadores, seus feitos militares, os deuses clássicos, além de desvendar a vida cotidiana, hábitos e costumes do povo romano. Entre os destaques estão três paredes com afrescos da Vila de Pompeia, as estátuas de Júpiter, de Lívia (esposa de Augusto) e da deusa Isis, a Cabeça Colossal de Júlio César em mármore, máscaras teatrais, escultura de Calígula, Armadura de Gladiador, desenhos do Coliseu, a Lamparina de Ouro e cerca de 60 joias. Imperdível, não?

Império Romano na Série Encyclopaedia

Para aproveitar melhor a exposição, a nossa dica é ler o volume Império Romano da Série Encyclopaedia. De forma suscinta, em pouco mais de 100 páginas, o professor da Universidade Paris 13, Patrick Le Roux, mostra os paradoxos da Roma Antiga, as condições em que viviam seus habitantes e discute de que forma a grande expansão da cidadania romana e o florescimento da cultura latina também se caracterizaram pelos sangrentos combates de gladiadores e pela perpetuação da escravatura. Com certeza, é um belo complemento para quem pretende visitar a exposição.

A mostra Roma – A Vida e os Impereradores faz parte do Momento Itália/Brasil e é promovida pela Embaixada da Itália no Brasil e pelo Instituto Italiano de Cultura de São Paulo.

Resultado do concurso “Miniconto para Dickens”

O concurso Miniconto para Dickens lançado pela L&PM na semana passada para comemorar o aniversário do autor de Um conto de Natal foi um sucesso! Recebemos mais de 450 minicontos e passamos trabalho para escolher apenas um para chamar de “o melhor”. Se pudéssemos, premiaríamos vários. Tanto que, fugindo um pouco do que tínhamos previsto no regulamento, resolvemos publicar aqui não apenas três, mas sim os cinco melhores. O 1º lugar leva o super prêmio prometido: uma ecobag exclusiva cheia de livros de Charles Dickens, e o 2º e o 3º lugares vão ganhar de presente Um conto de Natal da Coleção L&PM Pocket.

Prêmio do 1º lugar do concurso "Miniconto para Dickens"

Preparados? Aí vai o resultado do concurso do concurso Miniconto para Dickens:

1º lugar – Edweine Loureiro

PREÇOS
Gritava à janela da amada, que o havia deixado por um homem mais rico:
― E o Amor, Julieta? Vale quanto?
E uma voz, vinda da esquina:
― Duzentos reais, uma noite.

2º lugar – Pedro Gustavo Faria Nunes

200 Contos de Réis
Estava ele sentado na varanda quando lhe chega o mensageiro. Lê e deixa escapar uma única lágrima de todo pranto contido. Responde de pronto: – não haverá mais casamento, não tenho 200 contos de réis.

3º lugar – Clarissa Damasceno Melo

Eles estavam lá. Coagulados na dor da carne. Ela ia embora pra longe dele. Haviam conversado sobre isso. Doído, ele perguntou se longe ela o trocaria por outros meninos. Ela disse: Nem por duzentos.

4º lugar – Rodrigo Domit

Os soldados perdidos de Napoleão
Marcharam para o leste, em meio aos campos incendiados e cidades fantasmas. Ainda hoje, passados duzentos anos, alguns soldados fatigados batem à porta dos camponeses – perguntam a direção de Moscou.

5º lugar – Guilherme Sandi

Entrelinhas da paternidade
“Esse filho não é meu”. A esposa protestou. “Arre, se o sobrenome da família há mais de duzentos anos é Sousa! Espia a certidão: está Souza.” Foram olhar, cara do pai: era filho do Souza, o tabelião.

Parabéns a todos que participaram!

Modigliani no Rio

A exposição Modigliani: imagens de uma vida acaba de chegar ao Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, e já é reconhecida como a maior mostra do pintor italiano que o Brasil já viu. A curadoria é assinada por Christian Parisot, autor do volume Modigliani na Série Biografias L&PM e presidente do Modigliani Institut Archives Légalés Paris-Roma, que organiza o Momento Itália-Brasil com cerca de 200 eventos programados até junho de 2012.

Estão à disposição do público no Museu Nacional de Belas Artes cerca de 230 itens, entre eles 12 pinturas e cinco esculturas, que tentam refazer os caminhos do olhar de Modigliani e suas influências a fim de apresentar o perfil do artista que tanto se dedicou aos retratos. Segundo Parisot, foram selecionados para a mostra os documentos mais importantes do arquivo Modigliani, em Roma, a fim de possibilitar três abordagens da carreira: o período em que viveu entre Livorno, onde nasceu, e Sardenha, passando pela estadia entre Florença e Veneza, até chegar à França.

