O “vinho” antes do vinho

No princípio era o verbo. E o nome do vinho precedeu a cultura da vinha. A pré-história do vinho remonta a vários milênios antes do início da era cristã, com o Soma, bebida sacrificial fermentada da Índia védica, que além de uma mistura mágica era um deus poderoso. Essa “poção da imortalidade” não era um vinho de uvas, mas o suco de uma planta sacrificial (ao que tudo indica, a Asclepias acida) que provavelmente tinha propriedades psicotrópicas ou psicodélicas. E o licor do Soma tinha o nome de Vena. Do Vena (amado, em sânscrito) se originaram  os nomes que designam o vinho em quase todas as línguas e povos da Europa: é o caso do russo (vino), do grego (woinos, depois oinos), do latim (vinum), do italiano e do espanhol (vino), do português (vinho), do alemão (wein), do inglês (wine) e do francês (vin). De origem mítica, de essência mística, de natureza santificada, de consumo francês, europeu e mundial, o vinho sempre foi uma bebida civilizatória. O vinho é muito mais do que “vinho”: é um patrimônio da humanidade. (Introdução do livro Vinho, de Jean-François Gautier, Série Encyclopaedia)

Vinho combina com um bom livro. E, como mostram as fotos abaixo, também com bons escritores:

O poeta português Fernando Pessoa em uma adega

Pablo Neruda e Vinicius de Moraes entre garrafas de vinho

Charles Bukowski bem agarrado em uma garrafa de vinho

Livros vão diminuir tempo de prisão

Livros libertam. O que antes poderia soar metaforicamente, agora virou realidade no Brasil. Isso porque foi publicada em 22 de junho, no Diário Oficial da União, uma portaria conjunta do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) e da Justiça Federal que estabelece a diminuição de quatro dias de prisão a cada obra lida. Isso mesmo: os detentos de presídios federais poderão reduzir suas penas lendo livros. Caso o preso leia 12 obras ao longo de um ano, e comprove a leitura por meio de resenhas, ele deixará de passar 48 dias no presídio.  

O projeto chama-se “Remição pela Leitura” e a inscrição é voluntária. Cada participante terá entre 21 e 30 dias para ler a obra que, pela Portaria Conjunta nº 276, poderá ser literária, científica ou filosófica. Nas resenhas, serão avaliados estética (uso de parágrafos e de letra cursiva), limitação ao tema e fidedignidade (não serão permitidos plágios). A análise das resenhas e o acompanhamento dos participantes ficarão a cargo de uma comissão nomeada pelo diretor de cada penitenciária.

O projeto será aplicado apenas nos quatro presídios federais do país. Poderão participar detentos em regime fechado e presos provisórios, que ainda não foram a julgamento. Ainda de acordo com o texto da portaria, as resenhas deverão ser enviadas posteriormente a um juiz, que decidirá se haverá remissão da pena. Os presídios garantem que possuem biblioteca e que têm um bom acervo a oferecer. É o mínimo que se espera para a ideia vingar…

A notícia parou na mídia internacional e foi publicada hoje no jornal inglês The Guardian.

Michael Jackson por Andy Warhol

Andy Warhol tinha verdadeiro fascínio por celebridades. Tanto que, entre os anos 70 e 80, o papa da pop arte fotografou todos os famosos que andavam pela Big Apple. Entre eles, claro, estava Michael Jackson, o jovem astro da música que andava pela cidade para anunciar a nova turnê de seu grupo The Jacksons numa grande e disputadíssima coletiva de imprensa no Central Park.

Sempre com sua câmera fotográfica a postos, ele estava lá e fez várias imagens no dia. Algumas destas fotos estão no livro America, que deve chegar às livrarias do Brasil em julho pela L&PM.

The Jacksons durante coletiva de imprensa no Central Park

Michael Jackson no livro "America" de Andy Warhol

Mais tarde, depois que o grupo The Jacksons se desfez e Michael partiu rumo aos píncaros do sucesso em carreira solo, ele foi tema das famosas séries de serigrafias de Andy Warhol. O retrato feito em 1984, que estampou uma das capas da revista Time daquele ano, foi vendido em 2009, pouco depois da morte do cantor, por um valor que até hoje não foi revelado.

Michael Jackson por Andy Warhol (1984)

Michael Jackson também é personagem de Diários de Andy Warhol. No dia 2 de fevereiro de 1977, ele contou à amiga Pat Hackett como eles se conheceram:

(…) às 11h Catherine e eu fomos até o Regine’s para entrevistar Michael Jackson, do Jackson 5. Agora ele está muito alto e com uma voz  realmente aguda. (…) Toda a situação era engraçada, porque na verdade Catherine e eu não sabíamos nada sobre Michael Jackson e ele não sabia nada sobre mim – ele pensou que eu fosse um poeta ou algo assim. Por isso ele me fez perguntas que alguém que me conheça jamais faria – por exemplo, se eu era casado, se eu tinha filhos, se minha mãe está viva… (risos) Eu disse “Ela está num asilo”.

