Arquivo da tag: Fernando Pessoa

Os escritores e suas modalidades olímpicas

As Olimpíadas seguem a mil pelo Japão. Enquanto isso, entramos no clima e apresentamos algumas modalidades nas quais alguns autores do nosso catálogo eram campeões.

Modalidade levantamento de copo. Jack Kerouac foi atleta de verdade e fazia parte do time de futebol americano da sua universidade. Mas  por problemas no joelho acabou tendo que largar a vida esportiva. Costumava ser bom em levantamento de copo e corrida na estrada sem obstáculos.

Modalidade levantamento de copo

Modalidade lançamento de livro à distância. Agatha Christie chegou a surfar no Havaí, mas acabou percebendo que se dava melhor com os papéis do que com as pranchas. Tornou-se uma das maiores lançadoras e vendedoras de livro do planeta e foi traduzida para 45 línguas.

Modalidade lançamento de livro à distância

Modalidade revezamento de personalidade. Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Bernando Soares. Ninguém praticava revezamento de heterônimos com tanta habilidade como Fernando Pessoa. Ele não era um escritor, era uma equipe completa.

Modalidade revezamento de personalidade

Modalidade agarramento de mulheres. Charles Bukowski era um excelente levantador de copos e empinador de garrafas – provavelmente melhor do que Kerouac – mas dizem que ele também era um exímio atleta sexual e campeão de agarramento de mulheres.

Modalidade salto sobre mulheres

O tema geral da cerimônia de abertura será a história do povo brasileiro.

O Santo Antônio de Fernando Pessoa

Fernando Antônio Nogueira Pessoa nasceu em 13 de junho de 1888, às 15h20min, no Largo de São Carlos e Lisboa. Era Dia de Santo Antônio e, coincidência ou não, sua mãe escolheu uma alcunha bem parecida com o nome original do santo: Antônio Fernando de Bulhões. No site português MultiPessoa, que divulga a obra do escritor e oferece material didático e de pesquisa, há um poema chamado “Santo Antonio”. Segundo consta, este é um dos poemas que estava dentro da arca em que Pessoa guardava a produção literária que ainda não havia saído em livro.

O pequeno Fernando Pessoa no colo da mãe, Maria Magdalena

SANTO ANTÓNIO

Nasci exactamente no teu dia —
Treze de Junho, quente de alegria,
Citadino, bucólico e humano,
Onde até esses cravos de papel
Que têm uma bandeira em pé quebrado
Sabem rir…
Santo dia profano
Cuja luz sabe a mel
Sobre o chão de bom vinho derramado!

Santo António, és portanto
O meu santo,
Se bem que nunca me pegasses
Teu franciscano sentir,
Católico, apostólico e romano.

(Reflecti.
Os cravos de papel creio que são
Mais propriamente, aqui,
Do dia de S. João…
Mas não vou escangalhar o que escrevi.
Que tem um poeta com a precisão?)

Adiante … Ia eu dizendo, Santo António,
Que tu és o meu santo sem o ser.
Por isso o és a valer,
Que é essa a santidade boa,
A que fugiu deveras ao demónio.
És o santo das raparigas,
És o santo de Lisboa,
És o santo do povo.
Tens uma auréola de cantigas,
E então
Quanto ao teu coração —
Está sempre aberto lá o vinho novo.

Dizem que foste um pregador insigne,
Um austero, mas de alma ardente e ansiosa,
Etcetera…
Mas qual de nós vai tomar isso à letra?
Que de hoje em diante quem o diz se digne
Deixar de dizer isso ou qualquer outra coisa.

Qual santo! Olham a árvore a olho nu
E não a vêem, de olhar só os ramos.
Chama-se a isto ser doutor
Ou investigador.

Qual Santo António! Tu és tu.
Tu és tu como nós te figuramos.

