Arquivo mensais:julho 2014

Anatomia de uma derrota

Por Ivan Pinheiro Machado

A derrota épica tem o toque de grandeza da tragédia. Aquele 2 x 1 de 64 anos atrás construiu um drama sofrido, criou lendas, culpou-se o goleiro, o lateral esquerdo, chorou-se o clima de “já ganhou!”, passou-se e repassou-se cada passe dado no Maracanã lotado de 200 mil pessoas naquele 16 de julho de 1950. Mas nunca ninguém falou em humilhação. Houve, no silêncio dramático que se seguiu o apito final, a grandeza digna de uma tragédia. Foi tão grande e literária esta derrota que a perseguiu a vida inteira o grande intelectual, crítico de cinema, especialista em Sartre e Kierkegaard, Paulo Perdigão (1939-2007). Ele estava lá e registrou num livro antológico “Anatomia de uma derrota” (L&PM Editores, 1986), cada reação, cada lance do célebre Maracanazo. Ghiggia, o autor do gol que deu a Copa de 50 ao Uruguai deixou a célebre frase: “Apenas três pessoas, com um único gesto, calaram o Maracanã com 200 mil pessoas, Frank Sinatra, o Papa João Paulo II e eu”.

Lembrei deste livro porque ele é uma unanimidade entre críticos e imprensa. É a melhor obra jamais escrita no Brasil sobre um jogo de futebol e está disponível somente em e-book nas grandes livrarias brasileiras. O livro é lindo porque trata de homens que deram tudo o que tinham, mas caíram diante de um grande time com homens assombrados pela vontade ganhar. Esta monstruosa vontade de vencer foi encarnada e eternizada pelo capitão uruguaio Obdúlio Varella. Eduardo Galeano, seu amigo, conta que depois do jogo Obdúlio caminhava disfarçado entre o povo de Copacabana. E vendo o abatimento, a tristeza, o desespero daquela gente humilde, Obdúlio chorou. Existe fecho mais magnífico para um drama?

Ontem não houve grandeza. Houve humilhação. As lágrimas de sempre regaram a mediocridade estampada desde os primeiros minutos da Copa do Mundo. Um time pífio, representando o país da Copa e do futebol. Se Paulo Perdigão fosse vivo ele desligaria a televisão com indiferença após o final do jogo e veria pela enésima vez “Os brutos também amam” (Shane), seu filme predileto. Não houve tragédia. Somente um desastre anunciado. Nada que a literatura possa cultuar e eternizar. Houve apenas um time ruim, de garotos milionários, mal dirigido, alguns desconhecidos (com exceção do “cone” Fred e de Jô, todos jogam  no estrangeiro), que tomaram um chocolate inimaginável no torneio mais importante do planeta.

Tomaram 7. Parecia um time sub 15 (tipo time do colégio) jogando contra os meninos grandes. Uma derrota que não teve nada de épico, porque ela foi quase óbvia e sem nenhuma grandeza.

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“Anatomia de uma derrota”, de Paulo Perdigão, está disponível em e-book

Uma homenagem a Di Stéfano

Na manhã desta segunda-feira, 7 de julho, aos 88 anos, morreu Alfredo Di Stéfano,  craque argentino e presidente de honra do Real Madrid. O ídolo das décadas de 1950 e 1960 estava internado no hospital Gregorio Marañón, em Madri, desde sábado e teve uma parada cardiorrespiratória.

Em Futebol ao sol e à sombra, Eduardo Galeano escreve sobre Di Stéfano:

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O campo inteiro cabia nas suas chuteiras. A cancha nascia de seus pés, e de seus pés crescia. De arco a arco, Alfredo Di Stéfano corria e corria pelo gramado: com a bola, mudando de rumo, mudando de ritmo, de trotezinho cansado ao ciclone incontido; sem a bola, deslocando-se para os espaços vazios e buscando ar quando o jogo ficava congestionado.

Nunca parava quieto. Homem de cabeça erguida via o campo inteiro e o atravessava a galope, abrindo brechas para lançar o assalto. Estava no princípio, durante e no final das jogadas de gol, e fazia gols de todas as cores:

Socorro, socorro, aí vem a flecha voando a jato.

Na saída do estádio, era carregado pela multidão.

Di Stéfano foi o motor das três equipes que maravilharam o mundo nos anos 40 e 50: River Plate, onde substituiu Pedernera; Milionários de Bogotá, onde deslumbrou o mundo, ao lado de Pedernera; e o Real Madrid, onde foi o maior artilheiro da Espanha durante cinco anos seguidos. Em 1991, anos depois de Di Stéfano ter pendurado as chuteiras, a revista France Football deu o título de melhor jogador de futebol europeu de todos os tempos a este jogador nascido em Buenos Aires.

Alfredo Di Stéfano em ação

Alfredo Di Stéfano em ação

Pablo Neruda percorrerá as ruas de Santiago como um holograma

Da EFE

Uma figura holográfica do poeta chileno Pablo Neruda percorrerá as ruas de Santiago no dia 11 de julho, da mesma forma como ele fazia em vida.

