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Mais um Nietzsche na Coleção L&PM POCKET

Com  a chegada de A filosofia na era trágica dos gregos já são cinco os livros de Nietzsche na Coleção L&PM POCKET. Os outros títulos são Além do bem e do mal, O anticristo, Crepúsculo dos ídolos e Ecce homo, todos eles traduzidos direto do alemão. Nietzsche é também tema de um dos volumes da Série Encyclopaedia.  

Em A filosofia na era trágica dos gregos, escrito por volta de 1874, Nietzsche indaga-se sobre “Por que os relatos acadêmicos se tornaram tão enfadonhos” ou “Pode existir algo num sistema da História, que não se deixe apagar com o passar das eras?” e ainda “Existe algo que seja verdadeiramente irrefutável em um sistema filosófico?”

A tradução e a apresentação de A filosofia na era trágica dos gregos são do bacharel em filosofia pela Unicamp Gabriel Valladão Silva. Profundo conhecedor da obra de Nietzsche, Gabriel concedeu uma entrevista à L&PM sobre este que ele considera “um livro sobre originalidade, sobre a essência do espírito filosófico e que, embora trate de um tema muito específico e difícil, é de alcance universal”. Clique aqui para ler a entrevista.

Fernando Pessoa e a Revista Orpheu

O famoso retrato de Fernando Pessoa sentado à mesa, escrevendo e tomando café, com um exemplar da revista Orpheu em exibição foi feito em 1954 pelo artista português Almada Negreiros.

Fernando Pessoa

Artista multidisciplinar, Negreiros foi pintor, escritor, poeta, ensaísta, dramaturgo e romancista. Ele e Fernando Pessoa se conheceram por volta de 1915, quando ambos faziam parte da equipe de colaboradores da Revista Orpheu, que lançou seu primeiro número em janeiro daquele ano e ficou conhecida por ter inaugurado o movimento modernista na literatura portuguesa. Como toda atividade de vanguarda, foi ferozmente atacado pela crítica da época, que contestava e ridicularizava seus participantes, entre eles o próprio Fernando Pessoa, o jovem poeta António Ferro e os veteranos Mário de Sá-Carneiro, Luiz de Montalvôr e Ronald de Carvalho (responsável pela distribuição da revista no Brasil).

Capa da primeira edição da revista Orpheu, de 1915.

No entanto, ao invés de intimidá-los, o escândalo provocado pela primeira edição só alimentou a sede de provocação de seus autores, que no número seguinte revelaram nomes como Santa-Rita Pintor, artista plástico “futurista” e polêmico, e Ângelo de Lima, poeta marginal com histórico de internações em manicômios.

Apesar de todo o empenho, a Revista Orpheu durou apenas dois volumes. Em julho de 1915, António Ferro anunciou seu afastamento devido a divergências políticas com Fernando Pessoa e, no ano seguinte, Mário de Sá-Carneiro e Santa-Rita Pintor morreram, deixando Fernando Pessoa sozinho na produção do terceiro volume, que, infelizmente, nunca saiu. Apenas doze anos depois, a Orpheu foi resgatada nas páginas da Revista Presença, publicada em Coimbra de 1927 a 1940 pela chamada “segunda geração modernista”.

Mas, convenhamos, hoje não há mais motivos para lamentar, pois boa parte do legado poético de Fernando Pessoa e seus heterônimos está na Coleção L&PM Pocket.

O (verdadeiro) grande romance americano

Por Ivan Pinheiro Machado

Um dos livros que me fascinaram na juventude foi “As aventuras de Huckleberry Finn” de Mark Twain. Tinha em torno dos 15 anos e lembro de tê-lo lido em estado de verdadeira exaltação, vagarosamente, curtindo cada página. Havia a figura maravilhosa do escravo fugido Jim e de Huckleberry, conhecido simplesmente como Huck. Que personagem! Ele foi parceiro de Tom Sawyer em o célebre “As aventuras de Tom Sawyer”. Mas era tão bom personagem, que Mark Twain dedicou seu melhor livro só para ele. Desde criança eu sempre achei Huck muito melhor que o personagem Tom e tenho certeza que Tom também achava… mas isto é outra história. A verdade é que a L&PM está lançando uma primorosa edição traduzida por Rosaura Eichenberg.

