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Se Jane Austen tivesse uma conta no Youtube

“Sou uma universitária de 24 anos com uma montanha de dívidas em crédito estudantil morando em casa e me preparando para uma carreira. Mas para minha mãe, tudo o que interessa é que eu sou solteira. Meu nome é Lizzie Bennet e esta é a minha vida.”

Qualquer semelhança com a personagem Elizabeth Bennet, de Orgulho e preconceito, não é mera coincidência. A jovem tagarela que apresenta o vlog “The Lizzie Bennet Diaries” é a versão moderninha da personagem mais famosa de Jane Austen. Ela assume o papel de narradora, conta suas peripécias e apresenta os demais personagens, sempre com aquela ironia que os fãs dos romances de Jane Austen já estão acostumados.

Mas esta Lizzie tem algo que a personagem de Jane Austen não tem: ela pode interagir com os fãs! Neste episódio, por exemplo, ela responde as perguntas enviadas via Tumblr:

A primeira frase de Orgulho e preconceito já dá o tom do romance: “É verdade universalmente reconhecida que um homem solteiro em posse de boa fortuna deve estar necessitado de esposa.” E assim, Jane Austen conduz o leitor até o lar dos Bennet, família com cinco noivas em potencial: Jane, Elizabeth, Mary, Kitty e Lydia. Quando dois jovens distintos chegam na cidade, todas ficam em alerta: eles são solteiros, bonitos e, claro, donos de uma boa fortuna. O que poderia ser uma típica história de amor é, nas mãos de uma das escritoras de língua inglesa mais lidas do mundo, um espetáculo de grandes personagens e diálogos sagazes, com um timing perfeito para a ironia.

Feliz Dia do Amigo!

No Dia do Amigo, algumas tirinhas que ilustram a presença dessas pessoas tão especiais nas nossas vidas!

Quem não tem um amigo assim?

Charlie Brown é amigo para TODAS as horas 😛

Amigo é aquele que ri das suas piadas, até quando elas não têm tanta graça 😉

Quem avisa amigo é, ainda que seja na linguagem do pê!

Pedro e Otto são TÃO amigos que dividem até a mesma namorada 🙂

América, estranha América

O mundo acordou hoje sacudido pela trágica notícia de que, na noite anterior, um louco invadiu uma sala de cinema em Aurora, Colorado, e atacou a plateia com gás lacrimogênio e tiros de fuzil. Era a estreia do último filme da trilogia Batman. 12 pessoas morreram e há, pelo menos, 40 feridos.

Grande e estranha é esta América. O país teoricamente mais poderoso e civilizado do mundo, o xerife oficial da democracia e do “bem” é capaz de transformar cenas de barbárie como esta em fato recorrente. Quantas vezes um atirador disparou contra pessoas indefesas nos Estados Unidos da América? Bem próximo de Aurora está Columbine, a cidade que ficou célebre pelo massacre de 13 crianças em uma escola em 1999.

Em 1985, o mago pop Andy Warhol publicou a sua visão da América num grande ensaio fotográfico. Ele era obcecado por fotografias. Sempre saía com uma pequena maquina fotográfica, registrando tudo. E ele circulou nos intestinos desta América louca e ansiosa. Retratou – e estão neste livro – as minorias mais estranhas, as celebridades mais coroadas, bares, becos, travecos, lutadores, garotos bonitos, divas do cinema, locais emblemáticos, cãezinhos de estimação e antológicas cenas americanas nos hipódromos, ateliers de pintura, parques, praias, óperas de luxo, montanhas nevadas e boates mais do que quentíssimas.