"Nu deitado", o quadro que ilustra a capa da biografia de Modigliani é uma das peças da mostra

Depois de dois meses em Vitória, no Espírito Santo, a exposição Modigliani – Imagens de Uma Vida fica  no Museu Nacional de Belas Artes e até março e segue, em abril, para o Masp, cujo acervo conta com 6 retratos do artista, inclusive o mais valioso de todos: seu único autorretrato, de 1911, propriedade de um colecionador brasileiro.

Lu e seus 15 minutos de fama

A Luciana Rodrigues, nossa colega aqui na L&PM, fugiu do tórrido verão brasileiro e foi resfrescar-se na “velha e querida Inglaterra”. Como o clima aqui na editora era de lançamento dos Diários de Andy Warhol, justamente o pocket 1.000 da L&PM, ela foi visitar o célebre rei do pop em Londres. A foto é testemunha disto; Lú ainda tinha resquícios do bronze adquirido nas praias tropicais e o Andy não fez por menos, sendo fotografado na sua melhor pose de esnobe… Na verdade Andy Warhol está imortalizado em cera no famoso museu de Madame Tussauds (Marylebone Road, London, NW1 5LR). A semelhança é impressionante e a qualidade do trabalho faz deste museu uma visita obrigatória na capital inglesa. Visite o site do museu e encontre as réplicas perfeitas de homens e mulheres que conseguiram bem mais do que 15 minutos de fama… (IPM)

Cézanne supera Picasso

Em um leilão realizado em Nova York esta semana, uma das telas da famosa série “Os jogadores de cartas”, de Paul Cézanne, foi arrematada por US$ 250 milhões (cerca de R$ 430 milhões), o maior valor já pago por uma pintura no mundo. Até então, quem ocupava o posto de pintura mais cara já vendida em um leilão era a tela “Nu, Folhas Verdes e Busto”, do espanhol Pablo Picasso, arrematada em 2010 por US$ 106,5 milhões.

Um dos quadros da série "Os jogadores de cartas" arrematado no leilão por US$ 250 milhões

Na volume sobre Cézanne da Série Biografias, o autor Bernard Faulconnier investiga minuciosamente o surgimento da famosa série de quadros:

Quando ia ao Museu de Aix, Cézanne sempre sentira uma atração especial pelo quadro atribuído a Mathieu Le Nain, Les Joueurs de cartes [Os jogadores de cartas]. Sempre sonhara em se inspirar nele, pintar daquele jeito. Por que este tema? Porque sempre estivera diante dele, porque naqueles personagens de jogadores de cartas podia abarcar a humanidade inteira e ainda reinventar a pintura, a pintura de gênero dessa vez.

Cézanne criou cinco quadros e vários estudos sobre o tema. Quem são aqueles homens captados de perfil, que jogam cartas tranquilamente naquele aposento tão modesto? (…)

O quadro é mudo. Os personagens estão tensos, concentrados, contraídos dentro de roupas grossas. O jogo de cartas não era uma brincadeira. Os homens assumem uma postura imponente, uma condição de figuras graníticas congeladas para sempre em sua tensão. (…) A segunda versão da série, aquela que está no Metropolitan Museum of Art, em Nova York, contém quatro personagens, e as duas versões seguintes, apenas dois: os jogadores de cartas estão de perfil, sentados nas duas pontas da mesa. Tudo nesses quadros confere a este gesto do jogo, cotidiano e banal, a solenidade de uma cerimônia; tudo confere a esta representação a força de um momento de eternidade. Simplicidade nas linhas e dignidade na série de atitudes. Uma imagem do homem em seu cotidiano que, ao mesmo tempo, está além dele, em uma relação de harmonia singular com o mundo. Ao abandonar o monumental, Cézanne concentrou-se no essencial e ganhou em sobriedade para atingir o ser humano.

O quadro “Os jogadores de cartas” foi comprado pela família real do Qatar e será exposto no Museu Árabe de Arte Moderna, em Doha.

