Arquivo mensais:dezembro 2011

59. Vinte anos de Eduardo Galeano

Por Ivan Pinheiro Machado*

Nosso primeiro encontro foi em 1976, na Feira do Livro de Frankfurt. Naquele ano, o tema era “Literatura latino-norteamericana” e eu, então um jovem de 24 anos, fui apresentado pelo meu amigo Fernando Gasparian, dono da editora Paz e Terra, a um promissor escritor uruguaio editado por ele. Seu nome: Eduardo Galeano.

Galeano, que na época tinha 36 anos, já era festejado com seu “Las venas abiertas de América Latina”. Eu, filho de comunista que era, já tinha lido o livro em espanhol, pois a obra era proibida no Brasil. Fiquei fascinado com sua figura e continuamos mantendo contato.

Nosso primeiro Galeano: "O livro dos abraços" que agora é publicado na Coleção L&PM POCKET

Quinze anos depois, recebi um telefonema de sua agente no Brasil. Queria uma nova editora brasileira para publicar O livro dos abraços, lançado em espanhol em 1989 e que ainda não tinha edição por aqui. Entrei em contato com Eric Nepomuceno, brilhante jornalista que já traduzia Galeano no Brasil, e que aceitou de imediato fazer mais esta tradução. E assim, em 1991, publicamos nosso primeiro Galeano.

Ou seja: fechamos 2011 comemorando 20 anos de convívio com Eduardo Galeano e 14 livros publicados incluindo As veias abertas da América Latina. Eduardo Galeano é uma grande figura humana. Ele consegue transmitir para sua vida pessoal a ternura e a poesia que são a matéria-prima do qual é feita a sua obra. Generoso, postou-se sempre ao lado dos fracos e dos oprimidos, tornando-se um símbolo de resistência às injustiças e às espoliações cometidas contra a América Latina. Não é preciso dizer que foi perseguido pelas ditaduras uruguaias e argentinas naqueles tempos tétricos de operação Condor nos anos 70 e 80. Solidário, esteve conosco nos piores momentos, quando a crise econômica de meados dos anos 90 quase abateu a L&PM. Alertado de que “sua editora estava mal”, Galeano respondeu: “Não faz mal, eu vou ficar até o fim”. Ele me contou isso somente 10 anos depois, quando tudo já estava resolvido e já tínhamos a maior e mais prestigiada coleção de livros de bolso do Brasil.

Há cerca de três semanas, recebi um email seu, singelo, onde ele contava do novo livro, Los hijos de los dias, que mostra como cada um dos dias do ano é capaz de fazer nascer uma nova história. Neste seu email, que trazia o livro em anexo, ele dizia: “si te parece publicable, manos a la obra.” Emocionado, li numa noite as 366 histórias (contando um ano bissexto) que compõem este livro belíssimo. No outro dia, liguei para o Eric Nepomuceno e… mãos à obra. O novo Galeano sai em meados de 2012.

O generoso Eduardo Galeano em foto dos anos 1980

*Toda terça-feira, o editor Ivan Pinheiro Machado resgata histórias que aconteceram em mais de três décadas de L&PM. Este é o quinquagésimo nono post da Série “Era uma vez… uma editora“.

690 mil libras na palma da mão

As irmãs Charlotte e Emily Brontë (autora de O morro dos ventos uivantes) começaram a escrever muito cedo. Como várias meninas, foi na adolescência que elas arriscaram suas primeiras aventuras no mundo da literatura. A diferença é que algumas das histórias criadas pela irmãs Brontë na adolescência apareceram mais tarde em livros de gente grande.

Em um dos manuscritos da época, foi encontrada a versão original de uma cena que aparece no romance Jane Eyre, de Charlotte Brontë, em que Bertha, a esposa de Mr Rochester, tenta matar o marido ateando fogo nas cortinas do quarto. O conjunto de 19 páginas com cerca de 4 mil palavras foi leiloado pela Sotherby’s na semana passada pela bagatela de 690 mil libras. Apesar da grandeza literária e do número de zeros do seu valor de venda, o manuscrito parece “coisa de criança” e cabe na palma da mão.

O leilão foi arrematado pelo Museu de Letras e Manuscritos de Paris e deve ser exposto ao público a partir de janeiro. Há outros quatro manuscritos semelhantes em exposição no Brontë Parsonage Museum, fundado e mantido pela família Brontë.

