Arquivo mensais:julho 2012

A poesia de Affonso Romano de Sant’Anna

Affonso Romano de Sant'Anna

Com 50 anos de vida literária e textos e poemas traduzidos para várias línguas, Affonso Romano de Sant’Anna é, sem sombra de dúvidas, um dos grandes nomes da literatura brasileira. Foi um dos organizadores, em 1963, da Semana Nacional de Poesia de Vanguarda de Belo Horizonte, que ajudou a traçar novos rumos para a poesia nacional, e foi um dos responsáveis pela entrada da chamada “poesia marginal” na universidade. Nos anos 70, em plena ditadura militar, organizou encontros entre poetas brasileiros e estrangeiros e, na década de 90, lançou a revista “Poesia Sempre” de circulação internacional, que ajudou a divulgar mundo a fora a poesia feita aqui no Brasil.

A L&PM publica os poemas de Affonso Romano Sant’Anna em dois volumes na Coleção L&PM Pocket. E quem quiser conhecer melhor a vida e a obra desde grande nome das letras brasileiras pode participar do encontro “O que é a poesia?” promovido pela Casa das Rosas com o apoio da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, no dia 29 de julho, que tem o poeta como convidado principal. Aí vai o serviço completo:

O que: “O que é a poesia?” com Affonso Romano de Sant’Anna
Quando: 29/07 (domingo) das 16h às 18h
Onde: Casa das Rosas (Av. Paulistam 37, proximo à Estação Brigadeiro)
Mais informações: www.casadasrosas-sp.org.br

Maquiavel ou o poder a qualquer custo

“Imagine que você seja um príncipe, dotado de poder absoluto, governando uma cidade-estado, como Florença ou Nápoles, na Itália do século XVI. Você dará uma ordem e ela será atendida. Se quiser mandar alguém para a cadeia por ter falado algo contra você, ou por suspeitar de que houve uma conspiração para matá-lo, você pode fazê-lo. (…) Segundo Nicolau Maquiavel (1469-1527), às vezes é melhor mentir, quebrar promessas e até matar os inimigos. Um príncipe não precisaria se preocupar em manter sua palavra. Como dizia ele, um príncipe eficaz tem de “aprender a não ser bom”. O mais importante era manter-se no poder, e quase todas as formas de fazer isso eram aceitáveis. O príncipe, livro no qual ele fala sobre essas coisas, teve fama (e infâmia) mesmo antes de ser publicado em 1532. Algumas pessoas o descreveram como maligno ou, na melhor das hipóteses, como o manual dos facínoras; outras o consideraram o relato mais preciso já escrito sobre o que acontece na política. Muitos políticos atuais leram o livro, embora pouquíssimos admitam, revelando, talvez, que estão colocando em prática os princípios da obra.” (Trecho de Uma breve história da filosofiade Nigel Warburton) 

A estátua de Maquiavel na Uffizi Gallery em Florença

Uma breve história da filosofia é um livro imperdível para quem quer entender melhor os grandes pensadores da história. E para aqueles que, a partir da sua leitura, se sentirem estimulados a mergulhar mais fundo em determinados filósofos, a Coleção L&PM Pocket tem muitas opções, incluindo Maquiavel, de quem publica O príncipe e A arte da guerra. Em tempos de julgamentos (e, felizmente, cassações) no Senado, vale conhecer melhor estas obras.

Virginia Woolf e o anjo do lar

Em janeiro de 1931, Virginia Woolf escreveu um texto que foi lido para a Sociedade Nacional de Auxílio às Mulheres. Convidada para falar sobre as suas experiências profissionais, a escritora discorreu sobre o “Anjo do Lar”, uma sombra que, segundo ela, havia em todas as mulheres. No texto, Virginia contou que, ao começar a escrever suas primeiras resenhas como jornalista, havia sido atormentada pelo “Anjo do Lar”, tanto que preferiu matá-lo. Este texto é um dos sete ensaios que está no livro que acaba de ser lançado na Série Pocket Plus L&PM, Profissões para mulheres e outros artigos femininas. Ao ler a descrição do Anjo do Lar, percebemos que ele há muito já voou para longe. Mas se fez isso, provavelmente foi graças a mulheres como Virginia Woolf.

