50. Quando a L&PM foi parar no “Olho da Rua”

Em outubro, como já anunciado, a Série “Era uma vez… uma editora” ficou um pouco diferente. Este mês, como o editor Ivan Pinheiro Machado* estava na Feira de Frankfurt, ficou decidido que os posts seriam dedicados a livros que deixaram saudades. Hoje, no entanto, no lugar de um título, resolvemos falar de uma coleção inteira. A ideia de contar a história da Coleção “Olho da Rua” surgiu de uma conversa com o escritor Eduardo Bueno (que alguns chamam de Peninha) que, nos anos 80, criou esta série de livros marginais, como ele mesmo definiu.

A Coleção “Olho da Rua” começou quando Eduardo convidou Antonio Bivar para (re)publicar o seu livro Verdes Vales do Fim do Mundo, que já estava há tempo fora de catálogo. Bivar era co-tradutor, junto com Bueno, da primeira versão da tradução de On the Road. O plano era, a partir deste livro, dar início a uma versão brasileira da Coleção “Rebeldes e Malditos”, criada por Ivan Pinheiro Machado e que, em 1984, já publicava, entre outros, Cartas a Théo de Van Gogh, De Profundis, de Oscar Wilde, Paraísos Artificiais, de Charles de Baudelaire e A correspondência de Arthur Rimbaud.

A edição de "Verdes Vales do Fim do Mundo" de 1984, depois relançada na Coleção L&PM POCKET

“A seguir, convidei Jorge Mautner, Roberto Piva, Pepe Escobar, Reinaldo Moraes e outros malucos para se juntarem ao bando. Precisávamos de um nome para a coleção, que soasse rebelde e maldito o suficiente. Da conversa com o Bivar surgiu o nome “Olho da Rua”, já que vários deles tinham a vivência plena das calçadas e das sarjetas, nunca foram de circular muito pelas avenidas principais e já haviam sido orgulhosamente postos no olho da rua várias vezes. Além de tudo, o “olhar” deles era o olhar típico dos escritores que não produziam seus livros “de pantufas no gabinete, com a lareira acesa e um gato ronronando”. Aí, eu e Ivan achamos o nome não apenas adequado como ótimo. E a coleção saiu. Ela era quase uma “resposta” à Cantadas Literárias, lançada pouco antes pela editora Brasiliense. Resposta não é bem o caso: era complementar a ela e seguia a tendência de editar “marginais”, que a L&PM já fazia tanto na “Rebeldes e Malditos” como na Coleção “Alma Beat”. Era o inicio dos anos 80, o país vivia grande efervescência, todo mundo ansiava pela abertura e pela volta das “liberdades democráticas” e então a “Olho da Rua” veio para resgatar textos já publicados e/ou censurados e também livros inéditos (como “Speedball” de Pepe Escobar e “Abacaxi”, de Reinaldo Moraes).” Conta Eduardo Bueno.

A “Olho da Rua” acabou não ficando só nos brasileiros. Foi nela que, pela primeira vez, Sam Shepard foi publicado no Brasil com o livro Louco para Amar. E também Gasolina e Lady Vestal, de Gregory Corso, De repente, acidentes de Carl Solomon, 7 Dias na Nicarágua Libre, de Lawrence Ferlinghetti, A queda da América, de Allen Ginsberg, Luna Caliente de Mempo Giardinelli e Isadora – fragmentos autobiográficos, de Isadora Duncan.

Alguns dos livros que inicialmente sairam na “Olho da Rua” acabaram sendo relançados na Coleção L&PM POCKET. Como Verdes Vales do Fim do Mundo, por exemplo.

* Toda terça-feira, o editor Ivan Pinheiro Machado resgata histórias que aconteceram em mais de três décadas de L&PM. Este é o quinquagésimo post da Série “Era uma vez… uma editora“.

2 ideias sobre “50. Quando a L&PM foi parar no “Olho da Rua”

  1. Rody Cáceres

    É um pecado alguns destes títulos estarem fora de catálogo. Eu sei que fica difícil reeditar um livro que levou quatro ou cinco aos para esgotar, por isso não vou pedir novas edições. Se ainda tiverem algum “exemplarzinho” empoeirado por aí, mandem e-mail que eu compro no ato. Abraços!

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  2. Caio Rocha

    Bem que podiam relançar todos que faltam da Olho da Rua, Rebeldes e Malditos e Alma Beat na Pocket… Procurando freneticamente por 4 anos, eu consegui comprar em sebos Gasolina e Lady Vestal, De Repente Acidentes e 7 Dias na Nicarágua Libre, todos bem carinhos. Tem saído muita coisa boa na Pocket, tanto relançamentos quanto novidades, algumas muito boas em edição grande, cara e bem mais difícil se achar (que também podiam ser editados como Pocket, sei que alguns já foram), a importância da L&PM (e em particular do Eduardo Bueno) hoje no Brasil é enorme, mas ainda precisa de mais. Os que já foram publicados uma vez não podem ser muito difíceis de publicar de novo, poxa…

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