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O dia em que Jack Kerouac saiu da estrada

Jack Kerouac bebeu até morrer. Em 21 de outubro de 1969, o autor de On the road se foi, solitário e decadente, aos 47 anos e com apenas 91 dólares em sua conta bancária. Morava com a mãe, Gabrielle, e já não se parecia nem um pouco com o Jack dos velhos tempos de estrada.

“No verão de 1969, o dinheiro faltou. (Em setembro, ele fará um testamento definitivo, todos os seus bens revertem a Gabrielle [sua mãe] e, na morte dela, o beneficiário é seu sobrinho Paul Blake. Stella [sua esposa, na época] não é mencionada, nem Jan [sua filha com Joan Haverty]. Durante os anos seguintes, a luta pela sucessão será acerbada, pois o Fundo Kerouac ultrapassará dez milhões de dólares!) Ele exuma um velho manuscrito de 1951, Pic, relato da viagem de um jovem negro do Sul, Pictorial Review Jackson, a caminho do Norte, ajudado pelo irmão em sua intenção de chegar a Nova York. Escrito imitando o fraseado negro do Sul, é um breve e belo texto, metáfora de Jack e de Neal que Kerouac faz aparecerem numa cena final e que – não se sabe exatamente por que ele obedeceu – Gabrielle lhe pede para retirar. (…) No dia 18 de outubro, Cliff Robertson, o último dos próximos a visitá-lo, ficou emocionado com a intensidade do longo adeus e do olhar, muito delicado e parecendo estar sempre à beira das lágrimas mesmo quando Jack ria, capaz de tocar os corações sensíveis. No dia 19 de manhã, ele teve um encontro com o pai a respeito de um texto do qual espera fazer um livro, The Spotlight Print, um título vindo da infância, do nome da gráfica de Leo. E depois, de repente: a morte, sob forma de uma hemorragia digestiva cataclísmica não derrotada por 26 transfusões. Ele desapareceria aos 47 anos.” (Trecho de Kerouac, de Yves Buin, Série Biografias L&PM).

Clique sobre a imagem e assista a um vídeo da L&PM WebTV em que a italiana Fernanda Pivano entrevista – ou tenta entrevistar – Jack Kerouac.

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Os 80 anos de Mauricio de Sousa

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Ele nasceu no dia 27 de outubro de 1935 na cidade de Santa Isabel, interior de São Paulo, mas foi criado em Mogi das Cruzes. Filho dos poetas Antônio Mauricio de Sousa e Petronilha Araújo de Sousa, o pequeno Mauricio cresceu em meio a livros, revistas e saraus de poesia. E ainda menino começou a fazer revistinhas artesanais que vendia para os colegas de escola.

Aos 19 anos, quando apresentou suas primeiras ilustrações na Folha da Manhã, foi aconselhado a aperfeiçoar o traço. Seus primeiros personagens foram Bidu e seu dono Franjinha, publicados pela primeira vez em tirinhas no ano de 1959. Sua personagem mais famosa, no entanto, nasceria em 1963, fruto das observações da filha Mônica.

Primeiro cartunista a ocupar uma cadeira na Academia de Letras de São Paulo, Mauricio do Sousa que em poucos dias completará 80 anos, segue firme e forte à frente de sua empresa e conferindo de perto os roteiros das histórias da turma que criou.

Mauricio vem sendo homenageado em diversos eventos desde o início do ano e o melhor é que todos os fãs podem participar da festa! No site www.turmadamonica.com.br/mauricio80 é possível enviar um parabéns e compartilhá-lo nas redes sociais. Vale foto,  vídeo, texto ou desenho. Na página oficial da turma, há também a possibilidade de participar do Desafio Mauricio 80, uma maneira divertida de homenagear o desenhista: a pessoa sorteia um dos 250 personagens, desenha em 8 minutos, ou menos, e compartilha na página.

Outras atrações deste ano de festa incluem o espetáculo Turma da Mônica O Show, em turnê por todo o país, a volta do novo Parque da Mônica, que oferece 20 atrações tematizadas para todos os fãs da Turminha, e a Loja da Mônica, dentro do Parque, reunindo os produtos licenciados com os personagens.

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Parabéns Mauricio! Por seus 80 anos e por tudo o que você criou.