A iniciativa faz parte das celebrações pelos 110 anos do ganhador do Prêmio Nobel de Literatura que nasceu em 12 de julho de 1904. Com a técnica de projeção em movimento denominada “beamvertising”, o holograma do autor de “Canto geral” sairá da casa museu “La Chascona”, no bairro de Bellavista, após aparecer escrevendo.

De acordo com a Fundação, Neruda percorrerá o bairro, seguirá até a Alameda Bernardo O’Higgins, passará pela Biblioteca Nacional e chegará até a Casa Central da Universidade de Chile, onde está guardada sua coleção de conchas e sua biblioteca pessoal, que doou a essa casa de estudos em 1954, ao completar 50 anos.

No local, o poeta “se encontrará” com Darío Ouses, diretor da Biblioteca Pablo Neruda, que contará detalhes da descoberta e próxima publicação de 20 poemas inéditos do autor de “Crepusculário” e “Os versos do capitão”, entre muitas outras obras. Depois, o poeta “voltará” para sua casa, onde chegará, aproximadamente, quatro horas após sua saída.

Os festejos pelos 110 anos de Neruda, nascido em 12 de julho de 1904 e que morreu 23 de setembro de 1973, começarão no dia 11 na casa museu “La Sebastiana”, no porto de Valparaíso, onde se acontecerá o concerto “Canto a Neruda”, com direção de Hugo Pirovich.

No dia 12, o centro das atividades será a “Casa de Isla Negra”, onde ao meio-dia (13h, em Brasília) haverá um encontro de poesia popular com a presença, entre outros, do payador (espécie de poeta) José Luis Suárez, e dos cantores Maritza Torres, Rodrigo Torres, Jaime Flores e Hernán Ramírez.

A celebração de aniversário incluirá ainda a doação da “Biblioteca Multilíngue Pablo Neruda” à escola Villa Las Estrellas, situada na Ilha do Rei George, na Antártida, onde convivem bases de diversos países.

A escola atende aos filhos dos pesquisadores chilenos que trabalham no continente antártico e a coleção soma mais de 200 livros com obras do poeta, além de textos infantis, ilustrados, de fotografia e gastronomia.

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O trailer de “Magia ao luar”, o novo filme de Woody Allen

E vem por aí mais um filme de Woody Allen. No dia 28 de agosto, chega às salas de cinema “Magia ao luar” (Magic in the Moonligh), uma comédia romântica bem ao estilo de Allen, dessa vez ambientada no sul da França nos anos 1920.

Estrelada por Emma Stone e Colin Firth, a trama é centrada em Stanley (Firth), um falso mágico com talento para desmascarar outros charlatões. Ele é contratado para acabar com a farsa de Sophie (Stone), uma simpática jovem que jura ter poderes paranormais. Inicialmente cético, Stanley envolve-se e encanta-se com a moça a ponto de questionar se ela não seria mesmo uma autêntica médium.

Assista ao trailer legendado:

Clique aqui para ver os livros de Woody Allen publicados pela L&PM Editores.

O sucesso de Claudio Willer em São Paulo

O lançamento de Os Rebeldes – Geração Beat e anarquismo místico, novo livro de Claudio Willer,  reuniu dezenas de pessoas na noite da quinta-feira, 3 de julho, na livraria Martins Fontes em São Paulo. A sessão de autógrafos estava marcada para começar às 19h, mas às 18h30 a fila já se estendia pelos corredores da livraria e se estendeu até às 23h.

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Em seu novo livro, Willer revela a história de personagens-personalidades que transcenderam os próprios limites e os de sua época. Inspirados nos escritos de William Blake, Arthur Rimbaud e W.B. Yeats, os beats fundamentaram sua ideologia em tradições religiosas, as mais variadas, e assim constituíram a base para uma nova filosofia de vida e de arte, além de abrir mil e uma estradas que não cessam de ser percorridas, uma geração após a outra. Familiarizado há décadas com a geração beat, o autor dedica maior parte de seu trabalho a Kerouac. Explora, entre outros, o anarquismo místico, as religiões beat, as viagens e o tempo.

O livro já disponível nas principais livrarias por R$ 34,90.

“Os senhores da guerra” na seleção do Festival de Cinema de Gramado

O Festival de Cinema de Gramado é um dos mais tradicionais do Brasil e este ano chega à sua 42ª edição.  Segundo o curador Rubens Ewald Filho, o evento de 2014 terá a melhor seleção dos últimos anos e entre os selecionados está “Os senhores da guerra”, épico baseado no romance homônimo de José Antônio Severo. O filme tem direção de Tabajara Ruas e produção de Ligia Walper.

Em um vídeo feito pela L&PM WebTV, o escritor José Antônio Severo fala da adaptação de sua obra, publicada pela L&PM Editores e que ganhou reedição com capa que traz uma cena do filme:

O Festival de Cinema de Gramado 2014 vai acontecer entre os dias 8 e 14 de agosto.

