Arquivo mensais:dezembro 2013

Depois do almoço, Dostoiévski

Por José Antonio Pinheiro Machado*

Conheci Dostoiévski em Xangrilá, depois do almoço. É uma das tantas dívidas que o Ivan e eu temos com nosso pai: na base do centralismo democrático stalinista, ligeiramente tropicalizado, o pai nos impôs um programa obrigatório de leituras. Longe da cidade que é hoje, a Xangrilá da nossa adolescência era um descampado, o Nordestão desenhando cômoros no areal entre as poucas casas. Não havia muito o que fazer: depois do banho de mar, o almoço demorado e, a partir daquele dia, a tarde começava com duas horas de Dostoiévski.

O livro escolhido para minha iniciação, nos dias de hoje, talvez provocasse a intervenção do Conselho Tutelar ou do Juizado da Infância e da Juventude: Crime e Castigo! Abri contrafeito o pesado volume encadernado em couro e, logo depois de ler os primeiros parágrafos, ainda me recordo do impacto inesperado. Anos se passaram, e Jorge Luis Borges, na escuridão de sua cegueira, iluminaria, em duas frases, aquela minha perplexidade juvenil: “Como a descoberta do amor, como a descoberta do mar, a descoberta de Dostoiévski marca uma data memorável de nossa vida. Em geral, corresponde à adolescência; a maturidade busca e descobre escritores serenos”.

Naquele dia, por momentos o Nordestão deixou de assobiar, o céu azul do azul lavado pela chuva, do verso de Paulo Mendes Campos, perdeu sua atração irresistível, e o dia límpido e ensolarado lentamente foi substituído pela urgência da emoção nova e avassaladora daquela primeira leitura. Borges deve ter vivido algo parecido na juventude em Genebra: “Ler um livro de Dostoiévski é penetrar em uma grande cidade, que desconhecemos, ou nas sombras de uma batalha”. A história do jovem Raskolnikov é soberba, contada de forma magnífica. Estudante pobre, cheio de sonhos, divide os indivíduos entre ordinários e extraordinários e se impõe a missão de fazer algo realmente importante, ainda que seja uma violação às leis. Escolhe matar com violência uma velha agiota e, ao fugir, também assassina a irmã da vítima, que apareceu de surpresa e testemunhou o crime. Rouba algumas joias, que acaba por descartar, atormentado pela culpa. O romance brilha no relato do remorso sem remédio que persegue o personagem como uma danação. Quando um inocente é preso, Raskolnikov assume o crime e é condenado. Diversas histórias paralelas reforçam o eixo principal da narrativa, entre elas, a relação do protagonista com Sonia, que o encoraja a confessar o crime. Toda a miséria e toda a grandeza da condição humana transbordavam daquelas páginas. Mas nem todos se emocionaram tanto assim. No prefácio de uma antologia da literatura russa, Nabokov escreveu que não encontrou uma única página de Dostoiévski digna de ser incluída. Borges recusou essa afronta com uma verdade salpicada de ironia: “Isso quer dizer que Dostoiévski não deve ser julgado por páginas soltas, e sim pela soma de páginas que compõe o livro”.

* Crônica publicada originalmente na Coluna do Anonymus Gourmet, publicada no caderno Gastrô do Jornal Zero Hora em 6 de dezembro de 2013.

crime_castigo_praia

O legado de Mandela

Continua evidente que devemos procurar o legado permanente da luta de Mandela pela liberdade no campo do ético, e não do econômico, do simbólico, e não do material. Ele representou uma grande causa, a luta contra o apartheid. Respondeu à necessidade extrema de redenção de seu país e à forte tradição dos mitos milenaristas apresentando-se na figura de salvador. Nacional e internacionalmente, ele é visto como um gigante ético sobranceando o século XX. Em termos mais práticos, demonstrou ser, ao longo da vida, um estrategista com visão de longo alcance na defesa da liberdade política e vigoroso intelectual ativista que se distinguia por finas instituições morais. Nunca deixou de avaliar, rever e reformular mais claramente suas reivindicações políticas, sempre mantendo-se consciente da necessidade sul-africana do mito libertador que ele mesmo encarnava.