Valem mais que os sermões que deveras pregaste
As bilhas que talvez não concertaste.
Mais que a tua longínqua santidade
Que até já o Diabo perdoou,
Mais que o que houvesse, se houve, de verdade
No que — aos peixes ou não — a tua voz pregou,
Vale este sol das gerações antigas
Que acorda em nós ainda as semelhanças
Com quando a vida era só vida e instinto,
As cantigas,
Os rapazes e as raparigas,
As danças
E o vinho tinto.

Nós somos todos quem nos faz a história.
Nós somos todos quem nos quer o povo.
O verdadeiro título de glória,
Que nada em nossa vida dá ou traz
É haver sido tais quando aqui andámos,
Bons, justos, naturais em singeleza,
Que os descendentes dos que nós amámos
Nos promovem a outros, como faz
Com a imaginação que há na certeza,
O amante a quem ama,
E o faz um velho amante sempre novo.
Assim o povo fez contigo
Nunca foi teu devoto: é teu amigo,
Ó eterno rapaz.

(Qual santo nem santeza!
Deita-te noutra cama!)
Santos, bem santos, nunca têm beleza.
Deus fez de ti um santo ou foi o Papa? …
Tira lá essa capa!
Deus fez-te santo! O Diabo, que é mais rico
Em fantasia, promoveu-te a manjerico.

És o que és para nós. O que tu foste
Em tua vida real, por mal ou bem,
Que coisas, ou não coisas se te devem
Com isso a estéril multidão arraste
Na nora de uns burros que puxam, quando escrevem,
Essa prolixa nulidade, a que se chama história,
Que foste tu, ou foi alguém,
Só Deus o sabe, e mais ninguém.

És pois quem nós queremos, és tal qual
O teu retrato, como está aqui,
Neste bilhete postal.
E parece-me até que já te vi.

És este, e este és tu, e o povo é teu —
O povo que não sabe onde é o céu,
E nesta hora em que vai alta a lua
Num plácido e legítimo recorte,
Atira risos naturais à morte,
E cheio de um prazer que mal é seu,
Em canteiros que andam enche a rua.

Sê sempre assim, nosso pagão encanto,
Sê sempre assim!
Deixa lá Roma entregue à intriga e ao latim,
Esquece a doutrina e os sermões.
De mal, nem tu nem nós merecíamos tanto.
Foste Fernando de Bulhões,
Foste Frei António —
Isso sim.
Porque demónio
É que foram pregar contigo em santo?

Na Coleção L&PM Pocket, há a série Fernando Pessoa, com sete livros do mestre português.

Ciclo Internacional Fernando Pessoa

ciclo internacional fernando pessoa cartraz

Maio será um mês dedicado a Fernando Pessoa em vários locais do Brasil. O Ciclo Internacional Fernando Pessoa começou por Caxias do Sul, na serra gaúcha, e ocorre em Porto Alegre entre os dias 11 e 15 de maio. Depois segue para Blumenau em Santa Catarina, Rio de Janeiro e São Paulo.

O evento conta com a participação de artistas portugueses e brasileiros que ministram workshops, promove bate-papos e apresentam espetáculos teatrais e musicais relacionados com o mais célebre poeta português.

O Ciclo Internacional Fernando Pessoa é promovido pela produtora luso-brasileira Máquina de Fazer Maluco com produção executiva de Romes Pinheiro. Em Porto Alegre, os encontros acontecem na Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ).

Os valores para participar são:

Ingressos:
R$ 35,00 workshop “A Presença do Ator”
R$ 50,00 espetáculo teatral “Fernélia”
R$ 50,00 espetáculo musical “Pessoa em Mim”.
Promoção:
R$ 70,00 (workshop + “Fernélia”)
R$ 85,00 (espetáculos “Fernélia” + “Pessoa em Mim”)
R$ 100,00 (workshop+espetáculos “Fernélia” + “Pessoa em Mim”)

Mais informações podem ser obtidas na página do Facebook do evento.

A L&PM Editores publica vários livros com os poemas de Fernando Pessoa. O mais recente lançamento foi “Fernando Pessoa – Obras escolhidas“.

Obras_escolhidas_Fernando_Pessoa

Fernando Pessoa e seu slogan para a Coca

Por Paula Taitelbaum*

Foi de uma amiga que morou durante anos em Portugal que escutei recentemente durante um café: “São Paulo é como aquele slogan criado pelo Fernando Pessoa para a Coca-Cola”.

Não acreditei: “Como assim? Não sabia que o Pessoa tinha criado slogan para a Coca-Cola!”

Ela: “Lá em Portugal qualquer criança conhece: PRIMEIRO ESTRANHA-SE. DEPOIS ENTRANHA-SE.”

Segui bestificada. E, claro, fui pesquisar. A história não só é verdadeira, como está citada em todas as biografias de Pessoa. Entre 1927 e 1928, o poeta, que era colaborador da agência de propaganda Hora, de seu amigo Manuel Martins da Hora, foi encarregado de criar a frase que deveria marcar a entrada do refrigerante norte-americano em Portugal. Foi então que ele produziu a frase que serve tanto para a bebida quanto para a capital paulista: “Primeiro estranha-se. Depois entranha-se.”

Só que na época, o slogan, apesar de criativo e verdadeiro, foi responsável por dar motivos ao diretor de Saúde de Lisboa, Ricardo Jorge, para apreender todo o carregamento do produto e jogá-lo inteirinho no mar. Segundo o diretor, o produto continha derivado de cocaína e o slogan atestava que o produto era tóxico e causava dependência, afinal, ficaria entranhado no corpo.

A Coca-Cola ficou, portanto, a ver navios em Portugal e só viria a entrar no país décadas depois.

O slogan de Pessoa segue sendo moderno. Prova disso é que, recentemente, no lançamento do “Frize”, uma água limão-cola, o slogan do poeta foi recriado para: “Primeiro prova-se; depois aprova-se”, como observou Andréia Galhardo, da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Fernando Pessoa (UFP), do Porto, no artigo “Sobre as práticas e reflexões publicitárias de Fernando Pessoa”.

Achei isso:

CocaColaEstranhase

E não resisti em fazer esta montagem:

Pessoa caminhando com coca

*Paula Taitelbaum é coordenadora do Núcleo de Comunicação da L&PM Editores e autora dos livros Menáge à Trois, Porno Pop Pocket e Palavra vai, palavra vem.

Patti Smith lê Fernando Pessoa

A cantora Patti Smith – amiga dos escritores beats Allen Ginsberg e William Burroughs – tem uma relação bem próxima com Portugal. Em uma entrevista ao Ípsilon em 2009, ela contou que seu marido, Fred Sonic Smith, falecido em 1994, costumava dizer que, devido à quantidade de livros de fotos de Portugal dos anos 1930 que possuía, um dia iria acordar e “começar a falar como um pescador português”. E Patti completou na entrevista: “Claro que, como muita gente, eu adorava Pessoa. Tom Verlaine [vocalista e guitarrista dos Television] e eu costumávamos ler Pessoa o tempo todo, quando éramos novos”.

Em setembro deste ano, durante mais uma visita a Lisboa, Patti visitou a casa Fernando Pessoa e lá prestou uma homenagem dupla: a Pessoa e a Walt Whitman. Na biblioteca do escritor, onde encontrou livros do próprio autor e também de William Blake, Whitman e Arthur Rimbaud, a cantora leu “Saudação a Whalt Whitman”, poema de Pessoa que ele escreveu sob o heterônimo de Álvaro de Campos (ok, ela leu o poema em inglês…).

O momento foi registrado e disponibilizado esta semana na página de Facebook da Casa Fernando Pessoa.

Aqui está:

A L&PM publica este poema (em português, é claro!) no livro Poemas de Álvaro de Campos – Fernando Pessoa, Obra poética IV (Coleção L&PM Pocket).

