Arquivo mensais:agosto 2012

Uma caricatura dos beats

Muito antes de Walter Salles lançar On the Road nos cinemas, Hollywood produziu, em 1960, um filme chamado “The Beatniks”. Calma, não se empolgue, ainda não corra para baixá-lo achando que vai encontrar uma ode a Jack Kerouac e sua turma. “The Beatniks” é uma caricatura. E meio grotesca, até. Dirigido por Paul Frees, o filme tem uma trama insípida que opõe uma gang de beatniks degenerados à Universal Records: quando um deles é contratado pela gravadora, seus amigos não poupam grosserias e agressões para fazê-lo perder a chance da sua vida. “Vivendo por seu código de rebelião e motim” dizia o cartaz.

Tão exagerada era a coisa que é impossível não imaginar Jack Kerouac e Allen Ginsberg dando boas risadas ao assisti-lo. Se bem que eles nem devem ter visto “The Beatniks”. Até porque eles tinham coisa bem melhor pra fazer naquela época. Como escrever livros, por exemplo…

O novo livro de Galeano

Por Jaime Cimenti*

Os filhos dos dias é o mais novo livro do jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galeano, que vive, caminha e escreve em Montevidéu, aos 72 anos, e segue como um dos grandes nomes da intelectualidade contemporânea. Galeano escreveu o clássico moderno As veias abertas da América Latina – denunciando a exploração europeia – e já recebeu prêmios importantíssimos como o Casa de las Américas de Cuba, o Dagerman da Suécia e o Cultural Freedom Prize, da Lannan Foundation dos Estados Unidos. Sua obra mescla, sem medo e sem cerimônia, com criatividade, gêneros literários diversos, como a poesia, a narração, o ensaio e a crônica. Memórias e memórias inventadas também entram, claro. Ao longo de várias décadas de trabalho, Galeano notabilizou-se por recolher as vozes e as almas das ruas em obras como Bocas do tempo, De pernas pro ar, Futebol ao sol e à sombra e O livro dos abraços. Nessa nova obra, Os filhos dos dias, Galeano utilizou o formato de calendário para contar uma história para cada dia do ano. Na primeira página ele deseja que o dia seja alegre como as cores de uma quitanda. Na última, ele fala de morte, de febre terçã e da palavra abracadabra, que, em hebraico queria dizer e continua dizendo: envia o teu fogo até o final. Pois é, para o dia 16 de julho, Galeano traz a história daquele jogo da Seleção Brasileira contra o Uruguai em 1950, quando o Maracanã abrigou duzentas mil estátuas de pedra. Para o 1 de abril não há história de bobos. O escritor narrou o episódio do desembarque do primeiro bispo do Brasil, Pedro Sardinha – em 1553 – e que, três anos depois, teria sido devorado pelos caetés no Sul de Alagoas e inaugurado, assim, a gastronomia nacional. Para 19 de fevereiro, Galeano trouxe um diálogo-desafio terrível entre o consagrado escritor Horacio Quiroga e a morte. Para o dia 14 de abril, o escritor contou a história de Nellie Bly – a mãe das jornalistas -, que mostrou, em 1889, dando a volta ao mundo e reportando a viagem, que jornalismo não era só coisa de homem. Em 1919, ela publicou suas últimas reportagens, desviando das balas da Primeira Guerra Mundial. Como se vê, Galeano abraçou a diversidade de povos e culturas, contando episódios que vão de 1585, no México, até, por exemplo, o 15 de setembro de 2008 na Bolsa de Nova Iorque, passando pela morte de John D. Rockefeller, em 1937, e muitos outros. L&PM Editores, 432 páginas, R$ 49,00, tradução de Eric Nepomuceno.

*Jaime Cimenti é jornalista e escritor. Este texto originalmente publicado no Jornal do Comércio de Porto Alegre dos dias 17, 18 e 19 de agosto de 2012.

Escritores que assinam embaixo

Quem não sonha em ter uma primeira edição assinada de próprio punho por um escritor famoso? Mesmo que algumas dessas assinaturas sejam praticamente ilegíveis, elas são pra lá de especiais, você não concorda? Veja aqui algumas delas e tente reconhecer os nomes (todos eles publicados pela L&PM). Caso tenha alguma dúvida, a resposta está no final do post.

Na ordem: James Joyce, Charles Bukowski, Arthur Conan Doyle, Edgar Allan Poe, Francis Scott Fitzgerald, J. D. Salinger, Jorge Luis Borges, Leon Tolstói, Mark Twain, Oscar Wilde, Pablo Neruda, Rainer Maria Rilke.

