Arquivo mensais:fevereiro 2012

Modigliani no Rio

A exposição Modigliani: imagens de uma vida acaba de chegar ao Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, e já é reconhecida como a maior mostra do pintor italiano que o Brasil já viu. A curadoria é assinada por Christian Parisot, autor do volume Modigliani na Série Biografias L&PM e presidente do Modigliani Institut Archives Légalés Paris-Roma, que organiza o Momento Itália-Brasil com cerca de 200 eventos programados até junho de 2012.

Estão à disposição do público no Museu Nacional de Belas Artes cerca de 230 itens, entre eles 12 pinturas e cinco esculturas, que tentam refazer os caminhos do olhar de Modigliani e suas influências a fim de apresentar o perfil do artista que tanto se dedicou aos retratos. Segundo Parisot, foram selecionados para a mostra os documentos mais importantes do arquivo Modigliani, em Roma, a fim de possibilitar três abordagens da carreira: o período em que viveu entre Livorno, onde nasceu, e Sardenha, passando pela estadia entre Florença e Veneza, até chegar à França.

"Nu deitado", o quadro que ilustra a capa da biografia de Modigliani é uma das peças da mostra

Depois de dois meses em Vitória, no Espírito Santo, a exposição Modigliani – Imagens de Uma Vida fica  no Museu Nacional de Belas Artes e até março e segue, em abril, para o Masp, cujo acervo conta com 6 retratos do artista, inclusive o mais valioso de todos: seu único autorretrato, de 1911, propriedade de um colecionador brasileiro.

Lu e seus 15 minutos de fama

A Luciana Rodrigues, nossa colega aqui na L&PM, fugiu do tórrido verão brasileiro e foi resfrescar-se na “velha e querida Inglaterra”. Como o clima aqui na editora era de lançamento dos Diários de Andy Warhol, justamente o pocket 1.000 da L&PM, ela foi visitar o célebre rei do pop em Londres. A foto é testemunha disto; Lú ainda tinha resquícios do bronze adquirido nas praias tropicais e o Andy não fez por menos, sendo fotografado na sua melhor pose de esnobe… Na verdade Andy Warhol está imortalizado em cera no famoso museu de Madame Tussauds (Marylebone Road, London, NW1 5LR). A semelhança é impressionante e a qualidade do trabalho faz deste museu uma visita obrigatória na capital inglesa. Visite o site do museu e encontre as réplicas perfeitas de homens e mulheres que conseguiram bem mais do que 15 minutos de fama… (IPM)

Cézanne supera Picasso

Em um leilão realizado em Nova York esta semana, uma das telas da famosa série “Os jogadores de cartas”, de Paul Cézanne, foi arrematada por US$ 250 milhões (cerca de R$ 430 milhões), o maior valor já pago por uma pintura no mundo. Até então, quem ocupava o posto de pintura mais cara já vendida em um leilão era a tela “Nu, Folhas Verdes e Busto”, do espanhol Pablo Picasso, arrematada em 2010 por US$ 106,5 milhões.

Um dos quadros da série "Os jogadores de cartas" arrematado no leilão por US$ 250 milhões

Na volume sobre Cézanne da Série Biografias, o autor Bernard Faulconnier investiga minuciosamente o surgimento da famosa série de quadros:

Quando ia ao Museu de Aix, Cézanne sempre sentira uma atração especial pelo quadro atribuído a Mathieu Le Nain, Les Joueurs de cartes [Os jogadores de cartas]. Sempre sonhara em se inspirar nele, pintar daquele jeito. Por que este tema? Porque sempre estivera diante dele, porque naqueles personagens de jogadores de cartas podia abarcar a humanidade inteira e ainda reinventar a pintura, a pintura de gênero dessa vez.

Cézanne criou cinco quadros e vários estudos sobre o tema. Quem são aqueles homens captados de perfil, que jogam cartas tranquilamente naquele aposento tão modesto? (…)

O quadro é mudo. Os personagens estão tensos, concentrados, contraídos dentro de roupas grossas. O jogo de cartas não era uma brincadeira. Os homens assumem uma postura imponente, uma condição de figuras graníticas congeladas para sempre em sua tensão. (…) A segunda versão da série, aquela que está no Metropolitan Museum of Art, em Nova York, contém quatro personagens, e as duas versões seguintes, apenas dois: os jogadores de cartas estão de perfil, sentados nas duas pontas da mesa. Tudo nesses quadros confere a este gesto do jogo, cotidiano e banal, a solenidade de uma cerimônia; tudo confere a esta representação a força de um momento de eternidade. Simplicidade nas linhas e dignidade na série de atitudes. Uma imagem do homem em seu cotidiano que, ao mesmo tempo, está além dele, em uma relação de harmonia singular com o mundo. Ao abandonar o monumental, Cézanne concentrou-se no essencial e ganhou em sobriedade para atingir o ser humano.

O quadro “Os jogadores de cartas” foi comprado pela família real do Qatar e será exposto no Museu Árabe de Arte Moderna, em Doha.

66. Maigret em quadrinhos

A L&PM publica quase toda a obra de Georges Simenon no Brasil, inclusive dezenas de novelas inéditas de um dos maiores mestres da literatura de suspense no mundo. Já são mais de 50 títulos Coleção L&PM Pocket e a Série Simenon não pára de crescer. Por outro lado, também é notória a tradição da L&PM na publicação de histórias em quadrinhos, tanto que o primeiro livro lançado pela editora em 1974 foi o Rango, com as tirinhas de Edgar Vasques. Sem mais delongas, o pedacinho de história da L&PM que vamos resgatar hoje é o álbum Maigret e seu morto, que conta em formato de quadrinhos as artimanhas do Comissário Maigret para solucionar mais um caso misterioso. A quarta capa do livro explica do que se trata:

Quai des Orfèvres, uma manhã de fevereiro. O Comissário Maigret escuta distraidamente uma visitante quando é interrompido por uma ligação telefônica. Um homem apavorado diz que está sendo perseguido, pede proteção e marca um encontro num bar. Mas quando o inspetor enviado por Maigret chega no lugar combinado o desconhecido já havia partido. O homem liga novamente e marca outro ponto de encontro, mas também desta vez ele parte antes da chegada do inspetor. De madrugada, Maigret é acordado por outro telefonema: um cadáver fora encontrado na Place de la Concorde. Deslocando-se imediatamente para o local, o Comissário reconhece o misterioso interlocutor através da descrição feita pelo próprio homem ao marcar o primeiro encontro. Começa a investigação de Maigret. Quem é o homem? Por que o eliminaram daquele jeito? Por que o depositaram, depois de morto, naquele belo cenário da Place de la Concorde?

Confira um trechinho:

Toda terça-feira, resgatamos histórias que aconteceram em quase quatro décadas de L&PM. Este é o sexagésimo sexto post da Série “Era uma vez… uma editora“.

Saiu o pocket número 1.000: “Diários de Andy Warhol” já está nas livrarias

Escritos no auge de sua fama e sucesso, os Diários de Andy Warhol registraram dias, noites, grandes eventos e deliciosas trivialidades de uma das figuras mais enigmáticas e geniais da cultura do século XX. Polêmico e revelador, o livro foi publicado originalmente no Brasil em 1989, pela L&PM, com quase 800 páginas. Agora, mais de 20 anos depois, o livro volta às bancas e livrarias em 2 volumes e formato de bolso para comemorar os 1.000 títulos da Coleção L&PM Pocket. E já que o clima é de festa, a L&PM caprichou no presente e fez a Caixa Especial Diários de Andy Warhol com os 2 volumes (mas você pode comprá-los separadamente, se preferir).

25 anos depois da morte de Andy Warhol, os diários se tornaram história. O tempo aumentou radicalmente a importância do artista e de muitos personagens que habitam suas páginas. O relato do criador do Pop torna-se fonte de referência para entender as décadas do fim do século XX, a cultura da celebridade, a contra-cultura novaiorquina da época, a estética do Pop, o cinema underground e conhecer os registros praticamente diários desta grande aventura da última jornada verdadeiramente de vanguarda da arte moderna. Até as frivolidades que permeiam em abundância este livro adquirem agora um significado histórico. É Nova York pré-11 de setembro. A grande Meca da modernidade, cujos sonhos transgressores e vanguardistas derreteram junto com as torres gêmeas.

Sincero e impiedoso

Andy e o roqueiro Mick Jagger, inseparáveis

Jim Morrison, Calvin Klein, Patti Smith, Martin Scorsese, Tom Wolfe, Roy Lichtenstein, Mick Jagger, Lou Reed, Yoko Ono são alguns dos “alvos” de seus comentários sinceros e impiedosos. O grande cult da chamada “arte de rua”, Jean Michel Basquiat, morto em 1988, aos 28 anos, é mencionado inúmeras vezes, pois foi uma descoberta do criador do Pop. Ele diz em 4 de outubro de 1982:

O Basquiat é o garoto que usava o nome de ‘Samo’ quando sentava na calçada do Greenwich Village e pintava camisetas, e de vez em quando eu dava 10 dólares para ele e mandava ao Serendipity para tentar vendê-las. Era apenas um daqueles garotos que me enlouqueciam. É negro, mas algumas pessoas dizem que é porto-riquenho, aí sei lá (…).

Andy e Basquiat

Enfim, são centenas de pessoas (todas devidamente listadas num índice remissivo ao final do livro) do show business, das artes, da realeza europeia, do rock and roll, do punk rock, da literatura, moda, imprensa, teatro, cultura underground, jet set em geral, milionários, drogados famosos, políticos, enfim, gente que superou a sua previsão de que “um dia todos vão ter pelo menos 15 minutos de fama”.

Um retrato “rasgado” de Cartier-Bresson

No prefácio do livro Cartier-Bresson – o olhar do século, que acaba de chegar à Coleção L&PM Pocket, o biógrafo Pierre Assouline não se constrange em assumir publicamente sua paixão pelo biografado. E diferente do que podem pensar os mais puristas, isto não é demérito algum. Pelo contrário: ele consegue contaminar o leitor, que embarca numa instigante viagem pela vida de um dos maiores fotógrafos que o mundo já conheceu.

Sob o título “Quando o herói se torna um amigo”, o prefácio de Pierre começa descrevendo como foi seu primeiro encontro com Cartier-Bresson em 1994 e segue dando pistas da personalidade que ele ajudou a desvendar nas páginas que seguem, deixando o leitor com água na boca. Bem no início, ainda é possível identificar algum compromisso com a objetividade exigida de um jornalista em relação a seu objeto de trabalho. Mas depois de alguns parágrafos, ele sucumbe à emoção:

É curioso bater nas costas de um mito, insólito contradizer uma lenda, estranho interpelar uma instituição, arriscado criticar um clássico, audacioso corrigir um monumento… No Japão, diriam que ele é um tesouro nacional vivo. Com um levantar de ombros, um gesto da mão, Henri Cartier-Bresson liquida esse falso problema. Considera todas essas palavras verdadeiros palavrões. Até mesmo o suave nome de “artista” o exaspera, tanto vê nele uma noção burguesa herdada do século anterior.

Apesar do encanto, é impossível não mencionar o já conhecido temperamento difícil do mestre da fotografia como traço marcante de sua personalidade:

Cartier-Bresson é a impaciência em pessoa, mas também a curiosidade, a indignação, o entusiasmo e a cólera. Esse meditativo frenético não para no lugar, incapaz de dominar seu próprio temperamento, como se a verdadeira vida estivesse sempre no movimento. Sua intranquilidade acaba por perturbar a paisagem. Ele é daqueles que devem sua nobreza à excentricidade. Nada o deixa mais secretamente feliz do que fazer um uso deliberado do aristocrático prazer de desagradar. Quando pensamos em tudo o que seus olhos viram, sentimos vertigens.

Assouline finaliza sua longa e rasgada introdução preparando o leitor para as páginas que vêm a seguir:

Se quisermos entender Henri Cartier-Bresson, precisamos nos desfazer da concepção tradicional de tempo e assimilar outra, às vezes anacrônica, em que o calendário dos fatos não necessariamente coincide com o das emoções. Precisamos também levar em conta que o tempo do relógio não é o mesmo do homem, que cada um tem sua mística interior e que contar os acontecimentos de uma vida sem levar em conta a própria lógica seria tão inútil quanto lembrar uma ópera por seu libreto. Proust disse tudo isso, e mais: “Há dias montanhosos e árduos que levamos um tempo infinito a escalar, e dias de declive que se deixam percorrer a toda velocidade, cantando”.

Cartier-Bresson passou sua vida assim. Ele não viajou, ele morou no exterior sem se perguntar quando voltaria. Mais do que uma sutileza, trata-se de outra compreensão do mundo. Sua obra é prova disso.

Cartier-Bresson – o olhar do século foi publicado pela primeira vez pela L&PM em 2003, em formato convencional, e agora chega à Coleção L&PM Pocket com o mesmo conteúdo da edição anterior, encarte com fotos e tudo mais, só que em formato de bolso. (Nanni Rios)

O rei do pop não poupa ninguém

Sábado, 1º de março, 1980. Victor Bockris telefonou e disse que o jantar com Mick Jagger na casa de William Burroughs estava confirmado. Victor está escrevendo um livro sobre Burroughs. Decidi ficar no escritório e não ir para casa. O motorista não parou no 222 Bowery, estava indo muito depressa (táxi $3). Subimos, eu não ia lá desde 1963 ou 1962. Certa vez foi o vestiário de um ginásio. Não tem janelas. É todo branco e limpo e parece que tem esculturas por toda parte, com aqueles canos daquele jeito. Bill dorme num outro quarto. Não acho que seja um bom escritor, quer dizer, escreveu um único livro, Naked Lunch, mas agora é como se vivesse no passado.

Nem o sisudo William Burroughs escapou da língua afiada de Andy Warhol. No primeiro volume dos diários do rei do pop, o escritor beat é citado três vezes. Sobre o trecho acima, vale comentar que, em 1980, Burroughs ainda não tinha publicado um de seus livros mais reveladores, O gato por dentro (Série Pocket Plus), que traz reflexões e histórias sobre a ancestral relação entre homens e felinos. Nele, Burroughs relembra os gatos que passaram por sua vida, tudo o que fizeram por ele e por sua saúde mental, e parece concluir que, afora as particularidades físicas, pouca diferença há entre humanos e felinos.

O gato por dentro é um livro irresistível, capaz de sensibilizar até o mais exigente dos críticos – principalmente um crítico como Andy Warhol, que amava os bichanos e os retratou em várias de suas obras. Com certeza, se ele tivesse vivido tempo suficiente para ler O gato por dentro, publicado em meados de 1986, pouco antes de sua morte, sua opinião sobre o autor de Naked lunch seria diferente.

Verbete de hoje: Steve Dowling

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, o Blog L&PM publicará, nos domingos, um verbete do livro. O de hoje é  o inglês Steve Dowling (1904-1981)

Em 24 de julho de 1943, no Daily Mirror londrino, iniciava-se a publicação de Garth, uma tira diária de aventuras que se transformou na mais famosa e duradora produzida na Inglaterra nos últimos setenta anos. Seu desenhista era Stephen P. Dowling, que desde 1931 trabalhava para o Daily Mirror, junto com seu irmão Frank. Já tinha feito tiras de humor, como Tich e Ruggles. Com Garth, Steve Dowling conquistou por completo os leitores. O personagem, um homem loiro de grande força física, acompanhado quase sempre por um sábio franzino, chamado Lumière, vivia as suas aventuras em mundos que variavam do real (Oriente, Egito) até o sobrenatural. Com o passar do tempo, Garth foi adquirindo poderes de viajar tanto ao passado quanto ao futuro. A história foi continuada, depois da aposentadoria de Dowling, por John Allard, Frank Bellamy e, mais recentemente, Martin Ashbury.

O mais famoso personagem de Dowling em uma edição comemorativa do The Daily Mirror

O gato velho

Nada foi feito para mim,
Não, nem mesmo a lareira,
Pois algumas vezes sinto frio e não há fogo,
E outras vezes, não me deixam ir até ali.
Sombras me entediam, e se acaso são um mistério
É bem sem graça. Meus ta-tataranetos
Brincam insensatos ao meu redor, mas eu agora já sei
Que os forros das coisas são apenas forros,
E que atrás da porta entreaberta
Há outra sala como esta aqui.
Gosto de sentar com meus olhos semicerrados,
Porque já vi de tudo
E minhas memórias são bem mais interessantes.
Estou em paz com tudo.
Até os camundongos pode vir a poucos centímetros,
Sabendo que aposentei nossa antiga guerra.
Apenas meus ta-tataranetos
Me irritam às vezes, puxando meu rabo,
Esbarrando e escorregando por cima de mim.
Dou-lhes uns bons tapas nas orelhas,
E volto para onde deixei meus pensamentos,
Estou em paz com tudo.

De Patricia Highsmith, Os gatos (Patricia Highsmith faleceu em 04 de fevereiro de 1995, há exatos 17 anos atrás)

As polaroids de Andy Warhol

Entre 1970 e 1987, Andy Warhol fotografou praticamente todas as celebridades (ou aspirantes a tal) com sua Polaroid, dando origem a um retrato fiel do mundo que se revelava no calor dos holofotes. Suas fotografias instantâneas também foram uma espécie de rascunho para seus grandes retratos e pinturas.

Mick Jagger

500 destas imagens poderão ser vistas ao vivo em maio deste ano, em uma exposição organizada no MIS (Museu da Imagem e do Som) de São Paulo. Mas quem quer saber um pouco mais sobre as personalidades clicadas por Andy Warhol e, inclusive, como algumas dessas fotos foram feitas, nada melhor do que ler “Diários de Andy Warhol” que acaba de sair em um caixa com dois volumes em pocket.

William Burroughs

Graças ao índice remissivo, é possível encontrar quem você quiser. Procurando por “Pelé”, por exemplo, você encontra, entre os depoimentos, um que Warhol fez sobre ele em 1977:  Terça-feira, 27 de setembro, 1977. Ahmet Ertegun telefonou e me convidou para um jantar em homenagem a Pelé à noite. Gastei o resto do dia telefonando para convidar pessoas para serem minhas companhias mais ninguém queria ir. (…) Meu retrato de Pelé seria apresentado, o pai e a mãe de Pelé estavam lá e eles são uma graça, e a mulher dele é branca, mas todo mundo é de uma cor diferente na América do Sul – os pais dele também são de cores diferentes. (…)

Pelé

Breve, a L&PM Editores também publicará “América”, livro de fotos de Andy Warhol.