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Capas com amor para o Dia dos Namorados

Uma dupla de designers resolveu aproveitar o Dia dos Namorados para demonstrar seu amor pela literatura! O resultado foram 14 capas de livros sobre o amor, sempre usando corações, olha só:

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“100 anos de solidão” de Gabriel Garcia Marquez

 

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“Lolita” de Nabokov

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“O jogador” de Dostoiévski

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“Em busca do tempo perdido” de Marcel Proust

As outras 10 capas da coleção estão lá no blog deles 🙂

Carlos Fuentes: escrever para ser

Por Eric Nepomuceno*

O escritor mexicano Carlos Fuentes, no centro da imagem, junto ao peruano Mario Vargas Llosa e ao colombiano Gabriel García Márzquez (El País)

Vejo algumas fotos em preto e branco. E me detenho em uma, feita em algum dia incerto da Barcelona daqueles anos 70, mostrando um Vargas Llosa alto e sorridente, um Carlos Fuentes um tanto formal, e um Gabriel García Márquez cabeludo e com bigodes que parecem desenhados a carvão. Fuentes ainda fumava: na mão esquerda, posta fraternalmente sobre o ombro de García Márquez, aparece o cigarro. Ali estão eles: Vargas Llosa aparece à esquerda, Fuentes está no centro, García Márquez à direita. Exatamente o avesso do que a vida reservaria aos três, ou do que os três fariam de suas vidas.

Na foto, os três são jovens, e parecem confiantes, e ocupam o inverso do espaço que o tempo e a realidade se encarregariam de colocar em seus devidos lugares: quem à direita, ao centro, à esquerda. Volta e meia imagino como será ter sido ser jovem, ou melhor, ser um jovem Fuentes, um jovem Mario Vargas, um jovem García Márquez naqueles anos de turbilhão. Uma vez perguntei isso a Fuentes. Estávamos em São Paulo, caminhávamos ao léu com Silvia Lemus, sua mulher, para cima e para baixo por aquelas paralelas da rua Augusta, e ele me contava coisas. Dizia assim: ‘É que a gente era muito jovem, e acreditávamos nas mesmas coisas, e tínhamos uma confiança enorme no futuro’. Insistia: sua amizade com García Márquez, que vinha de 1961, era a qualquer prova. E acabei sendo testemunha disso, dessa verdade.

E lembro que algum tempo depois, coisa de ano ou ano e meio, ao entrar num restaurante italiano em Buenos Aires, topei com ele e com Silvia. E ele, como sempre de uma elegância sem fim – e, atenção: estou me referindo à elegância como postura diante da vida –, quis continuar uma conversa que eu nem lembrava qual era. Era a conversa sobre nossos respectivos anos jovens. Disse ele, lembrando de Vargas Llosa, de García Márquez, de Cortázar: ‘A vida segue, e às vezes, nos separa. Bom mesmo é quando você consegue discordar de tudo e fazer com que nada separe os afetos, a amizade’. Tentou isso a vida inteira. Às vezes – com Cortázar, com García Márquez –, conseguiu. Aliás, sem maiores esforços.

Quando me refiro a ele como um homem elegante, me refiro a um pensamento que conseguia ser ao mesmo tempo ágil e contido, que não se limitava às barreiras que muitas vezes nos impomos a nós mesmos. Acreditava no que acreditava. Acreditava no futuro. No futuro da América Latina, no futuro no ser humano. Acreditava que, em algum momento desse nosso eterno recomeçar, nós, da América Latina, deixaríamos de recomeçar e começaríamos de verdade. E escrevia assim: acreditando. Não há dois livros dele que sejam iguais. Porque, em seu ofício, Carlos Fuentes era como na vida: sempre disposto a recomeçar, a reinventar. Sua obra é desigual, porque ao longo da vida somos desiguais. Escrevia cada livro como se fosse o primeiro. E por isso mesmo ele foi tantos, como tantos somos nós em nosso dia-a-dia.

A única coisa que se manteve sempre em cada palavra, cada frase que desenhou, foi a fé no futuro. Jamais acreditou em limites e fronteiras, quando escrevia. E nem quando vivia. Qualquer um que tenha a palavra escrita como matéria prima, e a memória como guia dos tempos, saberá descobrir no autor de ‘A região mais transparente’, ou ‘A morte de Artemio Cruz’, ou de ‘Terra Nostra’, de ‘Gringo Viejo’, um eterno contemporâneo, um companheiro de viagem, um parceiro de sonhos e ousadias. E uma testemunha de desesperanças e esperanças, de tudo aquilo que poderíamos ter sido e que não fomos.