O dia em que Elvis virou um sofá

Todo mundo sabe que Elvis não morreu. Mesmo assim, a data oficial da sua partida para o além é 16 de agosto de 1977. Elvis continua vivo: em música, fotos, pinturas e souvenirs. Andy Warhol foi um dos que eternizou o rei do rock em valiosos quadros que até hoje fazem a festa dos leiloeiros. Em 1965, Warhol presenteou Bob Dylan com um de seus Elvis, o prateado. Dylan, no entanto, acabou trocando a obra por um sofá. Ao que parece, no entanto, a ficha de artista pop demorou a cair, como demonstra um trecho de Diários de Andy Warhol:

Quinta-feira, 11 de maio de 1978. (…) Robbie disse que me conhecia dos tempos de Dylan. Eu perguntei a ele o que aconteceu com a pintura “Elvis” que dei a Dylan, porque toda vez que eu encontro o empresário de Dylan, Albert Grossman, ele diz que é ele quem a tem e Robbie disse que em alguma época Dylan trocou-a com Grossman por um sofá! (risos) Ele achou que estava precisando de um sofazinho e deu o “Elvis” em troca. Deve ter sido na época de drogas dele. Então foi um sofá caro, aquele. (…)

Andy, Elvis e Dylan em 1965

Feliz aniversário, Buk

metamorfose

uma namorada chegou
me construiu uma cama
esfregou e encerou o chão da cozinha
esfregou as paredes
aspirou o pó
limpou a patente
a banheira
esfregou o chão do banheiro
e cortou minhas unhas e
meus cabelos.

então
naquele mesmo dia
o encanador veio e consertou a torneira da cozinha
e a patente
e o homem do gás consertou o aquecedor
e o homem do telefone, o telefone.
agora me sento aqui em meio a tanta perfeição.
tudo está tranquilo.
rompi com minhas 3 namoradas.

me sinto melhor quando tudo está
bagunçado.
vai levar alguns meses até que as coisas voltem ao
normal:
não consigo encontrar sequer uma barata para viver em comunhão.

perdi meu ritmo.
não consigo dormir.
não consigo comer.

roubaram-me
minha sujeira.

(De Bukowski – Textos autobiográficos)

Bukowski nasceu em 16 de agosto de 1920. Faria 92 anos hoje, o velho Buk… Dele, a L&PM publica todos os romances, além de poesia, contos, textos variados e até uma HQ.

Semana da cultura russa em São Paulo: ainda dá tempo de participar

A Biblioteca Mário de Andrade está sendo palco de uma semana dedicada à cultura russa. Começou no dia 13 de agosto e vai até o dia 17 (sexta-feira), a segunda edição da “Semana da Língua e Cultura Russa” que, este ano, homenageia o escritor Anton Tchékhov. O evento é uma iniciativa da Associação Cultural Grupo Volga com apoio da Embaixada da Federação da Rússia no Brasil e as entradas são gratuitas. Olha o que ainda dá pra aproveitar:

AULA LIVRE DE LÍNGUA E CULTURA RUSSA
Coordenação de Alla Gueorguievna Dib e participação de Francisco Marcio de Araújo e Rafael Almir Marcial Tramm. De um modo descontraído e informal, professores de russo apresentam noções sobre língua, alfabeto e cultura russa.
Sala de convivência. Dias 15 e 16, às 17h

SARAU: “MÚSICA E POESIA TRADICIONAIS DA RÚSSIA”
Coordenação do maestro Victor E. Selin e participação do Coral Folclórico Grupo Volga. Regente por mais de 25 anos de diversos corais de música popular e lírica russas em São Paulo, Selin coordena este sarau literomusical.
Sala de convivência. Dia 17, às 19h

A Biblioteca Mário de Andrade fica na Rua Consolação, 94, centro de São Paulo. Fone: (11) 3256-5270

A Índia de Gandhi por Eduardo Galeano

Em 15 de agosto de 1947 a independência [da Índia] foi proclamada. Enquanto o país, tomado de um delírio de alegria, a festejava aos gritos de Mahatma Gandhi Ki jai, “vitória ao Mahatma Gandhi”, este se ausentava. “Agora que temos a independência, parece que estamos desiludidos. Eu pelo menos estou”.