(Trecho de Mandela: o homem, a história e o mito, de Elleke Boehmer, L&PM, 2013 – Tradução de Denise Bottmann)

No dia 5 de dezembro, aos 95 anos, Nelson Mandela finalmente descansou de uma vida inteira de luta. Mas seu nome e seu legado permanecerão vivos por gerações como um exemplo para a humanidade.

Mandela_rindo

Peanuts do dia: Sally

Sally

Primeira aparição: 23 de agosto de 1959
A irmã mais nova de Charlie Brown acredita que o mundo lhe deve uma explicação. Por que ela tem que ir para a escola? Por que Linus, seu “Sweet Babboo”, não a ama? E qual é a capital da Venezuela? Sally está sempre em busca de respostas – e quando não as consegue, ela vem com uma nova filosofia: “Quem se importa?”

Você sabia que: Durante 6 meses, Sally teve ambliopia (“olho preguiçoso”) e usava um tapa-olho.

Interesses:
Filosofias: Embora nunca acerte no alvo, Sally é a filósofa do “Por que você está me dizendo isso?” E ela tem certeza de que pode resolver qualquer problema.
Movimento: Sally está constantemente tentando se movimentar do seu quarto para o quarto do irmão mais velho, sempre que ele sai de casa.
Linus: Sally é dedicada a Linus, que ela carinhosamente chama de “Sweet Babboo”

Clique para ampliar a imagem.

Clique para ampliar a imagem.

Clique para ampliar a imagem.

Clique para ampliar a imagem.

As tirinhas acima estão em Peanuts Completo volume 6 que acaba de chegar.

Simon’s Cat em um novo filme de Natal

Simon’s Cat já pode ser visto em um novo filme de Natal. O vídeo, que tem o título de “Christmas Presence – Part 1” foi divulgado com exclusividade no site do jornal britânico The Guardian. Clique sobre a imagem para assistir:

Simon_Natal2013

Ao clicar sobre a imagem, você será direcionado para o vídeo postado no site do The Guardian.

Veja aqui os livros de Simon’s Cat publicados pela L&PM Editores.

Peanuts do dia: Linus

Linus

Primeira aparição: 19 de setembro de 1952
Benevolente, ele é o filósofo do “cobertor-pendurado” e tem sempre uma palavra amável para todos … até mesmo para sua irmã mais velha mandona, Lucy. Mas ao mesmo tempo em que, muitas vezes, ele é a voz da razão no bairro, Linus também acredita firmemente na Grande Abóbora, e sofre mais do que a maioria quando as pessoas (ou as abóboras) o colocam para baixo.

Você sabia: Por um curto período, Linus usou óculos que eram constantemente roubados por Snoopy para atormentá-lo.

Interesses:
A Grande Abóbora: Toda noite de Halloween Linus pode ser encontrado em uma plantação de abóboras, aguardando a chegada da Grande Abóbora.
Baseball: Linus é conhecida a fazer algumas jogadas incríveis, muitas vezes com Snoopy.
Seu cobertor: Epítome da segurança, o cobertor de Linus também demonstra ser um excelente estilingue.

Clique aqui para conhecer todos os livros de Peanuts publicados pela L&PM Editores.

 

A vida de Agatha Christie em gif

Um dos memes de maior sucesso nas redes sociais em 2013 foi o “gif biográfico”, uma sequência de imagens animadas em forma de gif com legendas curtas e objetivas, que destacam características ou momentos importantes da biografia de alguém. O objetivo é, quase sempre, fazer graça sobre a vida do artista ou personalidade, o que, geralmente, dá certo!

Prova disso é o gif biográfico do Bukowski, que publicamos aqui. Nos empolgamos com a repercussão e resolvemos fazer um da Agatha Christie também:

agatha

O gif biográfico do Bukowski

Um dos memes de maior sucesso nas redes sociais em 2013 foi o “gif biográfico”, uma sequência de imagens animadas em forma de gif com legendas curtas e objetivas, que destacam características ou momentos importantes da biografia de alguém. O objetivo é, quase sempre, fazer graça sobre a vida do artista ou personalidade, o que, geralmente, dá certo!

