Os grandes mangás

Por Marina Ferreira* 

A primeira vez que eu ouvi falar de desenhos japoneses (os animes) foi quando eu era criança. Devia ter uns 6 ou 7 anos de idade. Uma amiga me convidou para brincar de Cavaleiros do Zodíaco – e eu lá nem sabia o que eram estes cavaleiros, mas resolvi brincar mesmo assim. Apesar de não entender bulhufas da brincadeira, fiquei curiosa. Decidi assistir ao desenho, que passava na (agora extinta) Rede Manchete.

Foi amor à primeira vista. Um amor que cresceu e se expandiu nos anos que se seguiram, apesar da recessão de animes e mangás que o Brasil sofreu no final da década de 90.

Uma agradável surpresa foi descobrir que a L&PM pretendia publicar seus próprios mangás. A minha paixão, que havia diminuído de intensidade nos últimos anos, voltou a crescer à medida que eu assistia o processo de produção dos livrinhos, a confusão com a leitura invertida, a transformação dos símbolos nipônicos em palavras que eu podia entender.

Dos títulos lançados, o que mais gostei foi o Solanin de Inio Asano. O mangá, publicado em dois volumes, conta a história do casal de namorados Meiko e Tanada, que decidem largar a segurança de uma vida estável, mas aborrecida para correr atrás de um sonho. Embora aconteça no Japão, os conflitos apresentados em Solanin são universais; qualquer pessoa que um dia se sentiu sem rumo e pensou em arriscar tudo por um sonho poderá se enxergar entre seus personagens, partilhando de seus sorrisos e suas lágrimas.

O belo e limpo traço de Asano conta uma história realista, pungente e surpreendentemente humana. É por isso que, para mim, Solanin pode ser considerado um grande livro, disfarçado de quadrinho, capaz de agradar até aqueles que nunca quiseram saber dos tais dos Cavaleiros do Zodíaco…

* Toda semana, a Série “Relembrando um grande livro” traz um texto assinado em que grandes livros são (re)lembrados. Livros imperdíveis e inesquecíveis.

Lincoln por Spielberg

Já foi divulgado o trailer de “Lincoln”, filme dirigido por Steven Spielberg que conta a vida do décimo sexto presidente dos Estados Unidos e traz Daniel Day-Lewis no papel principal. A estreia no Brasil é em 25 de janeiro de 2013.

Lincoln é um dos títulos da Série Encyclopaedia L&PM, livro em que o escritor Allen C. Guelzo, duas vezes premiado com o prestigioso Lincoln Prize, reconstrói a genealogia da família até o nascimento de Abraham.

O livro de bolso contra a crise

O livro de bolso surgiu nos EUA no começo do século XX e teve sua consagração exatamente no pior momento da economia americana. Foi depois da quebra do país em 1929 que os livros baratos passaram a ser a grande opção de leitura. Com o tempo, os “pocket books” tornaram-se uma alternativa para enormes tiragens de livros de sucesso. Seis meses após o lançamento de um livro em capa dura ou “soft cover” em formato convencional, o pocket era lançado com preços entre 50 e 60% menores do que as edições originais. Na Europa, o fenômeno foi bem visível logo após a guerra. As grandes editoras inglesas, alemãs, francesas e espanholas criaram coleções que, em pouco tempo, se transformaram em verdadeira referência cultural. Ao contrário dos EUA, o livro de bolso europeu foi o veículo que fixou os grandes textos clássicos internacionais. Com o tempo, estas coleções passaram a incluir também autores modernos. Hoje, com a forte crise econômica que atravessa a Europa e, depois da crise que assolou os EUA em 2008, os livros de bolso cresceram a ponto de abocanhar quase 50% do mercado. Atualmente em Paris, por exemplo, os livros de bolso têm exposição privilegiada nas livrarias. Saíram dos “displays” escondidos no fundo da loja e estão nas vitrines, nas principais gôndolas ao lado dos grandes lançamentos da estação. O que não se via num passado muito recente. Na Feira do Livro de Frankfurt 2012, muitos dos principais editores constatavam esta realidade. O pocket é o caminho para manter altas as vendas em época de crise. Afinal, os grandes lançamentos em poucos meses são editados em bolso e vendidos por menos da metade do preço do livro convencional. E, em muitos casos, há livros que – a exemplo da coleção L&PM POCKET – são lançados originalmente já no fomato bolso. (Ivan Pinheiro Machado)

