Arquivo mensais:março 2014

Kerouac é pop

Que Jack Kerouac é pop, ninguém contesta. Tanto que em seu Livro de Haicais (tradução de Claudio Willer) os pequenos poemas são agrupados em duas partes: o “Livro de Haicais” propriamente dito e os “Pops do Darma”. A segunda parte vem introduzida pela seguinte explicação:

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E o próprio Kerouac resume tudo em poucos versos – três, como nos haicais tradicionais, mas com métrica própria:

Na cadeira
decidi chamar Haicai
Pelo nome de Pop

Filósofos Futebol Clube

O célebre “Futebol Filosófico”, esquete humorística criada pelo grupo de humor inglês Monty Python nos anos 70, continua inspirando iniciativas criativas pelo mundo. Uma delas é a  linha “Pão e Circo” da marca de roupas Humanus, de Porto Alegre, que vai estampar camisetas com desenhos estilizados de Nietzsche, Sartre, Freud, Schopenhauer, entre outros. Os produtos são assinados pela designer e ilustradora Raquel Sordi, que criou um visual retrô para retratar toda a equipe do “FFC – Filósofos Futebol Clube”:

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Para conhecer o pensamento e a vida de cada um deles, leia Uma breve história da filosofia, de Nigel Warburton, que dedica um capítulo inteiro para as ideias de cada filósofo. E se você não conhece o Futebol Filosófico, assista agora mesmo! A esquete descreve um jogo durante as Olimpíadas de Munique de 1972 entre os filósofos que representam a Grécia e a Alemanha – no qual os jogadores-pensadores passeiam pelo campo, imersos em reflexões e alheios à bola e ao gol:

via Roger Lerina/Zero Hora

Novo livro de Flávio Tavares é destaque no Estadão

No ano que marca os 50 anos do golpe militar no Brasil, vários livros sobre o assunto chegam às livrarias. Entre eles, o livro 1964 – o golpe, de Flávio Tavares, que acaba de ser lançado pela L&PM, ganhou destaque na matéria de Luiz Zanin Oricchio publicada no jornal O Estado de S. Paulo no dia 7 de março:

A participação norte-americana no golpe é um dos destaques do livro de [Flávio] Tavares, o único que se ocupa exclusivamente da deposição de Goulart. Todos os outros – e Gaspari em quatro volumes – avançam pelo período da ditadura em suas diferentes fases e presidentes – Castello Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel e Figueiredo. De uma primeira fase, do golpe em 1964 a 1968, quando se decreta o AI-5 e a ditadura se escancara. Das trevas de1968 até 1978, quando os atos institucionais são revogados, vem a Anistia e a transição para a democracia, que para alguns se encerra em 1985, com o primeiro governo civil, e para outros se estende até 1988, com a Assembleia Constituinte.

Por concentrada, a narrativa de Tavares é trepidante. Recria o período tenso vivido pelo País desde a renúncia de Jânio Quadros, em 1961, passando pela posse do vice, Goulart, e seu governo atribulado e esgarçado por demandas e pressões à esquerda e à direita.

Tavares, na época, era colunista do jornal Última Hora e privava da intimidade de políticos e gabinetes de Brasília. Foi testemunha dos fatos, o que empresta ao seu relato caráter diferenciado.

Tavares destaca como Washington logo entrou no jogo da deposição de Jango pelo embaixador dos EUA no Brasil, Lincoln Gordon, e, mais adiante, com colaboração do seu adido militar, Vernon Walters, que deixou sua missão na Itália para conspirar contra o governo brasileiro. Detecta também a enxurrada de dólares despejada no Brasil após a reunião entre Kennedy e na Casa Branca em 1962. O dinheiro entrava pelo Royal Bank do Canadá e não pelo Bank of America para não despertar suspeitas. De acordo com o autor, mais de 200 candidatos ao Senado, Câmara Federal e Assembleias Estaduais, considerados amigos dos EUA e inimigos dos comunistas, foram beneficiados com verba generosa. Além disso, financiavam-se institutos como o IPÊS e o IBAD, que tinham função de propagar o receio ao “perigo vermelho” e preparar o clima do golpe. O fundamental era disseminar o medo, inclusive pelos filmes alarmistas.

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Clique aqui para ler a matéria na íntegra.

A filosofia de Bertrand Russell

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As principais preocupações de Bertrand Russell quando jovem eram o sexo, a religião e a matemática – tudo na esfera teórica. Em sua longa vida (ele morreu em 1970 aos 97 anos), ele acabou sendo controverso em relação ao primeiro item, atacou o segundo e fez contribuições importantes para o terceiro.