Todo este bizarro e genial coquetel de imagens estão em América, que a L&PM vai lançar em breve. Há uma inquietante estranheza nas imagens de Andy Warhol. É evidente que ele foi um artista genial e os artistas sempre encontram um ângulo que ninguém notou. Mas este livro expõe muito além do curioso. Expõe uma sociedade que abriga democraticamente todas as tendências, garante todos os direitos, é hipócrita por um lado, mas libertária por outro, criou uma democracia fascinante e intocável, garantiu direitos, venceu o racismo odioso e ditou uma forma de ver o mundo. Vendo este livro fica uma sensação de inquietude. Pois este mundo hipercivilizado por um lado, e mega estranho por outro, não consegue impedir que, vez por outra, um dos seus filhos mostre e demonstre para o planeta o que de pior tem o ser humano. Como hoje pela manhã em Aurora. (Ivan Pinheiro Machado)

Peça sobre Rimbaud estreia no Rio

Livro que aparece em todas as cenas da peça

Está em cartaz no Teatro Poeirinha, no Rio, o espetáculo “euÉumoutro”, livremente inspirado na vida e na obra do poeta francês Arthur Rimbaud.

São três histórias que se passam em cidades e séculos diferentes – Charleville de 1871, Rio de Janeiro de 1970 e Paris de 2005 – e dois objetos cênicos fazem parte de todas elas: o livro Uma temporada no inferno, de Rimbaud, e uma faca.

A viagem no tempo e no espaço apresenta três personagens. No século 19, é o próprio Rimbaud que sobe ao palco, com lembranças de sua infância, o desejo de reformular a arte da poesia e o encontro com Paul Verlaine. Em seguida, a narrativa avança no tempo e chega no Brasil, onde Beatriz, uma tradutora mergulhada em seu trabalho com a obra “Une Saison en Enfer” vive às voltas com a realidade sufocante da ditadura militar. E para fechar o enredo, entra em cena o jovem Jamal, um francês de origem árabe que põe fogo em ônibus nos subúrbios de Paris, revoltado com o desemprego e o desajuste social.

No elenco, os atores Alcemar Vieira, Ana Abbott, André Marinho, João Velho e Lorena da Silva, com cenário de Fernando Mello da Costa, figurinos de Rui Cortez, iluminação de Tomás Ribas e música de Tato Taborda. Quem assina a dramaturgia é Pedro Brício, com direção de Isabel Cavalcanti. A peça fica em cartaz até 2 de setembro, no Teatro Poeirinha, em Botafogo, no Rio.

Contardo Calligaris assitiu ao filme “Na estrada”

“Na estrada”

Por Contardo Calligaris*

Assisti a “Na Estrada”, de Walter Salles, na sexta passada, no Rio. E passei o fim de semana pensando na minha vida.

Li “Na Estrada”, de Jack Kerouac, no fim dos anos 1960, provavelmente em Nova York -mas talvez em Houston. O texto que eu li era uma versão expurgada; isso, na época, eu não sabia. Não voltei ao texto em 2007, quando a Viking publicou o manuscrito original (em português pela L&PM). Mas o texto voltou em mim com força, na sexta-feira, quando assisti ao filme.

Nos anos 1960, eu era um hippie lendo um “beat”. Na mesma época, “Almoço Nu”, de William Burroughs, me seduzia, mas me assustava -longe demais de minha experiência (das drogas, do sexo e da vida). Também lia Allen Ginsberg e Gregory Corso, mas, aos dois, preferia Lawrence Ferlinghetti -outra escolha “bem comportada”, dirá alguém.

O fato é que “Na Estrada” foi a parte da herança “beat” da qual eu me apropriei imediatamente. Por quê? As drogas, o álcool ou o sexo “livre” me pareciam secundários -apenas um jeito de dizer: “Não esperem que a gente viva como manda o figurino”.

O essencial, para mim, era a junção da fome de aventura com uma raivosa vontade de escrever. A vida se confundia com um projeto literário que exigia os excessos: era preciso viver intensa e loucamente, de peito aberto, para que valesse a pena contar a história. Por isso, eu e outros podíamos, ao mesmo tempo, venerar Kerouac e Hemingway -os quais, álcool à parte, provavelmente, não se dariam.

Pensando bem, eu fui mais um “beat” atrasado do que um hippie. A procura por iluminações interiores e comunhões cósmicas da idade de Aquário, tudo isso me parecia pacotilha para “Hair”, coisa da Broadway. Fiz minha peregrinação à Índia e ao Nepal, mas considerava com desconfiança o orientalismo que estava na moda: o budismo dos anos finais de Kerouac e Ginsberg não me parecia mais sério do que o hinduísmo dos Beatles.

