Arquivo mensais:maio 2012

O grande amor de Modigliani

Enquanto isso, no primeiro andar, Amedeo faz o retrato de uma jovem de dezenove anos, aluna da bastante próxima Academia Colarossi, um retrato datado e assinado de 31 de dezembro de 1916. Ela se chama Jeanne Hèbuterne. Ela não usa pó-de-arroz no rosto, não usa batom nos lábios. Ela se parece com uma virgem veneziana e desenha muito bem. Dotada para a pintura e atraída pelo fauvismo, ela gostaria de pintar sobre porcelana e se prepara para o concurso de admissão na Escola Nacional de Artes Decorativas da Rue Bonaparte. Nesse último dia do ano, Amedeo acaricia as longas tranças castanhas que enquadram o rosto de Jeannette, como ele a chama afetuosamente, “Noix de Coco” para seus colegas de ateliê. É uma jovem doce que desabrocha para a vida e para o amor. Ela é pálida, bonita, magricela, um pouco enfermiça, com grandes olhos amendoados. (…) Um lampejo de esperança se abre na vida de Amedeo. De repente, ele é invadido por um tipo de paz, ele é conquistado pelo frescor dessa jovem diferente das outras. Como uma musa, ela o inspira. A partir desse dia, ele a esperará na saída de suas aulas, com o coração batendo, como um colegial que corre ao primeiro encontro. “A felicidade é um anjo de rosto grave”, diz ele. Ela fica maravilhada com esse homem de 33 anos que a corteja discretamente e que a fascina. Ela gosta que ele se interesse por ela, por sua pintura, por seus desenhos, e o contempla por horas num canto de banco no La Rotonde enquanto ele declama suas poesias em italiano.

(Trecho de Modigliani, Série Biografias L&PM)

Quem estiver em São Paulo até 15 de julho não pode deixar de conferir “Modigliani: Imagens de uma Vida”, mostra que o Masp (Museu de Arte de São Paulo) está exibindo. São desenhos, esculturas, manuscritos, fotos e obras de outros artistas que traçam um panorama da vida do pintor italiano. Entre as obras espostas, estão pinturas de Jeanne Hèbuterne, o grande amor de Modigliani que, logo após a morte dele por tuberculose, jogou-se da janela, grávida de seis meses. Detalhe: o curador desta mostra é Christian Parisot, autor da biografia que a L&PM publica na Coleção L&PM Pocket.

Serviço
Modigliani: Imagens de uma vida
Até 15 de julho
Masp – Avenida Paulista, 1578
De terça a domingo, e feriados: das 11h às 18h ; quinta-feira: das 11h às 20h
Ingressos: R$ 15 (inteira); R$ 7 (meia); crianças até 10 anos e idosos acima de 60 anos têm entrada franca.
Toda terça-feira a entrada é gratuita no Masp.
Informações: (11) 3251-5644

 Após São Paulo, a mostra segue para Curitiba.

Agatha Christie, a rosa e o teixo

O momento da rosa / e o momento do teixo / têm igual duração. A frase, parte de um poema de T.S. Eliot, abre um dos livros que Agatha Christie assinou como Mary Westmacott, pseudônimo que a Rainha do Crime escolheu para usar em suas obras não policiais. Os versos de Eliot, aliás, também batizam o título original do livro: The Rose and the Yew Tree (A rosa e o teixo). Mas sendo o teixo uma árvore encontrada na Europa e Ásia e não muito familiar no Brasil, o título soaria meio estranho pra gente. Daí a opção em dar-lhe o nome de “O conflito” (e logo você descobre que ele é totalmente pertinente). Mas voltando ao assunto, para os que estão loucos para saber como é, afinal, o teixo, aí vão algumas características: ele é uma árvore com complexo de arbusto, com folhas meio espinhentas e frutos venenosos. Forte e resistente, os arcos de Robin Hood teriam sido feitos com a sua madeira, já que ela era a mais utilizada para este fim nos idos tempos ingleses. Apesar do teixo não ser lá muito bonito, ele pode ganhar um trato e ficar bastante apresentável, pois ele se presta perfeitamente para aquelas esculturas arbóreas dos clássicos (e nobres) jardins britânicos. No livro de Agatha Christie, o teixo representa o personagem John Gabriel, um ambicioso e oportunista herói de guerra, enquanto a rosa do título original simboliza Isabella Charteris, a mocinha que se apaixona por ele e fica dividida entre o compromisso de se casar com um primo e o amor por Gabriel que, apesar de corresponder aos seus suspiros, também entra em conflito. Pra saber se eles acaba dividindo o mesmo jardim, só lendo o livro pra descobrir.

Um escabelado teixo que, pelo tamanho, deve ter muitos anos de vida

Além de O conflito, de Mary Westmacott / Agatha Christie, a Coleção L&PM Pocket também publica Ausência na primavera, Retrato inacabado e Filha é filha.

Sun Tzu de roupa nova

Quando o ilustrador Gilmar Fraga recebeu a missão de desenhar algumas passagens do clássico A arte da guerra, de Sun Tzu, a primeira coisa que ele fez foi pegar o volume da Coleção L&PM Pocket e marcar os trechos que mais lhe chamavam a atenção. Feito isso, partiu para o ataque e, depois de buscar referências nas HQs e filmes de artes marciais, apresentou 25 ilustrações primorosas, que deixaram o livro ainda mais atraente. E assim, nesta nova edição de A arte da guerra que agora chega, os leitores encontram o mesmo conteúdo da edição anterior, a mesma tradução de Sueli Barros Cassal (a partir daquela feita do chinês para o francês, em 1772, pelo Padre Amiot) e até o mesmo preço da anterior: R$ 9,50. Mas não há dúvida de que também encontram muito mais arte.

“O grande Gatsby” em 3D

O trailer de O grande Gatsby divulgado esta semana, dá um gostinho de como vai ser a nova adaptação do clássico de F. Scott Fitzgerald para o cinema. Com Leonardo Di Caprio no papel de Jay Gatsby e Carey Mulligan como Daisy Buchanan, o filme tem estreia mundial prevista para no dia 25 de dezembro em 3D. Já no Brasil, Gatsby em três dimensões promete estrear em 04 de janeiro. A julgar pelo trailer, a nova versão – diferente daquela que trazia Robert Redford como protagonista – vem em clima de Moulin Rouge, filme que tem a assinatura de Baz Luhrmann, o mesmo deste O grande Gatsby.

Há quatro anos, morria Roberto Freire

Roberto Freire foi psicanalista, escritor, jornalista, dramaturgo e, como ele mesmo gostava de dizer, um anarquista. Autor de vários bestsellers, faleceu em 23 de maio de 2008, aos 81 anos. Entre seus legados, está o livro Cleo e Daniel, escrito na década de 1960 e relançado pela Coleção L&PM Pocket há poucos dias atrás, depois de ficar mais de uma década fora do mercado. Cleo e Daniel agora tem introdução do escritor Ignacio de Loyola Brandão que era amigo de Freire: “Foi um impacto, Cleo e Daniel estourou em vendas, estava nas mãos de todos os jovens. Falava-se de Cleo, de Daniel e de Roberto. Tenho uma curiosidade imensa de saber como se comportará este romance quase cinquenta anos depois. Verdade que grandes livros nunca envelhecem. Como será visto hoje pela geração facebook, linkedin, iPhone, iPad, internet, twitter, rede social. Pensar que Roberto escrevia a lápis.”

On the road é exibido em Cannes

Exibido hoje cedo em Cannes, Na Estrada (On the Road), deu um banho de “sensualidade e sensorialidade”. Pelo menos é o que conta a matéria publicada no Blog do Bonequinho, do Jornal O Globo que reproduzimos aqui:

Enviado por Rodrigo Fonseca / 23.5.2012 – 6h24m

CANNES: UMA JORNADA DE MATURIDADE E SENSUALIDADE

Walter Salles deu à Cannes algo que o festival de cinema mais disputado do mundo ainda não havia experimentado em sua 65ª edição: sensualidade, sensorialidade, ou em bom português, tesão. “Na estrada” (“On the road”) é disparado o filme mais maduro de Salles como realizador, preciso em sua composição de planos, exigente na direção de atores e ousado no retrato da juventude. Com base no romance beat de Jack Kerouac, que o cinema sonhou ver na tela durante anos, o novo longa-metragem do cineasta carioca de 56 anos é uma espécie de súmula da questões buscadas pelo cineasta ao longo de 21 anos de carreira. Seu tema central, a construção de uma relação amorosa (seja ela fraternal, maternal ou ideológica), no decorrer de uma jornada, encontra na prosa de Kerouac matéria-prima para construir uma radiografia geracional.

De olhos voltados para a América do fim dos anos 40 e do início dos anos 50, Salles narra a construção da amizade entre o aspirante a escritor Sal Paradise (Sam Rilley) e o ex-presidiário chave de cadeia Dean, representado por um Garrett Hedlund devastador. Embora as opiniões acerca do filme não sejam consensuais, divididas entre paixões e recepções frias, existe um ponto em comum. A Croisette em peso agora acha que Garrett pode dar uma rasteira em Jean-Louis Trintignant (o favorito por “Amour”) na briga pelo prêmio de melhor ator. Outra surpresa é Kristen Stewart, a mocinha da série “Crepúsculo”. Descabelada, suada, safada e pelada, ela disparou uma bomba hormonal na sessão do filme esta manhã para a imprensa. Na sessão estavam membros do júri, como o diretor americano Alexander Payne e o estilista Jean Paul Gaultier. Kristen ajuda o filme a quebrar a caretice habitual com que o cinema americano – esta é uma co-produção entre França e EUA – trata o sexo. Francis Ford Coppola, que sonhou durante quase 30 anos levar o livro de Kerouac às telas, deve estar bem feliz. Embora o favoritismo na briga pela Palma, ficar com o romeno “Beyond the hills” e o austríaco “Amour”, “Na estrada” deve sair daqui com troféus na mala. Merece. O bonequinho aplaude Salles de pé.

Walter Salles e o elenco esta manhã em Cannes

 A L&PM acaba de lançar uma edição de On the Road comemorativa ao filme, com a capa do poster.

O mapa astral de Sir Arthur Conan Doyle

Conan Doyle acreditava em fadas, em espíritos e no sobrenatural em geral. Nada mais lógico, portanto, do que pensar que ele também levava fé no poder dos astros. Nascido em 22 de maio de 1859 em Edimburgo, Escócia (segundo consta, às 4:55 da manhã), o criador de Sherlock Holmes tinha sol em Gêmeos, ascendente também em Gêmeos e lua em Aquário. Será que isso explicaria sua genialidade em criar o mais famoso detetive da literatura? Segue abaixo, o seu mapa astral para quem quiser se aventurar a interpretá-lo:

Dalton Trevisan recebe o Prêmio Camões deste ano

Acaba de ser divulgado, em Lisboa, que o grande vencedor do Prêmio Camões deste ano é Dalton Trevisan. Este é o maior prêmio literário em língua portuguesa e Trevisan receberá por ele o valor de cem mil euros. O júri da 24ª edição do Prêmio Camões foi constituído por Rosa Martelo, professora associada da Faculdade de Letras da Universidade do Porto; Abel Barros Baptista, professor associado da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa; a poeta angolana Ana Paula Tavares; o historiador e escritor moçambicano João Paulo Borges Coelho; Alcir Pécora, professor da Universidade de Campinas e o crítico, ensaísta e escritor brasileiro Silviano Santiago.

O Prêmio Camões foi instituído por Portugal e Brasil em 1989 e a escolha recai sobre a obra que contribui para a projeção e reconhecimento da língua portuguesa. “A escolha de Dalton Trevisan foi unânime. Houve uma discussão maravilhosa entre os membros do júri de cerca de duas horas e depois chegamos a essa decisão consensual”, afirmou Santiago em nota divulgada pela Fundação Biblioteca Nacional, responsável pelo prêmio no Brasil. “Primeiramente, pela contribuição extraordinária de Dalton Trevisan para a arte do conto, em particular para o enriquecimento de uma tradição que vem de Machado de Assis, no Brasil, de Edgar Allan Poe, nos EUA, e de Borges, na Argentina.”

Nascido em Curitiba em 14 de junho de 1925, Dalton Trevisan é autor de uma extensa obra em que destacam-se Cemitério de Elefantes (Civilização Brasileira, 1964), Vampiro de Curitiba (Civilização Brasileira, 1965), A Trombeta do Anjo Vingador (Record, 1977) e A faca no coração (Record, 1975). Pela L&PM, publicou os livros 111 Ais, 99 corruíras, Continhos galantes, Duzentos Ladrões, A gorda do Tiki Bar, Mirinha e Nem te conto, João.

Recluso, o escritor não se deixa fotografar há anos e só fala com poucos amigos. Fato que é conhecido não apenas no Brasil, mas também em Portugal como bem mostra a matéria divulgada hoje em terras lusitanas:

Clique na imagem para assistir ao vídeo

“A Dinastia Rothschild”: um livro fascinante

Herbert Lottman nasceu em Nova York, tem 85 anos, dos quais 52 passados em Paris. Foi correspondente de importantes jornais americanos na Europa e passou a ser respeitado internacionalmente pelo magnífico texto, a intensa pesquisa que fez sobre a Europa entre as duas grande guerras e as importantes biografias de Flaubert, Camus, Collette e Julio Verne. Seu trabalho mais conhecido, Rive Gauche: escritores, artistas e políticos em Paris, 1934-1953, foi best seller internacional nos anos 1980 e trata de um tema delicado: as relações promíscuas entre muitos respeitados  intelectuais franceses e os alemães durante a ocupação nazista na segunda grande guerra (1940- 1945).

Seu mais recente trabalho, também um best seller internacional, chegou ao Brasil e rapidamente alcançou a terceira reimpressão em poucos meses. Trata-se da história, ou melhor, da saga dos Rothschild, família de banqueiros judeus que foi por vezes protagonista, por vezes coadjuvante, mas sempre esteve na história da política e economia ocidental nos últimos 300 anos.

O nome Rothschild – “escudo vermelho” em alemão – remonta a um período negro da história europeia: no século XVIII os judeus eram confinados a guetos, não tinham direito a propriedades, nem mesmo a um sobrenome. Podiam apenas improvisar um nome de família ou colocar uma placa simbólica acima da porta do seu estabelecimento comercial. Pois foi numa loja de produtos variados na Judengasse, o gueto judeu da cidade alemã de Frankfurt, que nasceu Mayer Amschel, aficionado conhecedor de moedas e cérebro do império que viria a se formar. Jacob, o filho­ mais novo, se instalaria em Paris, passando a usar o nome de James e construindo o braço francês dos negócios da família. Seus irmãos se espalhariam por outros centros financeiros do continente: Londres, Viena e Nápoles.

Os êxitos e as desventuras dos Rothschild estiveram intimamente ligados aos acontecimentos históricos, financeiros e políticos, sobretudo no século XX: foi assim por ocasião do caso Dreyfus, ainda no final do século XIX, da crise de 1929, das espoliações ocorridas sob o governo colaboracionista de Vichy durante a ocupação nazista da França e, na década de 80, durante o governo do socialista François Mitterrand.

Composta de banqueiros, viticultores (Château Mouton Rothschild), industriais, financistas, agricultores, pecuaristas, colecionadores, mecenas, atores e escritores, a dinastia dos Rothschild estendeu sua influência econômica e política de Londres a Israel, da Espanha à Rússia.

O famoso rótulo do vinho dos Rothschild

Para retraçar esta história notável, Herbert R. Lottman teve acesso a arquivos inéditos e a correspondências privadas. A edição publicada pela L&PM conta também com um posfácio do autor escrito especialmente para a edição brasileira.  (Ivan Pinheiro Machado)

O dia em que Verlaine atirou em Rimbaud

Cheguei a Bruxelas há quatro dias, infeliz e desesperado. Conheci Rimbaud há mais de um ano. Vivi com ele em Londres, cidade que deixei há quatro dias para vir viver em Bruxelas, a fim de estar mais perto dos meus negócios, já que estou me separando de minha esposa, residente em Paris, a qual alega que eu mantenho relações imorais com Rimbaud. Escrevi a minha esposa dizendo que caso ela não viesse ter comigo em três dias, eu daria um tiro na minha cabeça, e foi com essa finalidade que comprei um revólver esta manhã na passagem das Galeries Saint-Hubert, com o estojo e uma caixa de balas, pela soma de 23 francos. Depois de minha chegada a Bruxelas, recebi uma carta de Rimbaud que me perguntava se podia vir se encontrar comigo. Enviei-lhe um telegrama dizendo que o aguardava, ele chegou há dois dias. Hoje, ao ver-me infeliz, quis me abandonar. Perdi o controle em um instante de loucura e atirei nele. Ele não deu queixa naquele momento. Fui com ele e minha mãe ao hospital Saint-Jean para que ele recebesse cuidados e voltamos juntos. Rimbaud queria partir de qualquer jeito. Minha mãe deu-lhe vinte francos para sua viagem; e foi no caminho para a estação que ele alegou que eu queria matá-lo.

(Depoimento de Paul Verlaine que está no livro Rimbaud, Série Biografias L&PM)