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Sábado de calor humano na Bienal

Paula Taitelbaum

Antes que a Bienal do Livro de São Paulo acabasse, estive lá neste final de semana. A foto – que vale por mil palavras – já diz como foi andar pelos corredores do pavilhão do Anhembi no sábado à tarde. Sabe ônibus lotado em dia de final de campeonato de futebol? Foi por aí… A temperatura você não pode sentir, mas garanto que o calor humano emanava de cada centímetro quadrado. Sorte que a montanha de livros compensava o esforço e havia certos corredores em que o movimento diminuía, oferecendo um certo alívio aos caminhantes. Pra aliviar ainda mais, havia carrinhos vendendo picolé em todos os corredores.

Sábado foi de corredores lotados na Bienal / Foto: Paula Taitelbaum

Nos espaços de encontros e palestras, como no Salão de Ideias e na Sala das Orquídeas, o clima literalmente mudava graças ao ar condicionado. No espaço mais nobre, o de Ideias, Lygia Fagundes Telles, ao lado de Manuel da Costa Pinto e Ubiratan Brasil, falou sobre “como nasce um conto”. A autora infanto-juvenil contou que certa vez encontrou-se com um jovem leitor chamado Rafael que perguntou se ela tinha alguma história de vampiros. Depois de responder que não, foi procurar entre os seus escritos e encontrou um antigo conto chamado “Potira”, a história de amor entre um velho vampiro e uma índia que nasceu quando ela, menina, brincava no Jardim da Luz. Bem-humorada, perguntava toda hora por Rafael, dizendo que ele tinha que estar ali para saber que ela tinha, sim, uma história com vampiros.
Descendentes do Conde Drácula, aliás, parece que continuam na moda, pois foram tema recorrente por todos os cantos e estandes, mesmo que nas entrelinhas. A historiadora Mary Del Priori, que falou na Sala das Orquídeas (decorada com vasos de orquídeas de verdade), criticou de leve a febre vampiresca, dizendo que “ler sobre História pode ser tão prazeroso quanto ler sobre vampiros”.  No que eu concordo plenamente com ela.

Manuel, Lygia e Ubiratan no Salão de Ideias / Foto: Paula Taitelbaum

 No estande da L&PM, o movimento foi grande e eu fiquei um tempão ao lado do caixa observando o que as pessoas compravam. Vi de quase tudo: um jovem casal que levou todos os livros da Agatha Christie de uma só vez, uma menina com jeito de intelectual que comprou tudo que encontrou do Bukowski, um garoto tatuado que escolheu as Aventuras Inéditas de Sherlock Holmes, um pai que levou um livro do Garfield para os filhos e uma senhora que comprou ao mesmo tempo toda a série do Snoopy e os quatro volumes do Guia prático do português correto. Ou seja, vi os mais diferentes estilos de paulistanos adquirindo os mais diferentes títulos. E os campeões de vendas foram: Alice no País das Maravilhas, seguido pela Arte da guerra, Assassinatos na rua Morgue, A teia de aranha, Quintana de bolso e A bela adormecida e outras histórias dos Irmãos Grimm.

E assim, entre Alices e belas adormecidas, encerrou-se a 21ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo com um público total de 740 mil pessoas. Mas a organização do evento já divulgou que a partir das próximas Bienais, irá procurar um novo espaço que “comporte feiras de caráter internacional no século 21”. Leia-se que não sacrifique tanto os visitantes com temperaturas altas e pouco espaço nos corredores. Mas se o Anhembi, criado em 1970, é ou não é página virada, não importa. Em 2012, a L&PM estará novamente na Bienal do Livro de São Paulo.  