Fuentes dizia que, mais do que pela obra dos grandes historiadores, dos grandes sociólogos, dos grandes antropólogos – e ele foi amigo de vários dos grandes –, a verdadeira história nossa era escrita por escritores. Lembro bem da vez em que ele disse que escrever literatura não era um ato natural: era como dizer que a realidade, não é suficiente. Que precisa de outra realidade, a da imaginação. E que isso era perigoso. Assim viveu, assim escreveu.

Muito mais que um grande escritor, a América perdeu um homem de seu tempo – de seus tempos. Que soube defender suas idéias com tamanha inteireza, com tamanha elegância, com tamanha firmeza, que mesmo os que tantas vezes discordaram dele poucas vezes deixaram de respeitá-lo. Eu perdi um amigo distante. Que teve uma vida coalhada de dramas tenebrosos – a ele e a Silvia foi reservada a pior das dores de um ser humano, a de enterrar seus filhos – e conseguiu continuar caminhando. E sorrindo.

Lembro de Carlos Fuentes como alguém que não se deixou abater. Que não deixou de sorrir e de acreditar.

Certa vez, ele me disse que escrevia para continuar sendo. E, assim, foi.

 * Eric Nepomuceno é escritor, jornalista e tradutor e acaba de entregar a tradução do novo livro de Eduardo Galeano, “Os filhos dos dias” que será lançado em breve. Este texto foi publicado originalmente no site Cartamaior.

Morre o grande Carlos Fuentes, autor da obra-prima “Aura”

Morreu ontem, aos 83 anos, Carlos Fuentes, um dos maiores e mais influentes escritores latinoamericanos do século XX. É autor – entre dezenas de romances, novelas, livros de contos, ensaios, peças de teatro e roteiros cinematográficos – de A região mais transparente (1958), Aura (1962), A Morte de Artemio Cruz (1962), Terra Nostra (1975) e Gringo Viejo (1985). Filho de pais mexicanos, nasceu no Panamá em 1928. Dono de um estilo muito refinado e de um enorme talento, soube como poucos retratar a atmosfera onírica e trágica do seu México. Com o colombiano Gabriel García Marquez, o chileno José Donoso, o peruano Vargas Llosa, o paraguaio Roa Bastos, o argentino Julio Cortázar, os uruguaios Onetti e Benedetti, o guatemalteco Miguel Ángel Asturias, entre outros, formou a “geração de ouro” que criou a alma e a personalidade da poderosa literatura latinoamericana que invadiu o mundo inteiro nas últimas décadas do século XX e produziu 4 prêmios Nobel: Miguel Ángel Asturias, Pablo Neruda, Gabriel García Marquez e Vargas Llosa.

A L&PM publicou um dos seus mais impressionantes trabalhos que, por acaso, é uma pequena novela de 80 páginas, Aura. Poucos textos da literatura latinoamericana têm a beleza e a expressividade desta narrativa em que o o autor utiliza seus imensos recursos para construir uma ficção que intriga, deslumbra e, por fim, surpreende como poucas histórias conseguem surpreender. Uma verdadeira obra prima que a L&PM publica desde a década de 1980 numa magnífica tradução da poeta Olga Savary (atualmente é publicada na Coleção L&PM Pocket).

Para nós, fica a melancolia de ver esta luminosa geração ir se apagando aos poucos. Como consolo, resta o sortilégio da literatura, o raro espaço real onde o imaginário que estes homens e mulheres criaram faz com que se eternizem nos corações e mentes da nossa e de futuras gerações. (Ivan Pinheiro Machado)

O testamento de Cristóvão Colombo

Cristóvão Colombo foi um dos maiores navegadores da história. “Todos os mares em que hoje se navega, eu o percorri” escreveu ele ao rei da Espanha em 1501. Apaixonado pela ideia de chegar ao Oriente pela rota do Oeste, venceu o desafio das lendas e navegou na direção do poente. Disposto a atingir a qualquer preço o mundo fabuloso descrito por Marco Polo, até o fim de seus dias Colombo recusou-se a admitir que havia descoberto um novo Mundo. Morreu há exatos 505 anos atrás, em 20 de maio de 1406, pobre e esquecido. Anos antes, no entanto, deixou pronto um testamento, onde cita como seus herdeiros Dom Diego e Dom Fernando, seus filhos. Abaixo, a reprodução completa deste documento, que faz parte de Diários da Descoberta da América, obra que, segundo Gabriel García Márquez, é “O primeiro livro de realismo mágico” da história.