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O Dia Mundial do Rock em ritmo literário

Em homenagem ao Dia Mundial do Rock, cruzamos letras com músicas e criamos as trilhas sonoras perfeitas (ou nem tanto) para certos clássicos da literatura. Tem para todos os gostos. Aumente o som e dance baby, dance…

Para Memória póstumas de Brás Cubas: “The dead man walking”, de David Bowie, em versão acústica:

Para On the Road, “Highway 61 Revisited”, de Bob Dylan, na versão de Johnny Winter:

Para O amor é um cão dos diabos, ou qualquer outro livro de Charles Bukowski, “Sympathy for the Devil”, The Rolling Stones:

Para Peter Pan, “Fly Away From Here”, do Aerosmith:

Para Crime e Castigo, “Help!”, dos Beatles:

Para Romeu e Julieta,” Smells like teen spirit”, do Nirvana:

Para Alice no País das Maravilhas,  “What a Wonderful World” na versão de Joey Ramone:

Clássicos da literatura na novela da Globo

A Capa do Caderno Ilustrada da Folha de S. Paulo de ontem, 13 de maio, traz uma matéria chamada “Gol de letra” que começa contando uma cena da novela “Avenida Brasil”, que vai ao ar às 21h na Globo. Transcrevemos aqui o diálogo citado, uma conversa entre o ex-jogador de futebol Tufão (Murilo Benício) e a mulher Carminha (Adriana Esteves):

“Tá lendo o quê?”
“Um livro que a Nina me emprestou. Madame Bova… de Bovári.”
“Qual é a dessa madame aí?”
“Essa é louca. Sabe que ela trai o marido, mas não gosta do amante? Vai entender!”
“Coisa de intelectual.”

Madame Bovary, de Flaubert, não é o único livro de cabeceira do casal da novela. O personagem de Murilo Benício já leu A interpretação dos sonhos, de Freud (que a Coleção L&PM Pocket lançará este ano) e A metamorfose, de Kafka.

Segundo contam os jornalistas Elisangela Roxo e Marco Rodrigo Almeida em sua matéria da Folha, “A mansão de Tufão tem biblioteca, mas os livros eram apenas decorativos, todos ocos. Os reais chegaram pelas mãos de Nina (Débora Falabella), que busca vingança contra Carminha e, para atingir seu objetivo, trabalha como cozinheira da família. Os livros são usados por ela para abrir os olhos do ex-jogador sobre o mau-caratismo da mulher, que o trai com o próprio cunhado.”

O autor da novela, João Emanuel Carneiro, já adiantou que o próximo exemplar da estante de Tufão será o clássico de Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas.

“Especialistas em literatura acreditam que as citações em ‘Avenida Brasil’ podem atrair a atenção do público para obras canônicas” diz a matéria. Entre os livros indicados pela Folha para que sejam lidos futuramente pelo personagem de Benício estão O Primo Basílio, de Eça de Queirós e Otelo, de Shakespeare, ambos da Coleção L&PM Pocket.

Madame Bovary e A metamorfose também estão na Coleção L&PM Pocket.

A Ressurreição de Machado

“Não sei o que deva pensar deste livro; ignoro sobretudo o que pensará dele o leitor. A benevolência com que foi recebido um volume de contos e novelas, que há dois anos publiquei, me animou a escrevê-lo. É um ensaio. Vai despretensiosamente às mãos da crítica e do público, que o tratarão com a justiça que merecer. (…) Não quis fazer um romance de costumes; tentei o esboço de uma situação e o contaste de dois caracteres; com esses simples elementos busquei o interesse do livro. A crítica decidirá se a obra corresponde ao intuito, e sobretudo se o operário tem jeito para ela. É o que lhe peço com o coração nas mãos.” (Machado de Assis no prólogo de Ressurreição

O recém lançado "Ressurreição" em edição comentada

 Ressurreição é o romance de estreia de Machado de Assis. Publicado originalmente em 1872, o livro que inaugurou uma nova fase do grande escritor agora chega à Coleção L&PM POCKET para completar a série de dez romances machadianos em edição anotada, com biografia do autor e panorama da vida cotidiana da época. Além de Ressurreição, os romances Dom CasmurroCasa Velha, Esaú e Jacó, Helena, Iaiá  Garcia, A mão e a luva, Memorial de Aires, Memórias Póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba apresentam notas e posfácios produzidos por especialistas – em Ressurreição elas são de Eliana Inge Pritsch. 

Neste romance curto, Machado apresenta as diferenças entre Félix, um bon-vivant, e Lívia, uma jovem e bela viúva. O amor que os une será posto à prova diversas vezes, num vai e vem de paixões perpassado pelo ciúme e por suspeitas de traição, tema que depois o escritor retomaria magistralmente em Dom Casmurro. 

Os dez romances de Machado de Assis publicados em pocket pela L&PM têm seu texto cotejado com a edição crítica do Instituto Nacional do Livro, estabelecida pela Comissão Machado de Assis. A coordenação deste projeto é de Luís Augusto Fischer que, na L&PM WebTV, apresenta um vídeo com a vida e obra do autor.  Vale a pena assistir.