A L&PM bateu todos os recordes de venda na Bienal / Foto: Paula Taitelbaum

Lembranças da Bienal de São Paulo

Ivan Pinheiro Machado

A primeira vez que tivemos uma noção da força do Brasil foi em São Paulo. Mais precisamente na Bienal de São Paulo. Vínhamos do extremo Sul do país, impregnados de um certo provincianismo que animava – e ainda anima – nossos conterrâneos. Era início da década de 80 e nós, muito jovens, estreávamos com um estande. Das outras vezes em que havíamos participado, nosso espaço era coletivo. Pois bem. Nessa época, tínhamos a melhor coleção de quadrinhos do Brasil. Se você for olhar o catálogo da Editora Conrad em 2010, considerado o mais completo do Brasil, metade dos livros foram editados pela L&PM na década de 80. De Manara à Crumb, passando por Crepax, Moebius, Alex Raymond, Bob Kane e muitos outros, tudo foi publicado cá na casa. Nossa coleção, que tinha 150 álbuns, acabou no início dos anos 90 quando fomos detonados, literalmente, pela concorrência estranha da Abril e da Globo. Ficou impossível competir com excelentes grafic novels custando um terço do preço dos nossos livros. Foi então que decidimos inventar outras coisas.

Mas aquela distante Bienal de São Paulo dos idos anos de 1980 realmente impressionou. Nós, que tínhamos na cabeça a Feira do Livro de Porto Alegre, ficamos perplexos com a multidão que inundou o velho e maravilhoso pavilhão do Ibirapuera, onde foram realizadas as primeiras bienais. Formavam-se filas e mais filas na frente do nosso estande. Vendemos milhares de livros e tivemos pela primeira vez a sensação de que a L&PM estava no mapa do Brasil. E, hoje, quando vamos à Manaus, Belém, Fortaleza, Goiânia, Salvador, Aracaju, Macapá e vemos nossos livros nas bancas, nas livrarias, em nossos displays colocados em cafés, bares, postos de gasolina, supermercados, locadoras de DVDs, até em padarias e açougues, temos a sensação da forte presença dos pockets do Chuí ao Amapá. Uma cadeia que foi construída graças ao leitor, ao famoso boa-a-boca que passou por cima do silêncio da imprensa e transformou a coleção L&PM Pocket na maior coleção de livros de bolso do Brasil. Quase quase mil títulos que, até dia 22 de agosto, estão reunidos na nova Bienal de São Paulo.

O chato e o sucesso da “Bienal de papel”

Ivan Pinheiro Machado

A Câmara Brasileira do Livro, que está sempre atenta às novas tendências, decidiu incluir no cardápio da Bienal de São Paulo um “Fórum Internacional do Livro Digital”. Na terça-feira passada, dia 10 de agosto, quando chegamos em São Paulo, fomos direto para o auditório do Anhembi ouvir o primeiro palestrante do “fórum”,  um tal Mike Shatzkin, cantado em prosa e verso como o grande especialista no assunto “livro digital” e dono de um blog, diz ele, de grande audiência na internet.

Em poucas palavras: Mike Shatzkin, em sua animada e ensaiada palestra, disse que tudo estava acabado, não haveria mais livros, não haveria mais livrarias, só livros digitais colocados diretos na rede e super segmentados. Ou seja, conclui-se da sua palestra que não haveria mais literatura , só livros técnicos, religiosos , de auto-ajuda. E falava, falava, esbravejava. Mike Shatzkin é consultor e provavelmente é muito bem-vindo pelas empresas de tecnologia que fazem um megalobby contra o livro tradicional, tentando vender seus suportes “kindle”, “iPad”, etc… Depois de 30 minutos de conferência, o auditório, que estava lotado, foi esvaziando aos poucos. É que Mike Shatzkin é um fundamentalista e, como todo o fundamentalista, não trabalha com opiniões divergentes, com o contraditório. Enfim, Mike Shatzkin é um chato.

E para comprovar que existe o contraditório, a própria Bienal encarregou-se de minimizar o catastrofismo do conferencista. O primeiro final de semana foi impressionante.

A L&PM existe há 36 anos e participou de todas as Bienais, tanto em São Paulo como no Rio de Janeiro.  No fim de semana passado  foram batidos todos os recordes de venda em nosso estande, considerando todas as participações da editora em bienais. 

Claro que haverá um grande crescimento do livro digital, provavelmente alcançando consumidores que jamais leriam um livro impresso (e isto é muito bom). Mas, na minha opinião, é um erro opor um ao outro , como faz Mr. Shatzkin. Haverá espaço para os dois durante muitos e muitos anos.

Affonso Romano de Sant’Anna participa de mesa que homenageia Clarice

O Salão de Ideias, que nessa edição relembra a obra de Clarice Lispector, foi tomado pelos fãs da escritora nesse domingo. A mesa formada por Teresa Montero, José Castello e Affonso Romano de Sant’Anna comandou aquele que foi provavelmente o evento com maior participação do público até agora.
Affonso, mais do que um admirador de Clarice, era amigo da autora de A hora da estrela e contou algumas histórias interessantes. A mais engraçada tratava de um jantar organizado por ele em homenagem à escritora, e do qual ela pediu para sair 15 minutos depois de chegar.

Crianças tomam conta de espaço dedicado à Turma da Mônica

Lembra que comentamos ontem que qualquer evento que envolvesse Mauricio de Sousa era garantia de sucesso na Bienal? Pois esquecemos de mencionar um detalhe: também os eventos relacionados aos seus personagens são superconcorridos. O maior exemplo foi a enorme fila que se formou na entrada do espaço “Fábulas com a Turma da Mônica”, onde estavam instalados um parquinho e um teatro de bonecos.

Sábado de recordes no estande da L&PM

A abertura da Bienal para o público aconteceu oficialmente na sexta-feira, mas foi no sábado que os corredores e estandes ficaram realmente lotados pela primeira vez em 2010. Os vendedores do espaço da L&PM tiveram muito trabalho: foi o recorde de vendas da editora em todas as edições do evento. Pelo menos até agora.

Evento com Mauricio de Sousa é garantia de sucesso

Se atrasar para qualquer evento que envolva Mauricio de Sousa na Bienal não é uma boa ideia. Muita gente deu de cara com portas fechadas e plaquinhas de “lotado” hoje à tarde. Quem chegou na hora assistiu a uma conversa descontraída (não se pode chamar de debate) entre Mauricio e Rubem Alves no Salão de Ideias. Os dois foram parceiros nos projetos Pinóquio às avessas e A menina e o pássaro encantado.

Mauricio, Rubem e o mediador, Heitor Ferraz, falaram para uma plateia lotada / Foto: Tássia Kastner

Enquanto isso, em outro ponto do Anhembi, uma fila enorme já esperava pelo autógrafo do criador da Turma da Mônica.

Jornalismo é tema de mesa em dia agitado na Bienal

Foi difícil para o público decidir o que fazer na tarde desse sábado na Bienal de São Paulo. Uma das mesas mais esperadas de toda a programação reuniu no Território Livre os jornalistas Caco Barcellos, Alberto Dines, Lílian Romão e Armando Antenor para debater a profissão.

Profissionais discutiram a profissão com plateia repleta de estudantes / Foto: Tássia Kastner

Profissionais discutiram a profissão com plateia cheia de estudantes / Foto: Tássia Kastner

E no final ainda sobrou espaço até para, vejam só, literatura. Caco citou Nietzsche e Schopenhauer como dois de seus autores preferidos, e Dines relembrou uma adaptação de Hamlet para o cinema feita em 1948 por Laurence Olivier. E é com um trecho dessa adaptação que encerramos o post:

Regina Duarte interpreta A negrinha

Regina no Palco / Foto: Tássia Kastner

Quando chegou ao Palco Literário, Regina Duarte provocou no público que lotava o espaço apenas uma reação: tirar muitas fotos . Eram fãs que esperavam a atriz para uma leitura e um bate-papo. E ela não deixou por menos: foi simpática e sustentou o sorriso bem conhecido por meio de suas personagens.

Regina leu o conto A Negrinha, de Monteiro Lobato. Com o microfone em uma mão, mas tentando deixar o texto apoiado na mesa – “Sou uma atriz meio italiana, não consigo interpretar se não tiver ao menos uma das mãos livres para mexer”  – a atriz interpretou o texto com competência por cerca de meia hora.

Nas perguntas, teve que responder sobre seu trabalho na TV e nos palcos. Com talento, trouxe a literatura para a discussão e questionou o acesso das crianças a informações que elas ainda não tem maturidade para absorver. Mas no fim confessou que ela mesma subervetera essas instruções quando mais nova, e  que ficou de castigo quando o pai soube que ela havia lido O príncipe, de Maquiavel.