66. Maigret em quadrinhos

A L&PM publica quase toda a obra de Georges Simenon no Brasil, inclusive dezenas de novelas inéditas de um dos maiores mestres da literatura de suspense no mundo. Já são mais de 50 títulos Coleção L&PM Pocket e a Série Simenon não pára de crescer. Por outro lado, também é notória a tradição da L&PM na publicação de histórias em quadrinhos, tanto que o primeiro livro lançado pela editora em 1974 foi o Rango, com as tirinhas de Edgar Vasques. Sem mais delongas, o pedacinho de história da L&PM que vamos resgatar hoje é o álbum Maigret e seu morto, que conta em formato de quadrinhos as artimanhas do Comissário Maigret para solucionar mais um caso misterioso. A quarta capa do livro explica do que se trata:

Quai des Orfèvres, uma manhã de fevereiro. O Comissário Maigret escuta distraidamente uma visitante quando é interrompido por uma ligação telefônica. Um homem apavorado diz que está sendo perseguido, pede proteção e marca um encontro num bar. Mas quando o inspetor enviado por Maigret chega no lugar combinado o desconhecido já havia partido. O homem liga novamente e marca outro ponto de encontro, mas também desta vez ele parte antes da chegada do inspetor. De madrugada, Maigret é acordado por outro telefonema: um cadáver fora encontrado na Place de la Concorde. Deslocando-se imediatamente para o local, o Comissário reconhece o misterioso interlocutor através da descrição feita pelo próprio homem ao marcar o primeiro encontro. Começa a investigação de Maigret. Quem é o homem? Por que o eliminaram daquele jeito? Por que o depositaram, depois de morto, naquele belo cenário da Place de la Concorde?

Confira um trechinho:

Toda terça-feira, resgatamos histórias que aconteceram em quase quatro décadas de L&PM. Este é o sexagésimo sexto post da Série “Era uma vez… uma editora“.

Saiu o pocket número 1.000: “Diários de Andy Warhol” já está nas livrarias

Escritos no auge de sua fama e sucesso, os Diários de Andy Warhol registraram dias, noites, grandes eventos e deliciosas trivialidades de uma das figuras mais enigmáticas e geniais da cultura do século XX. Polêmico e revelador, o livro foi publicado originalmente no Brasil em 1989, pela L&PM, com quase 800 páginas. Agora, mais de 20 anos depois, o livro volta às bancas e livrarias em 2 volumes e formato de bolso para comemorar os 1.000 títulos da Coleção L&PM Pocket. E já que o clima é de festa, a L&PM caprichou no presente e fez a Caixa Especial Diários de Andy Warhol com os 2 volumes (mas você pode comprá-los separadamente, se preferir).

25 anos depois da morte de Andy Warhol, os diários se tornaram história. O tempo aumentou radicalmente a importância do artista e de muitos personagens que habitam suas páginas. O relato do criador do Pop torna-se fonte de referência para entender as décadas do fim do século XX, a cultura da celebridade, a contra-cultura novaiorquina da época, a estética do Pop, o cinema underground e conhecer os registros praticamente diários desta grande aventura da última jornada verdadeiramente de vanguarda da arte moderna. Até as frivolidades que permeiam em abundância este livro adquirem agora um significado histórico. É Nova York pré-11 de setembro. A grande Meca da modernidade, cujos sonhos transgressores e vanguardistas derreteram junto com as torres gêmeas.

Sincero e impiedoso

Andy e o roqueiro Mick Jagger, inseparáveis

Jim Morrison, Calvin Klein, Patti Smith, Martin Scorsese, Tom Wolfe, Roy Lichtenstein, Mick Jagger, Lou Reed, Yoko Ono são alguns dos “alvos” de seus comentários sinceros e impiedosos. O grande cult da chamada “arte de rua”, Jean Michel Basquiat, morto em 1988, aos 28 anos, é mencionado inúmeras vezes, pois foi uma descoberta do criador do Pop. Ele diz em 4 de outubro de 1982:

O Basquiat é o garoto que usava o nome de ‘Samo’ quando sentava na calçada do Greenwich Village e pintava camisetas, e de vez em quando eu dava 10 dólares para ele e mandava ao Serendipity para tentar vendê-las. Era apenas um daqueles garotos que me enlouqueciam. É negro, mas algumas pessoas dizem que é porto-riquenho, aí sei lá (…).

Andy e Basquiat

Enfim, são centenas de pessoas (todas devidamente listadas num índice remissivo ao final do livro) do show business, das artes, da realeza europeia, do rock and roll, do punk rock, da literatura, moda, imprensa, teatro, cultura underground, jet set em geral, milionários, drogados famosos, políticos, enfim, gente que superou a sua previsão de que “um dia todos vão ter pelo menos 15 minutos de fama”.