 

Nova foto do bandido Billy the Kid, comprada por menos de US$ 2, vale US$ 5 milhões

Randy Guijarro pagou US$ 2 por três fotos antigas. O que ele não sabia era que estava adquirindo uma verdadeira mina de ouro do Velho Oeste. Isso porque uma das imagens era um ferrótipo (processo fotográfico que cria imagem positiva sem chapa negativa) em que supostamente aparece Billy the Kid. Com a descoberta, o retrato está avaliado em US$ 5 milhões (cerca de R$ 19 milhões).

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A imagem 4×5 mostra Henry McCarty (Kid), também conhecido como William Bonney, jogando croquet com seus cúmplices. A foto foi comprada em um sebo em Fresno, na Califórnia, em 2010, mas Guijarro só percebeu que ali havia algo historicamente importante quando olhou mais de perto. Veja o detalhe (Billy é o da esquerda):

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A descoberta foi autenticada pela Kagin, uma firma de São Francisco especializada em moedas de ouro norte-americanas e em memorabilia do velho oeste.

Até hoje, a única foto conhecida do fora da lei era um icônico ferrótipo de 2×3, em que ele posava em um “saloon” do Novo México, agarrado ao cano de um rifle de carabina Winchester e com uma pistola Colt pendurada na cintura. Essa imagem, aliás, estampa a capa de “Billy the Kid”, biografia escrita por Pat Garrett, o homem que o matou. O livro é publicado na Coleção L&PM Pocket.

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O nascimento de Oscar Wilde

A criança que nasceu no dia 16 de outubro de 1854 em Dublin, na Westland Row, número 21, e que o mundo logo iria conhecer como o glorioso Oscar Wilde – tanto por seu gênio literário quanto por suas aventuras mundanas – tinha inicialmente um nome com consonâncias ainda mais prestigiosas: Oscar Fingal O’Flahertie Wills Wilde. Pois foi assim que seus pais, William Robert Wilde e Jane Francesca Elgee – ambos pertencentes à antiga burguesia irlandesa protestante e fervorosos nacionalistas -, chamaram seu segundo filho, batizado com esse patrônimo pelo reverendo Ralph Wilde, seu tio paterno, em 26 de abril de 1855. De fato, tal nome de batismo traduz toda uma doutrina, enraizada num poderoso contexto histórico. Oscar, na mitologia céltica, é o filho de Ossian, rei de Morven, na Escócia; enquanto Fingal, irmão de Ossian, é um herói do folclore irlândes. (Trecho inicial de Oscar Wilde, Série Biografias L&PM)

De todos os dândis que encantaram a sofisticada sociedade londrina do final do século XIX, o mais brilhante e luminoso foi sem dúvida Oscar Wilde. Célebre, respeitado, Wilde viveu o ano de 1895 como o grande autor de O retrato de Dorian Gray (1891) e de três peças que faziam sucesso no momento: O leque de Lady Windermere, Um marido ideal e A importância de ser prudente. Neste mesmo ano, acusado de crimes de natureza sexual, foi processado pela família de Lord Alfred Douglas, um jovem aristocrata por quem se apaixonou e com quem compartilhou um excêntrico estilo de vida. Condenado, sua vida mudou radicalmente e o talentoso escritor viu-se encarcerado por dois anos com trabalhos forçados que consumiram sua saúde e fulminaram sua reputação. Na prisão, produziu, entre outros escritos, De profundis, o clássico anarquista, A alma do homem sob o socialismo e a célebre Balada do cárcere de Reading. Cumprida a pena, decidiu exilar-se em Paris em 1898 onde morreu em 30 de novembro de 1900.

Algumas pessoas mudam a sua vida para sempre

A frase título deste post está estampada no novo cartaz do filme Carol que foi divulgado há algumas horas, durante o London Film Festival 2015. Baseado no livro de Patricia Highsmith, que é publicado no Brasil pela L&PM, ele está sendo exibido no festival de Londres exatamente enquanto escrevemos esta notícia (Começou às 19:15 por lá).

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Dirigido por Todd Haynes, o filme tem Cate Blanchett e Rooney Mara nos papéis principais. Por sua atuação como Therese, Rooney foi premiada no Festival de Cannes deste ano como melhor atriz. O filme promete ser um dos destaques do próximo Oscar e está previsto para estrear no Brasil em dezembro. Pela foto abaixo, a direção de arte também merece uma estatueta:

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A história da menina que devorava livros

13 de outubro é o Dia Mundial do Escritor. Mas a gente sabe que um escritor só existe graças aos seus leitores. E vice versa. Aproveitando a deixa, você já conhece a história da menina Kaciane Marques Nascimento que tem apenas 10 anos e já leu mais de 500 livros? Kaciane montou uma biblioteca nos fundos da sua casa, na periferia de São José do Rio Preto, para compartilhar sua paixão com mais crianças e assim incentivar a leitura. Conhecida na sua escola como “a menina que devorava livros”, Kaciane é um exemplo para todos. Sua história já ganhou destaque em muitos programas de TV como Jornal Nacional, Hora do Faroe, recentemente, a menina foi entrevistada por Marília Gabriela.

Adivinha o que Kaciane quer ser quando crescer? Escritora!

Kaciane e Rodrigo Faro no programa "Hora do Faro". O programa ajudou a decorar a biblioteca da menina. Sensibilizado com a história, Pedro Acquaroni Neto, dono de uma escola particular da cidade, construiu uma biblioteca no fundo da casa de Kaciane e lhe deu uma bolsa de estudos.

Kaciane e Rodrigo Faro no programa “Hora do Faro”. O programa ajudou a decorar a biblioteca da menina. Sensibilizado com a história, Pedro Acquaroni Neto, dono de uma escola particular da cidade, construiu uma biblioteca no fundo da casa de Kaciane e lhe deu uma bolsa de estudos.

O “Uivo” que anunciou o nascimento da Geração Beat

7 de outubro de 1955 no número 3119 da Fillmore Street em San Francisco, Califórnia. Em um galpão de oficina mecânica transformado em galeria de arte e batizado de Six Gallery, um grupo se reuniu para um evento de poesia.

A sessão começou com Philip Lamantia apresentando poemas de John Hoffman, prosseguiu com Michael McClure e seu poema de protesto contra o morticídio das baleias e, animada pelo vinho distribuído por Kerouac e seus gritos, atingiu o clímax com a leitura, por um Ginsberg já embriagado, da primeira parte de Uivo, transmitindo imediatamente aos presentes a sensação de estarem diante de uma manifestação notável. Nas palavras de [Kenneth] Rexroth, …quando Allen leu Howl, foi como se o céu caísse sobre nossas cabeças. Um efeito inimaginável. Pois, seguramente, ele dizia tudo o que aquele público desejaria ouvir, e dizia isso na linguagem deles, rompendo radicalmente com o estilo estabelecido. (Cláudio Willer, tradutor de Uivo na introdução do livro)

Foi o início de uma nova geração. A Geração Beat.

Ginsberg le uivo

I

Eu vi os expoentes da minha geração destruídos pela loucura,morrendo de fome, histéricos, nus, arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada em busca de uma dose violenta de qualquer coisa, hipsters com cabeça de anjo ansiando pelo antigo contato celestial com o dínamo estrelado na maquinaria da noite, que pobres, esfarrapados e olheiras fundas, viajaram fumando sentados na sobrenatural escuridão dos miseráveis apartamentos sem água quente, flutuando sobre os tetos das cidades contemplando jazz,desnudaram seus cérebros ao céu sob o Elevado e viram anjos maometanos cambaleando iluminados nos telhados das casas de cômodos (…)

A L&PM publica Uivo, Kaddish e outros poemas em dois formatos, com tradução, seleção e notas de Cláudio Willer.

No dia que marca os 60 anos da leitura de Uivo, Willer estará na Feira do Livro de São Luís, no Maranhão, participando de dois eventos:

– 18h, performance poética no Beco Catarina Mina.

– 20h, palestra “Beat Generation: a influência para além do mito”, mediada por Josoaldo Rego. Local: Café Literário, Centro de Criatividade Odylo Costa, filho.

A segunda morte de Breno Caldas

No dia primeiro de outubro, o Correio do Povo completou 120 anos de atividades ininterruptas. Durante 50 anos, ele foi considerado um dos maiores e mais influentes jornais brasileiros, período em que foi dirigido pessoalmente pelo seu dono Breno Alcaraz Caldas, filho do fundador Caldas Jr. Acossado por sérios problemas financeiros, Breno Caldas viu-se obrigado a vender o jornal em meados dos anos 1980. A L&PM publicou, em 1987, um grande depoimento de Breno Caldas dado ao jornalista e escritor José Antonio Pinheiro Machado sobre a história, a glória e a queda do grande jornal. Aqui reproduzimos o texto escrito por José Antônio, publicado na edição eletrônica do Jornal “JÁ” do dia 3 de outubro de 2015. Neste texto o jornalista destaca o fato de que, na edição especial comemorativa aos 120 anos do Correio do Povo, sequer foi mencionado o nome de Breno Caldas.

Nos 120 anos do Correio do Povo,
a segunda morte de Breno Caldas

Por José Antonio Pinheiro Machado

Com a mesma discrição que viveu, o jornalista Breno Caldas teve no dia 1º de outubro passado sua segunda morte.

O fato ocorreu nos festejos dos 120 anos do Correio do Povo e na edição comemorativa a essa data notável. Breno Caldas foi o jornalista mais importante da história do Correio do Povo.

Filho do fundador, Caldas Júnior, Breno Caldas comandou o jornal durante 50 anos ― os 50 anos em que o Correio do Povo se tornou um dos jornais mais importantes do País.

Apesar disso, seu nome não mereceu destaque na edição comemorativa do jornal. Na verdade, o Correio do Povo de hoje, que comemora os 120 anos que não viveu, é bem diferente do Correio do Povo que construiu a lenda: o Correio do Povo de Breno Caldas.

A primeira morte do jornalista Breno Caldas, sua morte física, ocorreu em 1989, aos 79 anos, depois de uma agonia quase tão dolorosa quanto a do jornal que dirigiu durante meio século, o Correio do Povo.

Fui seu amigo durante seus últimos anos, quando já estava longe de ser um dos 10 homens mais ricos do Brasil, co­mo foi considerado pela revista Veja nos anos 1970.

Aproximei-me de Breno Caldas movido pela perplexidade que, desde 1984, atingia a maioria dos gaúchos: co­mo e por que o Correio, a publicação ma­is importante do Rio Grande ― e uma das mais importantes do Brasil ―, quebrou?

Era a história incrível de um jornal que tinha deixado de circular apesar de ter invejável espaço publicitário e 90 mil assinaturas pagas.

Já tinha ouvido as opiniões e análises mais diversas, mas eu queria saber a versão do personagem principal: o que pensava a respeito aque­le homem enigmático que tinha sido uma espécie de Vice-Rei do Rio Grande, e que, depois da derrocada, se recolhera a um silêncio impenetrável na sua bela propriedade da Ponta do Arado?

Nossos primeiros contatos foram mui­to difíceis, pois o “Dr. Breno” não admitia a idéia da publicação de um depoimento seu sobre o fim do Correio do Povo:

“Ninguém está interessado nas desculpas de um falido”, dizia, com sua inesgotável capacidade de rir de si mesmo.

Se não fosse nossa paixão em comum por alguns esplêndidos cavalos, espe­cialmente os egressos dos campos de criação do inesquecível Marcel Boussac, as conversas não teriam ido adiante: talvez tivessem ficado naquele final de uma tarde luminosa de inverno em que tomamos chá inglês Earl Grey com bis­coitos caseiros, quando visitei-o pela primeira vez.

Mas, por causa dos cavalos, voltamos a conversar, e o assunto voltou para o jornal. Por fim, o constrangimento do empresário mal sucedido sucumbiu diante da sensibilidade do velho redator-chefe, e Breno Caldas concordou em me conceder um longo depoimento que resultou no livro “Meio Século de Correio do Povo —Glória e Agonia de um Grande Jornal”― o livro mais vendido da Feira do Livro de Porto Alegre de 1987, que obrigou a Editora L&PM a imprimir uma segunda edição durante a Feira.

Como ficou claro no livro, Breno Caldas tinha a dizer, é claro, muito mais do que desculpas sobre a falência; e muito mais gente do que ele imaginava estava interessada na sua versão.

Quase todos perceberam esse lado épico de uma tragédia shakesperiana: ele perdeu sua fortuna tentando salvar sua paixão, o jornal.

O livro não tem o depoimento de um ressentido, mas sim o balanço de alguém que chegou ao fim da vida com seu dever cumprido. Nas saborosas reminiscências de um velho jornalista, Breno Cal­das retratou de forma impiedosa, os equívocos – especial­mente os dele – que levaram sua empre­sa a mergulhar em dívidas impagáveis quando decidiu renovar o parque gráfico e implantar uma emissora de TV. Tam­bém fez um libelo corajoso com acusações (que não tiveram contestação) a políticos e governantes da época que deram a voz de comando: “Vamos que­brar o Breno!” Atribuía isso a um ajuste de contas de poderosos, descontentes com sua “excessiva independência”.

Era um homem conservador, mas, como lhe confidenciara um general, “não inteira­mente confiável”. Sua falência foi um filme repetido nos tempos do “milagre brasileiro” com tantos outros empre­sários: depois de ter sido induzido a cap­tar financiamentos em dólar através da famigerada “Resolução 63”, Breno Caldas enfrentou duas maxi-desvalorizações da moeda que multi­plicaram sua dívida.

Em vez de deixar a pessoa jurídica, isto é, o jornal, afundar, salvando sua fortuna pessoal, resistiu em desespero e consumiu 90% do seu imen­so patrimônio particular tentando salvar o Correio do Povo. Por certo que não agiu com a prudência que se quer de um empresário, mas foi um jornalista exemplar: num dos lances finais da agonia do jornal, quando não tinha mais crédito para obter papel, trocou a metade dos 800 hectares que possuía na espetacular Fazenda do Arado, no sul de Porto Alegre, pelas bobinas ne­cessárias para imprimir o Correio mais algumas semanas.

No que restou do Arado, uma belíssi­ma propriedade no extremo sul do município de Porto Alegre, onde o rio Guaíba faz a sua última volta, Bruno Caldas passou os últimos anos sem qual­quer arrependimento pelos prejuízos incalculáveis que teve: “Tudo o que eu possuía, veio do Correio; era justo que voltasse para o jornal.”

Durante as gravações do depoimentos que me concedeu sempre se recusou a mencionar as cifras exatas de suas per­das. Mas, depois do livro impresso, num fim de tarde, quando bebíamos Dimple na sacada do seu gabinete, no Arado, diante do pôr-de-sol no Guaíba, confes­sou:

“Uma vez, naqueles dias, numa única tarde perdi 35 milhões de dólares”.

Mas em seguida mudou de assunto, passando a recordar Estensoro, El Centauro, El Supremo, Estupenda, e outros cavalos magníficos que, nos bons tempos, criou nos campos do Haras do Arado. Também o Haras se foi, na voragem das dívidas.

A todos esses golpes resistiu sem amargura, recolhendo-se às tardes silen­ciosas de sua bela biblioteca com cente­nas de volumes encadernados em couro, onde se deliciava lendo Dickens, Proust, Goethe e Chateaubriand ― sempre no original: ele falava, lia e escrevia com fluência em inglês, francês e alemão.

Só não teve forças para enfrentar um último golpe, poucos anos antes de sua própria morte: a morte do filho, Francisco Antônio, de pouco mais de 50 anos, que por mais de três décadas o acompanhou, também trabalhando no Correio, na gerência comercial. A luta silenciosa do filho durante mais de um ano contra o câncer, sem uma queixa sequer, deixou Breno Caldas espantado:

“O meu filho tinha fibras que eu desconhecia”, me disse.

Não se recu­perou desse golpe, porém. E poucos meses depois, com problemas renais e respiratórios, mergulhou numa agonia dolorosa e irreversível. Enfrentou-a com a serenidade que suportou o naufrágio do seu jornal, revelando as mesmas fibras insuspeitadas do seu filho diante da morte.

O livro que contou a história de Breno Caldas e seu jornal

O livro que contou a história de Breno Caldas e seu jornal

Com a palavra, o Dr. J.J. Camargo

Do_que_voce_precisa_para_ser_felizNas crônicas que escreve, o Dr. J.J. Camargo – referência internacional em cirurgia torácica e autor do primeiro transplante de pulmão da América Latina – escuta seus pacientes e transpõe para o papel os ensinamentos que todos eles lhe entregaram ao longo de muitos anos de medicina. Seu novo livro, Do que você precisa para ser feliz, recém lançado pela L&PM, apresenta histórias de vida, de superação, de perdão, de negação, de cura, de esperança. Relatos emocionantes que mostram que, nos momentos de dor, descobre-se que é preciso muito pouco para ser feliz.

 

No domingo, 4 de outubro, o Caderno Donna, do Jornal Zero Hora, publicou uma grande matéria com o Dr. J.J. Camargo. Nela, o leitor descobre que, além de médico e cronista, ele é alguém muito especial.

Basta clicar sobre as imagens para ler:

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O Dr. J. J. Camargo vai autografar seu novo livro em três momentos:

13 de outubro às 19h – Palestra, seguida de autógrafos no Auditório da Santa Casa

27 de outubro às 19h – Autógrafos na Livraria Saraiva do Moinhos Shopping

8 de novembro às 17h – Feira do Livro de Porto Alegre