Verbete de hoje: Liniers

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, o Blog L&PM publicará, nos domingos, um verbete do livro. O de hoje é  o argentino Liniers (1973)

As tiras de Macanudo, publicadas no La Nacion, de Buenos Aires, são de uma criatividade sem-fim. Liniers (o pseudônimo de Ricardo Siri), desde o início de 2002, faz algo que o diferencia no mundo das HQs. Às vezes, a tira chega a ter 25 quadros. O formato muda todos os dias. Os numerosos personagens são originais e muito engraçados. A menina Enriqueta, o gato Fellini e o ursinho de pelúcia Madariaga aparecem com mais frequência, mas não são mais importantes que os pinguins; Oliverio, a azeitona; gente que anda por aí; a vaca Cinéfila; as ovelhas lanudas; os duendes; o homem‑lobo (que nos dias de lua cheia vira pinguim); o senhor da cabeça pequena; Z-25, o robô sensível; o homem que traduz o nome dos filmes; Ramindez, o melancólico; coisas que passaram a Picasso; Alfio, a bola troglodita e por aí vai. Fontanarrosa (que faleceu em 2008) sempre foi um grande admirador de Liniers. “Tudo parece um pouco ingênuo”, garante ele, “mas cuidado, desprevenido viajante. É a ilusória ingenuidade de um leão cercando uma gazela”. Publicada na Argentina em álbuns pelas Ediciones de la Flor, Macanudo ganhou tradução no Brasil através da Zarabatana Books.

Aterrorizado
pelo som da minha própria voz
e pela sonoridade dos pássaros
cantarolando em fios ardentes
numa quietude de domingo vi a mim mesmo
trucidando inúmeros pecadores e perus
cães barulhentos com pontudas tetas mortas
e cavaleiros negros em armaduras
com rótulos Brooks
e calças com cadeados Yale
Sim
e com pênis erectus como lança
perfurei velhas damas
rejuvenescendo-as
num espasmo de minha espantosa espada
retrocedendo-as à virgindade
capuzes e cabeças
oh sim
adormecida hipocrisia encapuçada

prosseguimos conquistando tudo
mas enquanto isso
o tempo padrão real segue em frente
e novos bebês engarrafados com dentes reais
devoram nosso fantástico
futuro fictício.

(De Um parque de diversões na cabeça, Lawrence Ferlinghetti, poema traduzido por Eduardo Bueno)

Ainda dá tempo de entrar na Cripta de Poe

“A Cripta de Poe”, um espetáculo multimídia criado a partir de algumas histórias de Edgar Allan Poe, é uma parceira da Cia. Nova de Teatro com o grupo italiano Teatro del Contagio. A peça, que fica em cartaz até este domingo, no CCSP em São Paulo, conta com a participação, em vídeo, do ator Paulo César Peréio, que vive o “Velho Poe”. Entre os textos que formam a base do espetáculo estão “O Retrato Ovalado”, “Berenice” e “Ligeia” do livro A carta roubada (Coleção L&PM POCKET). O espetáculo tem direção do carioca radicado em São Paulo Lenerson Polonini.

SERVIÇO

Local: Centro Cultural São Paulo – Espaço Cênico Ademar Guerra
Rua Vergueiro, 1.000 – Liberdade- São Paulo. Tel. 11 3397-4002
Sexta e sábado às 21h, Domingo às 20h
Temporada: 01 a 18 de dezembro
Ingressos: R$ 20,00 inteira e R$ 10,00 meia
Contatos da Cia:
11- 7225 3466/ 73228625
021- 9491 6198

Os livros estão de luto

Quem conhece Paris provavelmente já visitou a livraria Shakespeare and Company. Aconchegante e abarrotada de (bons) livros, essa que hoje é ponto turístico dos apaixonados pela literatura,  já foi ponto de encontro de intelectuais como Arthur Miller, James Baldwin, Samuel Beckett, Anaïs Nin, Lawrence Durrel, William Burroughs, Gregory Corso e Allen Ginsberg. Escritores que lá iam para comprar seus livros e se encontrarem com George Whitman, o dono da livraria que morreu quarta-feira, 14 de dezembro, dois dias depois de completar 98 anos.

Segundo o jornal The New York Times, Whitman faleceu devido a complicações que surgiram após um derrame sofrido há dois meses. Em outubro, ele se recusou a ficar no hospital e exigiu ser levado para casa, que fica em cima da Shakespeare and Company. Ontem, quinta-feira, a livraria estava fechada e, em sua porta, velas, flores e romances foram colocados juntos ao comunicado que anunciava a morte de Whitman. Os admiradores também colaram bilhetes com agradecimentos e elogios a ele.

