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O que dar de presente para…

Todo ano é assim: chega perto do Natal e você lembra que faltou algum presente. Ou porque é uma pessoa que entrou agora na família ou porque é um convidado de última hora da ceia natalina.

O NAMORADO DA FILHA – Sua filha ainda está na adolescência e já tem alguém chamando você de “sogrinha”? Para ele, sugerimos algum título da Série Clássicos da Literatura em Quadrinhos como Guerra e Paz, Odisseia ou Os miseráveis. Na verdade, você pode fazer um kit com vários títulos dessa série. Assim manterá o garoto ocupado por mais tempo.

A NAMORADA DO PAI – Ela é bem mais nova do que o seu pai. Na verdade, tem quase a sua idade. E pra piorar no quesito “escolha do presente”, você não tem nenhuma intimidade com ela… Se esse for o caso, a melhor opção é Simon’s Cat, um divertido livro com o gato mais famoso do Youtube. Detalhe: ele não tem nenhuma palavra, só imagens (entendeu a indireta?).

A TIA SOLTEIRA – Não estamos falando de “tia solteirona”, pois isso é coisa do passado, mas daquela tia que já foi casada e que hoje prefere aproveitar a vida viajando com as amigas ou namorando muito. Pra ela, sugerimos Um lugar na janela, de Martha Medeiros, com histórias de viagens para ela se inspirar e seguir conquistando o mundo.

A PRIMA ENCALHADA – Se ela anda desesperada por casar ou pelo menos tem bom humor, vai adorar ganhar Por que você não se casou… ainda, um livro da americana Tracy McMillan que, como anuncia a capa, é “A conversa séria que você precisa para conseguir o relacionamento que merece”. Se der certo, provavelmente ela vai lhe convidar pra ser a madrinha do casório.

O TIO QUE NÃO É TIO – Quase toda família tem um tio agregado. Um amigo de infância do seu pai ou um primo distante que não tem filhos e que há anos aparece no Natal. E apesar disso, você nunca sabe o que dar a ele… Mas esse ano vai ser fácil! Uma história do mundo, de David Coimbra, com certeza vai fazer seu tio emprestado bem feliz.

A NOVA ESPOSA DO IRMÃO – Quando você estava se acostumando com a sua cunhada, seu irmão anuncia que se separou e que já tem outra na parada. Ou seja: você não faz a menor ideia do que dar de presente a essa nova agregada da família. Na verdade, você nem a conhece ainda! Nesse caso, um livro que não tem erro é o ótimo Uma breve história da filosofia. Ainda mais que filosofia está na moda.

O IRMÃO DO GENRO – Sua filha anunciou que vai trazer o cunhado pra festa de Natal. E você nem imagina o que dar de presente a ele. Que tal Os filhos dos dias de Eduardo Galeano? Um livro que parece condensar a história da humanidade em 366 belos textos – um para cada dia do ano. É uma obra que agrada a todos, mesmo os que não são leitores assíduos.

A mãe das jornalistas, por Eduardo Galeano

Os filhos dos dias, mais recente livro de Eduardo Galeano, conta que, na manhã de 14 de novembro de 1889, há exatos 123 anos atrás, uma jovem de 20 anos começou a viagem que faria com que se tornasse a primeira grande repórter que o mundo teve notícia.

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O dia em que Eduardo Galeano achou que estava no inferno

A notícia foi divulgada na semana passada em Montevidéu e vale a pena ser contada aqui. Principalmente para os que sabem o que é torcer por um time de futebol. Pouco mais de uma semana atrás, o escritor Eduardo Galeano passou alguns dias internado no Hospital Britânico de Montevidéu para realização de exames. Nesse período, deu entrada no mesmo hospital, com fratura dupla, o volante e ídolo da torcida do Peñarol, Tony Pacheco. O jogador foi alojado em um quarto ao lado de Galeano que, por sua vez, é torcedor fanático do time adversário, o Nacional. Eis que ao acordar de uma anestesia e ao se aproximar de seu quarto, Galeano, ainda meio zonzo, viu os corredores do hospital tomados de fãs do Peñarol com suas camisas e bandeiras. O jornalista uruguaio Darwin Desbocatti, que estava no local, relatou por rádio que, naquele momento, Galeano começou a gritar angustiado: “Estou no inferno! Estou no inferno!”. Passado o pesadelo e recuperado do susto, o escritor e o jogador acabaram trocando livros. Galeano ofereceu Os filhos dos dias e recebeu de Pacheco a sua autobiografia Simplesmente Tony. Digamos que foi praticamente como trocar camisas no final de um jogo.

