Arquivo mensais:setembro 2012

Novidades com a assinatura de Lawrence Ferlinghetti

Lawrence Ferlinghetti é mais do que um poeta e escritor brilhante, mais do que o dono da célebre livraria City Lights de São Francisco, mais do que amigo e editor de Allen Ginsberg, Jack Kerouac, William Burroughs e outros beats. Ferlinghetti é uma lenda viva que, aos 93 anos, segue na ativa, literalmente. “Time of Useful Consciousness” (“Tempo de consciência útil”) é seu mais recente livro que acaba de ser lançado nos Estados Unidos pela New Directions Book. O título é um termo da aeronáutica que define o momento da última consciência de uma pessoa, aquele breve espaço de tempo em que a vida ainda pode ser salva, mas que se está à porta da morte por falta de oxigênio. Pura metáfora…

Lawrence Ferlinghetti em frente a sua livraria, a City Lights, em São Francisco

O livro é um grande poema que, através do fluxo de consciência, mostra um Ferlinghetti cheio de ritmo e musicalidade, no mais puro estilo beat. Entre suas palavras, ele cita Bob Dylan, Johnny Cash e Woody Guthrie, dizendo que estes músicos são os “verdadeiros poetas populares da América”.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo sobre este lançamento, Ferlinghetti respondeu o que acha de e-books, e-commerce e todas essas novidades: “As redes de livrarias vão mal, mas não a City Lights. Nós estamos indo melhor do que nunca. Estamos nos beneficiando do fato de que somos a última livraria onde as pessoas podem ir e achar um livro de verdade. As pessoas vêm de todo lugar do mundo para buscar livros aqui. O que penso é que os e-books e toda a civilização eletrônica, a internet, o YouTube, Skype, tudo isso do mundo eletrônico, pode desaparecer em um segundo. Toda a civilização eletrônica. Pode acontecer a qualquer momento. Muitos cientistas respeitáveis do clima, hoje, advertem para o que chamam de “tipping point”, um mecanismo de esgotamento. Há fenômenos do tipo acontecendo em Miami, na Flórida, neste momento. Enquanto isso acontece, as mudanças climáticas acontecem, estão fazendo uma grande festa. Lord Byron escreveu um poema sobre a batalha de Waterloo. Descreve como, enquanto os canhões soavam a distância, as pessoas faziam uma grande festa na capital, alheias à destruição.”

Ninguém nasce poeta. Você se torna poeta, em geral contra sua vontade. Não se escolhe essa vocação. Quando eu cheguei a São Francisco, queria comprar um pedaço de terra e fundar uma vinícola“, disse ainda Ferlinghetti na matéria do Estadão.

Turma beat: em frente à livraria City Lights, o grupo é formado, entre outros, por Neal Cassady e Allen Ginsberg. Ferlinghetti é o da ponta, à direita.

Ainda este ano, a L&PM lançará o único romance escrito por Ferlinghetti, ainda inédito no Brasil: Amor nos tempos de fúria. Dele, também é publicado na Coleção L&PM Pocket Um parque de diversões na cabeça em edição bilíngue com poemas que têm tradução de Eduardo Bueno e Leonardo Fróes.

O dia em que Eduardo Galeano achou que estava no inferno

A notícia foi divulgada na semana passada em Montevidéu e vale a pena ser contada aqui. Principalmente para os que sabem o que é torcer por um time de futebol. Pouco mais de uma semana atrás, o escritor Eduardo Galeano passou alguns dias internado no Hospital Britânico de Montevidéu para realização de exames. Nesse período, deu entrada no mesmo hospital, com fratura dupla, o volante e ídolo da torcida do Peñarol, Tony Pacheco. O jogador foi alojado em um quarto ao lado de Galeano que, por sua vez, é torcedor fanático do time adversário, o Nacional. Eis que ao acordar de uma anestesia e ao se aproximar de seu quarto, Galeano, ainda meio zonzo, viu os corredores do hospital tomados de fãs do Peñarol com suas camisas e bandeiras. O jornalista uruguaio Darwin Desbocatti, que estava no local, relatou por rádio que, naquele momento, Galeano começou a gritar angustiado: “Estou no inferno! Estou no inferno!”. Passado o pesadelo e recuperado do susto, o escritor e o jogador acabaram trocando livros. Galeano ofereceu Os filhos dos dias e recebeu de Pacheco a sua autobiografia Simplesmente Tony. Digamos que foi praticamente como trocar camisas no final de um jogo.

São histórias como esta que Eduardo Galeano conta em seu livro Futebol ao sol e à sombra, um de seus tantos títulos publicados pela L&PM.

