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A morte de Jango em livro e filme

JangoJango – Vida e morte no exílio é o novo livro de Juremir Machado da Silva. A partir de uma minuciosa pesquisa que inclui documentos inéditos e cartas nunca antes reveladas, o autor traça os últimos anos de Jango no exílio e levanta as questões que levaram às suspeitas de que ele foi assassinado. As circunstâncias da morte de Jango na Argentina nunca ficaram bem explicadas – o uruguaio Ronald Mario Neira Barreiro afirma ter participado da operação que assassinou o ex-presidente. O depoimento de Neira, aliás, ajudou a despertar o pedido de exumação.  

Além de ser o centro do livro de Juremir, a morte de Jango também é o tema do documentário “Dossiê”, de Paulo Henrique Fontenelle, que estreia nos cinemas do Brasil nesta sexta-feira, 5 de julho.

Em 1984, o diretor Silvio Tendler lançou documentário “Jango” que já falava sobre a vida e morte de João Goulart. O filme de Tendler teve textos de Maurício Dias, narração de José Wilker, trilha sonora de Milton Nascimento e Wagner Tiso, além de produção de Denize Goulart, filha de Jango. Na época, a L&PM lançou o livro com o roteiro do documentário, mais fotos e transcrição de textos (os offs e os depoimentos). Clique aqui e leia mais.

Leia um livro. Salve um livro

Maior prêmio de publicidade do mundo, o Cannes Lions International Festival of Creativity deste ano premiou com o Leão de Ouro um anúncio espanhol cujo título é “Salva un libro. Lee un libro.” (Salva um livro. Lê um livro).

O anúncio mostra o Pequeno Príncipe morto em meio a uma guerra. No texto se lê “Quando você passa muito tempo na frente de um videogame de guerra não são só os seus inimigos que morrem”. Criado pela agência de publicidade espanhola Grey Madrid para a Associação dos Editores da Espanha, a campanha “Salva um livro. Lê um livro” tem mais dois anúncios além desse. E todos seguem a mesma linha de raciocínio: é preciso “salvar” os livros das novas ofertas de entretenimento como séries de TV e games.

A campanha com os três anúncios foi veiculada no Dia Mundial do Livro, 23 de abril de 2013. O anúncio que mostra Dom Quixote morto (por um personagem de Game) traz o texto “Quando você passa horas jogando no seu celular, o que se perde são mais do que pontos.”. E no que tem Moby Dick encalhado em uma praia que parece o cenário do seriado Lost, se lê “Quando você dedica todas essas horas assistindo à série de TV mais popular da história, não são só os personagens que acabam perdidos.” 

Clique nas imagens ampliá-las:

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Gatsby, o retorno

 MARCELO COELHO – 03/07/13 – Publicado na Folha de S. Paulo

Não se pode reconstruir o passado, diz Nick Carraway, o narrador de “O Grande Gatsby”, ao misterioso personagem cujo nome dá título ao romance de Scott Fitzgerald. “Como assim? Claro que se pode!”, responde Gatsby. Do alto de uma imensa fortuna, adquirida não se sabe direito como, ele quer reconquistar o amor de sua juventude. Conhecera Daisy, uma moça aristocrática, quando ainda não tinha um tostão.

Daisy acabou se casando com um ricaço de família tradicional, que logo se revela adúltero, preconceituoso e violento. O casamento vai mal quando Gatsby reaparece, montado numa mansão espetacular, palco de uma sequência nauseante de festas —às quais Daisy não comparece. Exposto assim, o tema principal de “O Grande Gatsby” poderia ser adaptado para uma telenovela de terceira. A arte de Scott Fitzgerald está em deixar todos os personagens, e suas motivações, envoltos numa atmosfera úmida, desentendida e reticente.

A publicidade antecipada em torno de “O Grande Gatsby”, filme de Baz Luhrmann com Leonardo Di Caprio, sem dúvida intensificou a má vontade de muita gente. Ainda mais porque estava na memória a versão anterior do livro, dirigida por Jack Clayton em 1974, com Robert Redford e Mia Farrow. As cores esmaecidas e o charme lânguido do filme mais antigo terminaram produzindo a impressão de que se tratava de uma obra mais artística do que era realmente. Como Jack Clayton nos empapava de estilo e figurino, e como tendemos a ser maus intérpretes dos códigos sociais do passado, aquele “Grande Gatsby” diminuía o contraste entre a aristocracia de Daisy e a ambição emergente de Gatsby.

No livro, este é desprezado, por exemplo, quando usa um terno cor-de-rosa: sinal de breguice irremediável para os outros personagens. Só que Robert Redford, com o terno da cor que quisermos, será sempre um bacanão na mais alta película da nata social americana. A história real de seu fracasso amoroso ficava um bocado incompreensível, atrás de muitos véus de tule, no filme de Clayton.