43 anos sem Jack Kerouac

Jack Kerouac bebeu até morrer. Em 21 de outubro de 1969, o autor de On the road saiu da estrada e se foi, solitário e decadente, aos 47 anos e com apenas 91 dólares em sua conta bancária. Mal sabia ele que, 43 anos depois de sua morte, seu nome teria um valor incalculável para seus fãs. Para marcar esse dia, separamos aqui algumas fotos raras de Kerouac da infância até alguns anos antes de sua morte.

Jack Kerouac aos 5 anos

Anos 30: o jovem Jack com os pais

Adolescente, aos 14 anos

O primeiro passaporte

Na faculdade, como titular do time de futebol americano

Anos 40: a força de Kerouac também no baseball

Com o grande amigo Neal Cassady e a filha dele

Em 1964, na última visita que fez a Allen Ginsberg, já bem diferente dos áureos tempos de estrada

Tem Curso Geração Beat e contracultura em novembro

Claudio Willer, tradutor de Uivo de Allen Ginsberg e autor do livro Geração beat, ministrará novo curso no Espaço Revista Cult. “Poesia e política: Geração Beat e contracultura” é o tema do evento que o Espaço Revista Cult sediará de 8 de novembro a 6 de dezembro.

NÚCLEO: Altos Estudos
MINISTRADO POR: Claudio Willer
DATA: de 08/11/2012 até 06/12/2012
HORÁRIO: Quintas-feiras, das 20h às 22h
CARGA HORÁRIA: 8h
NÚMERO DE VAGAS: 40
PÚBLICO ALVO: Estudantes, jornalistas e demais interessados no assunto.
VALOR: R$ 320.00

O valor pode ser parcelado em até 6 vezes no cartão de crédito (sem juros) no Espaço Revista CULT.

Programa: 
1 – Poesia e política, do Romantismo até hoje: William Blake, Walt Whitman e Arthur Rimbaud, inspiradores da Geração Beat
2 – A “revolução de mochilas às costas” e os “ideais essenciais do movimento Beat”: liberação, tolerância, “antifascismo cósmico”
3 – O pluralismo Beat; a contribuição de seus integrantes: ambientalismo, militância, anarquismo místico.
4 – Debate: contemporaneidade ou extemporaneidade; contracultura e Geração Beat foram assimilados ou são irreversíveis? Contribuições ao pensamento

Manuscritos de Kafka serão doados para Biblioteca Nacional de Israel

Um acervo de manuscritos de Franz Kafka finalmente deixará de ser propriedade privada da família de Max Brod, o melhor amigo do escritor, e será doado para a Biblioteca Nacional de Israel. A decisão do tribunal israelense pôs fiz a uma briga que já dura quatro décadas.

Tudo começou em 1968, com a morte de Brod. Em seu testamento, ele pedia que o espólio do amigo fosse doado à Universidade Hebraica de Jerusalém, à Biblioteca Municipal de Tel Aviv ou a outra instituição em Israel ou no exterior. Mas sua secretária Esther Hoffe, que ficou responsável pelo acervo, ignorou o testamento e deixou com as filhas de Brod a decisão sobre o que fazer com aquelas preciosidades, como um presente seu para as garotas. Com isso, centros universitários e arquivos nacionais alemães e israelenses também entraram na briga e levaram esta disputa para a justiça.

Uma página do manuscrito de "O processo"

Vale dizer que estes manuscritos poderiam nem existir, já que antes de morrer, Kafka pediu a Max Brod que queimasse os textos. Felizmente, Brod não acatou a vontade do amigo. Mas estima-se que o próprio Kafka tenha ateado fogo em cerca de 90% do que produziu ao longo da vida.

Resolvido o imbróglio, os fãs e pesquisadores da obra de Kafka finalmente poderão ter acesso a estas preciosidades. O diretor da Biblioteca Nacional, Oren Weinberg, recebeu com satisfação o veredicto, que segundo ele “cumprirá com o desejo de Max Brod de divulgar a obra de Kafka entre os amantes da literatura em Israel e no mundo”.

Max Brod com a secretária Esther Hoffe

Para saber mais sobre a vida e a obra do autor de A metamorfose, O processo e Carta ao pai, leia Kafka da Série Biografias.

Mais exposições em Paris: boêmios, “Os impressionistas e a moda” e Chaim Soutine

Já falei aqui no blog sobre a exposição de Edward Hopper. Mas o outono de Paris oferece outras exposições magníficas. No mesmo imenso Grande Palais que oferece Hopper aos visitantes, mas numa ala totalmente independente, realiza-se mais uma bela mostra, “Bohèmes”, com 750 quadros. Nela, documentos e fotos mostram desde a Renascença até os nossos dias a representação da vida mundada e daquilo que se convencionou chamar de “boemia”. Modernamente, seria a vida nos cafés, boates, restaurantes, cenas que, no passado, estariam reservadas a todas as pessoas e os ambientes que expusessem hábitos e uma vida desregrada. Os quadros expostos são de mestres célebres e vêm desde a Idade Média até os modernos como Picasso, Manet, Monet, Kandinski, Toulouse Lautrec etc. A mostra foi inaugurada em 26 de setembro e ficará aberta até 14 de janeiro de 2013.

Outra exposição importante tem lugar no museu de Quai d’Orsay, cujo acervo permanente inclui obras que vão do fim do classismo até os precursores da arte  moderna com obras de Van Gogh, Degas, Renoir, Gauguin e Toulouse Lautrec entre muitos outros. Trata-se da exposição “Os impressionistas e a moda”. Alguns dos mais importantes artistas que pintaram Paris em Paris estão representados com seus quadros que mostram minuciosamente a moda do seu tempo. Junto aos quadros estão expostos, em fotos ou fisicamente, os trajes masculinos e femininos representados. A exposição abriu no dia 25 de setembro e vai até 20 de janeiro de 2013.

Para completar a “reentrée” artística (que é como os franceses chamam a temporada nobre do ano que é a volta das férias de verão), temos duas exposições espetaculares e imperdíveis no museu l”Orangerie. Este museu que é um anexo do Louvre, antigamente abrigava o acervo impressionista que hoje está no Quai d”Orsay e hoje é destinado a exposições periódicas de arte contemporânea, além de mostrar permanentemente em salas especiais as imensas telas de Monet, as “Nymphéas”. As exposições são: a mostra da grande coleção de Paul Guillaume (1894-1931), um dos maiores marchands parisienses da primeira metade do século e a exposição retrospectiva de Chaim Soutine, (1893-1943) “L’Ordre Du Caos” de 3 de outubro até 20 de janeiro. (Ivan Pinheiro Machado)

 

Novo livro de David Coimbra na coluna de Juremir Machado da Silva

Quarta-feira, 17 de outubro, publicamos aqui neste blog uma crônica de Martha Medeiros em que ela revela suas impressões sobre Uma história do mundo, novo livro de David Coimbra. No mesmo dia, o jornalista e escritor Juremir Machado da Silva comentou sobre a mesma obra em sua coluna diária do Jornal Correio do Povo de Porto Alegre. Vale a pena ler as impressões de Juremir sobre o livro de David:

David Coimbra, o egípcio

Por Juremir Machado da Silva* 

Na época da faculdade de jornalismo, quando morava no IAPI e pegava o T1 depois da aula, quando não ia se esbaldar no bar do Maza até encher o latão de cerveja, o David Coimbra já adorava história. Creio que já naquele tempo ele lia Will Durant, historiador americano que sabia tudo dos bastidores da vida das grandes personalidades históricas. David sempre teve um fraco pela história da antiguidade. Nunca tirou o olho da Cleópatra. Tenho a impressão de que só a rainha vadia podia concorrer com a Rosane Aubin pelo coração do David naqueles trepidantes dias de 1980 a 1984. Era certo que David acabaria por escrever livros unindo as suas paixões: literatura, história, crônica e jornalismo. É o que se vê em “Uma história do mundo – como se formou a primeira cidade, como nasceu o primeiro deus único, como foi inventada a culpa”(L&PM).

