Andy Warhol, arte e tecnologia

Em 1985, Andy Warhol provou que sua arte não se curva diante dos limites da técnica. Sem usar uma só gota de tinta, ele fez um retrato ao vivo da musa Debbie Harry usando o Paint (quem nunca?) do Amiga OS, o computador mais moderno da época que estava sendo lançado na ocasião. Isso sem perder o estilo inconfundível que consagrou suas obras nos anos 60 e 70, quando ele usava nada mais do que tinta e processos manuais de serigrafia. Eis o resultado:

Pra quem duvida, a façanha foi registrada em vídeo:

Warhol morreu pouco tempo depois, em 22 de fevereiro de 1987, e não pode ver os caminhos impressionantes pelos quais se embrenhou a arte digital a partir dos anos 90. Já pensou no que o rei da pop art seria capaz de fazer com as maravilhas da computação gráfica e do 3D?

Titanic, uma tragédia anunciada

Em 10 de abril de 1912, há exatos 100 anos, o poderoso Titanic recolheu suas âncoras e deixou o porto de  Southampton. Tinha início a viagem de estreia do maior navio de passageiros construído até então, sob o comando do Capitão Edward J. Smith. Mal sabiam eles que aquela primeira viagem seria também a última: dias depois, o invencível Titanic se chocaria contra um iceberg em alto-mar, num dos maiores acidentes da história da navegação.

Fascinado por esta história, o escritor Sérgio Faraco reconta a tragédia do Titanic minuto a minuto no livro O crepúsculo da arrogância. Fruto de um trabalho minucioso de apuração e da análise de depoimentos e documentos sobre o acidente, o livro revela, além da cronologia do naufrágio, informações sobre os passageiros, a rotina do navio e até a receita dos pratos do último jantar da primeira classe.

Entre outros detalhes, Faraco mostra como, desde o dia da partida, a primeira viagem do Titanic era uma tragédia anunciada:

10 de abril
12h15min

O navio levanta âncora e, após apitar três vezes, afasta-se do cais puxado por cinco rebocadores, entre eles o Vulcan. Já propulsionado por seus motores, desce o canal de Southampton. O destino é Nova York (…). Perto da embocadura do rio Test, a sucção de seu poderoso deslocamento, o chamado “efeito canal”, faz balançar o vapor New York, que rebenta seis cabos de amarração de 15cm de diâmetro e se movimenta, com a popa em sua direção. O Titanic reverte os motores, mas a colisão é iminente. No derradeiro instante, é evitada pelo Vulcan, que alcança um cabo da embarcação à deriva e a sustenta. A popa do New York deixa de abalroar o casco do Titanic por escasso 1,20m. Passado o susto, um menino de 11 anos, filho do milionário William Carter, ouve um homem dizer:

– Não é um bom começo para uma viagem inaugural.

E de fato não o é. O prático é apenas um auxiliar, não comanda. Quem comanda é o Capitão Smith, e o incidente com o New York, somado à colisão entre o cruzador Hawke e o Olympic, também sob seu comando, sugere sua inaptidão para manobrar navios de maior porte – into sem contar seu lastimável histórico de acidentes marítmos.

Ainda não foi debelado o incêndio na carvoeira. Tamanho é o descaso do capitão em relação à grave ocorrência que nem ao menos manda registrá-la no diário de bordo.

De uma carta de Murdoch aos pais, escrita no dia seguinte, perto de Queenstown:

Quando deixamos Southampton, passando pelo New York e pelo Oceanic que estavam amarrados um perto do outro, eles se balançaram de tal modo que o New York ficou à deriva e chegou tão perto que, tanto nós quanto ele, corremos um grande risco.

(…)

20h10min
O Titanic levanta âncora rumo a Queenstown. Vai atravessar novamente o canal da Mancha e contornar a costa sul da Inglaterra a uma velocidade de 20 nós = 37km/h. Prossegue o incêndio na carvoeira.

Nesta aproximada hora, no Atlântico, menos de 200km ao norte da rota do Titanic, o vapor francês Niagara bate num iceberg, que lhe deforma o casco abaixo da linha d’água, e emite pelo radiotelégrafo a mensagem de CQD [CQ: a todos os navios. D: perigo. Os operadores interpretam CQ como “come quickly, venha depressa”]. As sequelas do acidente não são fatais para o navio, que demanda ao porto antes da chegada de socorro. É a primeira de uma série de colisões com gelo nos próximos dias. O inverno nas latitudes setentrionais não foi muito severo. Grande quantidade de gelo se desprendeu da calota polar e, à deriva, segue para o sul.