Crítica literária elogia tradução de Denise Bottmann para nossa edição de Mrs. Dalloway

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No mais recente programa “Literatura Fundamental”, da Univesp TV, a jornalista Cássia Godoy conversou com a escritora e crítica literária Noemi Jaffe sobre Virginia Woolf e sua obra Mrs. Dalloway. Durante a entrevista, Noemi elogia a tradução de Denise Bottmann para Mrs. Dalloway publicada pela L&PM.

 

 

Relacionamento entre Virginia Woolf e sua irmã vai virar minissérie

Elas nasceram Virginia Stephen e Vanessa Stephen,  mas ao receberem os sobrenomes de seus maridos, estas irmãs se tornaram Virginia Woolf e Vanessa Bells. A primeira, escritora de renome. A segunda, uma pintora famosa. E a boa nova é que a relação dessas duas almas interessantes e complexas vai ganhar uma minissérie em três capítulos.

O canal BBC2 já anunciou que as filmagens de Life in Square terão início nos próximos meses, mas o elenco ainda não foi definido. Escrita por Amanda Coe, dirigida por Simon Kaijser e produzida pela Ecosse Films em associação com a Tiger Aspect, a minissérie vai narrar a relação entre as irmãs ao longo de 40 anos: a história começa com a morte da Rainha Victoria e termina com o início da 2ª Guerra Mundial.

O Grupo de intelectuais Bloomsbury, as relações extraconjugais de Vanessa – principalmente com o pintor homossexual Duncan Grant – e o caso de Virginia com a escritora Vita Sackville-West farão parte da narrativa.

As irmãs Vanessa Bell e Virginia Woolf

As irmãs Vanessa Bell e Virginia Woolf

Mas enquanto a minissérie não chega, dá pra saber mais sobre a relação das irmãs lendo a biografia Virginia Woolf, de Alexandra Lemasson, da Série Biografias L&PM Pocket. Abaixo, uma degustação:

Com VaVirginia_woolfnessa, ser de carne e osso, as relações são muito mais complexas e sempre foram. Tem apenas três anos a mais que sua irmã, mas, aos olhos de Virginia, essa já é uma primeira vantagem. A seguir, haverá outras. Inúmeras. Pelo menos, é o que pensa Virginia e o que pensará toda sua vida. As irmãs Stephen puxaram da mãe essa mistura de distinção e de graça celebrada por toda a raça masculina. Quando nasceu, a pequena Ginia foi, aliás, apelidada de “a Beleza”, em parte pelos seus olhos verdes, mas também por seus cabelos loiros venezianos. Entretanto, a verdadeira beleza pertencerá à sua irmã, de acordo com o que conta em Reminiscências, relato autobiográfico que não passa de um retrato de Vanessa destinado a seu filho, Julian Bell. A irmã mais velha é descrita como uma moça doce, de olhar melancólico. (…) Em Reminiscências, Virginia Woolf tenta descrever a irmã o mais fielmente possível e lembra-se que desde menininha dizia que seria uma pintora célebre. Seu sonho está se realizando.

Veja aqui os títulos de Virginia Woolf, publicados pela L&PM.

Esta semana tem Claudio Willer em ritmo beat

3 de julho vai ser um dia beat. Nessa data, Claudio Willer autografa seu novo livro em São Paulo.

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Leia um trecho de Os rebeldes – Geração beat e anarquismo místico:

A Geração Beat foi associada, com razão, ao jazz bop em sua formação. E ao pós-rock como legado. Mas, assim como na política e na religião, a diversidade e heterodoxia também caracterizaram aquele movimento no campo da expressão musical. Ginsberg começa um de seus diários da década de 1940 informando que aquela noite iria à ópera, ao Metropolitan. Outro concerto no Metropolitan, mas com Duke Ellington: é quando ocorre a separação de Kerouac e Cassady ao final de On the Road. Corso, em Anjos da desolação, declara que não quer mais saber de jazz e que gosta mesmo de Wagner, além de não suportar a pobreza mexicana. A discografia de Ginsberg abrange desde suas apresentações com Orlowsky utilizando o estilo country, folk, para musicar poemas, até a ópera Hydrogen Jukebox, baseada em Uivo, do erudito Philip Glass.

Allen Ginsberg e Philip Glass se encontraram em 1988 na St. Mark’s Bookshop em Nova York. Nesse encontro, Glass perguntou o que eles fariam juntos e, como estavam na sessão de poesia, Ginsberg pegou um de seus livros da estante  e apontou para o poema Wichita Vortex Sutra, escrito em 1966. Glass escreveu então uma peça para piano para acompanhar a leitura de Ginsberg deste poema que foi apresentada na Broadway.

Philip Glass e Allen Ginsberg

Philip Glass e Allen Ginsberg

Depois veio Hidrogen Jukebox: