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A estrada que trouxe a foto de “On the Road”

Por Paula Taitelbaum

Não me pergunte como cheguei até Walter Salles. Foi uma espécie de estrada, trilhada pelos caminhos virtuais da internet, e que fizeram com que o endereço de email dele estacionasse na minha caixa de entrada. Com a bênção de Jack Kerouac, Walter respondeu à primeira mensagem que enviei, e que pedia uma pequena entrevista para o site da L&PM sobre On the Road, livro publicado por aqui e cuja história ele estava rodando na época. Aliás, não falei: isso foi há quase um ano. Em janeiro de 2011, enviei um novo e-mail elogiando as primeiras fotos divulgadas do filme e, de carona, comentei o quanto o “still” do Garrett Hedlund, um dos atores principais, havia feito sucesso entre as garotas do Núcleo de Comunicação L&PM. Walter, num misto de gentileza e provocação, enviou-me então duas fotos P&B que mostravam o galã Garrett na pele de Dean Moriarty, dançando num inferninho do México. Assim que eu abri os anexos, foi uma gritaria geral na sala (ok, exagerei, não gritamos, só suspiramos, vá lá…). A questão é que não podíamos mostrar as imagens pra ninguém. Muito menos passar adiante. E isso ele nem precisou dizer. Fotos como estas necessitam de uma autorização formal para serem usadas. Nada a fazer a não ser suspirar, portanto… E ali ficaram as imagens guardadas em uma pasta do meu computador.

Com a proximidade do aniversário de Jack Kerouac, 12 de março, comecei a pensar em como poderíamos fazer algo especial para comemorar a data. Será que não haveria a possibilidade de liberarem uma das fotos? Afinal, publicamos On the Road – o manuscrito original. Diante da minha pergunta, Walter foi novamente de uma gentileza ímpar e prometeu falar com a produtora, a francesa MK2, sobre a possibilidade de nos liberar uma das imagens, inédita no mundo. Depois do Carnaval, a resposta chegou: podíamos escolher uma das fotos. A MK2 escaneou a imagem (a  foto era em papel!) feita por Gregory Smith, nos mandou em alta, e autorizou a publicação no site da L&PM. Foi assim que, na sexta, dia 11 de março, um dia antes do aniversário de Kerouac, começamos a divulgar, através das redes sociais da editora, que a foto seria publicada em primeira mão no sábado ao meio-dia.

Sábado de manhã, o  Twitter mostrou o seu poder, fazendo com que a notícia se espalhasse rapidamente pelo mundo: começaram a chegar mensagens vindas da Europa, Ásia e EUA. Sites e blogs internacionais de fãs de Garrett Hedlund, Kristen Stewart, Jack Kerouac e On the Road também trataram de ajudar espontaneamente na divulgação. Quando a foto foi ao ar, os acessos saltaram. Muitos agradeceram o presente. Outros tantos disseram que Kerouac estava devidamente homenageado. Vários se mostraram ansiosos pela chegada do filme. E nós seguimos suspirando. Imagine quando o filme estreiar…

 

As primeiras imagens de “On the road”, de Walter Salles

Para nos deixar ainda mais ansiosos pela estreia de On the road, foram divulgadas esta semana as primeiras imagens do filme dirigido por Walter Salles. O longa baseado no clássico beat de Jack Kerouac está em fase de montagem e ainda não tem data para chegar aos cinemas.

Nas fotos publicadas pelo site de cinema francês Comme au Cinema, aparecem os personagens Dean Moriarty (Garrett Hedlund), sua namorada Marylou (Kristen Stewart) e Sal Paradise (Sam Riley):

Mal podemos esperar para conferir o resultado! Mas enquanto o filme não chega aos cinemas, aproveite para ler a entrevista em que Walter Salles nos conta o que sentiu quando leu On the road pela primeira vez.

Jack Kerouac escreveu a Marlon Brando propondo que filmassem “On the road”

Na segunda-feira, 10 de janeiro, o site inglês Collectors Weekly, especializado em Memorabília, publicou um texto assinado por Helen Hall, onde ela conta que, em 2005, mudou-se para Nova York para chefiar o departamento de Memorabilia na Christie´s. Um de seus primeiros trabalhos foi ir até a casa de Marlon Brando, em Mulholland Drive, para selecionar objetos para um leilão. Depois de muitas descobertas, faltava apenas verificar o escritório de Brando. Quando Helen achava que não podia encontrar mais nada, puxou uma velha carta de dentro de uma gaveta, datilografada e assinada em tinta azul: “Jack Kerouac”. “Eu quase desmaiei, enquanto lia a carta” conta ela. “A carta terminou trazendo 33.600 dólares no leilão, mas a minha lembrança de encontrá-la naquele dia quente da Califórnia não tem preço.” Abaixo, você pode ver a carta original que foi leiloada em 2005 (clique nela para aumentar a imagem) e também ler uma tradução (sem compromisso) que fizemos dela. Após a notícia de que Walter Salles terminou sua versão de ON THE ROAD, é emocionante descobrir como o próprio Kerouac havia imaginado seu filme.

Querido Marlon,

eu estou rezando para que você compre ON THE ROAD e faça um filme dele. Não se preocupe com a estrutura, eu sei como condensar e rearranjar um pouco a trama para torná-la mais aceitável para o cinema: transformando todas as viagens em uma só, todas as viagens que no livro são muitas numa única jornada de ida e volta de Nova York para Denver, para Frisco, para o México, para Nova Orleans e de volta a Nova York. Eu já visualizei belas tomadas que poderiam ser feitas com uma câmera no banco da frente do carro, mostrando a estrada (de dia e de noite)… enquanto ela vai se desenrolando pelo para-brisa e Sal e Dean vão tagarelando. Eu quero que você interprete Dean (como você sabe). Eu quero que você faça o Dean porque ele não é um babaca da estrada, mas uma pessoa realmente inteligente (na verdade um jesuíta), um irlandês. Você será Dean e eu serei Sal (a Warner Bros. já mencionou que eu seria Sal) e eu vou lhe mostrar como Dean era na vida real, você não tem ideia de como ele era sem uma boa imitação. Na verdade, a gente poderia ir visitá-lo em Frisco ou poderia ir até L.A. Ele é uma espécie de gato frenético, mas atualmente foi domesticado pela sua última mulher e reza o Pai Nosso todas as noites para seus filhos… como você pode ler em BEAT GENERATION.

Tudo o que eu quero é garantir um futuro para mim e para minha mãe para o resto da vida. Eu realmente quero viajar pelo mundo, escrever sobre o Japão, Índia, França, etc… Eu quero ser livre para alimentar meus companheiros quando estiverem com fome e não ter mais que me preocupar com minha mãe.

Incidentalmente, meu próximo romance é OS SUBTERRÂNEOS que sairá em NY em março próximo e é sobre um caso de amor entre um cara branco e uma garota negra e é uma história muito hip. Alguns dos personagens você poderia ter conhecido no Village. E este livro também poderia virar uma peça (ou um filme), mais fácil do que ON THE ROAD.

O que eu queria fazer era escrever para o teatro e o cinema na América, e dar a essa obra um tom espontâneo e remover as pré-concepções das “situações” para que as pessoas se pareçam como na vida real. É assim que a atuação deve ser: sem um sentido em particular, nenhuma “intenção” em particular, somente como as pessoas são na vida real. Tudo o que eu escrevo, escrevo nesse espírito. E me imagino como um anjo voltando para a Terra. Eu sei que você aprova essa ideia, e incidentalmente o novo show de Frank Sinatra também tem essa base “espontânea” que eu acho que é o único jeito de lidar com o show business ou com a vida. Os filmes franceses dos anos 30 são muito superiores aos nossos porque os franceses realmente deixam seus atores e escritores atuarem sem concepções pré-concebidas com relação às inteligências e eles conversam entre suas almas e todo mundo se entende de imediato. Eu queria fazer grandes filmes franceses na América, finalmente, quando eu for rico… O teatro e o cinema americanos do momento são um dinossauro fora de moda que não se modificou para se adaptar ao melhor da literatura americana.

Se você realmente quer ir adiante com isso, faça arranjos para me ver em Nova York da próxima vez que vier à Flórida e eu estiver aqui, mas o que nós faríamos era conversar sobre isso porque eu acho que isso pode marcar o início de algo realmente grande. E ando entediado ultimamente e estou procurando algo para fazer no vazio, pois, de qualquer maneira – escrever novelas está ficando fácil demais, mesmo com as peças, eu escrevi a peça em 24 horas.

Vamos lá, Marlon, arregace as mangas e escreva!

Sinceramente, até mais tarde,

Jack

Walter Salles termina de filmar “On the road”

No caderno Ilustrada da edição de hoje (10 de janeiro) da Folha de S. Paulo, o diretor Walter Salles fala sobre o término das gravações do filme On the road, inspirado na obra homônima de Jack Kerouac. Em maio de 2010, cerca de 6 anos após o convite para filmar o clássico da geração beat, Salles falou à L&PM sobre as incertezas que ainda rondavam o projeto:

A exemplo de “Diários de Motocicleta”, o projeto de On the Road já teve tantas encarnações que uma resposta definitiva só poderá ser dada quando a claquete do último plano da filmagem for batida. O que pode tornar o filme possível é a paixão de uma produtora independente francesa, a MK2, pelo projeto, e a fidelidade dos atores que convidei para fazer parte do processo em 2008. Mas novamente, certeza mesmo, só quando as filmagens forem terminadas e o filme for projetado na tela do cinema. (clique para ler a entrevista completa)

O caminho até a tão sonhada finalização do projeto já está mais perto do fim. Na última quinta, o filme começou a ser montado. Na entrevista concedida à Folha, Salles ressalta que, devido ao orçamento apertado, não foi possível montar em paralelo à filmagem. “Não víamos o que filmávamos”, relembra. A data do lançamento ainda não está definida, mas a previsão é de que On the road, o filme, fique pronto até o final deste ano ou no início de 2012.

Ainda em maio, quando o jornalista Marcos Strecker lançou a biografia de Walter Salles, o cineasta se mostrava cético sobre o futuro das filmagens recém começadas do clássico de Jack Kerouac (veja o vídeo abaixo). Para o biógrafo, On the road é o “road movie por definição” e vai ser o filme mais ousado da carreira de Walter Salles. Afinal, não é por coincidência que sua biografia se chama “Na estrada”:

Esperando para colocar o pé na estrada

Se você acha que está demorando para sair do papel o projeto do Walter Salles para On the Road, saiba que o próprio Kerouac esperou por anos que seu principal livro fosse parar nas telas do cinema. E já tinha até eleito o seu diretor: Marlon Brando.

Começou a circular agora há pouco na internet a carta que a gente reproduz mais abaixo, que teria sido escrita pelo próprio Kerouac. No texto, ele diz que espera que Marlon Brando compre os direitos da história e que entenderia as adaptações necessárias para que o filme pudesse ser realizado.

Abaixo está a transcrição do texto, que tiramos daqui. (via @marcelo_orozco)

Jack Kerouac
14182 Clouser St
Orlando, Fla

Dear Marlon

I’m praying that you’ll buy ON THE ROAD and make a movie of it. Don’t worry about the structure, I know to compress and re-arrange the plot a bit to give perfectly acceptable movie-type structure: making it into one all-inclusive trip instead of the several voyages coast-to-coast in the book, one vast round trip from New York to Denver to Frisco to Mexico to New Orleans to New York again. I visualise the beautiful shots could be made with the camera on the front seat of the car showing the road (day and night) unwinding into the windshield, as Sal and Dean yak. I wanted you to play the part because Dean (as you know) is no dopey hotrodder but a real intelligent (in fact Jesuit) Irishman. You play Dean and I’ll play Sal (Warner Bros. mentioned I play Sal) and I’ll show you how Dean acts in real life, you couldn’t possibly imagine it without seeing a good imitation. Fact, we can go visit him in Frisco, or have him come down to L.A. still a real frantic cat but nowadays settled down with his final wife saying the Lord’s Prayer with his kiddies at night…as you’ll seen when you read the play BEAT GENERATION. All I want out of this is to able to establish myself and my mother a trust fund for life, so I can really go roaming around the world writing about Japan, India, France etc. …I want to be free to write what comes out of my head & free to feed my buddies when they’re hungry & not worry about my mother.

Incidentally, my next novel is THE SUBTERRANEANS coming out in N.Y. next March and is about a love affair between a white guy and a colored girl and very hep story. Some of the characters in it you know in the village (Stanley Gould etc.) It easily could be turned into a play, easier than ON THE ROAD.

What I wanta do is re-do the theater and the cinema in America, give it a spontaneous dash, remove pre-conceptions of “situation” and let people rave on as they do in real life. That’s what the play is: no plot in particular, no “meaning” in particular, just the way people are. Everything I write I do in the spirit where I imagine myself an Angel returned to the earth seeing it with sad eyes as it is. I know you approve of these ideas, & incidentally the new Frank Sinatra show is based on “spontaneous” too, which is the only way to come on anyway, whether in show business or life. The French movies of the 30’s are still far superior to ours because the French really let their actors come on and the writers didn’t quibble with some preconceived notion of how intelligent the movie audience is, the talked soul from soul and everybody understood at once. I want to make great French Movies in America, finally, when I’m rich…American Theater & Cinema at present is an outmoded Dinosaur that ain’t mutated along with the best in American Literature

If you really want to go ahead, make arrangements to see me in New York when you next come, or if you’re going to Florida here I am, but what we should do is talk about this because I prophesy that it’s going to be the beginning of something real great. I’m bored nowadays and I’m looking around for something to do in the void, anyway—writing novels is getting too easy, same with plays, I wrote the play in 24 hours.

Come on now Marlon, put up your dukes and write!

Sincerely, later,
Jack Kerouac

Filmar On the road é uma estrada sem fim

Depois de divulgar os prováveis atores dos papéis principais de On the road e de dizer que estava procurando nomes para os papéis secundários, Walter Salles anunciou em recente entrevista que agora só “um milagre” fará com que consiga terminar a sua produção independente. Apesar do diretor não ter desistido oficialmente, nada garante que algum dia assistiremos à adaptação da principal obra de Jack Kerouac nas telas do cinema. Gus van Sant e Jean-Luc Godard já haviam desistido antes mesmo de começar e agora é a vez de Salles queixar-se das dificuldades de fazer um “Road movie” com diferentes locações espalhadas pelo vasto território californiano. “Esse filme tem uma história de 50 anos de tentativas. É um pouco um filme Sísifo, em que você nunca tem a certeza de que vai conseguir levar a pedra lá para cima”, disse o diretor, em conversa com a Folha de S. Paulo

Mas se o longa-metragem não está nem perto do fim, Walter Salles pelo menos conseguiu realizar À Procura de On the Road, um documentário que registra, segundo ele mesmo, a “busca por um filme possível”. O trabalho de 60 minutos foi editado em uma semana e exibido no Festival de Cinema de San Francisco, mas não deverá ser visto novamente. Uma pena, pois nele estão depoimentos de gente como Sean Penn, Wim Wenders, Peter Coyote e Johnny Depp. 

A pergunta que fica no ar é: se é tão difícil filmar, não seria melhor esquecer e deixar a obra de Kerouac somente para leitores?  A L&PM Editores possui treze títulos de Kerouac, entre eles On the road – o manuscrito original, o recém lançado Satori em Paris e ainda Big Sur, que acaba de sair em nova edição.

Procura-se atores para On the Road

O diretor  de cinema Walter Salles (de Central do Brasil e Diários de Motocicleta) está em busca de atores para a adaptação  que fará do clássico beat On the Road, escrito por Jack Kerouac em 1957.
Os direitos do livro pertenciam à produtora de Francis Ford Coppola (de O poderoso chefão) desde os anos 70, e foram cedidos à equipe de Salles em 2005. O diretor brasileiro já chegou até a percorrer o caminho descrito por Kerouac.
Agora, o ator Garrett Hedlund , de Tróia,  é o mais cotado para viver Dean Moriarty (Neal Cassady) e Sam Riley deve representar Sal Paradise (Kerouac). O intérprete de Carlo Marx (Allen Ginsberg) segue indefinido.
 As gravações estão previstas para começar ainda no segundo semestre de 2010.