A vertigem de Michelangelo

Michelangelo e o aprendiz encarregado do gesso galgam a escada de plataformas que conduz à “ponte”, vinte metros acima. O menino coloca o emboço, depois estende o carvão sobre o teto. Com o punção, depois com o carvão, Michelangelo traça os contornos como onze anos antes, quando trabalhava com seu mestre Ghirlandaio nos afrescos de Santa Maria Novella. Enquanto espera que as cores sejam moídas embaixo, ele olha fixamente o labirinto, a seus pés, e suas pernas vacilam… Como confessará por diversas vezes em suas Cartas, Michelangelo sente uma vertigem. Contudo, o labirinto da Sistina o fascina. É um dos locais sagrados da cristandade, os peregrinos devem percorrê-lo de joelhos para a própria edificação e penitência… Sim, mas como alcançar o quadrado sagrado que segue os seis círculos consecutivos (como os seis dias da Criação) do trajeto a descobrir, sem saltar nele? Para alcançar a espiritualidade é preciso saltar de um espaço para outro, reflete Michelangelo, como fez Platão, do sensível ao inteligível. Mas quem pode dar conta desse salto? Ele se sente sugado para o vazio e se mantém erguido com dificuldade… Reunindo toda a sua energia, o “Divino” está de pé, agarrando sem delicadeza o pincel que lhe estende o ajudante. Começa a pintar com a cabeça inclinada, a pintura escorrendo sobre seu rosto, sobre a barba apontada para o teto a menos de trinta centímetros da abóboda, o gesso entrando pelos olhos. Ele só descerá do andaime à noite, extenuado, e despertará sobressaltado para vestir às pressas suas camisas de lã na luz fraca de uma vela e voltar para a “ponte” glacial de madrugada.

(Trecho de Michelangelo, Série Biografias L&PM)

Clique aqui e assista vídeo sobre a Série Biografias na L&PM WebTV

 

 

São João no novo livro de Galeano

Junho
23

Fogos

À meia-noite de hoje, ardem os fogos. A multidão se reúne ao redor das altas fogueiras. Nesta noite, limpam-se as casas e as almas. São jogados no fogo os trastes velhos e os velhos desejos, coisas e sentires gastos pelo tempo, para que o novo nasça e encontre lugar. Do norte do mundo, esse costume se difundiu por todo lado. Sempre foi uma festa pagã. Sempre, até que a Igreja Católica decidiu que essa seria a noite de São João.

Trecho de “Os filhos dos dias”, novo livro de Eduardo Galeano que será lançado no Brasil pela L&PM Editores em julho com tradução de Eric Nepomuceno. “Os filhos dos dias” traz uma pequena história para cada dia do ano, sempre centrada em um fato real que aconteceu naquela data.

Falta pouco para a estreia do novo filme de Woody Allen

Estreia na próxima sexta-feira, 29 de junho, o novo filme de Woody Allen, “Para Roma com Amor”, uma comédia ambientada na capital italiana e que traz Allen novamente no elenco depois de seis anos afastado das telas (seu último papel foi em “Scoop – O grande furo” de 2006). Em “Para Roma com Amor”, ele vive um diretor de ópera recém-aposentado que viaja à Roma com a mulher para conhecer o noivo italiano da filha. Enquanto isso, do outro lado da cidade, um jovem casal americano tem a relação abalada com a chegada de uma amiga, ao mesmo tempo em que um outro casal, dessa vez de italianos, se envolve com uma prostituta e um galã de TV. Para completar, há um burocrata que vira celebridade e passa a ser perseguido por papparazzi.

No elenco, estão ainda Jesse Eisenberg (de “A rede social”), Penélope Cruz e Roberto Benigni. Em entrevista para o jornal Folha de S. Paulo de hoje, o diretor/ator disse que tem vontade de filmar no Rio de Janeiro, mas admite ter medo da violência: “Fico assustado. A publicidade e torno de lá é ruim. Nova York teve o mesmo problema anos atrás, mas, para quem morava em NY, não tinha nada, ninguém via nada, nada acontecia…”. Quando o repórter pergunta o que ele gostaria de filmar no Rio a resposta é: “Como um turista americano que nunca foi ao Rio, a impressão que tenho é de fotos, mitologias, bossa nova, coisas que cresci ouvindo, vendo. E as imagens da praia. (…) para mim o Rio é uma daquelas cidades românticas”. Na entrevista, Woody Allen diz ainda que as ideias lhe vem mais facilmente quando está no chuveiro. Ainda bem que, pelo que tudo indica, ele toma bastante banho.

Se você ainda não viu o trailer legendado de “Para Roma com Amor”, aqui está ele:

De Woody Allen, a Coleção L&PM Pocket publica os livros Adultérios, Cuca Fundida, Sem Plumas e Que loucura!

As anotações no roteiro de “On the Road”

A Revista Trois Couleurs, que foi distribuida durante o Festival de Cannes, é uma verdadeira preciosidade para os amantes dos beats. Editada pela Mk2, produtora do filme On the Road (“Sur la Route” na França e “Na Estrada” no Brasil) ela traz, em suas 240 primorosas páginas, um “quem é quem” dos personagens, uma cronologia que mostra até os antepassados de Jack Kerouac, muitas fotos, documentos, desenhos, música e detalhes sobre o filme dirigido por Walter Salles como croquis e anotações no roteiro. Nestas anotações, feitas pelo diretor, há até algumas escritas em português. “Muito bom isso vai antes da morte do pai” escreveu ele junto a uma locução em off de Sal Paradise, que aparece logo no início do roteiro.

A capa da Revista "Trois", uma preciosidade que temos aqui na editora.

Uma das anotações de Walter Salles está escrita em português - Clique sobre a imagem para ampliá-la

Mais anotações. "Excellent star" escreveu o diretor ele no roteiro de José Rivera

Mais duas páginas cheias de comentários

O roteirista portorriquenho José Rivera, que também trabalhou com Walter Salles em “Diários de Motocicleta” fez várias versões de roteiros até chegar na final. Em alguns momentos, ele optou por seguir a descrição de Jack Kerouac em On the Road – o manuscrito original. Um das primeiras cenas do filme, por exemplo, mostra o enterro do pai de Sal Paradise e a locução em off diz “Encontrei Dean pela primeira vez não muito depois que meu pai morreu…”, enquanto no livro On the road – Pé na estrada a frase é “Encontrei Dean pela primeira vez não muito depois que minha mulher e eu nos separamos”.

O filme estreia no Brasil em 13 de julho.

O monstruoso fantasma da Ópera

Quem nunca ouviu falar no fantasma da Ópera? Mesmo que você não tenha assistido à peça na Broadway, nem visto uma das tantas adaptações para o teatro ou cinema, mesmo assim o nome provavelmente lhe soa familiar. Romance escrito pelo francês Gaston Leroux em 1910, O Fantasma da Ópera conta uma história de suspense, terror e paixão, envolvendo três personagens: a bela cantora lírica Christine, o frágil noivo da moça, Raoul, e o gênio da música que habita os porões da Ópera de Paris, Erik. Desfigurado por um acidente, Erik “assombra” o teatro parisiense, apaixona-se por Christine e fica obcecado por ela. Tudo movido a tensão.

A primeira adaptação para o cinema foi feita em 1925 com o ator Lon Chaney no papel do fantasma. Considerado o número 1 dos sucessos dos estúdios Universal, o filme mudo apresentou um dos primeiros monstros de Hollywood e foi considerado o precursor dos filmes de terror. Por causa da assustadora maquiagem de Chaney, a projeção causava verdadeiro horror na plateia. A ponto de pessoas cardíacas enfartarem dentro do cinema.

Em 1925, o ator Lon Chaney encarnou um Fantasma da Ópera monstruoso

Vale a pena assistir ao trailer deste filme:

Em 1986, O Fantasma da Ópera estreou na Broadway e tornou-se o espetáculo de maior sucesso da famosa avenida, permanecendo em cartaz até hoje. A boa notícia é que, para conhecer a obra-prima de Gaston Leroux, você não precisa viajar até Nova York, pois ela está na Coleção L&PM Pocket, fiel ao original, e com tradução de Gustavo de Azambuja Feix.

Jean-Paul Sartre veio ao mundo com atraso

A mãe, Anne-Marie Sartre (nascida Anne Marie Schweitzer), e o pai Jean-Baptiste Sartre, esperavam seu primeiro filho para fins de maio e início de junho. Oficial da marinha francesa, Jean Baptiste não pode esperar pelo nascimento da criança em Paris e partiu em missão. A criança nasceria bem depois do esperado – provavelmente por um erro de cálculo –  em 21 de junho de 1905. A ele, seria dado o nome de Jean-Paul Sartre.  

O ano de 1905 ia começar e, poucos meses depois, Anne-Marie daria à luz “uma pequena Annie” ou “um pequeno Paul”, como dizia, com flagrante predileção para que fosse menina. O ano de 1905 ia começar e, pela futura mamãe e pela criança, o oficial da Marinha decidiu renunciar à viagem ao Japão com que tanto sonhava. Guerras coloniais, doenças e pressões hierárquicas contribuíram bem depressa para a desistência: desde então, Jean-Baptiste só pensa em voltar para a terra firme. Percorre ministérios, gabinetes, candidata-se a um cargo de “redator da Marinha”, recorre até a pistolões oficiais, contempando as soluções mais absurdas.

A pequena Annie (ou o pequeno Paul) vai nascer nos primeiros dias de junho, lá por fins de maio talvez, com um pouco de sorte, espera Jean-Baptiste, cuja licença sem soldo expira impreterivelmente no dia 15 de maio; o regulamento é muito severo: qualquer falta será punida. Ocorre, então, uma espécie de corrida contra o tempo para encontrar emprego em terra antes da data fatal, talvez com o desejo secreto de que a criança nasça prematura. (…) No dia 14 de maio, contrariado, J.-B. deixa Paris e vai para Toulon. No dia 29, desesperado, embarca no torpedeiro La Tourmente, como segundo-oficial que parte primeiro rumo a Sicília, depois Creta, com escalas em Messina, Palermo e Canea. De cada um desses portos, ele telegrafa à mulher; e durante todos esses primeiros dias no mar espera a participação do nascimento. (…) Todo mundo, então, em Creta, em Thiviers, em Paris, começa a esperar. Os Schweitzer alugaram um casarão no Mâconnais e o “erro de cálculo” traz muitos transtornos: quanto mais a criança demora a nascer, menores as chances de poder ser levada para fora de Paris. Enfim, esse contratempo é realmente lamentável. “Continuamos sem notícias do nosso marinheiro”, escreve de Thiviers a futura vovó Sartre em 21 de junho. Poucas horas depois, o vovô Schweitzer expede dois telegramas, um para Creta, outro para Thiviers: comunica o nascimento de um menino.

Jean-Paul Sartre chega ao mundo com atraso e, desde o início, atrapalha uma porção de planos familiares. Mas sua chegada coincide com certo número de acontecimentos políticos que vão marcar o século: 1905 é o ano das primeira revolução bolchevique, da guerra entre a Rússia e o Japão, ou, mais próxima ainda, da lei nacional que decreta a separação entre a Igreja e o Estado.

Trecho de Sartre – Uma biografia, de Annie Cohen-Solal

Jean-Baptiste Sartre morreria no ano seguinte em sua terra natal, Thiviers, por complicações advindas de uma doença crônica adquirida em uma missão na Conchinchina. Órfão de pai com pouco mais de um ano de idade, Jean-Paul foi criado pela família mãe e pelos avós maternos, a família Schweitzer.

De Jean-Paul Sartre a Coleção L&PM Pocket publica Esboço para uma teoria das emoções e A imaginação.

Whoopi Goldberg na introdução do novo Peanuts Completo

Peanuts Completo / 1959 a 1960 acaba de chegar na L&PM e já está sendo distribuído às livrarias. O volume 5 traz, na introdução, a transcrição de uma entrevista com a atriz Whoopi Goldberg, feita por Gary Groth, editor da série Peanuts Completo. Publicamos aqui um pequeno trecho desse bate-papo animado para você sentir o clima:

Você lia Peanuts quando era menina?
Eu lia de tudo quando era menina. Eu era obrigada, porque nenhum menino se interessava por mim! Mas, enfim, sim, a vida inteira. Foi a minha mãe quem me apresentou a Peanuts – entre tantas outras coisas maravilhosas que ela me ensinou. E os especiais de tevê começaram a passar quando eu era adolescente, popularizando Peanuts ainda mais. É por isso que até hoje eu sei fazer a dancinha do Snoopy em O Natal de Charlie Brown. Fui apresentadora de um talk show e tive a alegria e o privilégio de entrevistar Charles Schulz no meu programa. Eu mostrei os meus peitos para o Charles Schulz, para que ele pudesse ver minha tatuagem do Woodstock, feita 28 anos atrás. Ele perguntou se eu gostaria que ele a colorisse. Você sabe como é, quando Charlie Schulz pergunta “Você quer que eu pinte a sua tatuagem?”, você responde “É claro”.

E ele pintou?
Isso eu não vou dizer!

Por que o Woodstock?
Porque havia algo de maravilhoso naquele passarinho que vivia à toa, sem preocupação nenhuma na vida. E ele tinha um ótimo amigo, o Snoopy. Achei que seria sensacional carregar comigo aquele piado dele, aquele monte de tracinhos. Não cheguei a fazer os tracinhos, mas sempre que olho para a tatuagem eu o imagino falando comigo, do mesmo jeito como ele fazia com o Snoopy. É um negócio meio bobo, mas eu adoro.

Será que Charles Schulz pintou o Woodstock de Whoopi?