Este livro tem resistido a todos os preconceitos. Na época de seu lançamento, em 1885, foi considerado imoral, pois Huck é um sobrevivente e faz de tudo para seguir vivendo. Modernamente foi fustigado pela legião dos malas do politicamente correto. Mas Huck resiste ao tempo, aos chatos e aos equivocados.

Sobre este livro, um dos maiores escritores de todos os tempos (que não resistiria à inquisição dos “politicamentecorretóides”), o prêmio Nobel Ernest Hemingway, escreveu:

Toda a literatura americana moderna se origina de um livro escrito por Mark Twain, chamado Huckleberry Finn (…). Não havia nada antes. Não houve nada tão bom desde então.”

Parece Huckleberry Finn, mas é Ernest Hemingway quando criança, pescando no Lago Michigan

Rudyard Kipling, o verdadeiro pai de Mogli

Eram sete horas de uma noite muito quente nas montanhas Seeonee quando Pai Lobo acordou de sua sesta, passou as unhas pelo corpo, bocejou e esticou as patas, uma depois da outra, para tirar a sensação de sonolência. Mãe Lobo estava deitada com seu enorme focinho cinza bem perto dos seus quatro agitados e barulhentos filhotes e a lua, brilhando, entrava na caverna onde viviam. (…) Os arbustos se mexeram na mata e Pai Lobo levantou as patas, preparando-se para saltar. E se você estivesse lá teria visto uma coisa incrível: o lobo interrompendo o salto no meio do caminho. Ele fez um movimento antes de ver sobre o que estava saltando e quando viu tentou interromper o salto. O resultado foi que ele se lançou no ar a um metro e meio do chão e voltou quase exatamente ao mesmo lugar de onde havia saltado. – Um homem – disse Pai Lobo espantado. – Um filhote de homem, olhe!

Assim começa “Os irmãos Mogli”, a primeira história de O Livro da Selva, escrito em 1895 por Rudyard Kipling. Mogli é ele mesmo, o menino lobo que, nos anos 60, virou personagem de um dos desenhos animados mais famosos da Disney, o 19º clássico animado feito pelo estúdio e o último supervisionado por Walt Disney, que faleceria dez meses antes da estreia do filme em setembro de 1967.

Walt Disney manteve o nome original da obra de Kipling na sua adaptação: “The Jungle Book”, enquanto no Brasil ele ganhou o nome de “Mogli, o menino lobo”. O filme quebrou todos os recordes de bilheteria da época e um dos motivos do sucesso foram as canções super produzidas. E há uma curiosidade em relação a uma das músicas: a ideia do pessoal do estúdio era que a canção “That´s What Friends are For”, cantada pelos abutres, fosse num estilo “Beatles”, mas Walt Disney achou que logo a moda dos garotos de Liverpool iria passar e a canção ficaria demodê. Mal sabia ele…

Mas a nossa canção preferida do filme não é esta, e sim a do urso Baloo, personagem que, como todos os outros, é uma criação original de Rudyard Kipling.

 O Livro da Selva acaba de ser reeditado pela Coleção L&PM POCKET e tem tradução da saudosa Vera Karam, escritora, dramaturga e tradutora falecida em 2003.

Amares

Nos amávamos rodando pelo espaço e éramos uma bolinha de carne saborosa e suculenta, uma única bolinha quente que resplandescia e jorrava aromas e vapores enquanto dava voltas e voltas pelo sonho de Helena e pelo espaço infinito e rodando caía, suavemente caía, até parar no fundo de uma grande salada. E lá ficava, aquela bolinha que éramos ela e eu; e lá no fundo da salada víamos o céu. Surgíamos a duras penas através da folhagem cerrada das alfaces, dos ramos do aipo e do bosque de salsa, e conseguíamos ver algumas estrelas que andavam navegando no mais distante da noite.

Eduardo Galeano em O livro dos abraços

Sugestão: no Dia dos Namorados, ler em voz alta para quem você ama ao som de “Milonga de Amor” do grupo Bajo Fondo Tango Club:

A verdadeira “história de fantasma” de Charles Dickens

Quando Charles Dickens morreu,  em 9 de junho de 1870, tinha 58 anos e um livro inacabado: The Mystery of Edwin Drood (O mistério de Edwin Drood). Como um livro de Dickens seria sucesso de vendas na certa, não tardaram a aparecer candidatos a terminar a obra deixada por ele. A primeira tentativa veio naquele mesmo ano de 1870, feita pelo americano Robert Henry Newell, que publicou sob o pseudônico de Orfeu C. Kerr. O segundo final foi escrito por Henry Morford, um jornalista de Nova York. A terceira versão, no entanto, não apenas foi a mais inusitada, como considerada por alguns como sendo uma obra póstuma do próprio Dickens. Entre o Natal de 1872 e julho de 1873, um mecânico americano de nome Thomas James, de parca formação cultural, escreveu mais uma conclusão da novela inacabada. Segundo ele, durante este período, o espírito de Charles Dickens teria sido o autor do texto. Além de ser muito mais longa do que as outras versões, o texto de James foi considerado por alguns (inclusive por Sir Arthur Conan Doyle) como aquele que apresentava surpreendente continuidade “na maneira de pensar, no estilo e nas peculiaridades ortográficas de Dickens”. Para os espiritualistas mais afoitos este final do livro foi visto, inclusive, como “a mais convincente prova da sobrevivência do espírito”. Ou seja: um mistério ainda maior do que o do próprio Edwin Drood…

A primeira versão de “O mistério de Edwin Drood” foi publicada poucos meses depois da morte de Dickens

De Charles Dickens, a L&PM publica Histórias de Fantasmas e Um conto de Natal.

Sobre “Millôr Definitivo”

Mais de 600 páginas de Millôr em estado puro

Este livro espetacular é o resultado de uma verdadeira operação “pente-fino” na obra de Millôr Fernandes. Muitas foram as pessoas que colaboraram no “rastreamento” das frases deste grande intelectual brasileiro, dentro e fora da L&PM. Mas foi aqui na editora que executamos a monumental tarefa de selecionar, reunir, “xerocar” e assinalar quase 10.000 frases. Esta equipe foi capitaneada por Jó Saldanha, Fernanda Veríssimo e por mim. Consultamos as coleções de “O Cruzeiro”, “Veja”, “Isto É”, “O Pasquim”, “Pif-Paf”, “Jornal do Brasil” e todos os livros publicados por Millôr como “30 anos de mim mesmo”, “A história é uma história”, “A verdadeira história do Paraíso”, “O livro vermelho dos pensamentos de Millôr”, “Fábulas fabulosas”, “Hai-kais”, “Poemas” entre muitos outros, além das 21 peças de teatro originais, criadas por ele (para quem não sabe, Millôr também traduziu mais de 100 peças de teatro, entre elas “Hamlet”, “Rei Lear” e “A megera domada” de Shakespeare, “Pigmaleão” de Bernard Shaw e “Gata em telhado de zinco quente” de Tennessee Williams. O material original, com as páginas de livros, jornais e cópias de revistas formariam uma pilha de mais ou menos três metros de altura, caso fossem empilhadas, é óbvio… Millôr analisou as 10 mil frases e cortou mais de 4 mil. Foram aprovadas 5.142 frases. O trabalho começou em 1988 e o livro saiu finalmente em 1994 com um mega lançamento na churrascaria Marius em Ipanema, Rio de Janeiro. Um mês depois, faríamos outro grande lançamento na pizzaria “Birra e Pasta” em Porto Alegre, numa grande festa comemorando os 20 anos da L&PM Editores. De lá para cá, este livro já vendeu bem mais de 50 mil exemplares.

São mais de 600 páginas de Millôr Fernandes em estado puro. Há no mercado uma edição de luxo em capa dura, no valor de R$ 74,00 e  a versão em bolso, com texto integral por R$ 29,00. É um fantástico conjunto de preciosidades intelectuais. Uma síntese do pensamento de Millôr Fernandes. Frases que marcaram nossa história recente e traduzem de maneira genial o que se viu, sonhou, sofreu e vibrou nestas últimasd décadas. (Ivan Pinheiro Machado)

 

Algumas verdades sobre a morte de Ofélia

Segundo historiadores da Universidade de Oxford, a morte de uma menina perto de Stratfort-upon-Avon, cidade natal de William Shakespeare, em 1569, teria inspirado a famosa morte de Ofélia, uma das cenas finais da peça Hamlet. Shakespeare tinha apenas 5 anos de idade quando correu pela cidade a notícia de que a pequena Jane Shaxspere morreu afogada após cair num rio enquanto apanhava flores. O fato parece ter impressionado tanto o pequeno William, que cerca de 40 anos depois, ele descreveu assim o fim de sua Ofélia (aqui, com tradução de Millôr Fernandes):

(Entra a Rainha)
REI: Que foi, meiga Gertrudes?

