Arquivo da tag: Platão

Ser vegetariano, eis a questão

1º de outubro é Dia Mundial do Vegetarianismo. Entre os adeptos da salada nossa de cada dia, estão escritores e pensadores como Platão, Leonardo da Vinci, Leon Tolstói, Franz Kafka, Mary Shelley, Charlote Brontë, Isaac Bashevis Singer, Thoreau, H. G. Wells e Mark Twain. Einstein também foi vegetariano a partir de certa idade. E há quem defenda que Shakespeare, em alguns de seus sonetos, deu indícios de que não comia carne.

Tolstói chegou a escrever que “a mudança para o vegetarianismo seria a primeira consequência natural para a iluminação.” 

Tolstói, um dos vegetarianos mais militantes da literatura

Tolstói, um dos vegetarianos mais militantes da literatura

 

Seria o mentiroso um sábio?

Em vários países do mundo, o dia 1º de abril é tido como o Dia da Mentira, a ocasião perfeita para pregar peças em desavisados e distraídos. E fazer isso sem culpa. Neste dia, toda mentira tem perdão. Mas o que parece apenas uma brincadeira lúdica e banal já motivou verdadeiros tratados filosóficos como a conversa transcrita a seguir entre Sócrates e Hípias, publicada no volume sobre Platão da Série L&PM Pocket Plus.

Nela, o filósofo sofista Hípias propõe que o mentiroso só é mentiroso porque é sábio e capaz de dizer mentiras. Como não poderia ser diferente, Sócrates o desafia. Leia um trecho:

Sócrates: – Você está dizendo que os mentirosos são, por exemplo, incapazes de fazer algo (como os doentes) ou capazes de fazer algo?

Hípias: – Capazes – digo eu – e como! Entre muitas outras coisas, de enganar os homens!

Sócrates: – Capazes então – como é de se esperar – eles são, e também multiformes, não é?

Hípias: – Sim.

Sócrates: – E multiformes eles são, e também enganadores, por estupidez e falta de inteligência, ou por malícia e certa inteligência?

Hípias: – Por malícia, com toda certeza, e por inteligência!

Sócrates: – Inteligente eles portanto são, como é de se esperar…

Hípias: – Sim, por Zeus, e muito!

Sócrates: – E inteligentes que são, não sabem o que que fazem, ou sabem?

Hípias: – E como sabem! Por isso mesmo praticam o mal.

Sócrates: – E sabendo isso que sabem, são ignorantes ou sábios?

Hípias: – Sábios, realmente – ao menos nisto: enganar.

Sócrates: – Espere aí! Relembremos o que é que vocês está dizendo: você afirma que os mentirosos são capazes, e inteligentes, e conhecedores, e sábios naquilo em que mentem.

Hípias: – Afirmo, realmente.

(…)

Sócrates: – Muito bem! De acordo com seu discurso, entre os capazes e sábios estão, como é de se esperar, os mentirosos…

Hípias: – Com certeza!

Sócrates: – Mas quando você diz que os mentirosos são capazes e sábios, você está dizendo que são capazes – caso queiram – ou que são incapazes de mentir naquilo em que mentem?

Hípias: – Capazes, digo eu.

Sócrates: – Para dizer então de forma resumida: os mentirosos são os sábios e os capazes de mentir…

Hípias: – Sim.

Sócrates: – Então um varão incapaz de mentir e ignorante não poderia ser mentiroso…

Hípias: – Assim é.

Bem, se nem Sócrates e Hípias chegaram a uma conclusão sobre o assunto, não somos nós que vamos tentar dar uma resposta num simples post. Leia a conversa completa no livro Sobre a inspiração poética & Sobre a mentira, publicado na Série L&PM Pocket Plus.

Ajuda de deuses e filósofos para o dia dos namorados

Para quem está sem inspiração para preparar um belo dia dos namorados, a gente dá uma forcinha. Até o dia 12 (mas não necessariamente todos os dias, porque mordomia tem limites) a gente dá dicas para você surpreender o seu/sua amado.

E começamos do princípio: com os gregos. Uma das mais belas metáforas do amor está em O banquete, de Platão. Quando os filósofos se reúnem em uma janta e o debate sobre Eros é imposto, Aristófanes apresenta a origem dos seres humanos:

Para começar, a humanidade compreendia três sexos, não apenas dois, o masculino e o feminino, como agora. O andrógino era então, quanto à forma e quanto à designação, um gênero comum, composto do macho e da fêmea. (…) Terríveis na força e no vigor, extraordinários na arrogância, desafiaram os deuses. Escalar o céu, tentativa que Homero atribui a Efialtes e Oto, era projeto deles, hostis aos celestes. Zeus e os outros deuses, ao deliberarem sobre as medidas a serem tomadas, esbarraram num impasse. Se os extinguissem e fulminados os fizessem desaparecer como os gigantes, sumiriam as homenagens e os templos erigidos pelos homens. De outra parte, inconcebível seria tolerar a insolência. Ao cabo de cansativa deliberação, sentenciou Zeus: “Julgo ter encontrado um recurso para preservar os homens e, enfraquecendo-os, deter a insolência. Seccionarei agora cada um em dois para torná-los mais fracos e mais prestativos a nós, visto que serão mais numerosos. Andarão eretos, sustentados por duas pernas”.

(…)

Eros, que atrai um ao outro, está implantado nos homens desde então para restaurar a antiga natureza, faz de dois um só e alivia as dores da natureza humana. Cada um de nós é, portanto, a metade complementar de outro (um símbolo). Somos como uma das partes de um linguado cortado ao meio, dois formando um. Cada qual anda à procura de seu próprio complemento.

Claro que lá tem muito mais coisas – para todas as orientações sexuais, inclusive –, então, vai se preparando para chamar seu amor de a metade que Zeus separou.