David, o egípcio, é o nosso Will Durant. Como uma vantagem: escreve muito melhor.

A ambição é a mesma. A história do mundo do David terá muitos volumes (a de Will Durant tem 23). Li os originais do primeiro tomo dessa enciclopédia em tom jocoso do David. É sensacional. Agora, relendo o texto publicado, renovei o meu encantamento. Como não se maravilhar com capítulos que começam assim? “Foi no Egito que Napoleão descobriu que era um marido traído?” Napoleão, o corno. Sobre a evolução tecnológica: “Olhe para você. Veja no que você se transformou. Você passa a noite ressonando em cima de uma colchão macio como as canelas da Scarlett Johansson e debaixo de cobertores quentes como o olhar da Megan Fox”. Nessa balada de cronista, David dribla a chatice da história positivista e o cientificismo da história estruturalista e conta a vida dos nossos antepassados ilustres ou não. Tudo tem uma explicação: “O governo centralizado e forte era tão importante no Egito que o faraó foi promovido de rei a deus. Essas coisas não acontecem por acaso.   As instituições só funcionam quando as pessoas precisam”. 

Pode-se aprender na sacanagem. David sempre encontra um jeitinho para empurrar a coisa (opa!) suavemente: “Dilma Rousseff, Margaret Thatcher, Evita Perón e todas as mulheres que um dia assumiram o poder máximo em seus países jamais conseguiram se igualar às façanhas da Primeira Grande Mulher da História. Maatkare Hatshepsut fez mais do que suplantar o poder dos homens quinze séculos antes de Cristo e 3,5 mil anos antes de Angela Merkel. Hatshepsut suplantou o próprio sexo”. Como? Aí é que a porca torce o rabo (certamente David explicará a origem dessa expressão nalgum dos seus volumes).

É ler.

David Coimbra trabalhou muito, durante quatro anos, leu incansavelmente, de Heródoto a Freud. De Heródoto, aliás, pescou relatos impagáveis: “No Egito, as mulheres vão ao mercado e negociam, enquanto os homens, encerrados em casa, trabalham no tear (…) As mulheres urinam em pé; os homens, de cócoras”. Se fosse resumir o livro de David a partir do clássico título de Paul Veyne, eu diria apenas: “Como se (re)escreve a história”.

Com talento!

Aquelas viagens no T1 só poderiam levar a algum lugar.

*Pela L&PM Editores, Juremir Machado da Silva publica História regional da infâmia e lançará, na Feira do Livro de Porto Alegre, o livro A orquídea e o serial killer. O texto acima foi publicado originalmente em sua coluna na pg. 2 do Jornal Correio do Povo de 17 de outubro de 2012.

Em seu livro, David Coimbra conta até a história de como surgiram as sílabas

Morte de Max foi inspirada em livro de Agatha Christie

Que a trama de Avenida Brasil está cheia de elementos literários, todo mundo já percebeu. Mas além das obras clássicas que Tufão (Murilo Benício) leu ao longo da trama, livros policiais também serviram de inspiração para o autor.

João Emanuel Carneiro revelou ao blog da Patrícia Kogut que se inspirou no livro Assassinato no Expresso do Oriente“, de Agatha Christie, para escrever a morte de Max (Marcello Novaes). Na obra, várias pessoas esfaqueiam a vítima, mas apenas uma dá o golpe mortal.

Segundo o autor, a resolução do crime de Avenida Brasil será bem semelhante:

– Todos os suspeitos terão um motivo para cometer o crime. Mas só um terá dado o golpe fatal.

Via blog Noveleiros, publicado no site do jornal Diário Gaúcho.