O nascimento de Baudelaire

É um estranho casal que dá à luz Charles Baudelaire, em 9 de abril de 1821. (…) Um pai velho, então com 62 anos, e uma mãe ainda jovem, com 34 anos menos que seu marido. Um pai marcado pelos faustos indolentes de uma época passada e uma mãe que descobre, de um dia para o outro, o amor carnal e, ao mesmo tempo, os caprichos de um velho. Um pai um tanto diletante, preso entre os requintes dos salões mundanos do século XVIII e a gravidade dos gabinetes administrativos, e uma mãe tímida, crédula, temerosa, para quem a maternidade é como um dom do céu, uma espécie de milagre, e o parto, uma revanche contra as adversidades. Um pai idoso que tem amigos idosos e uma mãe na flor da idade que, por sua vez, não tem amigos, a não ser um dos quatro filhos de seu tutor. Esse incrível contraste é percebido pelo pequeno Charles muito cedo, muito rápido. Na sua casa, na Rue Hautefeuille, tudo é antiquado, e aqueles que ele vê ir e vir e com os quais seu pai conversa ou vai ao teatro são todos velhos. Velhos caquéticos. Velhotes. Vovozinhos. Quando ele vai brincar no Jardin du Luxembourg, a dois passos de casa, ele vê que seu pai encontra mais velhotes, seus antigos colegas do Senado, companhias senis e quase decrépitas. Esse não é apenas um mundo velho, mas também um mundo que exala um cheiro de velho – odores terríveis, nauseabundos, repugnantes, pútridos, “florações na natureza”, “lodo repelente”, que ele não consegue deixar de registrar, de armazenar no fundo do seu ser.”

O trecho acima é parte do primeiro capítulo de “Baudelaire“, livro de Jean-Baptiste Baronian (Série Biografias L&PM). Uma das personalidades mais contraditórias da história da literatura, Baudelaire inovou em sua poesia e em sua abordagem da arte e da música. Feroz defensor da liberdade de costumes, teve uma vida ao mesmo tempo luxuosa e miserável, dissoluta e magnífica, deplorável e deslumbrante. Considerado um pária genial, entrou para a história com textos como “Todas as belezas contêm, assim como todos os fenômenos possíveis, algo de eterno e algo de transitório, de absoluto e de particular. A beleza absoluta e eterna inexiste, ou melhor, é apenas uma abstração empobrecida na superfície geral das diferentes belezas. O elemento particular de cada beleza vem das paixões, e como temos nossas paixões particulares, temos nossa beleza particular.”

Baudelaire em 1855

De autoria de Baudelaire, a Coleção L&PM Pocket publica “Paraísos Artificiais – O haxixe, o ópio e o vinho“.

Bibliotecas inspiradoras

Pensando em montar um lugar especial para guardar todos os seus livros da Coleção L&PM Pocket? Pois o site FlavorWire elegeu 20 bibliotecas particulares mais bonitas do mundo. Separamos aqui quatro delas para você se inspirar.

Um loft em Paris onde os livros sobem pelas paredes:

A moderna biblioteca da Villa Dali, perto de Haia, na Holanda:

A biblioteca na casa do estilista alemão Karl Lagerfeld:

Uma escada recheada de livros em Londres:

Verbete de hoje: Stan Sakai

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, este Blog publicará, nos domingos, um verbete deste livro. O de hoje é  o japonês Sakai Stan (1953), cujo principal personagem era Usagi Yojimbo, uma espécie de coelhinho da Páscoa samurai.