“Não se pode reconstruir o passado.” “Claro que se pode!” A resposta de Gatsby poderia ser adotada pelo próprio Baz Luhrmann, que fez tudo para reconstruir, de um ponto de vista completamente subversivo —quase terrorista de tão subversivo— o filme de 40 anos atrás. Quando uma pessoa tem dificuldade em entender alguma explicação mais trabalhosa, há quem goste de humilhá-la, perguntando: “Quer que eu desenhe?”. O novo “Gatsby” faz isso com o romance de Fitzgerald, explicitando a trama com recursos de professor de cursinho.

O estilo de Luhrmann flerta, aliás, com o desenho animado. Tudo começa quando reconhecemos, no papel de Nick Carraway, ninguém menos do que Tobey Maguire. “Onde é que eu vi mesmo esse carinha?” Resposta: nos filmes do Homem-Aranha. Os recursos de 3D, fazendo mergulhos ridículos na selva de edifícios de Manhattan, confirmam a pretensão de transformar aquele evasivo clássico literário num “blockbuster” demencial.

A intenção caricatural, extremada, de Baz Luhrmann, surge assim como reação à finura da versão mais antiga. As duas, talvez, se complementem. Com suas festas quase fellinianas, com a vulgaridade explícita da filmagem, com a inexcepcionalidade feminina de Carey Mulligan (no papel de Daisy), o filme de Baz Luhrmann adota, na verdade, o ponto de vista novo-rico, meio bandidão, do próprio Gatsby.

Com a vítrea Mia Farrow e um Robert Redford impecável, o filme de 1974 aristocratizava tudo. Diminuía os conflitos, eufemizava as diferenças sociais, musicalizava suavemente a tragédia. Nenhuma das duas versões dá conta, a meu ver, do que mal e mal se sugere no livro. Para impressionar Nick Carraway, e convencê-lo de suas credenciais para a classe A, Gatsby o leva para almoçar num restaurante, apresentando-o a uma figura estranhíssima.

Meyer Wolfsheim logo se revela, no livro, uma espécie de gângster. É difícil entender por que razão Gatsby levaria Carraway para conhecer um tipo tão suspeito. Seria ingênuo, pensando que Carraway não perceberia a estirpe do interlocutor? Ou, ao contrário, estava tentando comprar a consciência de Carraway, abrindo-lhe as portas para adquirir uma fortuna ilícita também? Seria difícil filmar de um modo que fizesse justiça às duas hipóteses ao mesmo tempo. Mas, se o livro exige mais de uma leitura, não é nada mau que o espectador possa agora contar com um filme tão diferente daquele, discreto e perfumado, que guardava nas suas memórias de 1974.

Robert Redford ou Leonardo di Caprio. Quem é mais Gatsby?

Robert Redford ou Leonardo Di Caprio. Quem é mais Gatsby?

Roberto Benigni fará filme sobre “A Divina Comédia” de Dante

O cineasta italiano Roberto Benigni anunciou que começará as filmagens de um longa baseado na obra A Divina Comédia, de Dante Alighieri, no final do verão italiano. A inspiração para o filme veio de um outro trabalho: Benigni está produzindo um programa de TV chamado “Tutto Dante” sobre a vida do poeta e escritor italiano, que vai ao ar na TV italiana entre 20 de julho e 6 de agosto. Em seguida, ele começa as gravações do longa.

A Divina Comédia é o maior trabalho de literatura em todos os tempos, algo que todos devem conhecer e amar”, disse Renato Benigni.

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A L&PM está preparando uma nova edição de A divina comédia com tradução de Eugênio Vinci de Moraes, que deve ser lançada no ano que vem na Coleção L&PM Pocket.

via Folha

Rousseau pelo mundo

Jean-Jacques Rousseau morreu em 2 de julho de 1778. Em seus dois últimos anos de vida, ele realizou longas caminhadas por Paris e seus arredores, observando os passantes, a flora e as construções e refletindo, amargurado, sobre a sociedade. O resultado foi o livro Os devaneios do caminhante solitário, uma de suas obras mais líricas e tocantes.

A partir desse livro, muitos foram os pensadores que se inspiraram em sua obra para tecerem seus próprios tratados sobre a natureza e o homem. As ideias de Rousseau ganharam mundo. Suas ideias viajaram. Sua imagem percorreu todos os continentes. Aliás, não apenas através dos livros, como também em selos:

Rousseau em estampa de selo francês

Rousseau estampa um selo francês

Mais um selo francês. Mas dessa vez, Rousseau está acompanhado de Voltaire

Selo francês de 1978. Mas dessa vez, Rousseau está acompanhado de Voltaire, pois os dois morreram em 1778

Rousseau em selo da antiga União das Repúblicas Soviéticas (CCCP)

Rousseau em selo da antiga União das Repúblicas Soviéticas (CCCP)

Rousseau em selo suíço

Rousseau em selo suíço

Rousseau em versão selo espanhol

Rousseau em versão selo espanhol

Até a Moldávia teve seu selo "rousseauniano"