Fizemos um gif biográfico de um dos autores mais queridos da casa, Charles Bukowski, vejam como ficou:

bukgif

Charles Bukowski

Scliar para consulta

scliar_livros

Jornal Zero Hora, Segundo Caderno – 02/12/2013 – Por Alexandre Lucchese

Acervo digital do escritor Moacyr Scliar será disponibilizado ao público em 2014.

– Moacyr escrevia muito, e escrevia rápido – conta Judith Scliar, viúva de um dos escritores mais prolíficos do Rio Grande do Sul. Originais e recordações que remontam aos escritos de Moacyr Scliar (1937 – 2011) ao longo da vida estarão em breve acessíveis a todos pela internet.

Mais de 8,6 mil páginas de manuscritos e datiloscritos do escritor que estão sob os cuidados da PUCRS, boa parte deles doados por Judith, estão em processo de digitalização pelo Espaço de Documentação e Memória Cultural (Delfos), pertencente à instituição.

Entre manuscritos e textos enviados para editoras, o acervo congrega originais do primeiro ao último romance de Scliar.

– Temos aqui a primeira composição de A Guerra do Bom Fim, de 1972, e anotações difíceis de estimar com precisão, mas que provavelmente são de um período entre 1962 a 1968 – explica a professora Marie-Hélène Passos, responsável pela organização do acervo.

A maior parte desse material digitalizado estará disponível para livre acesso a partir do início de 2014. A única restrição feita por parte da família são os textos inéditos que aparecem na coleção.

– Acredito que, se o Moacyr não quis publicar este material, foi por algum bom motivo. Não pretendemos deixá-lo público no acervo nem editá-lo em livros – diz Judith.

Além disso, enfatiza, os volumes não publicados têm ideias e trechos melhor trabalhados em outros romances e contos lançados no mercado editorial.

Especialista em crítica genética, campo de pesquisa que trata das marcas deixadas por autores em processo criativo, Marie-Hélène esclarece que a disponibilidade do acervo possibilita maior compreensão de como Scliar praticava a escrita:

– Quando você vê esse material, se dá conta de que ele passava o tempo todo escrevendo, era tão natural como respirar.

Bilhetes de aeroporto, recibos de postos de gasolina, folhas pautadas, blocos de nota: qualquer papel servia como suporte para grafar o que vinha da imaginação do autor. A variedade de materiais do acervo impressiona quem o manuseia, demonstrando que escrever era mesmo uma constante.

O processo de arquivamento virtual e publicação iniciado com os textos de Scliar vai ser também aplicado a outros acervos do Delfos. Regina Kohlrausch, diretora da Letras da PUCRS, esclarece que o autor foi escolhido por conta de sua importância e pela boa relação da instituição com a família:

– Uma parte deste material já tinha sido doado pelo próprio Scliar em 2005, depois Judith complementou o acervo. Os herdeiros são muitos acessíveis e colaborativos com o que estamos fazendo.

Judith conta que ainda pretende lançar um site com booktrailers do autor e textos analíticos de sua obra. A busca é pela preservação da memória do escritor:

– Estamos preparando este espaço, que irá centralizar conteúdos e terá link para os trabalhos acessíveis pelo Delfos.

Destaques do acervo

– A organização estima em torno de 8,6 mil páginas de acervo.

– Páginas datilografadas são povoadas de secções e emendas com trechos, revelando método de trabalho do autor.

– Bilhetes de viagem e recibos de posto de gasolina fazem parte das colagens que compõem os originais.

– Cada romance tem cerca de quatro ou cinco versões.

– O manuscrito mais antigo do acervo é A Guerra do Bom Fim, de 1972, mas estima-se que há papéis anteriores a 1968. Ainda este mês, a L&PM Editores lança este livro em formato convencional e capa dura.