(Trecho da biografia de Mahatma Gandhi na Coleção L&PM Pocket)

Quem relembra este episódio é Eduardo Galeano em seu novo livro Os filhos dos dias:

(clique na imagem para ampliar e ler melhor)

Livro: um santo remédio

Que livro é uma terapia, que engrandece o espírito, que relaxa e estimula o cérebro, a gente já sabe. Tanto é assim que, no Egito antigo, as bibliotecas eram locais não apenas para se adquirir conhecimento, mas também espiritualidade. Os gregos também associavam os livros ao tratamento médico e espiritual, concebendo suas bibliotecas como “a medicina da alma”.

A partir do Século XX, as bibliotecas terapêuticas começaram a se disseminar a partir dos EUA e a biblioterapia passou a ser usada dentro de hospitais. Atualmente, muitos são os estudos que mostram a eficácia desta terapia no ambiente hospitalar, alcançando cura ou diminuindo os sintomas de até 80% das doenças.

Baseado nesses dados, este ano entrou em tramitação na Câmara Federal o Projeto de Lei 4186, de autoria do deputado federal Giovani Cherini, para tornar obrigatória a presença de livros nos hospitais públicos, farmácias e drogarias, devidamente autorizados pelo Ministério da Saúde.

Para nós isso não é novidade. Já faz muitos anos que farmácias de cidades como Porto Alegre, Santarém, Recife e Natal possuem displays com os livros da Coleção L&PM Pocket. E o melhor: sem nenhuma contra indicação. 

Display de livros da Coleção L&PM Pocket na farmácia Panvel em Porto Alegre

Joe Kubert na Enciclopédia dos Quadrinhos

O desenhista Joe Kubert, que morreu neste domingo, dia 12 de agosto, aos 85 anos, também está na Enciclopédia dos quadrinhos, de Goida e André Kleinert. Em homenagem a ele, aí vai o texto na íntegra:

KUBERT, Joe
Estados Unidos (1926)

Tarzan teve desenhistas ótimos – Hal Foster, Burne Hogart, Bob Lubbers, Russ Manning – mas gostamos, principalmente, da interpretação que Kubert deu ao personagem de Edgar Rice Burroughs. Para os comic books, Joe criou histórias de Tarzan onde o dimensionamento espaço/dinâmica ganhou novos horizontes. Foi talvez o melhor trabalho que Kubert realizou nas suas múltiplas atividades para os quadrinhos. Desde 1943 na profissão, ele desenhou, roteirizou e editou principalmente revistas, mas também passou pelas tiras diárias, com a criação de uma série lamentavelmente inédita no Brasil, “Green Barets” (Os boinas verdes), realizada entre 1966/67 para o Chicago Tribune-New York News Syndicate. Além de toda essa atividade, Joe Kubert ainda ilustrou centenas de capas para as publicações da DC Comics, exemplos marcantes de dramaticidade e apelo para a venda. Kubert dedicou-se também à formação de novos desenhistas.

Vejam só alguns personagens dos comic books que ganharam o talento de Kubert: Dr. Fate, Hawkman, Flash, Wildcat, Viking Pince, Sea Devils, Firehair, Thor, Phanton Lady, Tomahawk, Korak, Son of Tarzan e até mesmo Superman. Foi, entretanto, nas histórias de guerra editadas pela DC que o talento de Kubert nos comics books soltou-se mais, começando por Enemy Ace (história de aviação, Primeira Guerra Mundial, onde um dos personagens era o famoso Barão Vermelho) e, principalmente, Sgt. Rock of Easy Co. (O sargento Rock da Companhia Moleza), criação original de Robert Kanigher (roteiros) e que também teve desenhos de Ross Andru, Mike Esposito e outros.

Além de continuar desenhando personagens da Marvel (Thor) e da DC (Johnny Clond, O soldado desconhecido), Kubert ainda achou tempo para criar Abraham Stone (Marvel, com mais de cem páginas), uma trama social-realista, nunca publicada no Brasil. Também inéditas ficaram as aventuras do Justiceiro (Marvel, 1994) e Rio de Sangue, a partir de um roteiro de Chuck Dixon. Pela Dark Horse, em álbum, veio Fax From Sarajevo (1996), longa história baseada em fatos reais passados na Bósnia, inédita no Brasil. Para a série “Tex Gigante”, da Bonelli, Kubert desenhou uma obra-prima roteirizada por Claudio Nizzi, O cavaleiro solitário (Mythos, 2002). Também tivemos lançados no Brasil outros trabalhos de Kubert, como Ás inimigo (Opera Graphica, 2005 – com roteiro de Brian Azzarello) e Sargento Rock – a profecia (Panini, 2009).