Arquivos da categoria: Sem categoria

O efeito Werther

Livro que marcou toda uma geração em 1770, é considerado o precursor do estilo epistolar na literatura e do movimento romântico na Europa

Por Mellissa R. Pitta (publicado originalmente no jornal Cândido da Biblioteca Pública do Paraná)

A relação de forças entre vida e arte certamente é tão antiga quanto as primeiras manifestações artísticas. Uma grande obra é capaz de criar o imaginário coletivo de uma sociedade ou é apenas a representação de fatos imateriais do cotidiano? A medição é, nesse caso, complicada, mas certamente trata-se de uma via de mão dupla. O artista recebe influência de seu meio, mas também o influencia.

Retrato de Johann Wolfgang v. Goethe – Georg Melchior Kraus c.1775O romance epistolar Os sofrimentos do jovem Werther, nesse sentido, é um marco. Lançado em 1774, o romance escritor por Johann Wolfgang Von Goethe causou grande furor ao trabalhar em uma linha tênue entre ficção e autobiografia. O livro reúne cartas do protagonista Werther para o amigo Wilhelm, que retratam uma sensibilidade romântica e o sofrimento da alma diante de sua paixão obsessiva e impossível por Charlotte, ou Lotte, mulher culta da alta sociedade alemã, pronta para se casar com Albert. O protagonista, sem livrar-se da paixão arrebatadora pela moça, dá cabo da própria vida com um tiro acima do olho direito.

O livro, dividido em duas partes,inicia com um narrador onisciente e onipresente, o editor fictício que reúne as cartas do jovem Werther enviadas à Wilhelm, e aparece somente no início e no fim do livro. Apesar das presenças do editor e do amigo, as cartas redigidas resumem-se a um grande monólogo de Werther, nas quais narra todo o desenrolar de sua paixão impossível e todo o sofrimento vivido até chegar ao seu grande ápice: o suicídio.

Percebe-se, na construção da obra, que o autor tratou de atrelar o destino de seu personagem principal à força do ambiente, qual vive sua paixão no mesmo ritmo (e densidade) das estações do ano. Ao conhecer e se apaixonar por Lotte, passava-se pela primavera, a beleza das flores, das paisagens; no verão, época em que a natureza já não possuía todo seu frescor primaveril, entra o personagem de Albert, noivo de sua dama; o casamento entre Charlotte e Albert acontece no outono, época em que as folhas secam e caem; por fim, no inverno, a alusão ao possível suicídio perpetua, servindo de base a época de tempestades e degelo, onde as paisagens já estão destruídas por completo.

Segundo o diretor do departamento de letras da PUC-Rio Karl Erik Schollhammer, “Goethe criou uma figura poética cuja relação emocional com a natureza foi emblemática, com uma compreensão das possibilidades do sentir subjetivo. O artista era visto como aquele sujeito particularmente receptivo desse impacto e cuja paixão se expressava igualmente no amor e na criação.”

Na época de sua publicação, a comoção foi tão grande que os jovens se reuniam em grupos para fazer a leitura dramática da obra e discutir sua força poética. Alguns desses jovens, que se identificaram fortemente com as características e o romantismo exacerbado de Werther, chegaram a aderir à vestimenta do protagonista: casaca azul, colete e calções amarelos. A indumentária tornou-se referência e identificação de uma alma inquieta romântica, como o personagem que dá nome ao livro.

Porém, a vestimenta não foi a única influência que o livro teve na sociedade. Em diversas regiões, a obra, que daria a Goethe reconhecimento literário em âmbito mundial, chegou a ser censurada por conta da onda de suicídios que gerou entre jovens leitores. Esse fato gerou a expressão Wertherfieber, ou Efeito Werther, utilizado na literatura técnica para designar os suicídios que seguem um modelo, isto é, são imitativos. No caso claro de Werther, os jovens de sua época que viveram uma paixão arrebatadora com a qual não sabiam lidar, que vivenciavam conflitos existenciais, preferiram ter o mesmo fim do protagonista, seguindo seus passos de fuga e escapismo.

De acordo com a professora da UFRJ, especialista em literatura alemã, Magali Moura, Werther foi uma verdadeira febre. Em um artigo publicado na Revista Cult, Moura conta que a presença sombria do protagonista era notada nas pessoas encontradas mortas abraçadas com exemplares do livro.