O problema é que eu era um espécimen bastardo: “mezzo” hippie e “mezzo” maio-68 francês, “mezzo” descendente dos “beats” e “mezzo” filho marxista do pós-guerra europeu.

Kerouac não tinha simpatia pelo marxismo. Ele preferia o individualismo dos que procuram uma fronteira para desbravar -pouco a ver com um projeto de reforma social ou de revolução. Para os “beats”, aliás, transformar a sociedade seria um problema. Certo, Neal Cassady e Gregory Corso passaram tempo na cadeia; e Burroughs, Kerouac e Ginsberg foram censurados. Mas, justamente, num mundo que não lhes resistisse, a vida dos “beats” perderia sua dimensão épica.

Ao longo dos anos 1970 e 1980, fazendo um balanço, eu teria dito que, em mim, a herança marxista europeia prevalecera sobre a herança “beat”. Hoje, penso o contrário -não sei se por decepção política ou por maturidade. Mas não tenho muitas certezas: por exemplo, minha errância pelo mundo foi uma experiência da estrada ou uma versão “chique” do cosmopolitismo forçado dos trabalhadores modernos?

E será que vivi como um fogo de artifício? Ou então durar e continuar vivo se tornou, para mim, mais importante do que me arriscar na intensidade das experiências?

O filme de Salles está sendo a ocasião imperdível de um balanço -ainda não decidi se festivo ou melancólico. Cuidado, o balanço não interessa só minha geração. Cada um de nós pode se perguntar, um dia, como resolveu a eterna e impossível contradição entre segurança e aventura: quanta aventura ele sacrificou à sua segurança?

Essa conta deveria ser feita sem esquecer que 1) a segurança é sempre ilusória (todos acabamos morrendo) e 2) qualquer aventura não passa de uma ficção, um sonho suspenso entre a expectativa e a lembrança.

Que você tenha lido ou não o livro de Kerouac, e seja qual for sua geração, assista ao filme e se interrogue: se uma noite, inesperadamente, Neal Cassady tocar a campainha de sua casa, louco de aventuras para serem vividas e com o olhar fundo de quem dirige há horas e ainda quer se jogar na estrada, você saberia e poderia, sem fazer mala alguma, simplesmente ir embora com ele?

*Este texto foi publicado originalmente na coluna de Contardo Calligaris no caderno Ilustrada da Folha de S. Paulo no dia 19 de julho de 2012.

Peanuts para organizar o dia-a-dia

Nada como Peanuts para dar um toque filosófico e bem humorado aos nossos dias. E um jeito bem prático de levar a sabedoria de Charlie Brown e sua turma sempre na bolsa são esses moleskines incríveis que acabaram de ser lançados em dois tamanhos, para se adequar a todo tipo de rotina. Assim você dá conta de organizar a correria diária, anotações, insights e compromissos e “tempera” tudo com a ironia e o traço inconfundível de Charles Schulz.

Mas se você quer Peanuts “na veia”, vale conhecer a Série Peanuts Completo L&PM. São 10 anos das tirinhas dominicais de Charles Schulz reunidas em 5 volumes 😉

Por que Nietzsche dá tanto Ibope?

O que tanto fascina em Friedrich Nietzsche? Não é exagero dizer que ele é o filósofo da moda. “Quando Nietzsche chorou”, “Nietzsche para estressados” são apenas alguns livros que usam o nome do filósofo para chegar ao topo das listas de bestsellers. Há muitas teorias para esta popularização de Nietzsche entre letrados e iletrados. A dominante, é que sua filosofia é radical quando ele enfatiza que as emoções e as forças irracionais exercem um papel importante na construção dos valores humanos. E isto inclui seu combate ao cristianismo, não aceitando o preceito básico da moral cristã de que todos os homens têm o mesmo valor. Para Nietzsche isso era uma balela. Shakespeare e Beethoven, entre tantos gênios, provaram sua tese de que existem pessoas melhores do que as outras. Em “Assim falou Zaratustra”, seu livro mais popular, ele inventou o Übermensch ou o “super-homem”. Uma teoria complexa que acabou sendo exaltada por Hitler meio século depois. Numa temível simplificação, ele via nela uma comprovação para o seu anseio de, a partir da “raça” ariana, criar um homem superior.  