Radicado nos Estados Unidos há muitos anos, o quadrinista japonês Stan Sakai é formado em artes plásticas pela Universidade do Havaí, além de ter estudado no Art Center College of Design em Pasadena, Califórnia. Seu trabalho mais reconhecido no mundo dos comics é o personagem Usagi Yojimbo, criado por ele em 1982 e que foi publicado pela primeira vez em 1984, na edição especial Critters. Com o passar dos anos, Usagi Yojimbo ganhou revista própria e foi editado pelas editoras Fantagraphics, Mirage e Dark Horse. Usagi é um coelho ronin, e os demais personagens da série também são seres antropomorfizados. As histórias se passam no Japão da virada do século XVII, durante a consolidação do poder do shogunato. Sakai revela em Usagi Yojimbo uma rigorosa e bem estudada reconstituição histórica do período, apresentando ainda um domínio narrativo impressionante na elaboração das sequências de ação. Além disso, o artista traz para a revista uma série de influências marcantes da cultura popular japonesa, como fatos inspirados na vida do célebre samurai Miyamoto Musashi, elementos da lenda do herói Zatoichi e citações ao mangá O lobo solitário. O sucesso de Usagi Yojimbo foi tanto que motivou Sakai, inclusive, a criar em 1991 Space Usagi, que tem como protagonista um descendente futurista do coelho. No Brasil, Usagi Yojimbo foi editadopela Via Lettera (com os volumes Samurai, Ronin e Bushido) e pela Devir (através dos álbuns Sombras da morte e Daisho). Além de Usagi, Sakai também teve participação destacada nas revistas dos Simpsons (Bongo Comics, 2001) e do Boné (desenhando a história Riblet, aqui publicada pela Via Lettera no álbum Estúpidas, estúpidas caudas de ratazana) e na antologia “AutobioGraphix” (Dark Horse, 2003). Ele igualmente é um renomado e premiado letrista, tanto de seus trabalhos próprios como em obras alheias (principalmente Groo, de Sergio Aragonés).

O site oficial de “On the road – o filme”

A produtora francesa mk2 anunciou hoje o lançamento do site oficial do filme On the road de Walter Salles. Para os fãs do clássico beat, o site é uma verdadeira “meca digital”, onde é possível encontrar informações completas sobre o elenco, o trailer do filme, a sinopse oficial, informações sobre o livro de Jack Kerouac que deu origem ao filme, a ficha técnica da equipe de Walter Salles e uma galeria de fotos pra deixar qualquer um com água na boca para devorar logo o filme que tem estreia prevista para maio.

Tela inicial do site oficial de "On the road"

Em breve, teremos uma versão brasileira do site oficial, que já está sendo preparada pela distribuidora PlayArte. Vamos aguardar!

15 anos sem Allen Ginsberg

Quando Allen Ginsberg morreu, há 15 anos atrás, em 5 de abril de 1997, ele estava cercado pela família e amigos em seu loft no East Village em Nova York. Aos 70 anos, Ginsberg sucumbiu ao câncer de fígado e se foi deixando poemas que marcaram toda uma geração. Seu longo e profético Uivo, por exemplo, deu início ao movimento beat e o transformou em uma celebridade na América dos anos 60.

Eu vi os expoentes da minha geração destruídos pela loucura,
morrendo de fome, histéricos, nus,
arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada em busca
de uma dose violenta de qualquer coisa,
(…)

A mesa de Allen Ginsberg como ele a deixou ao morrer. Entre seus objetos pessoais, estava uma coletanêa de poemas de seu pai, Louis Ginsberg. (Clique para ampliar)

 E por falar em Allen Ginsberg, em junho a L&PM lança o livro com as cartas trocadas entre ele e Jack Kerouac.

Nasceu o novo filho de Galeano

Eduardo Galeano lançou seu novo livro Los hijos de los dias nesta terça-feira, dia 3 de abril, no Teatro Solis, em Montevidéu. Quem compareceu ao evento teve o privilégio de ouvir vários trechos do novo livro lidos pelo próprio Galeano. São 366 pequenos contos, um para cada dia do ano, sobre assuntos variados, em geral relacionados à América Latina. Sempre certeiro e atual, ele aproveitou a oportunidade para fazer críticas à Igreja e ao FMI e fez considerações sobre a nova Constituição da Bolívia que “mudou a condição dos índios de mão de obra a filhos da pátria”, e a do Equador, “que reconhece a natureza como sujeito de direito”.

A L&PM já está preparando a edição brasileira de Los hijos de los dias, com lançamento previsto para agosto.

A história de “Millôr definitivo – a Bíblia do Caos”

Por Ivan Pinheiro Machado

Durante muitos anos Millôr Fernandes sonhou em fazer um livro de frases. Como o projeto envolvia passar um “pente fino” em praticamente 50 anos de produção ininterrupta, este projeto era sempre protelado. Até que, num dia de 1992, o Lima e eu assumimos esta mega-tarefa. Convocamos a Jó Saldanha e a Fernanda Veríssimo, que na época trabalhavam na L&PM,  e montamos uma estratégia de ação para reunir num livro o “pensamento de Millôr Fernandes”.