 

 

Fernando Pessoa no último capítulo da novela das seis

E eis que, para nossa surpresa, um livro da Coleção L&PM Pocket apareceu com destaque no último capítulo da novela das seis da Globo, “Sete Vidas”, que foi ao ar na sexta-feira passada, 10 de julho. O personagem Felipe, vivido pelo ator argentino Michel Noher, que está na África, manda uma mensagem para a família. Ele lê um trecho do pocket que foi o número 2 da coleção L&PM: POESIAS de Fernando Pessoa.

Novela Pessoa 4

O rapaz lê trechos do texto “Palavras de Pórtico”, que está na abertura do livro. Quem quiser assistir à cena, pode clicar aqui e ir até a página da Globo (lá o capítulo está dividido em partes, esta cena está no terceiro vídeo, de cima para baixo).

E aqui o texto integral  de “Palavras de Pórtico”:

NAVEGADORES ANTIGOS tinham uma frase gloriosa: “Navegar é preciso; viver não é preciso.”
Quero para mim o espírito dessa frase, transformada a forma para a casar com o que eu sou: Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero torná-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a minha alma a lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda a humanidade; ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso. Cada vez mais ponho na essência anímica do meu sangue o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir para a evolução da humanidade.
É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.

Tudo acaba em pizza literária

Desde 1985, 10 de julho é o Dia da Pizza em São Paulo. A data foi instituída pelo então secretário de turismo, Caio Luís de Carvalho, porque esta foi a data de encerramento de um concurso que elegeu as 10 melhores receitas de pizza mussarela e margherita da cidade. Ou seja: nesta sexta-feira, mesmo que você não seja um paulista da gema, é dia de lembrar desta companheira de todas as horas, deste que é o cardápio preferido das noites de Domingo (e de muitas outras também). O post de hoje começa e termina em pizza. Só que aqui em pizzas literárias, já que fizemos uma brincadeira com nossos escritores:

Pizzas-Literarias

Invente uma pizza literária você também!

A estreia de “O vento lá fora”: um poético documentário sobre Fernando Pessoa

Estreia na próxima segunda-feira, 6 de outubro, no Festival do Rio, às 20h, o documentário O vento lá fora, um retrato do poeta Fernando Pessoa criado a partir da leitura de seus poemas pela imortal Cleonice Berardinelli, 98 anos, reconhecida como a maior especialista em Pessoa no Brasil, e pela cantora Maria Bethânia.

Apresentada ao público uma única vez, na FLIP 2013, a leitura foi filmada no estúdio da Biscoito Fino durante dois dias pelo diretor Marcio Debellian. O roteiro do filme se constitui pela costura dos poemas com conversas sobre a obra de Pessoa, ressaltando aspectos da personalidade de seus heterônimos Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis.
Vale a pena assistir ao teaser do documentário:

A Coleção L&PM Pocket acaba de lançar Poesias inéditas & Poemas dramáticos.

Dia de muita paixão

Este 12 de junho vai fazer muito coração bater mais forte. Além de ser o dia em que os enamorados comemoram sua paixão e também o dia em que a bola começa a rolar no mundial, ainda tem a estreia nacional de “Versos de um crime”, filme centrado em um acontecimento real envolvendo Allen Ginsberg e Jack Kerouac. Ou seja: programa não vai faltar no dia de hoje. Nem poesia.

Aliás, se você estiver sem ideia para o Cartão dos Namorados, ficam aqui algumas inspirações poéticas:

O amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

(Luiz de Camões – “200 Sonetos”)

 

O teu silêncio é uma nau com todas as velas pandas…
Brandas, as brisas brincam nas flâmulas, teu sorriso…
E o teu sorriso no teu silêncio é as escadas e as andas
Com que me finjo mais alto e ao pé de qualquer paraíso…

(Fernando Pessoa – “Poesias”)

 

Antes de amar-te, amor, nada era meu:
vacilei pelas ruas e as coisas:
nada contava nem tinha nome:
o mundo era do ar que esperava.

(Pablo Neruda – “Cem sonetos de amor”)

 

Teu corpo claro e perfeito,
– Teu corpo de maravilha,
Quero possuí-lo no leito
Estreito da redondilha…

(Manuel Bandeira – “Bandeira de bolso”)