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É permitido cruzar a linha amarela

Houve um tempo em que arte e tecnologia eram consideradas opostas e até capazes de se anular. A dúvida que ameaçava os paradigmas da época era como preservar a dita “aura” da obra de arte diante das novas possibilidades tecnológicas que começavam a se inserir nos processos de criação artística.

Hoje, por motivos que já nos parecem óbvios, aceitamos sem nenhum problema ter uma reprodução de Van Gogh na parede da sala ao invés de uma pintura original. Vários tabus foram superados e hoje arte e tecnologia se complementam de maneira impressionante. É o caso da ferramenta Art Project, uma experiência do Google, uma das maiores empresas de tecnologia do mundo, no universo das artes. Utilizando o mesmo princípio do Google Street View, que permite visitar e até percorrer as ruas de outro país sem levantar da cadeira, agora é possível visitar também galerias e museus pelo mundo.

E se você é do tipo que diria, sem pensar duas vezes, que não é a mesma coisa ver um Van Gogh pessoalmente e vê-lo pela tela do computador, você está coberto de razão! Pois a visitação pelo Art Project permite uma proximidade incrível e impensável dentro do limite imposto pelas linhas amarelas no chão dos museus de concreto. A sensação é de estar encostando o nariz na tela:

Talvez o próximo passo seja a possibilidade de sentir também o cheiro da tinta. Será?

Obras de Dalí e Van Gogh são roubadas em intervalo de três dias

Crimes no maior estilo Roubaram a Mona Lisa! têm movimentado alguns museus pelo mundo. Na quarta-feira passada (25), uma estátua de bronze de Salvador Dalí foi roubada de uma sala de exposições em Bruges. “La femme aux tiroirs” pesa cerca de 10 quilos e tem valor estimado entre 100 e 120 mil euros.  

Estátua de bronze pesa cerca de dez quilos / Reprodução France 24

No Egito, o prejuízo foi “um pouco” maior. O quadro “Flor de Papoula”, de Van Gogh, avaliado em 55 milhões de dólares, foi furtado no sábado do Museu Mahmoud Khalil, no Cairo. Das 43 câmeras de segurança instaladas no local, apenas sete estavam funcionando. Segundo um especialista em arte, o mesmo quadro já havia sido roubado no final dos anos 70, mas foi recuperado 10 anos depois.  

O mesmo quadro já havia sido roubado nos anos 70 / Reprodução

A L&PM publica Libelo contra a arte moderna, de Salvador Dalí, e Cartas a Théo, de Van Gogh, além de uma biografia do pintor. 

*Com informações da Folha de São Paulo

Andy Warhol, Mr. Contradição

Por Cristine Kist*  

Se algumas paredes têm ouvidos, como garantiam nossos avôs, outras bem parecem ter boca. As da Estação Pinacoteca, por exemplo. As paredes da Estação gritam contradições desde o dia 20 de março, quando foi aberta a exposição “Andy Warhol, Mr. America”. Estão elas todas cobertas de citações, palavras conhecidas e desconhecidas, os 15 minutos de fama e à renegação das espinhas.    

Os famosos retratos coloridos de Marilyn Monroe / Reprodução

Logo na entrada são desfeitas as ilusões dos que esperavam confirmar a suspeita de que Warhol era um artista, uma pessoa ou um artista e uma pessoa apenas superficial. Os visitantes já são recebidos com uma citação digna de grande pensador:
“Everybody has their own America, and then they have pieces of a fantasy America that they think is out there but they can’t see. When I was little, I never left Pennsylvania, and I used to have fantasies about things that I thought were happening in the Midwest, or down South, or in Texas, that I felt I was missing out on. But you can only live life in one place at a time. And your own life while it’s happening to you never has any atmosphere, until it’s a memory.”  

Pois é. E depois de ler isso o sujeito mais desprevenido já fica inclinado a cometer duas injustiças. A primeira é pensar que são imprensa e crítica as responsáveis pelo rótulo que Warhol carrega. Não. Ele mesmo fazia questão de se vender assim. A segunda é concluir que de superficial ele não tinha nada. Tinha muito.    

Quando perguntavam se as 32 latas de sopa Campbells, os retratos de presidiários e os autorretratos como drag queen eram uma crítica ao american way of life, ele negava e jurava de pés juntos que amava os Estados Unidos e não tinha qualquer intenção de mostrar o “lado feio” do país.  

Muito provavelmente estava sendo sincero.  

A impressão é de que Warhol era contraditório até para ele mesmo. Batia e acariciava. É preciso mesmo muita força de vontade para acreditar que obras como “Confronto racial” ou os vários retratos coloridos de uma mesma cadeira elétrica estejam ali apenas por motivos estéticos. As latas de sopa também não são exatamente bonitas. E os bandidos mais procurados até são bonitos, mas bom, não deve ser só por isso que estão ali.  

Nunca gostei de meio termo. Sempre achei que meio termo fosse para os fracos. Me rendi. Sou fraca. Andy Warhol, aquela figura excêntrica e cheia de extremos, está mesmo no meio termo entre algo que lembra o intelectual e algo que lembra o superficial. É essa a sua última contradição.  

A exposição fica na Estação Pinacoteca até 23 de maio, de terça a domingo, sempre das 10 às 18h.  E aos interessados em conhecer um pouco mais da personalidade de Warhol, uma bela dica é o livro de quase mil páginas “Diários de Andy Warhol”, publicado pela L&PM em 1989, e agora disponível nos melhores sebos do Brasil.  

  

  

 * Cristine é assessora de imprensa da L&PM