Arquivo mensais:janeiro 2012

Depois da meia-noite em Paris

A sala é escura, gelada e repleta de sombras que pendem pelas paredes. Um clima que ajuda a fazer com que a viagem até a noturna Paris dos anos 30 seja instantânea. Ao entrar na exposição “Paris la nuit – Brassaï”, os mais sensíveis sentem um arrepio. E não é de frio. Na mostra de fotos deste que revelou a Cidade Luz em seus momentos menos iluminados, o preto e branco oferece tons que vão do dramático ao fantástico. Há mulheres despidas e árvores nuas. Há a névoa que desce do céu e a fumaça dos cigarros vagabundos. Há uma prostituta que espera na esquina e outras três que se exibem no bordel. Há espelhos absortos em paixão. Retratos embebidos em absinto.  

Madame Bijou

Brassaï, nome arstístico do húngaro Julius Halas, foi muito mais do que um fotógrafo. Se é possível capturar a alma em foto, ele o fez. Nascido em 1899, Brassaï chegou em Paris em 1924. Virou amigo de André Kertés, Salvador Dali, Kiki, Henry Miller e Picasso. Em 1929, ao vagar insone pelas ruas, criou o projeto “Paris à noite”, com fotografias que demonstravam seu amor pelo surrealismo das relações. Brassaï caçou, na luz noturna de Paris, o insólito, o desconhecido, o que é desprezado. Valorizou as prostitutas, os delinquentes, os trabalhadores noturnos. E transformou a arquitetura parisiense em personagem de seu delírio: silhuetas de sonhos.  

Solitária, uma das pontes de Paris

Na exposição, além das ruas, está a casa de Madame Suzy, os bares frequentados por transexuais, a porta dos mictórios públicos, os cafés com aromas de beijos proibidos. São estes os cenários que encontramos. As madrugadas parisienses com suas penumbras, seus faróis, sua amoralidade, seu jogo de luz, sombra, ação e reação. O que Brassaï conseguiu capturar com suas lentes, é algo que não se pode deixar de descobrir. A viagem, pelo menos aqui, é de graça. (Paula Taitelbaum*)    

Assim era Brassaï

*Paula Taitelbaum é escritora e coordenadora do Núcleo de Comunicação L&PM. No início de janeiro de 2012, ela visitou a mostra “Paris la nuit – Brassaï”. Exposição que, a partir de 18 de janeiro, está em Belo Horizonte e, em abril, integrará a programação do FestFotoPOA em Porto Alegre.

SERVIÇO – BELO HORIZONTE

Quando: de 18 de janeiro a 1 de abril de 2012

Onde: Espaço Oi Futuro

Av. Afonso Pena, 4001

Quanto: Grátis

Nos anos 1980, a L&PM publicou o livro Dias de Clichy, de Henry Miller, em que o escritor cita Brassaï.

Exposição em Londres marca o bicentenário de Charles Dickens

Com a virada do ano, as comemorações do bicentenário do escritor Charles Dickens ganharam força total. Nascido em 7 de fevereiro de 1812, em Portsmouth, no condado de Hampshire na Inglaterra, Dickens viveu a maior parte da vida em Londres e deixou um legado tão importante e expressivo para a literatura mundial que, mais de um ano antes da data oficial de seu bicentenário, leitores e entidades de todo o mundo já começavam as homenagens.

O Museum Of London aproveitou a oportunidade para explorar a influência da vida na metrópole na obra do escritor e inaugurou em dezembro a exposição Dickens and London, que recria a atmosfera da Londres vitoriana do século 19 através de sons, projeções e objetos. Quem visita a exposição é conduzido por uma jornada fascinante pela cidade que inspirou alguns dos maiores clássicos da literatura mundial.

Passagens da vida do escritor também foram reconstruidas, como a época em que, ainda menino, trabalhou numa fábrica de graxa para ajudar a família que vivia encarcerada numa prisão especial para devedores. A influência desta experiência na crítica social presente em suas novelas é inegável. Dickens usou seus romances escritos ao longo do século 19 para retratar as mudanças e as contradições da sociedade inglesa durante a revolução industrial.

Pinturas, fotografias, trajes e objetos também fazem parte da ambientação, com destaque para os originais escritos a próprio punho do livro Great Expectations, de 1860, considerada uma das principais obras do autor. A exposição fica no Museum of London até 10 de junho de 2012.

Detalhe do manuscrito de "Great Expectations" em exibição na mostra

E pra quem não está em Londres e nem tem planos de ir à Europa, o Museu criou um applicativo gratuito da exposição para iPad, que permite conhecer “the dark side of Charles Dickens’ London” e seguir o escritor em seus costumeiros passeios noturnos, quando ele conhecia lugares e pessoas que lhe inspiravam cenas e personagens.

Tela inicial do aplicativo

Um mapa da Londres de 1868 sobreposto por um mapa de satélite dos dias de hoje (Google Maps) ajuda o visitante a se localizar no passeio, que é ambientado por meio de uma graphic novel interativa, com sons, narração e efeitos pensados especialmente para reconstruir o clima da época.

O mapa de Londres em 1862 e a opção de visualizar o mapa de hoje

61. No tempo da Quinoterapia

Entre os livros que fazem parte da memória da editora, está o “Quinoterapia”, que pertencia à antiga Coleção Quadrinhos L&PM e trazia charges e quadrinhos do argentino Quino, conhecido por ser o “pai” da Mafalda.