Whitman nasceu em Nova Jersey, nos Estados Unidos, mas passou parte da infância na China. Mudou-se para Paris em 1948, tendo uma bicicleta e um gato como as suas únicas posses. Em 1951, ele abriu a livraria Le Mistral que depois seria rebatizada de Shakespeare and Company, em homenagem a Sylvia Beach, proprietária da Shakespeare & Company original, responsável pela primeira edição de Ulisses, de James Joyce. Quando morreu, em 1962, Sylvia Beach deixou para Whitman os direitos da marca e os seus livros. Dois anos depois, a Le Mistral de Whitman tornou-se Shakespeare & Company dois anos depois.

Mais do que dono de livraria, George Whitman foi uma lenda. Seu lema de vida tinha sido tirado de um poema de W.B. Yeats: “Não seja inóspito a estranhos, pois eles podem ser anjos disfarçados”. Atualmente, quem cuida da Shakespeare and Company é a filha de George, Sylvia Beach Withman.

O editor Ivan Pinheiro Machado, que também é artista plástico, eternizou a Shakespeare and Company em uma das pinturas que estava em sua mais recente exposição

Livros para pendurar na árvore de Natal

Livros ficam perfeitos embaixo da árvore de Natal. Mas você já pensou que eles podem virar o próprio enfeite da árvore? Há um site que vende bolas de vidro com trechos de Pride and Prejudice (Orgulho e Preconceito), de Jane Austen. O resultado é inspirador, pois bastaria encontrar uma bola de vidro vazia à venda para customizá-la com frases da sua obra preferida. Outro enfeite ótimo foi o da Biblioteca de São Paulo, que criou uma árvore decorada com 50 bloquinhos de post-it que simulam livros. A partir dessa ideia, ficaria lindo imprimir capinhas de livros da Coleção L&PM POCKET, colar nos bloquinhos e deixar a árvore com a cara da sua estante. Sua árvore já está pronta? Guarde esta ideias pro ano que vem! 

Atriz fica louca por homem e ganha prêmio

A Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) elegeu Elisa Volpatto como a atriz revelação do ano. Elisa ganhou o prêmio por sua atuação em Mulher de Fases, série do canal HBO que é baseada no livro Louca por homem, de Claudia Tajes. A atriz e os outros premiados receberão seus troféus em uma cerimônia que acontecerá no dia 13 de março de 2012. Em Louca por homem (assim como em Mulher de Fases), a personagem criada por Claudia, Graça, muda seus gostos e hábitos conforme os namorados que tem. Veja o trailer da série:

Vai nascer um novo psicopata americano

Está confirmado: o filme O psicopata Americano, realizado em 2000 e baseado na obra homônima de Bret Easton Ellis, vai ganhar um remake. O estúdio Lionsgate contratou o diretor Noble Jones para escrever um novo roteiro e refilmar a perturbadora obra de Ellis. Escrito em 1991 como uma crítica feroz à geração yuppie, o livro conta a história do bem sucedido banqueiro novayorquino Patrick Bateman (que no filme de 2000 foi vivido por Christian Bale) e traz à tona uma trama violenta, em que o personagem divide seu tempo entre o trabalho, prostitutas e assassinatos. Em entrevista recente, Jones disse que seu projeto, que ainda está em fase embrionária, terá orçamento muito mais baixo do que o anterior, que foi dirigido pela escritora e diretora canadense Mary Harron. Também afirmou que a nova versão será situada nos tempos atuais e não nos anos 80 como na história original.

Últimos dias para ver Modigliani de perto

Essa é uma dica para quem está ou vai passar por Vitória, no Espírito Santo, nos próximos dias. Começou no dia 09 de dezembro e fica até domingo, dia 18, a exposição “Modigliani: Imagens de uma vida”. A mostra inédita que tem entrada gratuita conta com 188 obras e traz 12 pinturas em óleo originais, e cinco esculturas em bronze, além de pinturas de outros artistas de sua época, fotografias, documentos, desenhos, telas de amigos e filmes. Todo o acervo vem do Instituto Modigliani, de Roma, e foi montado com uma concepção inédita, que traça o panorama da vida e obra de Modigliani, entre 1906 e 1920.

SERVIÇO

Exposição “Modigliani – Imagens de uma vida”
Local: Salão Afonso Brás, no Palácio Anchieta – Centro de Vitória
Período: até 18 de dezembro de 2011
Horário: De terça a sexta-feira – das 9 às 17 horas.
Sábado: das 10 às 17 horas
Domingo: das 10 às 16 horas
Entrada gratuita
Telefone para agendamento em grupos: (27) 3636-1032/3636-1048
Horário de atendimento: segunda a sexta das 8 às 18 horas
E-mail:
agendamento@palacioanchieta.es.gov.br
Informações: (27) 3315 7071

A L&PM publica a vida de Modigliani na Série Biografias da Coleção L&PM POCKET.