Woody Allen lê Machado de Assis

Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, Woody Allen listou seus livros favoritos, que vão de J.D. Salinger a… Machado de Assis! Tamanha foi a nossa surpresa quando vimos o livro Memórias póstumas de Brás Cubas entre os preferidos do aclamado diretor de cinema, cujo próximo filme vai abrir o Festival de Cannes.

A qualidade da obra de Machado de Assis é indiscutível e elogios não são mais surpresa para ninguém. O surpreendente, na verdade, foi a forma como o livro do escritor carioca do século 19 chegou até Woody Allen: “Eu recebi pelo correio um dia. Algum estranho do Brasil me mandou e escreveu ‘você vai gostar disso’. Como é um livro fino, eu li. Se fosse grosso, eu teria descartado”, disse.

O diretor de Midnight in Paris não poupou elogios: “Fiquei chocado ao ver como é encantador. Não conseguia acreditar que ele viveu há tanto tempo, como ele viveu. Você pensaria que foi escrito ontem”. E o espanto não é pra menos: Memórias póstumas de Brás Cubas foi publicado originalmente em 1880.

No Brasil, Woody Allen está em casa – a mesma casa de Machado de Assis. Na Coleção L&PM Pocket, você encontra Adultérios, Cuca fundida, Que loucura! e Sem plumas.

O Rio de Janeiro de Machado continua lindo…

O Rio de Janeiro de Machado de Assis era um Rio de Janeiro de laudes, horas canônicas e vestidos de musselina. Um Rio de Janeiro de modinhas, passeios públicos, patacões e contos de réis. O Rio de Janeiro de Machado de Assis era um Rio de Janeiro embalado nas melodias dos cabriolés, paquetes, cupês e faetons.  

Para quem não conseguiu entender 100 por cento do palavreado antiquado (mas na nossa opinião carregado de lirismo), basta dar uma folheada nas primeiras páginas de Casa velha, livro de Machado de Assis que acaba de chegar à Coleção L&PM POCKET. Assim como em Dom Casmurro, Quincas Borba, Memórias Póstumas de Brás Cubas, Esaú e Jacó, Helena, A mão e a luva e Memorial de Aires, a edição de Casa Velha da L&PM vem acompanhada de um panorama da vida cotidiana do Rio de Janeiro machadiano e de um glossário das palavras e expressões usadas na época. E o diferencial não para por aí. O escritor, doutor em literatura e especialista em Machado, Luis Augusto Fischer, incluiu ainda nestes livros uma biografia do autor e uma completa cronologia. 

Casa velha nasceu como um conjunto de 25 episódios publicados entre 1885 e 1886 na revista carioca A Estação e conta a polêmica história de um amor incestuoso a partir das lembranças de um padre que faz um balanço das perdas e ganhos dessa paixão. 

Machado de Assis, de cartola, em uma das ruas do centro do Rio de Janeiro

 

Shakespeare em Machado de Assis

Por Luís Augusto Fischer*

Não há ficcionista brasileiro que tenha lido e aproveitado mais a Shakespeare do que Machado de Assis; e não há autor que mais tenha influenciado o brasileiro do que o gênio inglês. Desde a juventude, nosso maior escritor frequentou as páginas teatrais e poéticas do autor do Ham­let, e isso numa época em que o prestígio cultural da língua inglesa no Brasil era pequeno, muito menor do que o do francês. Machado sabia que ali, e não em seus estimados franceses Voltaire, Pascal e Victor Hugo, estava a chave para os maiores segredos da psicologia humana, que sua literatura iria explorar com profundidade inédita em português.

Machado traduziu, parafraseou e citou Shakespeare desde sua juventude. A partir de 1870 essa relação se intensificou, em parte pelo amadurecimento do próprio autor brasileiro (nascido em 1839), em outra parte pela chance que teve de assistir a um conjunto expressivo de interpretações de peças shakesperianas feitas por uma companhia italiana de passagem pelo Brasil; foi a primeira vez que Machado (e talvez todo o país) pôde ver como era uma ótima montagem europeia do grande autor inglês, e registrou suas impressões em crônica da época.

Mas as maiores provas da importância do bardo inglês na obra do brasileiro acontecem em seu apogeu. A primeira vez que saíram publicadas as Memórias Póstumas de Brás Cubas, em folhetim, lá estava uma epígrafe shakesperiana, de As You Like It, em tradução do autor: “Não é meu intento criticar nenhum fôlego vivo, mas a mim somente, em quem descubro muitos senões”. Seu primeiro grande romance, assim, vem precedido de Shakespeare, que funciona aqui como um parachoque autocrítico.

Depois o mesmo dramaturgo apareceu em muitos contos memoráveis (como A Cartomante) e em crônicas, até ganhar sua maior homenagem em terras brasileiras, nada menos que o nervo psicológico do mais importante romance machadiano, Dom Casmurro. Ocorre que Bentinho reencarna o ciumento Otelo – esta peça foi citada 28 vezes por Machado, em narrativas, peças e artigos –, vivendo o sentimento em seu cotidiano e medindo Capitu com Desdêmona, aquela culpada, esta inocente.

Machado sabia que, para ser grande, era preciso conhecer os maiores; Shakespeare foi a melhor referência que nosso grande autor poderia ter escolhido.

*A crônica acima foi originalmente publicada na pg. 6 do Segundo Caderno do Jornal Zero Hora  (link exclusivo para cadastrados) em 4 de janeiro de 2011.