PRODUÇÃO

sofrimento do jovem wertherOs sofrimentos do jovem Werther foi escrito em apenas quatro semanas, durante um período de reclusão de seu autor. Jovem, ainda com 24 anos, Goethe se inspirou na própria história para escrever o livro. A malfadada história de amor vivida pelo colega Karl Wilhelm Jerusalém também foi determinante para que Goethe escrevesse seu primeiro sucesso.Em Poesia e verdade, o escritor alemão deixa claro a estreita relação entre a narrativa de Os sofrimentos do jovem Werther e sua própria biografia.

Conta, por exemplo, que na primavera de 1772, conheceu em um baile Charlotte Buff, moça da elite alemã já comprometida com Christian Kestner. A paixão arrebatadora pela moça foi instantânea, mas não correspondida. Goethe, enclausurado pelo amor à jovem, muda-se abruptamente para Frankfurt, período em que se torna amigo do casal, trocando correspondências diárias. Em uma delas, é informado que o amigo, também jurista, sensível e dotado de talento artístico, Karl Wilhelm Jerusalém, pôs fim à própria vida, tomando emprestado um par de pistolas de Kestner. O motivo: também estava perdidamente apaixonado por uma mulher casada.

A aproximação da história de Goethe e Jerusalém com Werther é assombrosa, tanto que o autor toma emprestado o nome do amigo para ser o correspondente do protagonista, o destinatário dos lamentos e dramas vividos ao longo da narrativa. A dama dos olhos de Goethe também não foi perdoada. No livro, a paixão de Werther tem o mesmo nome da mulher por quem o autor foi apaixonado.

CLÁSSICO

O lançamento de Os sofrimentos do jovem Werther se deu na Feira do Livro de Leipzig, dando início ao movimento conhecido como Stum und Drang (tempestade e ímpeto), caracterizado principalmente pela exaltação sentimental das emoções subjetivas, que serviria de indicação para o início do romantismo oitocentista.

1ª edição
Primeira edição do livro, lançado durante a Feira de Leipzig

O romance foi um divisor de águas na literatura germânica e também mundial. Críticos e estudiosos da obra afirmam que a literatura na Alemanha setecentista ainda não contava com nenhum romance marcante antes do surgimento de Werther, livro que deu início à prosa moderna e antecipou a entrada da Europa no romance burguês. Vários elementos que viriam a fazer deslanchar o sucesso do movimento romântico na Europa, um século depois, podem ser encontrados na obra-prima de Goethe, tais como a figura idealizada da mulher culta e erudita, o indivíduo sendo limitado pela sociedade, a mistura de gênerosliterários e a exaltação da natureza.

As características de Werther possibilitaram o nascimento de uma nova literatura, cuja principal característica é a estreita ligação entre autor e obra. “De certa maneira, inventou-se na obra a figura do poeta, característica do romantismo e da compreensão moderna de alguém que vive a literatura e sofre seu impacto, às vezes arriscando a própria vida”, comenta Schollhammer.

A obra foi, sem dúvida, um dos maiores acontecimentos literários do século XVIII, sendo considerada o primeiro best-seller da literatura europeia, e traduzida e publicada em diversos países. Devido a sua influência, Napoleão Bonaparte chegou a confessar a Goethe, em 1808, que havia lido o livro sete vezes.

“A metamorfose” em mangá

Acabou de chegar mais um título na Série L&PM Pocket Mangá: o clássico A metamorfose, de Franz Kafka.

capa_metamorfose_manga.indd

Ao amanhecer um dia transformado em um inseto gigante, Gregor Samsa viu sua vida e a de sua família se tornar um pesadelo absurdo e interminável. Escrita em 1912, A metamorfose é a história mais conhecida e estudada de Franz Kafka, uma preciosa porta de entrada para a obra de um dos autores mais peculiares do século XX, que retratou como ninguém a perplexidade do ser humano diante de um mundo cada vez mais injusto e sem sentido. Na série L&PM Pocket Mangá, o clássico é adaptado para a linguagem ágil de dinâmica das histórias em quadrinhos japonesas.

metamor2

Picasso e o nu

A casa de leilões Sotheby’s exibiu em sua sede, em Paris, uma coleção com 50 desenhos sobre o papel e algumas cerâmicas de Pablo Picasso, vindas diretamente da coleção particular de Marina Picasso, neta do gênio. A diferença desta mostra, que foi batizada de “Picasso e o nu” é que as obras não estavam à venda, algo incomum em uma proposta de uma casa de leilões.

A exposição durou poucos dias – de 28 de março a 1º de abril – mas mostrou ao mundo e ao mercado da arte como se despe um gênio.

picasso01

‘Le peintre et son modèle’ (1955)

picasso02

‘Nu debout de profil’ (1920)

 

Para conhecer mais sobre a vida e a obra do pintor, vale ler Picasso da Série Bigrafias.

450 anos de William Shakespeare

No dia 23 de abril, o mundo literário celebra os 450 anos de William Shakespeare, um dos maiores dramaturgos que o mundo já conheceu. Para homenageá-lo, a Cultura Inglesa promove uma série de 12 eventos, dentre eles peças de teatro, shows, eventos gastronômicos. O destaque da programação é a Noite de Leitura de Poesias com a participação de Arnaldo Antunes e do ator britânico Ian Flintoff na noite do aniversário, dia 23, a partir das 20h, seguido da apresentação do Coral Cultura Inglesa, que interpreta músicas inspiradas nos textos do escritor. Toda a programação tem entrada gratuita e acontece entre 3 e 25 de abril.

As peças teatrais serão apresentadas em inglês de 3 a 24 de abril no Teatro Cultura Inglesa de Pinheiros: A Midsummer Night’s Dream/Sonho de uma noite de verão (às quintas-feiras) e The Merchant of Venice/O mercador de Veneza (às sextas-feiras).

William_Shakespeare_16091

Toda a programação será divulgada em breve no site do Cultura Inglesa. Fique de olho!

(via Catraca Livre)

 

A arte de Ivan Pinheiro Machado

Há mais de três décadas, Ivan Pinheiro Machado exerce, simultaneamente com sua atividade de editor da L&PM, o ofício de pintor. Como artista gráfico, ele já criou 1000 capas de livros e suas telas já participaram de mais de 20 mostras individuais no Brasil e no exterior. Agora, de 7 de abril a 6 de junho de 2014, Ivan estará com uma nova exposição no Espaço Cultural Citi, em São Paulo, com a curadoria de Jacob Klintowitz, onde apresentará 28 novas pinturas.

ivan2

ivan1

Veja mais imagens da exposição e acompanhe o trabalho de Ivan Pinheiro Machado no Facebook -> www.facebook.com/IvanPinheiroMachadoPinturas

Martha Medeiros autografa em SP

Nesta sexta, dia 4, a escritora Martha Medeiros estará em São Paulo, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, para uma sessão de autógrafos de toda a sua obra recente como Feliz por nada, Um lugar na janela, A graça da coisa e Doidas e santas. Ela começa a autografar às 18h e, às 21h, começa a sessão de estreia da peça Tudo que eu queria te dizer, baseada no livro homônimo de Martha, no Teatro Eva Herz, que fica dentro da livraria. Estão todos convidados!

martha_m

Aline em nova fase

O cartunista Adão Iturrusgarai volta a publicar as tirinhas com as histórias da Aline no caderno Ilustrada da Folha de S. Paulo, em comemoração aos 20 anos de existência da personagem. A nova série se chama “Aline, 40” e ela passa a ter 40 anos de idade e uma fila chamada Luna – que não sabe ao certo quem é seu pai, se é Pedro ou se é Otto.

luna

Aline foi criada em 1993 e em sua última aparição, em 2009, ela mantinha seus 20 e poucos anos e dividia o apartamento – e a cama – com seus dois namorados. “A ideia é tratar do relacionamento deles. Ela está mais poliamor do que antes”, conta Adão. Sobre a nova personagem, Luna, o cartunista lava as mãos: “O legal é que ninguém sabe quem é o pai. Eu não sei se isso vai ser contado um dia. Nem eu sei de quem ela é”, ri o autor.

A L&PM publica as tirinhas da Aline em 5 volumes na Coleção L&PM Pocket e, em 2011, publicou Antrologia, uma seleção das melhores séries de tiras da personagem publicadas entre 2003 e 2010 nos jornais Folha de São Paulo e O Liberal (Americana-SP), inéditas em livro até então.