Mandamos fazer cópia (Xerox) de toda a coleção das colunas da Veja, Isto é e Jornal do Brasil, mais os livros que ele havia publicado nas décadas de 50, 60, 70 e 80, incluindo as velhas páginas da coluna Pif Paf da revista O Cruzeiro (onde Millôr se assinava “Vão Gogo”), mais os poucos números da revista Pif Paf editadas pelo Millôr em 1965 e fechada pela ditadura militar,  a produção de O Pasquim e produções esparsas, além das peças originais, como “Um elefante no caos, “É”, “Flávia, cabeça trondo e membros” e muitas outras fontes. Se fizéssemos uma pilha de todas as páginas Xerox, ela teria mais de 3 metros de altura, conforme medimos na época. Foram dois anos de trabalho. A técnica utilizada foi destacar nos textos as frases importantes. Uma vez destacadas, as frases eram digitadas com a data e o local onde foram publicadas. Assim separamos cerca de 10 mil que foram digitadas e enviadas para o Rio de Janeiro num calhamaço de quase 1.000 páginas. Destas 10 mil, o Millôr selecionou 5.142 e batizou como “Millôr Definitivo – a Bíblia do Caos”. Vale a pena ler na capa do livro as 62 definições que Millôr dá às suas frases: “5.142 pensamentos, preceitos, máximas, raciocínios, considerações, ponderações, devaneiros, elucubrações, cismas, disparates, ideias, introspecções, etc..etc..”.

O livro foi lançado em 1994, comemorando os 20 anos da L&PM em dois mega-lançamentos: na churrascaria Marius no Rio de Janeiro e no saudoso restaurante Birra e Pasta em Porto Alegre. “Millôr definitivo” teve mais de 20 edições. No final dos anos 1990, fizemos uma edição especial em capa dura. No ano 2000, ela foi reeditada novamente em capa-dura, mas com novo layout de capa e o acréscimo de 157 frases. E finalmente em 2002 o “Millôr Definitivo” foi editado na coleção L&PM POCKET, onde convive nas livrarias paralelamente com a edição de luxo em “hard cover”.

Esta é a história deste clássico.

“Millôr Definitivo” reúne num grande livro o pensamento deste que foi um dos maiores pensadores brasileiros de todos os tempos.

AMOR
Da cintura para cima o amor é platônico. Da cintura para baixo é anacrônico.

BÊBADO
O bêbado é o subconsciente do abstêmio.

CARTÃO DE CRÉDITO
O dinheiro é o cartão de crédito do pobre.

CRIME
Não é que o crime não compensa. É que, quando compensa, muda de nome.

DEBOCHE
Deboche é um gozo maior do que o nosso.

DEMOCRATA
Nunca neguei a ninguém o direito de concordar inteiramente comigo.

ERRO
Tudo é erro na vida do revisor.

EXPLICAÇÃO
Os pássaros voam porque não têm ideologia.

FOBIA
Fobia é um medo com Ph.D.

GOURMET
O gourmet é o comilão erudito.

HOMEM
O homem põe. E o publicitário cacareja.

INVOLUÇÃO
Todo homem nasce original e morre plágio.

LIBERDADE, LIBERDADE
Livre como um táxi.

MEMÓRIA
O criticado tem memória melhor do que a do crítico.

NUDISMO
Pois é: estão querendo adotar o nudismo. Se esquecem de que tudo começou assim e não deu certo.

OTIMISTA
O otimista não sabe o que o espera!

POLÍTICO
Mais cedo ou mais tarde todo político corresponde aos que não confiam nele.

PONTUALIDADE
A pontualidade é uma longa solidão.

QUANTIFICAÇÃO
O bastante é muito pouco.

REVER
Rever é perder o encanto.

SEMÂNTICA
A semântica é o ópio dos psicanalistas.

SLOGAN DEFINITIVO
Há uma morte no seu futuro.

TÉCNICA
Quando você cair do galho agarre-se no de cima.

USURÁRIO
De que vale o homem que não gasta seu destino?

VANGUARDA
Não há vanguarda sem retaguarda.

XADREZ
O xadrez é um jogo que desenvolve a inteligência para jogar xadrez.

ZEN
Olha. / Entre um pingo e outro / A chuva não molha.