Afora esta odiosa utilização pelos nazistas (Nietzsche estava morto há 30 anos quando Hitler surgiu como líder na Alemanha) – esta espécie de possível “sustentação filosófica” para teorias racistas -, Nietzsche encanta pela sua permanente transgressão ao pensamento filosófico estabelecido. Por outro lado, é quase certo que tenha influenciado Sigmund Freud, cuja obra explorou a natureza e o poder dos desejos inconscientes. No belíssimo livro Uma breve história da filosofia, de Nigel Warburton, há um capítulo extremamente esclarecedor sobre esta questão da popularidade do filósofo. Veja o trecho em que Warburton inicia seu capítulo sobre Nietzsche:

“Deus está morto.” Essa é a citação mais famosa do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900). Mas como Deus poderia morrer? Supostamente, Deus é imortal. E seres imortais não morrem, mas vivem para sempre. De certa forma, porém, a questão é essa. É por isso que a morte de Deus soa tão estranha: não há como ser diferente. Nietzsche estava deliberadamente brincando com a ideia de que Deus não poderia morrer. Ele não estava dizendo literalmente que Deus estivera vivo em algum momento e que agora não estava mais, e sim que a crença em Deus havia deixado de ser razoável. Em seu livro, A gaia ciência (1882), Nietzsche colocou a frase “Deus está morto” na boca de um personagem que segura um lampião e procura por Deus em todos os lugares, mas não consegue encontrá-lo. Os habitantes do vilarejo pensam que ele é louco.

Nietzsche foi um homem memorável. Nomeado professor da Universidade de Basel aos 24 anos, ele parecia decidido a seguir uma distinta carreira acadêmica. Contudo, esse pensador excêntrico e autêntico não se adaptou e parecia gostar de di­fi­cul­­tar a própria vida. Ele acabou deixando a universidade em 1879, em parte devido à sua saúde debilitada, e viajou para a Itália, a França e a Suíça, escrevendo livros que quase ninguém lia na época, mas que hoje são famosos como obras tanto literárias quanto filosóficas. Sua saúde mental piorou, e ele passou grande parte do fim da vida em um manicômio.

Brincando de Jane Austen

Para atestar de vez a popularidade de Jane Austen em todo o mundo, a BBC lançou um jogo para Facebook que convida os usuários da maior rede social do planeta a passear pelos romances de uma das escritoras inglesas mais importantes de todos os tempos. E tudo começa com seu livro mais célebre, Orgulho e preconceito: os jogadores têm que encontrar o casal Elizabeth Bennet e Fitzwilliam Darcy e “persuadi-los” a voltar para o livro de onde saíram. Para isso, há várias tarefas a serem cumpridas, como encontrar objetos escondidos pelo cenário e identificar os erros em cenas que misturam as histórias de seus seis romances.

Para se dar bem no jogo, o ideal é conhecer bem livros de Jane Austen. Quatro deles estão na Coleção L&PM Pocket: Orgulho e preconceito, Persuasão, A abadia de Northanger e Razão e sentimento. Os outros dois, Emma e Mansfield Park, devem chegar nos próximos meses.

Dos croquis aos cenários de “Na Estrada”

Ao longo da viagem de Jack Kerouac pelas páginas de On the Road, há muitos marcos geográficos, lugares que vão e vem, encontrando-se e desencontrando-se pelos parágrafos do livro. No filme Na Estrada, tudo precisou ser construído e reconstituído, da bomba de combustível, ao motel decadente e, claro, chegando à casa de Sal Paradise no andar de cima de uma farmácia. É uma viagem no tempo que começa a partir do momento em que o diretor de arte parte para a realização dos chamados croquis que serão usados como referência para os cenários. A reconstituição de Na estrada / On the Road, impôs à equipe de Walter Salles um quebra-cabeça logístico. Mas o resultado final impressiona. Mérito, além de Walter Salles, do diretor de arte Carlos Conti, do diretor de fotografia Eric Gautier e do responsável pelo figurino Danny Glicker. Veja abaixo dois exemplos de como eram os croquis e de como ficaram as cenas do filme.