Fundação Andy Warhol vai leiloar seu acervo

A Fundação Andy Warhol para as Artes Visuais, criada em 1987, logo após a morte do artista, anunciou nesta quarta-feira que vai se desfazer de toda a sua coleção: parte do acervo será doado a museus e galerias e outra parte será leiloada pela Christie’s. O primeiro leilão será realizado no dia 12 de novembro e haverá também leilões online e “private sales”. O acervo da fundação é composto por pinturas, gravuras, fotografias e desenhos, alguns deles totalmente inéditos para o grande público.

O preço estimado deste autorretrato é de US$15 a US$20 mil

Esta serigrafia sobre um retrato de Jacqueline Kennedy feita em 1960 deve ser vendida por US$200 mil

Os fãs já podem começar a comemorar, pois uma parte significativa e até então inédita da obra de Andy Warhol finalmente vai vir a público. Mas por outro lado, a notícia divulgada nesta quarta-feira deixou os colecionadores de cabelo em pé, preocupados com uma provável queda no valor de mercado de suas obras, já que agora haverá muito mais peças à venda.

Pode parecer ingênuo da minha parte, mas esta situação me surpreende. Apesar de conhecer a logística dos leilões da Christie’s, uma das mais famosas e respeitadas casas de leilões de obras de arte do mundo, é preciso dizer que Andy Warhol não é Picasso. Ao contrário das obras do pintor espanhol, que são únicas e batem recordes de arrecadação em leilões pelo mundo, a reprodutibilidade é característica fundadora da pop art de Andy Warhol. E é justamente estas várias “cópias” que as tornam tão valiosas para a história da arte do século 20. (Nanni Rios)

A L&PM publica os Diários de Andy Warhol em 2 volumes e a biografia do pai da pop art na Coleção L&PM Pocket e mais o livro de fotos América.

Nova virada impressionista

Logo que inaugurou, a mostra “Paris e a Modernidade: Obras-Primas do Acervo do Museu d’Orsay de Paris, França” já causou impacto em São Paulo. Não apenas pelas obras apresentadas, 85 trabalhos vindos diretamente do acervo do Museu d’Orsay de Paris, mas também pela ideia de abertura: promover uma “virada impressionista” que manteve a exposição aberta durante uma madrugada inteira no CCBB paulista (Centro Cultural Banco do Brasil).

Agora, cerca de um mês após a abertura da mostra, o CCBB divulgou que uma nova virada vai acontecer na madrugada do dia 7 para o dia 8 de setembro. PAra completar, o horário de sexta, sábado e domingo foi estendido para até as 23 horas.

Monet, Renoir, Manet, Pissaro, Degas, Gauguin, Toulouse-Lautrec e Van Gogh são alguns dos artistas que fazem parte dessa exposição que já levou cerca de 100 mil pessoas ao CCBB.

Fila durante a noite, em frente ao CCBB de São Paulo, para ver a mostra dos impressionistas

SERVIÇO

O Que: Paris e a Modernidade: Obras-Primas do Acervo do Museu d’Orsay de Paris, França
Quando: De 4 de agosto a 7 de outubro
Horário: De terça-feira a quinta-feira, das 10h às 22h. De sexta-feira, das 10h às 23h. Sábados e domingos, das 8h às 23h.
Onde: CCBB – Rua Álvares Penteado, 112, Sé – São Paulo
Quanto: Grátis
Telefone: (11) 3113-3651 ou 3113-3652

Para quem quer saber mais sobre o assunto, a Série Encyclopaedia L&PM publica Impressionismo, um livro perfeito pra descobrir como tudo começou e quem eram os envolvidos neste movimento que revolucionou as artes.

Uma calorosa leitura sobre a Guerra Fria

A Guerra Fria durou de 1945 a 1990. Uma vida. Ou melhor, muitas vidas, se pensarmos na quantidade de gente que pereceu em meio ao conflito, vítima da instransigência e da incoerência presente no messianismo político. Como nasci em 1969, o assunto fez parte  dos jornais, das revistas e dos noticiosos televisivos da minha infância. Sempre anunciando nas entrelinhas o perigo de uma guerra nuclear e a ameaça dos comunistas “comedores de criancinha”. Para mim, soava como filme de ficção. Até que, em 1987, eu entrei na faculdade e, como toda universitária que se prezasse, coloquei um poster do Che Guevara na parede para orgulho do meu pai esquerdista. Mas fiz isso muito mais por simpatia do que ideologia, simplesmente porque os comunistas pareciam mais aguerridos e defensores dos fracos e oprimidos. Foi só quando o Muro de Berlim veio abaixo é que as minhas fichas também começaram a cair. E percebi que ninguém era realmente bonzinho nessa história. Como um filme que tivesse chegado ao fim, não pensei mais nesse assunto. Até que agora me vejo diante de Guerra Fria, o mais recente lançamento da Série Encyclopaedia. No livro, Robert J. McMahon explica de forma clara e deliciosamente literária como tudo começou e como se desenrolou o embate que quase culminou na Terceira Guerra Mundial. A tradução de Rosaura Eichenberg também está primorosa, cheia de ritmo e palavras que fluem com sonoridade impecável. Para completar, há fotos, mapas e um índice remissivo. Ainda não cheguei à página final, mas já recomendo como leitura obrigatória a todos aqueles que querem entender esse mundo em que vivemos, onde cada um quer puxar a brasa para o seu assado e impor suas próprias certezas. (Paula Taitelbaum)

Foto que está na pg 106 do livro: Evidência fotográfica de um sítio de lançamento de Mísseis Balísticos de Alcance Médio em San Cristobal, Cuba, outubro de 1962

Foto da pg 189: O Muro de Berlim vem abaixo, novembro de 1989

Um casamento clássico de conveniência, a aliança, estabelecida durante a guerra, entre a principal potência capitalista do globo e o principal advogado da revolução proletária internacional foi desde o início crivada de tensão, desconfiança e suspeita. Além do objetivo comum de derrotar a Alemanha nazista, pouco havia para cimentar uma parceria nascida de uma necessidade crítica, além de onerada por um passado repleto de conflitos. Afinal, os Estados Unidos haviam demonstrado uma hostilidade implacável ao Estado soviético desde a revolução bolchevique que lhe deu origem. Os governantes do Kremlin, por sua parte, viam os Estados Unidos como o cabeça das potências capitalistas que tinham procurado acabar com o regime comunista ainda nos primeiros tempos. (Trecho de Guerra Fria, de Robert J. McMahon)

“O mulato” sobe ao palco em São Luís

A peça adaptada do romance homônimo de Aluísio Azevedo terá sessão aberta ao público às 20h de hoje, 4 de setembro. O espetáculo, que faz parte das comemorações dos 400 anos de São Luís e conta com o apoio da L&PM Editores, tem direção de Ivaldo Cantanhede Junior e traz no elenco Felipe Correa, Carla Pocina, Raphael Brito e Leônidas Portela. A montagem foi premiada no Edital “São Luís em Cena” da Secretária de Estado da Cultura/MA.

Aluísio Azevedo, autor de O mulato, nasceu no Maranhão em 1857 e é considerado um dos introdutores do romance naturalista no Brasil. Nesta história, ele aborda a questão do preconceito racial através do protagonista deste grande romance, o dr. Raimundo José da Silva, um atraente e culto mestiço de olhos azuis que afronta a sociedade maranhense ao não perceber sua condição racial.

Quem for prestigiar a montagem, concorrerá a exemplares de O mulato da Coleção L&PM Pocket no final.

Serviço:

Espetáculo “O mulato”
Dia 4 de setembro, às 20h
Teatro Arthur Azevedo
Entrada franca

Georges Simenon, o escritor que amava as mulheres

Quantas mulheres terão chorado a morte do escritor Georges Simenon, ocorrida em 04 de setembro de 1989 aos 86 anos?  Isso porque, segundo ele mesmo revelou em uma entrevista concedida ao italiano Roberto Gervaso – publicada na íntegra pela Revista Oitenta, editada pela L&PM em 1984 –  seu número de conquistas girava em torno de dez mil:

Quantas mulheres você conheceu biblicamente?
SIMENON – Falaram em dez mil.

E você, o que diz?
SIMENON – Talvez uma a mais, ou uma a menos.

Profissionais ou amadoras?
SIMENON – Muitas jovens atrizes e bailarinas.

Georges Simenon e Betta St. John in Cannes no ano de 1957

Entre as paixões de Simenon, esteve a famosa atriz, cantora e dançarina negra Josephine Baker. Na mesma entrevista, Gervaso pergunta sobre ela:

Você esteve verdadeiramente apaixonado por Josephine Baker?
SIMENON – Eu tinha 22 anos, inexperiente, desconhecido, e ela era ultracélebre. Mas foi uma relação brevíssima.

Como acabou?
SIMENON – Num certo momento, fugi para uma ilha.

Por quê?
SIMENON – Não queria me tornar o sr. Baker.

O jovem Simenon divertindo-se com as caretas de Josephine Baker

Simenon em nada lembrava seu mais célebre personagem, o comissário Jules Maigret. Bem-comportado e fiel à sua esposa, Maigret  pulou a cerca apenas uma vez e só teria feito isso para conseguir uma informação importante de uma prostituta. Já Simenon era um infiel inveterado, como ele também contou a Gervaso:  

Quando o ciúme impede o adultério?
SIMENON – Casei em primeiras núpcias com uma mulher ciumentíssima, que, depois do primeiro dia de casados, ou da primeira noite, não recordo, ameaçou de se suicidar se algum dia eu a traísse.

E você?
SIMENON – Eu a traí escondido durante vinte anos, odiando-a.

Odiando-a?
SIMENON – Sim, porque não há nada mais humilhante, mais ofensivo à nossa dignidade do que a coerção à mentira.

Nos 23 anos da morte de Georges Simenon, vale a pena ler a entrevista na íntegra que está à disposição no site da L&PM. Clique aqui e divirta-se!

Com mais de 80 anos, Simenon continuava com cara de sedutor

A Coleção L&PM Pocket publica mais de 40 livros com histórias do comissário Maigret, criadas por Georges Simenon.

Uma ponta de Bukowski

Você já assisitiu ao filme Barfly? Lançado em 1987, ele tem roteiro de Charles Bukowski, feito a partir de uma encomenda do diretor francês Barbet Schroeder. Na verdade, ele é exatamente como os livros do velho Buk e tem como personagem principal seu alter-ego Henry Chinaski que, em Barfly é vivido por um Mickey Rourke ainda com cara de gente.  A partir do roteiro do filme, Bukowski escreveu o livro Hollywood (Coleção L&PM Pocket), em que narra a história de um escritor que ganha um bom dinheiro para escrever um roteiro para o cinema. Qualquer semelhança com a realidade, não é mera coincidência.

Charles Bukowski entre os atores Faye Dunaway e Mickey Rourke

Bukowski não apenas acompanhou a filmagem de várias cenas, como participou de uma delas. Melhor do que contarmos, é você mesmo ver. Ele aparece em uma ponta no início da cena em um bar, em que Mickey Rourke contracena com Faye Dunaway. É apenas uma ponta, mas os olhares do escritor (ou a falta deles) são memoráveis.

Morre Universindo Díaz, um dos uruguaios sequestrados na Operação Condor

O nome do historiador uruguaio Universindo Díaz pode não soar familiar para a maioria dos brasileiros que nasceu no pós ditadura. Mas, hoje, um dia após sua morte, ele merece ser lembrado por todos. Díaz faz parte da história de um tempo infeliz em que o governo militar punia os discordantes com tortura, desaparecimento e morte. Faleceu no domingo, 02 de setembro, aos 60 anos, vítima de câncer. Mas seu nome continuará vivo graças ao livro Operação Condor: o sequestro dos uruguaios, de Luiz Cláudio Cunha. Lançado em 2008 pela L&PM Editores, a obra conta a história do sequestro de Universindo Díaz e da também uruguaia Lílian Celiberti, ocorrido em Porto Alegre no ano de 1978 em uma ação dos órgãos de repressão do Uruguai e do Brasil na sinistra Operação Condor fundada em 1975 no Chile de Pinochet.

Fotos de Universindo e Lílian em 1978

O jornal Zero Hora, em matéria publicada hoje, 3 de outubro, explica o que veio a ser essa operação cujo nome, Condor, fazia referência à típica ave dos Andes, famosa pela astúcia na caça às suas presas.

Morre Universindo Díaz, um dos uruguaios

Sobrevivente da ditadura uruguaia, pela qual foi sequestrado em Porto Alegre em 1978 durante uma operação conjunta com forças brasileiras, sendo barbaramente torturado, o historiador Universindo Rodríguez Díaz, 60 anos, morreu neste domingo em Montevidéu  após uma luta de seis meses contra um câncer na medula.

Universindo deixa o filho, Carlos Iván Rodríguez Trías, e a ex-mulher Ivonne Trías, que cuidavam dele durante a doença.

Mesmo após ter identificado o câncer em janeiro passado, o historiador mantinha intactos seus planos de publicação de livros e criação de documentários. Com a abertura dos arquivos da repressão uruguaia, procurava por informações sobre as vítimas da ditadura, na incansável tarefa de resgatar a história dessa época sombria no Uruguai e nos países vizinhos.

— O que ele não previa era morrer — diz o amigo Jair Krischke, do Movimento de Justiça e Direitos Humanos.

Krischke esteve pela última vez com Universindo no início de julho, em Montevidéu. Na época, o uruguaio estava bem e falou de seus projetos. A recaída fatal ocorreu no último sábado. Krischke recebeu um e-mail da ex-mulher do historiador que o prevenia sobre o que poderia acontecer em seguida. Universindo passara por um transplante de medula e estava com nível zero de glóbulos brancos no sangue.

Mesmo torturado ao longo dos cinco anos em que passou preso, Universindo não demonstrava revolta. Entrou com um processo contra seus algozes ainda durante a ditadura. A ação foi bloqueada pela anistia uruguaia, mas o atual presidente, José “Pepe” Mujica, permitiu a reabertura das 80 investigações sobre crimes no período de exceção. Um deles é o de Universindo e sua companheira do Partido por la Victoria del Pueblo (PVP), Lílian Celiberti, também sequestrada em Porto Alegre, ao lado dos filhos dela, então com três e oito anos.

— Universindo não tinha mágoas. Estava de bem com a vida, era apaixonado pela sua profissão. O Uruguai perdeu um filho ilustre, um homem bom que honrou a tradição charrua de não se entregar — afirmou Krischke.

O sequestro

Porto Alegre entrou na rota da Operação Condor em 17 de novembro de 1978, quando se consumou o sequestro dos uruguaios Lílian Celiberti e Universindo Díaz. Perseguidos pela ditadura militar do Uruguai, os dois tentavam se esconder num apartamento da Rua Botafogo, no bairro Menino Deus. Foram capturados por policiais gaúchos, chefiados pelo delegado Pedro Seelig, e agentes uruguaios que tiveram permissão para entrar no território brasileiro.

À época, não se imaginava que o seqüestro era uma típica ação da Condor — a aliança secreta criada pelas ditaduras da Argentina, do Chile, do Brasil, do Uruguai e do Paraguai para caçar opositores políticos além das fronteiras. Cogitou-se que fosse somente uma cooperação eventual entre o Departamento de Ordem Política e Social (Dops) e a Companhia de Contrainformações do exército uruguaio. Não era.

Lílian e Universindo foram interrogados e torturados na Capital gaúcha, sofrendo a primeira etapa do ritual Condor. Enfrentaram a segunda fase, o traslado até os calabouços do Uruguai. Escaparam da provável solução final — a morte e o desaparecimento nas águas do Oceano Atlântico ou do Rio da Prata — graças ao repórter Luiz Cláudio Cunha e ao fotógrafo J. B. Scalco, que descobriram e denunciaram o crime nas páginas da revista Veja.

A operação Condor

O que foi
Organizada no final de 1975, em Santiago do Chile, a Operação Condor sistematizou as cooperações eventuais já existentes entre as ditaduras do Cone Sul. O general Augusto Pinochet entendia que os governos fardados deveriam agir de forma articulada contra o que julgava ser a “ameaça internacional do comunismo”. Agindo além das fronteiras, a Condor assassinou um ex-presidente de República (o boliviano Juan José Torres), dois parlamentares uruguaios (Zelmar Michelini e Héctor Gutiérrez Ruiz), um general e ex-ministro (o chileno Carlos Prats), um ex-chanceler (o chileno Orlando Letelier) e centenas de opositores políticos.

Países participantes
Principalmente Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai, Chile e Bolívia.

Objetivo
Neutralizar os grupos guerrilheiros de esquerda opositores aos regimes militares de direita, tais como Tupamaros (Uruguai), Montoneros (Argentina) e MIR (Chile).

Estratégia
Unificar esforços de todos os aparatos repressivos para combater os focos de resistência.

Papel dos EUA
Tinha conhecimento, conforme demonstram documentos secretos divulgados pelo Departamento de Estado em 2001

Por que Condor
Porque é a ave típica dos Andes, famosa pela sua astúcia na caça as suas presas.

Quando ocorreu
Iniciou-se na primeira metade dos anos 70 e terminou em meados dos anos 80.
Chega a 100 mil o número de mortos e desaparecidos no continente

Os 72 anos de Eduardo Galeano

Há exatos 72 anos, em 3 de setembro de 1940, nascia Eduardo Galeano. Veio ao mundo na capital uruguaia de Montevidéu, onde voltou a viver depois de anos de exílio. Galeano jornalista, escritor, historiador, poeta. Galeano da memória do fogo, das pernas pro ar, das palavras andantes, dos abraços, das mulheres, dos espelhos, do futebol, dos dias e noites de anos e de guerras. Galeano que é pai do recém nascido Os filhos dos dias. Galeano das veias, sorriso e peito aberto.

Galeano nasceu em plena Segunda Guerra Mundial. E no recém lançado Os filhos dos dias, o texto dedicado a 3 de setembro fala exatamente sobre isso.