“E, quando eu estava escrevendo aquela resenha, descobri que, se fosse resenhar livros, ia ter de combater um certo fantasma. E o fantasma era uma mulher, e quando a conheci melhor, dei a ela o nome da heroína de um famoso poema, “O Anjo do Lar”. Era ela que costumava aparecer entre mim e o papel enquanto eu fazia as resenhas. Era ela que me incomodava, tomava meu tempo e me atormentava tanto que no fim matei essa mulher. Vocês, que são de uma geração mais jovem e mais feliz, talvez não tenham ouvido falar dela – talvez não saibam o que quero dizer com o Anjo do Lar. Vou tentar resumir. Ela era extremamente simpática. Imensamente encantadora. Totalmente altruísta. Excelente nas difíceis artes do convívio familiar. Sacrificava-se todos os dias. Se o almoço era frango, ela ficava com o pé; se havia ar encanado, era ali que ia se sentar – em suma, seu feitio era nunca ter opinião ou vontade própria, e preferia sempre concordar com as opiniões e vontades dos outros. E acima de tudo – nem preciso dizer – ela era pura. Sua pureza era tida como sua maior beleza – enrubescer era seu grande encanto. Naqueles dias – os últimos da rainha Vitória – toda casa tinha seu Anjo. E, quando fui escrever, topei com ela já nas primeiras palavras. Suas asas fizeram sombra na página; ouvi o farfalhar de suas saias no quarto. Quer dizer, na hora em que peguei a caneta para resenhar aquele romance de um homem famoso, ela logo apareceu atrás de mim e sussurrou: “Querida, você é uma moça. Está escrevendo sobre um livro que foi escrito por um homem. Seja afável; seja meiga; lisonjeie; engane; use todas as artes e manhas de nosso sexo. Nunca deixe ninguém perceber que você tem opinião própria. E principalmente seja pura.” (Trecho de “Profissões para mulheres”, primeiro artigo do livro – Tradução de Denise Bottmann)

Virginia Woolf também é um dos nomes da Série Biografias L&PM. E, breve, chegará à Coleção L&PM Pocket, Mrs. Dalloway.

Proust na estrada

“A obra do escritor não é senão uma espécie de instrumento óptico que ele oferece ao leitor a fim de lhe permitir discernir o que, sem aquele livro, ele talvez não tivesse visto em si mesmo.” A frase é de Marcel Proust, escritor francês nascido em 10 de julho de 1871, em meio aos bombardeios da Guerra Franco-Prussiana. E talvez ela dê uma pista dos motivos que fazem com que, geração após geração, Proust continue sendo cultuado entre os leitores do mundo inteiro. Muitos são aqueles que dizem ter encontrado, nas palavras “proustianas”, uma espécie de espelho da alma. Jack Kerouac, por exemplo, costumava carregar consigo um exemplar de “No caminho de Swann”. Dizia que era uma espécie de talismã. Em seu livro On the road, ele cita Proust algumas vezes:    

“Ela estava parada na penumbra do nosso quarto e sala com um sorriso esquisito. Falei milhares de coisas para ela quando de repente senti uma quietude estranha no quarto e vi um livro gasto em cima do rádio. Sabia que era o eternamente sagrado e crepuscular Proust, de Dean.”   

“Mas é claro, Sal, que em breve já poderei falar tanto quanto sempre e, na verdade, tenho muitas coisas para te dizer e com essa minha cabecinha pancada, tenho lido e relido esse Proust doidão, o trajeto inteiro através da nação, sacando milhares de coisas que nunca tenho tempo para te contar…”   

Em Na estrada, adaptação de On the road para o cinema, com direção de Walter Salles, um exemplar de “No caminho de Swann”, primeiro dos sete volumes de “Em busca do tempo perdido”, aparece em cena com frequência.   

Kristen Stewart lê Proust em uma das cenas de "Na estrada", filme baseado no livro de Jack Kerouac

Coincidência ou não, este desenho feito pelo próprio Proust mostra que ele também tinha amor pela estrada:   

Um desenho apressado feito por Marcel Proust

A Coleção L&PM Pocket publica Um amor de Swann, a segunda e autônoma parte de No caminho de Swann  

Paraty é uma cidade poética

Paraty é a soma de casas históricas, pedras irregulares, cores vibrantes, águas calmas. E se isso não bastasse para dar vontade de versejar, há ainda um príncipe (D. João de Orleans e Bragança – descendente de D. Pedro) que ali vive cercado de uma natureza abençoada que cheira a cachaça dourada, coco maduro e peixe fresco. Em época de Flip – a festa literária – quando o movimento deixa as ruas congestionadas de gente, a cidadezinha fica mais internacional e pulsante do que nunca. Para os que vivem do turismo, é um prato cheio. Já para os que só estão por lá em busca de sossego, é uma espécie de pesadelo. O evento não dura muito, somente cinco dias, mas o suficiente para que a literatura penetre por todos os poros das pedras polidas nas ruelas. Este ano, na décima edição da Flip, novamente grandes escritores do mundo, autores de diferentes etnias e sotaques, ali se reuniram como numa grande fraternidade. O colombiano Juan Gabriel Vásquez, autor de Os informantes e História Secreta de Costaguana (editados pela L&PM), foi um dos convidados. E assim como seus colegas de letras, ele apaixonou-se por Paraty. Paraty, que tem um pé em Paradise, Paradies, Paradis, Paradijs e todas as outras formas e idiomas de se chegar ao “paraíso”. (Paula Taitelbaum)

As águas de Paraty

O céu de Paraty

Árvore de livros em Paraty

Painéis da Flip com Millôr Fernandes em primeiro plano

A conferência com a participação de Juan Gabriel Vásquez (no centro e no telão)

Fotos: Nanni Rios

O Largo do Millôr dá a largada para o próximo pôr-do-sol

No final da tarde de sexta-feira, 6 de julho, o Largo do Millôr, no Arpoador, foi inaugurado com a presença da família do grande escritor, pensador, dramaturgo, tradutor e desenhista. Ivan, filho do mestre, nos enviou a foto abaixo, acompanhada de um texto emocionante.

“Minha mulher Monica (sem acento, como comprova o fato de estar de pé), eu, meu tio Hélio Fernandes (com acento e como comprova o fato de estar sentado, ele o único jornalista vivo a ter cobrido a Constituinte de 1946), minha irmã Paulinha, meu filho, João Gabriel, o único da família a estar devidamente vestido para o evento e, coroando a foto, emoldurado pelas fitas de descerramento da placa do Largo, o número 7. Alguém sabe o que significa o número 7? Numerologicamente, na Bíblia, na Cabala, no Candomblé? Eu não tenho a menor ideia e – sem qualquer ironia – gostaria, muito, de saber.  A tarde de inverno, acho, foi encomendada por meu pai. O mar, calmo, sereno, misto de azul e verde, transparente. De causar inveja ao Caribe.  Enfim, melhor, pelos menos para mim (suspeitíssimo, sei) impossível. Muito além dos meus maiores devaneios. Uma grande homenagem a quem devo agradecer, principalmente, a Luís Gravatá. Que desejou permanecer anônimo e eu, infame, revelo a responsabilidade dele. Mea máxima culpa… ” (Ivan Fernandes, filho de Millôr Fernandes)

Agora o Largo está lá, na ponta da Praia de Ipanema, eternizando Millôr e oferecendo o artigo primeiro e único “Para uma Constituição mais humana”: O PÔR-DO-SOL É DE QUEM OLHA.

Frida Kahlo no novo livro de Galeano

Julho
7

Fridamania

Em 1954, uma manifestação comunista percorreu as ruas da Cidade do México. Frida Kahlo estava lá, de cadeira de rodas. Foi a última vez em que foi vista viva. Morreu, sem ruído, pouco depois. E se passaram uns quantos anos até que a fridamania, tremendo alvoroço, a despertou. Ressurreição ou negócio? É isso o que merecia uma artista alheia a qualquer exitismo e ao lindismo, autora impiedosa de autorretratos que a mostravam sobrancelhuda e bigoduda, crivada de agulhas e alfinetes, apunhalada por trinta e duas operações? E se tudo isso fosse muito mais que manipulação mercantilista? Uma homenagem do tempo, que celebra uma mulher capaz de transformar sua dor em cor?

Trecho de “Os filhos dos dias”, novo livro de Eduardo Galeano que será lançado no Brasil pela L&PM Editores em julho com tradução de Eric Nepomuceno. “Os filhos dos dias” traz uma pequena história para cada dia do ano, sempre centrada em um fato real que aconteceu naquela data.

Ficção, história, frases e Flip

Por Paula Taitelbaum*

Empolgante, esclarecedora, engraçada. Se eu precisasse resumir em três adjetivos o encontro que reuniu os escritores de língua espanhola Juan Gabriel Vásquez e Javier Cercas, talvez escolhesse estes. Mas, pensando bem, eles não fariam jus a tudo o que se ouviu na Tenda dos Autores da Flip na quinta-feira à tarde. Com o tema “Ficção e História” e a mediação de Angel Gurría-Quintana, a conferência começou com a leitura de trechos de livros de ambos os escritores. Com seu espanhol claríssimo e deliciosamente sonoro, Vásquez leu um trecho de “História Secreta de Costaguana” (L&PM Editores), seguido de Cerca que leu um trecho de seu livro.

Os escritores Javier Cercas, Juan Gabriel Vásquez (ao centro e no telão) e o mediador Angel Gurría-Quintana

A partir de então, totalmente entrosados, os dois autores presentearam a plateia com ótimas frases. Anotei algumas de Juan Gabriel para compartilhar aqui no blog:

“Toda novela é a construção de uma voz, mas algumas dessas vozes são mais parecidas com a nossa”

“A voz de ‘Os informantes’ é mais parecida com a minha, já ‘História Secreta de Constaguana’ é um capricho, uma reflexão de como, por que e o que se passa quando escrevemos uma história”

“Temos que evitar a tentação de nos embasarmos no que as pessoas já conhecem. A novela como gênero, diferente do romance histórico, deve criar uma nova realidade, reinventar o mundo. A novela conta as coisas como poderiam ter sido e não exatamente como se passaram. Há a liberdade de distorcer.”

“Minha novela é uma espécie de metáfora histórica”

“A verdade histórica é factual e concreta. A verdade literária é abstrata, universal, fala do que ocorre com os homens em qualquer lugar. Há aqueles que misturam os dois e buscam a verdade literária e histórica”

“W. Somerset Maugham já dizia que há três regras para escrever novelas, o problema é que ninguém sabe quais são elas.”

“Já disse E. Doktorou: o romancista histórico é aquele que finge que existem mais documentos históricos do que realmente existe”

“Tudo é mais complicado. O novelista quer iluminar o que não sabemos”

“A literatura é como um fósforo no meio do campo escuro. Ele não serve para iluminar, mas para mostrar o quanto de escuridão existe”

“Toda novela é uma crítica à novela que a precede” (Referindo-se a suas próprias novelas)

“O passado não passa nunca, ele nem sequer passou” (Citando William Faulkner)

Itabira em Paraty: o primeiro dia da Flip

Por Nanni Rios*

Nem o voo atrasado e uma tarde inteira de viagem por terra foram capazes de ofuscar o brilho de Paraty em dia de festa. E, felizmente, apesar dos contratempos, conseguimos assistir à conferência de abertura da Flip, a Festa Literária Internacional de Paraty, que este ano homenageia o poeta Carlos Drummond de Andrade. Itabira deixou de ser só mais uma fotografia na parede e, ontem, virou cenário para a fala do escritor Silviano Santiago, que recebeu do curador da Flip, Miguel Conde, a missão de fazer um panorama da vida e da história de um dos poetas mais importantes das letras brasileiras.

Antônio Cícero e Silviano Santiago na conferência de abertura da Flip (fonte: JB)

Drummond nasceu em 1902, quase junto com o século 20 – que Silviano Santiago chamou de “seu irmão mais velho”, cresceu com ele, acompanhou suas transformações, viveu seus traumas e se refez junto com ele no pós-guerra. E para completar a homenagem, o poeta e filósofo Antonio Cícero recitou o poema “A flor e a náusea” e nos ofereceu em seguida uma releitura mais íntima, estrofe por estrofe, adentrando meandros e particularidades da escrita de Drummond e vertendo o significado mais delicado e, por vezes, oculto de cada verso.

E por fim, poesia e sintetizadores: o show do “lião” do norte Lenine fechou a primeira noite da Flip com chave de ouro.

E hoje a festa continua! O destaque da programação do dia é a mesa sobre “Ficção e história” com Juan Gabriel Vásquez, que está lançando seu novo livro História secreta de Costaguana aqui na Flip, e Javier Cercas.

*Nanni Rios é editora de mídias sociais da L&PM Editores e compartilha os melhores momentos da Flip no Facebook (LePMEditores), no Twitter (@LePM_Editores) e no Instagram (@lepmeditores). Acompanhe!

O “Largo do Millôr” na praia do Arpoador

Millôr Fernandes morreu no dia 27 de março deste ano aos 88 anos. Na segunda-feira, 2 de julho, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, assinou um decreto, dando ao largo que existe entre o fim da praia do Arpoador e o início da Praia do Diabo o nome de “Largo do Millôr”.  Ao fazer esta homenagem, a cidade segue a tradição de batizar alguns de seus locais mais nobres como “Largo do Machado”, “Largo da Carioca” entre outros. Millôr  foi um apaixonado pelo Rio de Janeiro e uma das figuras mais ilustres da cidade. O largo com o seu nome consagrará o local por onde Millôr passou quase todos os dias nos últimos 60 anos. Ali, ele jogou frescobol e por ali ele passou, milhares de vezes, em suas corridas ou caminhadas diárias. Como disse seu filho Ivan Fernandes no e-mail em que convida para a inauguração do “Largo do Millôr”, parafraseando Machado de Assis, “esta sim é a glória que fica, honra, eleva e consola”. A inauguração da placa com o nome de “Largo do Millôr” se dará na próxima sexta-feira, dia 6 de julho, às 17 horas, com direito a show de bossa-nova.

Todos os que estiverem no Rio de Janeiro e admiram este grande gênio da cultura brasileira estão convidados. Como diz o samba, a festa vai ser grande e não tem hora para acabar.

O jovem Millôr, jogando frescobol no Arpoador, praia que agora terá um Largo com seu nome

A L&PM publica várias obras de Millôr Fernandes.