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Lembranças da Bienal de São Paulo

Ivan Pinheiro Machado

A primeira vez que tivemos uma noção da força do Brasil foi em São Paulo. Mais precisamente na Bienal de São Paulo. Vínhamos do extremo Sul do país, impregnados de um certo provincianismo que animava – e ainda anima – nossos conterrâneos. Era início da década de 80 e nós, muito jovens, estreávamos com um estande. Das outras vezes em que havíamos participado, nosso espaço era coletivo. Pois bem. Nessa época, tínhamos a melhor coleção de quadrinhos do Brasil. Se você for olhar o catálogo da Editora Conrad em 2010, considerado o mais completo do Brasil, metade dos livros foram editados pela L&PM na década de 80. De Manara à Crumb, passando por Crepax, Moebius, Alex Raymond, Bob Kane e muitos outros, tudo foi publicado cá na casa. Nossa coleção, que tinha 150 álbuns, acabou no início dos anos 90 quando fomos detonados, literalmente, pela concorrência estranha da Abril e da Globo. Ficou impossível competir com excelentes grafic novels custando um terço do preço dos nossos livros. Foi então que decidimos inventar outras coisas.

Mas aquela distante Bienal de São Paulo dos idos anos de 1980 realmente impressionou. Nós, que tínhamos na cabeça a Feira do Livro de Porto Alegre, ficamos perplexos com a multidão que inundou o velho e maravilhoso pavilhão do Ibirapuera, onde foram realizadas as primeiras bienais. Formavam-se filas e mais filas na frente do nosso estande. Vendemos milhares de livros e tivemos pela primeira vez a sensação de que a L&PM estava no mapa do Brasil. E, hoje, quando vamos à Manaus, Belém, Fortaleza, Goiânia, Salvador, Aracaju, Macapá e vemos nossos livros nas bancas, nas livrarias, em nossos displays colocados em cafés, bares, postos de gasolina, supermercados, locadoras de DVDs, até em padarias e açougues, temos a sensação da forte presença dos pockets do Chuí ao Amapá. Uma cadeia que foi construída graças ao leitor, ao famoso boa-a-boca que passou por cima do silêncio da imprensa e transformou a coleção L&PM Pocket na maior coleção de livros de bolso do Brasil. Quase quase mil títulos que, até dia 22 de agosto, estão reunidos na nova Bienal de São Paulo.