Em 1988, a L&PM lançou "Quinoterapia", com charges de Quino, mais conhecido por ser o criador da Mafalda

Em formato álbum, 21cm x 28cm, “Quinoterapia” foi lançado no Outono de 1988 e trazia 64 páginas com charges que, na maior parte delas, não precisavam de texto para serem entendidas (como a que ilustra a capa do livro). Em comum, todas as vinhetas tinham um humor cheio de inteligência e ironia sobre a relação entre médico e paciente.

É claro que os psicanalistas não foram poupados por Quino

*Toda terça-feira, o editor Ivan Pinheiro Machado resgata histórias que aconteceram em quase quatro décadas de L&PM. Este é o sexagésimo primeiro post da Série “Era uma vez… uma editora“.

Isaac Asimov, quase um século depois

*para ler ao som de “The robots” do grupo alemão Kraftwerk

Depois de Isaac Asimov, que nasceu em 2 de janeiro de 1920, o gênero de ficção científica nunca mais foi o mesmo. Ao lado de Robert A. Heinlein e Arthur C. Clarke, o editor da famosa série Histórias de Robôs é considerado um dos três grandes escritores do gênero no mundo. Asimov chamava a ficção científica de “misterioso mundo da antecipação” e se considerava um “tecnófilo”, pois seus personagens robôs eram, quase sempre, simpáticos, enquanto os vilões de suas histórias eram de carne e osso.

Para muito além de uma simples brincadeira imaginativa sobre o futuro, os textos reunidos na antologia Histórias de Robôs retratam também temas reais e atuais, como a robótica e sua incorporação no nosso cotidiano até as implicações morais desta apropriação. Se hoje estas possibilidades ainda assustam muita gente, imagine a fascinação que as tais “histórias de robôs” causavam na década de 50, quando a antologia foi lançada pela primeira vez! O próprio Asimov faz uma espécie de meaculpa na introdução do livro:

Não posso deixar de sentir que, se um volume desta antologia cair nas mãos de um descendente nosso daqui a um ou cinco séculos, ele seja até capaz de sorrir com algumas das nossas ingenuidades e equívocos – e, apesar disso, se mostrar impressionado, na maior parte, com nosso êxito em levantar uma ponta do véu do futuro.

Pode-se dizer que ele estava quase certo, pois nem precisou de tanto tempo para isso acontecer 🙂

Quem gosta de ficção científica ou fica maravilhado diante da rápida evolução tecnológica precisa conhecer a coletânea Histórias de robôs, publicada na Coleção L&PM Pocket em três volumes.

“On the road” de Walter Salles já tem previsão de estreia no Brasil

Quem acompanha os passos do diretor Walter Salles nas filmagens de On the road deve ter visto na última semana as especulações sobre a data de estreia do roadmovie baseado na obra de Jack Kerouac. Vários sites de fãs dos atores Garrett Hedlund e Kristen Stewart, que farão o papel de Dean Moriarty e Marylou, apostavam no dia 20 de julho, até que a PlayArte, distribuidora oficial do filme, revelou via Twitter que a estreia no Brasil está prevista para o dia 8 de junho.

Imagem do filme "On the road" divulgada com exclusividade pela L&PM em março de 2011

No entanto, a PlayArte alertou que a programação está sujeita a alterações. Vamos continuar  acompanhando e compartilhando as novidades com vocês aqui no blog 🙂

Verbete de hoje: Dave McKean

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, o Blog L&PM publicará, nos domingos, um verbete do livro. O de hoje é  o britânico Dave McKean (1963)

O estilo gráfico de Dave McKean é composto por uma instigante combinação de técnicas de desenho, pintura, fotografia e colagem. Sua estreia deu-se em edição da série “Mister X”. Logo depois, fez parceria com o escritor Neil Gaiman na graphic novel Violent Cases (1987). Gaiman foi seu colaborador mais constante, tanto em HQs (Orquídea negra, Sinal e Ruído, Mr. Punch, Hellblazer) como em livros ilustrados (Coraline, Os lobos dentro das paredes, O dia em que troquei meu pai por dois peixinhos vermelhos, The Graveyard Book). O trabalho mais notório de McKean foi o conjunto de capas que elaborou para as 75 edições de Sandman (DC), a grande obra-prima de Gaiman, e também de edições especiais relacionadas à série (Orpheus, Noites sem fim, Tudo o que você sempre quis saber sobre sonhos… mas tinha medo de perguntar). As capas de McKean para Sandman foram reunidas na coletânea “Capas na Areia” (1997). Ainda como capista, assinou as primeiras 21 edições do título Hellblazer (Vertigo). Outro grande momento de McKean ocorreu em Asilo Arkham (DC, 1989), álbum escrito por Grant Morrison. Notabilizou‑se também por HQs próprias de caráter autoral e experimental, como Cages (Kitchen Sink Press, 1990-1996) e Pictures That Tick (2001). Parte do material acima descrito recebeu lançamento no Brasil pelas editoras Globo, Abril, Opera Graphica, Metal Pesado, Conrad, Brainstore, HQManiacs e Panini. Em 2005, foi lançado nos cinemas Máscara da ilusão, obra dirigida por McKean e roteirizada por Neil Gaiman.