São histórias como esta que Eduardo Galeano conta em seu livro Futebol ao sol e à sombra, um de seus tantos títulos publicados pela L&PM.

Os 72 anos de Eduardo Galeano

Há exatos 72 anos, em 3 de setembro de 1940, nascia Eduardo Galeano. Veio ao mundo na capital uruguaia de Montevidéu, onde voltou a viver depois de anos de exílio. Galeano jornalista, escritor, historiador, poeta. Galeano da memória do fogo, das pernas pro ar, das palavras andantes, dos abraços, das mulheres, dos espelhos, do futebol, dos dias e noites de anos e de guerras. Galeano que é pai do recém nascido Os filhos dos dias. Galeano das veias, sorriso e peito aberto.

Galeano nasceu em plena Segunda Guerra Mundial. E no recém lançado Os filhos dos dias, o texto dedicado a 3 de setembro fala exatamente sobre isso.

Maus costumes

Por Juremir Machado da Silva*

Quando vou perder a mania de falar de livros? Ainda mais de livros sentimentais. Ando tão piegas que, depois de chorar num filme de caminhoneiro, fiquei de queixo caído diante de um livro do Eduardo Galeano, “Os Filhos dos Dias” (L&PM). Galeano, autor do clássico infanto-juvenil ideológico “As Veias Abertas da América Latina”, que os lacerdinhas transformam com maledicência em “véias”, também serviu de modelo para o idiota do filho de Mario Vargas Llosa escrever um livro idiota intitulado “Manual do Perfeito Idiota Latino-americano”. Não desrespeito quem gosta, pois eu mesmo sou um idiota perfeito e um perfeito idiota, o que não é muito difícil constatar, embora eu não seja marxista, nem comunista, só um idiota.

Com textos curtos, dedicados a cada dia de um ano, o escritor uruguaio desencava histórias que deveriam ser esquecidas. Por exemplo, esta de Winston Churchill, o herói civilizador que comandou a resistência ao nazismo: “Não consigo entender tantos melindres sobre o uso de gás. Estou muito a favor do uso de gás venenoso contra as tribos incivilizadas. Isso seria um bom efeito moral e difundiria um terror perdurável”. Uau! E esta, ainda melhor (ou seja, pior): “Eu não admito que se tenha feito mal algum aos peles-vermelhas da América, nem aos negros da Austrália, quando uma raça mais forte, uma raça de melhor qualidade, chegou e ocupou seu lugar”. Racismo britânico, of course! Só no dia 26 de janeiro de 2009, graças a um plebiscito, que aprovou uma nova Constituição, outorgou-se cidadania a todos os índios da Bolívia. Obra “lamentável” do “atrasado” Evo Morales.

Há uma divertida homenagem a um magnata americano: “Em 1937, morreu John D. Rockefeller, dono do mundo, rei do petróleo, fundador da Standard Oil Company. Tinha vivido quase um século. Na autópsia, não foi encontrado nenhum sinal de escrúpulo”. Excelente também é a síntese da visão de mundo de Tintim, personagem mítico de histórias em quadrinhos criado pelo belga Hergé. Na sua famosa viagem ao Congo, Tintim “fuzilou 15 antílopes, escalpelou um macaco para se disfarçar com sua pele, fez um rinoceronte explodir com um cartucho de dinamite e disparou na boca aberta de muitos crocodilos. Tintim dizia que os elefantes falavam francês muito melhor que os negros. Para levar um souvenir, matou um e arrancou suas presas de marfim”. O rei da Espanha adora Tintim.

Instrutivo é o capítulo sobre a “desonra”. Em 1981, Galeano participou de uma reunião do Tribunal Internacional, que tratou, em Estocolmo, da invasão do Afeganistão pela União Soviética. Um alto chefe religioso islâmico, integrante do que os americanos chamavam, então, de “guerreiros da liberdade”, mais tarde rebatizados de terroristas, acusou, no seu depoimento, os invasores de terem cometido o mais hediondo dos crimes:

– Os comunistas desonraram nossas filhas!

Diante da expectativa geral, explicou:

– Ensinaram elas a ler e a escrever!

* Juremir Machado da Silva é jornalista e escritor, autor de História Regional da Infâmia. Este texto foi originalmente publicado em sua coluna no Jornal Correio do Povo do dia 16 de agosto de 2012

O novo livro de Galeano

Por Jaime Cimenti*

Os filhos dos dias é o mais novo livro do jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galeano, que vive, caminha e escreve em Montevidéu, aos 72 anos, e segue como um dos grandes nomes da intelectualidade contemporânea. Galeano escreveu o clássico moderno As veias abertas da América Latina – denunciando a exploração europeia – e já recebeu prêmios importantíssimos como o Casa de las Américas de Cuba, o Dagerman da Suécia e o Cultural Freedom Prize, da Lannan Foundation dos Estados Unidos. Sua obra mescla, sem medo e sem cerimônia, com criatividade, gêneros literários diversos, como a poesia, a narração, o ensaio e a crônica. Memórias e memórias inventadas também entram, claro. Ao longo de várias décadas de trabalho, Galeano notabilizou-se por recolher as vozes e as almas das ruas em obras como Bocas do tempo, De pernas pro ar, Futebol ao sol e à sombra e O livro dos abraços. Nessa nova obra, Os filhos dos dias, Galeano utilizou o formato de calendário para contar uma história para cada dia do ano. Na primeira página ele deseja que o dia seja alegre como as cores de uma quitanda. Na última, ele fala de morte, de febre terçã e da palavra abracadabra, que, em hebraico queria dizer e continua dizendo: envia o teu fogo até o final. Pois é, para o dia 16 de julho, Galeano traz a história daquele jogo da Seleção Brasileira contra o Uruguai em 1950, quando o Maracanã abrigou duzentas mil estátuas de pedra. Para o 1 de abril não há história de bobos. O escritor narrou o episódio do desembarque do primeiro bispo do Brasil, Pedro Sardinha – em 1553 – e que, três anos depois, teria sido devorado pelos caetés no Sul de Alagoas e inaugurado, assim, a gastronomia nacional. Para 19 de fevereiro, Galeano trouxe um diálogo-desafio terrível entre o consagrado escritor Horacio Quiroga e a morte. Para o dia 14 de abril, o escritor contou a história de Nellie Bly – a mãe das jornalistas -, que mostrou, em 1889, dando a volta ao mundo e reportando a viagem, que jornalismo não era só coisa de homem. Em 1919, ela publicou suas últimas reportagens, desviando das balas da Primeira Guerra Mundial. Como se vê, Galeano abraçou a diversidade de povos e culturas, contando episódios que vão de 1585, no México, até, por exemplo, o 15 de setembro de 2008 na Bolsa de Nova Iorque, passando pela morte de John D. Rockefeller, em 1937, e muitos outros. L&PM Editores, 432 páginas, R$ 49,00, tradução de Eric Nepomuceno.

*Jaime Cimenti é jornalista e escritor. Este texto originalmente publicado no Jornal do Comércio de Porto Alegre dos dias 17, 18 e 19 de agosto de 2012.

A Índia de Gandhi por Eduardo Galeano

Em 15 de agosto de 1947 a independência [da Índia] foi proclamada. Enquanto o país, tomado de um delírio de alegria, a festejava aos gritos de Mahatma Gandhi Ki jai, “vitória ao Mahatma Gandhi”, este se ausentava. “Agora que temos a independência, parece que estamos desiludidos. Eu pelo menos estou”.

(Trecho da biografia de Mahatma Gandhi na Coleção L&PM Pocket)

Quem relembra este episódio é Eduardo Galeano em seu novo livro Os filhos dos dias:

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