O croqui e a cena do hotel em que Dean deixa Sal e Marylou (clique na imagem para ampliá-la)

O croqui e como ficou a casa em que Sal/Jack mora com a mãe e escreve On the road

A mitologia e a vida: Olimpo e Brasília de Cachoeira

A caixa de Pandora é uma das histórias mais célebres da mitologia grega. Ela significa a vingança de Zeus, o deus grego do Olimpo. Prometeu, um dos Titãs, havia desafiado Zeus e ele decide vingar-se enviando uma caixa conduzida pela belíssima Pandora para um dos irmãos titãs. Esta caixa, se aberta, espalharia a maldição dos deuses sobre a humanidade. A partir daí a expressão “Caixa de Pandora” é usada quando, ao revelar-se uma verdade, outras terríveis vêm atrás. A “caixa de Pandora” abriu-se em Brasília com a cassação do senador Demóstenes. Assumiu o seu vice, ex-marido da bela mulher de Cachoeira, o bicheiro que tem a República em suas mãos. Hoje, li nos jornais que está caindo também a máscara do governador de Goiás, aquele que havia se saído muito bem na inquirição da CPI. Já começa a se falar do Senador substituto, outra obra de Cachoeira. E tem a Delta, os outros deputados, etc. etc. Enfim, abriu-se a caixa…

Veja abaixo o “original” do mito “A caixa de Pandora” incluído no livro As grandes histórias da mitologia greco-romana de A. S. Franchini. (Ivan Pinheiro Machado)

A caixa de Pandora

Prometeu, o Titã que roubou o fogo de Zeus para dá-lo aos homens, tinha um irmão chamado Epimeteu. Prometeu não se cansava de alertá-lo de que Zeus poderia voltar a querer se vingar.

– E que tenho eu com as birras de vocês? – disse Epimeteu.
– Idiota! – exclamou Prometeu. – Ele pode querer vingar-se em você, ou na humanidade!

Epimeteu deu de ombros, pois não era à toa que seu nome significava “percepção tardia”.

Enquanto isso, no Olimpo, já estava em marcha uma nova vingança de Zeus. O pai dos deuses mandara Hefestos confeccionar uma mulher biônica para enviar de presente aos irmãos rebeldes. Todos os deuses deram sua contribuição para tornar a criatura irresistível, razão pela qual ela se chamou Pandora, que quer dizer “bem-dotada” em grego. Zeus, na verdade, ficou tão encantado que, não fossem os olhares irados de sua esposa, a teria tomado para si. Depois, deu uma caixa para a jovem, para que ela a levasse de presente a Epimeteu, pois era para o irmão imprevidente que a beldade seria enviada.

Pandora, porém, sentiu-se meio confusa:

– Mas não sou eu o presente? Um presente levando outro?
– Não pense, menina – disse Zeus. – Faça o que eu disser e fará bem.

Zeus proibiu a garota de abrir a caixa com tanta veemência que conseguiu o que queria, que era deixá-la cheia de curiosidade. Ela partiu e, no mesmo dia, chegou à morada de Epimeteu, que delirou com o presente. Depois, ele a instalou no seu quarto, ocasião que ela aproveitou para ir ver o que a caixa continha. Porém, mal a abriu e uma coleção horrenda de criaturas escapou e se espalhou aos guinchos por todo o mundo. Eram elas: a Fome, a Guerra, a Doença, a Morte e um exército tão inumerável de flagelos que Pandora fechou a caixa outra vez, deixando presa no interior apenas a Esperança.

E este foi o último dos males, pois com a Esperança encerrada na caixa se tornaram intoleráveis todos os demais que a cólera de Zeus espalhara sobre a humanidade.