América, estranha América

O mundo acordou hoje sacudido pela trágica notícia de que, na noite anterior, um louco invadiu uma sala de cinema em Aurora, Colorado, e atacou a plateia com gás lacrimogênio e tiros de fuzil. Era a estreia do último filme da trilogia Batman. 12 pessoas morreram e há, pelo menos, 40 feridos.

Grande e estranha é esta América. O país teoricamente mais poderoso e civilizado do mundo, o xerife oficial da democracia e do “bem” é capaz de transformar cenas de barbárie como esta em fato recorrente. Quantas vezes um atirador disparou contra pessoas indefesas nos Estados Unidos da América? Bem próximo de Aurora está Columbine, a cidade que ficou célebre pelo massacre de 13 crianças em uma escola em 1999.

Em 1985, o mago pop Andy Warhol publicou a sua visão da América num grande ensaio fotográfico. Ele era obcecado por fotografias. Sempre saía com uma pequena maquina fotográfica, registrando tudo. E ele circulou nos intestinos desta América louca e ansiosa. Retratou – e estão neste livro – as minorias mais estranhas, as celebridades mais coroadas, bares, becos, travecos, lutadores, garotos bonitos, divas do cinema, locais emblemáticos, cãezinhos de estimação e antológicas cenas americanas nos hipódromos, ateliers de pintura, parques, praias, óperas de luxo, montanhas nevadas e boates mais do que quentíssimas.

Todo este bizarro e genial coquetel de imagens estão em América, que a L&PM vai lançar em breve. Há uma inquietante estranheza nas imagens de Andy Warhol. É evidente que ele foi um artista genial e os artistas sempre encontram um ângulo que ninguém notou. Mas este livro expõe muito além do curioso. Expõe uma sociedade que abriga democraticamente todas as tendências, garante todos os direitos, é hipócrita por um lado, mas libertária por outro, criou uma democracia fascinante e intocável, garantiu direitos, venceu o racismo odioso e ditou uma forma de ver o mundo. Vendo este livro fica uma sensação de inquietude. Pois este mundo hipercivilizado por um lado, e mega estranho por outro, não consegue impedir que, vez por outra, um dos seus filhos mostre e demonstre para o planeta o que de pior tem o ser humano. Como hoje pela manhã em Aurora. (Ivan Pinheiro Machado)

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