1º de abril de 1964: Jango deixa o Rio e parte para o RS

Os acontecimento do dia 1º de abril de 1964 são rememorados em detalhes pelo jornalista Flavio Tavares no livro 1964 – O Golpe. Leia um trecho:

JangoAo chegar no meio da tarde de 1º de abril, Jango foi direto ao Palácio do Planalto, reuniu-se com o chefe da Casa Civil, Darcy Ribeiro, combinou um encontro com os líderes do governo no Congresso e conversou com o general Ladário e com Brizola, em Porto Alegre, pela radiofonia da Casa Militar. Telefonou a Maria Thereza para que preparasse as crianças e as malas para viajar urgente ao Sul. Tudo tão rápido que ela não entendeu nem percebeu que saía para jamais voltar e mandou arrumar poucas mudas de roupa.

Brasília é o terceiro movimento, ou o terceiro compasso de algo que já é quase uma dança macabra.

O cabeleireiro Virgílio chegava nesse exato momento para penteá-la e ela o dispensou. Ele insistiu, com aqueles trejeitos teimosos em que imitava as birras ou denguices das artistas de cinema, com os quais costumava dobrar a primeira-dama. Ofereceu-se para penteá-la no Sul e pediu carona no avião da Presidência da República. E, sem saber que a passagem era só de ida, embarcou no Avro turboélice, que decolou dali mesmo, do campinho da residência presidencial. Quatro passageiros apenas: Maria Thereza, as duas crianças e o cabeleireiro. A ordem de Jango fora terminante: ela viajara de imediato, para que ele se reunisse em intimidade com os mais achegados lá mesmo, na Granja do Torto, evitando o palácio.

Eduardo Galeano no Brasil

O escritor Eduardo Galeano é o homenageado da 2ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura, que acontece em Brasília, entre 11 e 21 de abril. O autor do clássico As Veias Abertas da América Latina fará o discurso inaugural na noite do primeiro dia do evento e, no dia 15 de abril, segue para o Rio de Janeiro, onde fará uma leitura do livro Os filhos dos dias no auditório RDC da PUC-Rio. As atividades da Bienal de Brasília e a leitura de textos no Rio são atividades gratuitas.

Convite Galeano_Facebook

1º de abril de 1964

No Palácio das Laranjeiras, Jango merece a confirmação de que, em São Paulo, seu compadre, o general Amaury Kruel, aderiu à revolta. Com isso, também o governador Adhemar de Barros se pronuncia “a favor de Minas Gerais e contra o comunismo”. Na manhã de 1º de abril, tudo é rápido e muda em minutos. O coronel Rui Moreira Lima, comandante da Base Aérea de Santa Cruz, no Rio, também poderia ter mudado tudo em minutos. Após vencer a tempestade e a chuva, localizou os revoltosos de Mourão na estrada e fez um voo rasante sobre eles, de segundos, com seu jatinho desarmado.

(…)

No Rio, o brigadeiro Francisco Teixeira, comandante da III Zona Aérea, insiste em resistir, mas precisa de “ordem superior”. No início da tarde de 1º de abril, o ministro da Aeronáutica reúne seus principais comandados e dá a notícia:

– Tristonho, o ministro nos informou que tudo tinha terminado. ‘O presidente saiu do Rio, onde tinha nosso apoio, foi para Brasília e de lá irá a Porto Alegre. Disse que não quer derramamento de sangue e que tudo está terminado. Vamos voltar para nossos portos e entregá-los a quem nos suceda.’ E assim foi feito! – recordou o então comandante da Base Aérea de Santa Cruz, Rui Moreira Lima, 46 anos depois.

A situação se repetiu no Exército e na Marinha.

Por que Jango deixou o Rio assim tão inesperadamente? Só muitas décadas após 1964 – com a difusão da documentação secreta dos EUA sobre o golpe no Brasil – aparece um detalhe que ajuda a explicar muito do que esteve oculto naqueles dias. Uma mensagem “urgente” do embaixador Gordon a Washington, expedida às 12 horas de 1º de abril, informa que “o ministro da Guerra Jair Dantas Ribeiro, notificou o presidente Goulart que sua colaboração constante e direta com os sindicatos e com os comunistas é insuportável.”

(trecho do livro 1964: O Golpe, de Flávio Tavares)

capa_1964_golpe_flavio_tavares.indd