 RAINHA: Uma desgraça marcha no calcanhar da outra,
Tão rápidas se seguem. Tua irmã se afogou, Laertes.

 LAERTES: Afogada! Oh, onde?

 RAINHA: Há um salgueiro que cresce inclinado no riacho
Refletindo suas folhas de prata no espelho das águas
Ela foi até lá com estranhas grinaldas
De botões-de-ouro, urtigas, margaridas
E compridas orquídeas encarnadas
Que nossas castas donzelas chamam dedos de defuntos
E que os pastores, vulgares, dão nome mais grosseiro.
Quando ela tentava subir nos galhos inclinados,
Para aí pendurar as coroas de flores,
Um ramo invejoso se quebrou;
Ela e seus troféus floridos, ambos,
Despencaram juntos no arroio soluçante
Suas roupas inflaram e, como sereia,
A mantiveram boiando um certo tempo;
Enquanto isso ela cantava fragmentos de velhas canções,
Inconsciente da própria desgraça
Como criatura nativa desse meio,
Criada para viver nesse elemento.
Mas não demoraria para que suas roupas,
Pesadas pela água que a encharcava
Arrastassem a infortunada do seu canto suave
À morte lamacenta.

A cena da morte de Ofélia foi imortalizada por diversos artistas, entre eles John Everett Millais, que quase matou sua modelo Lizzie Siddall ao deixá-la tempo demais deitada numa banheira de água fria! Pelo menos o resultado valeu a pena:

A morte de Ofélia, de John Everett Millais

"A morte de Ofélia", de John Everett Millais

As namoradas de Jack Kerouac

Aproveitando que o Dia dos Namorados está chegando, separamos aqui algumas namoradas de Jack Kerouac. Mulheres que o acolheram e o inspiraram a criar algumas de suas personagens.

bea_francoBea Franco – Foi a “Mexican Girl” de Jack Kerouac. A personagem Terry, de On the Road, foi inspirada nela. Os dois se conheceram no outono de 1947 na Califórnia e tiveram um affair. Mas o suficiente para ela ir parar no livro e apaixonar-se por Kerouac. Em uma das cartas que enviou a ele, diz que, se não fosse seu filho, “teria ido com ele mesmo que fosse de carona”. No filme On the Road, de Walter Salles, a Mexican Girl foi interpretada por Alice Braga.

Alene Lee – Afro-americana com ares de cantora de jazz, Alene fazia parte do círculo beat e foi namorada de Kerouac em 1953. Mardou Fox, personagem de Os Subterrâneos, na verdade é ela, assim como Leo Percepeid é o alterego de Kerouac. Outra personagem dele, Irene May, do Livro dos Sonhos, também teria sido inspirada em Alene. Essa ex-namorada de Jack preferiu ser discreta e não contou muito sobre a relação entre os dois.

 

Helen Weaver – Trabalhava em uma editora e conheceu Jack Kerouac em 1956, quando ele e Allen Ginsberg bateram na porta de sua casa. Apaixonou-se por Kerouac à primeira vista. Em 2009, publicou um livro contando suas memórias com Kerouac, que tem o título de “The Awakener (O despertador). “Eu soube que ia escrever este livro desde aquele dia, em novembro de 1956, quando ele entrou na minha sala, meu quarto, e minha vida” escreveu ela no prólogo.

Joyce Glassman (Joyce Johnson) – Começou a namorar Jack Kerouac quando tinha 21 anos e pouco antes do lançamento de On the road. Foi ela que acompanhou o escritor até a banca de jornal, na madrugada de 5 de setembro de 1957, para que comprassem a edição do New York Times e lessem a crítica do livro. Publicou, em 2000, Door Wide Open: A Beat Love Affair In Letters, 1957-1958, com as cartas trocadas entre ela e Kerouac ao longo de um ano.

E estas não foram as únicas mulheres na vida de Jack Kerouac. Edie Parker, a namorada que virou a primeira esposa (apesar de terem ficado casados por apenas dois meses), também escreveu um livro contando sua vida ao lado de Jack. Esperanza Villanueva o encantou e o inspirou a escrever Tristessa. Carolyn Cassady, esposa de Neal Cassady, foi sua amante. E Stella Sampas, uma namorada da adolescência, acabou se casando com ele nos anos 1960.