As visões de Russell sobre o sexo causaram-lhe problemas. Em 1929, ele publicou “Casamento e moral”, livro no qual questionou as visões cristãs sobre a importância de ser fiel ao parceiro. ele não concordava com a fidelidade. Muitas pessoas torceram o nariz na época. Não que isso incomodasse Russell. (…)

Ele foi igualmente franco e provocador em relação à religião. Para Russell, não havia nenhuma chance de Deus intervir para salvar a humanidade: nossa única chance consiste em usarmos o poder da razão. Segundo ele, as pessoas eram atraídas pela religião porque tinham medo de morrer. A religião as confortava. Era muito reconfortante acreditar na existência de um Deus que puniria as pessoas más, mesmo que se livrassem de um assassinato e de coisas piores na Terra. Mas isso não é verdade. Deus não existe. E a religião quase sempre produziu mais miséria do que felicidade. Russell reconhecia que o budismo era diferente de todas as outras religiões, mas o cristianismo, o islamismo, o judaísmo e o hinduísmo tinham de se responsabilizar por muita coisa. No decorrer da história, tais religiões foram a causa de guerras, ódio e sofrimento. Milhões de pessoas morreram por causa delas.

(trecho de Uma breve história da filosofia de Nigel Warburton)

Leia mais sobre o pensamento e o legado filosófico de Bertrand Russell em Ensaios céticos, Por que não sou cristão e No que acredito da Coleção L&PM Pocket.

A festa surreal na mansão dos Rothschild

Em 1972, Marie-Hélène de Rothschild, membro da mais poderosa família de banqueiros do mundo, realizou uma festa surrealista no Château de Ferrières, uma das mansões da família.  Embora estes eventos fossem geralmente secretos, as fotografias “vazaram” e graças a elas, podemos ter uma ideia do quão surreal foi esta festa – que teve até a ilustre presença de Salvador Dalí.

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Guy de Rothschild e sua esposa Maria Hélène

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Salvador Dalí foi convidado para a festa

A exótica Marie-Hélène entrou na família Rothschild contrariando tradições e desafiando o moralismo vigente. No livro A dinastia Rothschild, o biógrafo Herbert R. Lottman descreve o contexto:

O casamento de Guy também não passou despercebido; aliás, foi o escândalo da família Rothschild de seu tempo. O divórcio, em primeiro lugar, da bem-amada e muito admirada Alix. Depois a paixão do homem de 46 anos por Marie-Hélène de Zuyllen de Nywvelt van de Haar, uma moça impetuosa e estonteante de 25 anos, ela mesma divorciada de um tal conde François de Nicolay – e ela era católica, e não estava prestes a se converter; isso era inédito na história dos banqueiros Rothschild (apesar de, na verdade, o avô paterno de Marie Hélène ter se casado com uma Rothschild, a filha de Salomon, tio-avô de Guy).

Diriam que era um casamento de fogo e água – mas Guy podia observar, em retrospecto, que de fato durou. Esse homem de rotina, cuja vida parecia delimitada pelo escritório e campo de golfe, casou-se com o que ele classificaria como “fantasia, desordem, o imprevisível”.

Leia a história completa da família de banqueiros mais poderosa do mundo no livro A dinastia Rothschild, o biógrafo Herbert R. Lottman e veja mais fotos da festa aqui.

Pessoa e seus heterônimos num café

E se Fernando Pessoa se encontrasse com os seus quatro heterônimos num café para discutirem a criação de uma Revista, e decidissem que deviam deixar de existir como pessoas e transformarem-se em personagens fictícias, fruto da imaginação de uma única pessoa?

Esta é a sinopse do curta “Dia triunfal”, de Rita Nunes, um vídeo de 8 minutos que apresenta uma versão (fictícia, obviamente) sobre a criação dos heterônimos de Fernando Pessoa – fato que, segundo o próprio poeta, aconteceu em 8 de março de 1914, há exatos 100 anos, e foi chamado por ele de “dia triunfal”. Leia mais sobre este grande momento da literatura moderna neste outro post e assista ao vídeo:

 

A felicidade, por Aristóteles

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“Uma andorinha só não faz verão”. Provavelmente você deve pensar que essa frase é de William Shakespeare ou de algum outro  grande poeta. Até poderia ser. Mas na verdade ela é de um livro de Aristóteles chamado “Ética a Nicômaco”, que recebeu esse título por ser dedicado ao seu filho, Nicômaco. Aristóteles queria dizer que, para provar que o verão começou, é preciso mais de uma andorinha ou mais de um dia quente. Do mesmo modo, pequenos prazeres não representam a verdadeira felicidade. Para ele, a felicidade não passava de alegria momentânea. Surpreendentemente, ele  acreditava que as crianças não podiam ser felizes, o que parece um absurdo. Se as crianças não podem ser felizes, quem pode? No entanto, isso revela o quanto a sua visão de felicidade é diferente da nossa. As crianças estão apenas começando a viver e, por isso, não tiveram uma vida plena em nenhum sentido. A verdadeira felicidade, argumentava Aristóteles, exigia uma vida mais longa.

