Jango chegou

Jango vai morrer.
Todos os dias, ele espera. Contempla um ponto no horizonte, que pode ser o Brasil, e espera pacientemente. Espera algo que o fará reviver, ressuscitar, explodir. Talvez isso se reflita, sem que ninguém note, na sua maneira de contemplar as nuvens, como se no seu olhar uma sombra espessa tomasse o lugar de imagens movediças, ou na gota de suor que se imobiliza na sua testa ampla quando sai do sol e encosta a mão na casca rugosa de uma árvore de sombra generosa. Quem pode observar aquilo que não se dá a ver antes de não poder mais ser visto? Ou haverá coisas que só podem ser vistas depois que já se extinguiram, deixando rastros esparsos no ar pesado?

Assim começa Jango – A vida e a morte no exílio, o livro de Juremir Machado da Silva que acaba de chegar. São 376 páginas que contam – em ritmo de novela policial – como foram construídos, com ajuda da mídia, o imaginário favorável ao golpe e as narrativas sobre as suspeitas de assassinato do presidente deposto em 1964. Juremir tinha a ideia de narrar os últimos anos do ex-presidente no exílio, mas ao iniciar suas pesquisas, logo descobriu que mais importante do que a vida, era a morte de Jango.

Jango em 1964, no primeiro ano do exílio, aqui sendo fotografado pela esposa, Maria Thereza

Jango em 1964, no primeiro ano do exílio, aqui sendo fotografado pela esposa, Maria Thereza

Jango fotografado para a Revista Life, durante o exílio no Uruguai

Jango fotografado para a Revista Life, durante o exílio no Uruguai

Jango fuma e lê, do outro lado da fronteira, sem poder voltar ao Brasil

Em 1967, Jango fuma e lê, do outro lado da fronteira, sem poder voltar ao Brasil

Matéria feita pelo Jornal do Brasil, enquanto Jango estava no exílio

Matéria feita pelo Jornal do Brasil, enquanto Jango estava no exílio

Jango era monitorado pelos militares, através da Operação Condor. Ele é o número 3

Jango foi monitorado pelos militares, nos anos que ficou no exílio, através da Operação Condor. Ele é o número 3.

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