Até a Moldávia teve seu selo “rousseauniano”

Rousseau também esteve nas cartas que partiram da Romênia

Rousseau também estampou os selos que partiram da Romênia

Jango chegou

Jango vai morrer.
Todos os dias, ele espera. Contempla um ponto no horizonte, que pode ser o Brasil, e espera pacientemente. Espera algo que o fará reviver, ressuscitar, explodir. Talvez isso se reflita, sem que ninguém note, na sua maneira de contemplar as nuvens, como se no seu olhar uma sombra espessa tomasse o lugar de imagens movediças, ou na gota de suor que se imobiliza na sua testa ampla quando sai do sol e encosta a mão na casca rugosa de uma árvore de sombra generosa. Quem pode observar aquilo que não se dá a ver antes de não poder mais ser visto? Ou haverá coisas que só podem ser vistas depois que já se extinguiram, deixando rastros esparsos no ar pesado?

Assim começa Jango – A vida e a morte no exílio, o livro de Juremir Machado da Silva que acaba de chegar. São 376 páginas que contam – em ritmo de novela policial – como foram construídos, com ajuda da mídia, o imaginário favorável ao golpe e as narrativas sobre as suspeitas de assassinato do presidente deposto em 1964. Juremir tinha a ideia de narrar os últimos anos do ex-presidente no exílio, mas ao iniciar suas pesquisas, logo descobriu que mais importante do que a vida, era a morte de Jango.

Jango em 1964, no primeiro ano do exílio, aqui sendo fotografado pela esposa, Maria Thereza

Jango em 1964, no primeiro ano do exílio, aqui sendo fotografado pela esposa, Maria Thereza

Jango fotografado para a Revista Life, durante o exílio no Uruguai

Jango fotografado para a Revista Life, durante o exílio no Uruguai

Jango fuma e lê, do outro lado da fronteira, sem poder voltar ao Brasil

Em 1967, Jango fuma e lê, do outro lado da fronteira, sem poder voltar ao Brasil

Matéria feita pelo Jornal do Brasil, enquanto Jango estava no exílio

Matéria feita pelo Jornal do Brasil, enquanto Jango estava no exílio

Jango era monitorado pelos militares, através da Operação Condor. Ele é o número 3

Jango foi monitorado pelos militares, nos anos que ficou no exílio, através da Operação Condor. Ele é o número 3.

Anarquistas, graças a Bakunin

Bakunin é considerado o mais brilhante entre todos os anarquistas.  Nascido em 30 de maio de 1814, morreu em 01 de julho de 1876. Nos seus 62 anos de vida, tornou-se um revolucionário e participou de rebeliões em Paris, Praga e Dresden. Levado para prisões na Saxônia, na Áustria e na Sibéria, fugiu para os Estados Unidos e Europa. Depois de fundar uma organização política secreta chamada a Aliança da Social Democracia, juntou-se à Internacional em 1868 e liderou a corrente que se opunha a Marx. Expulso da Internacional, fundou uma organização independente, a Internacional St. Imier. Escreveu muitos textos expondo suas convicções. Em Textos Anarquistas (Coleção L&PM Pocket) ele fala, principalmente, sobre a liberdade:

“O homem isolado não pode ter a consciência de sua liberdade. Ser livre, para o homem, significa ser reconhecido, considerado e tratado como tal por um outro homem, por todos os homens que o circundam. A liberdade não é, pois, um fato de isolamento, mas de reflexão mútua, não de exclusão, mas de ligação. (…) Só posso considerar-me e sentir-me livre na presença e em relação a outros homens.”

Nas páginas iniciais de Textos Anarquistas, há um prefácio sobre Bakunin, assinado pelo também anarquista e membro do movimento anarco-sindicalista, James Guillaume. O texto de Guillaume  termina assim:  “(…) Bakunin era, em 1875, apenas uma sombra dele mesmo. Em junho de 1876, na esperança de encontrar algum conforto para seus males, deixou Lucarno para ir a Berna, onde chegou no dia 14 de junho. Disse a seu amigo, doutor Adolf Vogt: ‘Venho aqui para que me cures ou para morrer’. (…) Espirou no dia 1º de julho, ao meio-dia.”

Bakunin em foto de Félix Nadar

Bakunin em foto de Félix Nadar

 

Quem é quem nos Diários de Jack Kerouac

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Os Diários de Jack Kerouac acaba de chegar em pocket. O início do livro traz a “Lista das pessoas citadas” com uma breve e elucidativa descrição de todos que, de alguma forma, fizeram parte da vida de Jack Kerouac. Tem os famosos como Neal Cassady e os nem tanto como Beverly Anne Gordon. Não sabe quem foi Beverly? A gente conta sem que você precise consultar o livro: “uma garota de dezoito anos por quem Kerouac teve um interesse romântico na primavera de 1948.

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