(trecho do capítulo 2 de Uma breve história da filosofia, de Nigel Warburton)

O dia triunfal de Fernando Pessoa

Por Marcelo Noah*

CONVITE ABERTO: O Dia Triunfal – Neste sábado, dia 8 de março, completam-se 100 anos do dia em que Fernando Pessoa, o múltiplo, teve a catarse criativa que fez vir a si seus heterônimos: Alberto Caeiro, o mestre pagão, Ricardo Reis, o neoclássico estóico, e Álvaro de Campos, a besta modernista.

É o “Bloomsday” lusófono, mas ninguém se dá conta disso. De todas as efemérides literárias, essa data é a que deveria ser celebrada no Brasil e virar feriado em Portugal. O homem que um dia disse “minha pátria é a língua portuguesa”, tendo publicado nesse idioma um único livro em vida – Mensagem –, logrou se transformar no maior e mais complexo poeta dessa língua. Deixou de herança para futuras gerações uma arca tomada de escritos que até hoje não cessou de prover descobertas, como uma caixa de pandora sem fundo e sem fim, aberta para o desconhecido.

Mas é o próprio Fernando Pessoa quem conta a história fascinante do seu “dia triunfal”:

desenho-de-fernando-pessoa-por-almada“Num dia em que finalmente desistira – foi em 8 de Março de 1914 – acerquei-me de uma cómoda alta, e, tomando um papel, comecei a escrever, de pé, como escrevo sempre que posso. E escrevi trinta e tantos poemas a fio, numa espécie de êxtase cuja natureza não conseguirei definir. Foi o dia triunfal da minha vida, e nunca poderei ter outro assim. Abri com um título, O Guardador de Rebanhos. E o que se seguiu foi o aparecimento de alguém em mim, a quem dei desde logo o nome de Alberto Caeiro. […] Aparecido Alberto Caeiro, tratei logo de lhe descobrir – instintiva e subconscientemente – uns discípulos. Arranquei do seu falso paganismo o Ricardo Reis latente, descobri-lhe o nome, e ajustei-o a si mesmo, porque nesta altura já o via. E, de repente, e em derivação oposta à de Ricardo Reis, surgiu-me impetuosamente um novo indivíduo. Num acto, e à máquina de escrever, sem interrupção nem emenda, surgiu a Ode Triunfal de Álvaro Campos – a Ode com esse nome e o homem com o nome que tem.”

Há quem, remexendo em seus manuscritos, coloque em dúvida a total veracidade desse relato feito por Pessoa pouco antes de sua morte. Contudo, entre um crítico e um poeta, antes e sempre compactuar com o poeta. O certo é que alguma coisa de fundamental marcou a lembrança do poeta naquele dia. E mesmo tendo Pessoa inventado ou delirado esse momento triunfal para a glória de sua memória, tanto faz; ele bem sabia que “a literatura, como toda a arte, é uma confissão de que a vida não basta”.

Por isso, no sábado agora, dia 8 de março de 2014, aos cem anos desse “dia triunfal” para a língua portuguesa, fica o convite a todos: busquem os escritos do poeta e os mantenham em mãos, lendo para si mesmos e para os outros, nas suas cidades, pelos cafés, nas boticas, bodegas, ruas, onde for… sabedores de que, como dizia Caeiro, “o único mistério é haver quem pense no mistério”.

P.S.: Eu, Marcelo Noah, já fiz minha programação: passarei o dia circulando com meu/minha Pessoa por Sampa, vou almoçar em um português bunda-de-fora chamado Ita, que fica no Largo do Paiçandu, beberei um café no Vale do Anhangabaú e – depois do show da Gal – vou colar naquele bar chamado Cu do Padre, atrás da igreja do Largo da Batata, para beber uma branquinha. Tudo bem ao estilo pagão de Caeiro, bem F. Pessoa o dia inteiro. Quem quiser se juntar em algum momento manda um grito.

*Marcelo Noah é artista multimídia, mestre em Escrita Criativa pela PUCRS e publicou este “convite aberto” em seu perfil no Facebook.

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