Titanic, uma tragédia anunciada

Em 10 de abril de 1912, há exatos 100 anos, o poderoso Titanic recolheu suas âncoras e deixou o porto de  Southampton. Tinha início a viagem de estreia do maior navio de passageiros construído até então, sob o comando do Capitão Edward J. Smith. Mal sabiam eles que aquela primeira viagem seria também a última: dias depois, o invencível Titanic se chocaria contra um iceberg em alto-mar, num dos maiores acidentes da história da navegação.

Fascinado por esta história, o escritor Sérgio Faraco reconta a tragédia do Titanic minuto a minuto no livro O crepúsculo da arrogância. Fruto de um trabalho minucioso de apuração e da análise de depoimentos e documentos sobre o acidente, o livro revela, além da cronologia do naufrágio, informações sobre os passageiros, a rotina do navio e até a receita dos pratos do último jantar da primeira classe.

Entre outros detalhes, Faraco mostra como, desde o dia da partida, a primeira viagem do Titanic era uma tragédia anunciada:

10 de abril
12h15min

O navio levanta âncora e, após apitar três vezes, afasta-se do cais puxado por cinco rebocadores, entre eles o Vulcan. Já propulsionado por seus motores, desce o canal de Southampton. O destino é Nova York (…). Perto da embocadura do rio Test, a sucção de seu poderoso deslocamento, o chamado “efeito canal”, faz balançar o vapor New York, que rebenta seis cabos de amarração de 15cm de diâmetro e se movimenta, com a popa em sua direção. O Titanic reverte os motores, mas a colisão é iminente. No derradeiro instante, é evitada pelo Vulcan, que alcança um cabo da embarcação à deriva e a sustenta. A popa do New York deixa de abalroar o casco do Titanic por escasso 1,20m. Passado o susto, um menino de 11 anos, filho do milionário William Carter, ouve um homem dizer:

– Não é um bom começo para uma viagem inaugural.

E de fato não o é. O prático é apenas um auxiliar, não comanda. Quem comanda é o Capitão Smith, e o incidente com o New York, somado à colisão entre o cruzador Hawke e o Olympic, também sob seu comando, sugere sua inaptidão para manobrar navios de maior porte – into sem contar seu lastimável histórico de acidentes marítmos.

Ainda não foi debelado o incêndio na carvoeira. Tamanho é o descaso do capitão em relação à grave ocorrência que nem ao menos manda registrá-la no diário de bordo.

De uma carta de Murdoch aos pais, escrita no dia seguinte, perto de Queenstown:

Quando deixamos Southampton, passando pelo New York e pelo Oceanic que estavam amarrados um perto do outro, eles se balançaram de tal modo que o New York ficou à deriva e chegou tão perto que, tanto nós quanto ele, corremos um grande risco.

(…)

20h10min
O Titanic levanta âncora rumo a Queenstown. Vai atravessar novamente o canal da Mancha e contornar a costa sul da Inglaterra a uma velocidade de 20 nós = 37km/h. Prossegue o incêndio na carvoeira.

Nesta aproximada hora, no Atlântico, menos de 200km ao norte da rota do Titanic, o vapor francês Niagara bate num iceberg, que lhe deforma o casco abaixo da linha d’água, e emite pelo radiotelégrafo a mensagem de CQD [CQ: a todos os navios. D: perigo. Os operadores interpretam CQ como “come quickly, venha depressa”]. As sequelas do acidente não são fatais para o navio, que demanda ao porto antes da chegada de socorro. É a primeira de uma série de colisões com gelo nos próximos dias. O inverno nas latitudes setentrionais não foi muito severo. Grande quantidade de gelo se desprendeu da calota polar e, à deriva, segue para o sul.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *