Arquivo mensais:novembro 2013

A arte da leveza

Por Pedro Gonzaga*

Ou talvez da brevidade. Ou ainda a arte de como rir das forças incendiárias dentro de nós, que nos lembram de nossa insuperável bestialidade. Raiva, inveja, ódio, rancor, despeita, ira, são essas apenas algumas das tórridas emoções que Claudia Tajes utiliza para compor as histórias de Sangue Quente, seu mais novo livro de contos.

Mergulhados em cotidianos borrados, imersos em rotinas cinzentas, os personagens parecem à espera de um milagre redentor, mas só o que lhes advém é a cólera. Assim o protagonista da segunda história, um homem comum e relaxado que atribui seus problemas com as mulheres (e consigo mesmo) à existência dos Grant (Cary e Hugh). Ou ainda a publicitária frustrada, cuja única alegria na vida, marcada por anúncios desimportantes em sua excentricidade (um protetor solar exclusivo para homens), seria tomar um banho de princesa com um sabonete Lux Luxo.

Importante salientar que tal matéria – a miséria de todos nós – nas mãos de outro autor talvez se tornasse pesada demais, o retrato opressivo de nosso mundo sem heróis. Nas mãos da Claudia, no entanto, uma das grandes vozes do humor brasileiro, o assunto sério na maior parte das vezes ganha leveza, faz-nos rir com um misto de maldade e ternura, base da melhor comédia, que é, antes de tudo, um talento raro, seja na literatura, seja na vida real.

Dividido em duas partes, o livro ganha ainda mais força na segunda, quando a raiva se torna “específica”: são os contos de TPM. Destaco aqui pelo menos mais duas histórias. Em Tão Fácil Ser Idiota, um conto com um sabor do velho Dalton Trevisan, feito quase só de diálogo, uma mulher descobre que uma garçonete está saindo com seu namorado e resolve ir tomar satisfações. Por coincidência, as duas se chamam Cristina, e estão às raias da agressão quando o galã chega e tenta se safar da situação. Mal sabe ele que a TPM não conhece misericórdia. Em Marido, há uma deliciosa inversão dos sintomas que folcloricamente marcam o período do mês mais perigoso, transferindo-os ao homem, que não deixa de acusar a dedicada mulher de estar indisposta em relação a ele por questões hormonais.

Nota-se, contudo, uma certa melancolia na obra, que o celebrado humor da autora de A Vida Sexual da Mulher Feia não foi capaz de dirimir. Suspeito que essa sensação venha de tantos solitários que se espalham pelas histórias. Diante deles, que se abrem com uma singeleza quase atroz em tantas primeiras pessoas, cujo melhor exemplo seria a narradora de Sem Amor em Tempos de Cólera, já não sabemos ser maus ou debochados, sequer fraternos. Se rimos deles, é um riso triste, o riso dos desesperados.

Agrada-me, por fim, em Sangue Quente, o fato do livro ser, acima de tudo, aquilo que ele é: um livro de contos. Saudades de ver as vidas jogadas no mata-mata e não na largura burocrática desses tantos campeonatos recentes, bem mais longos do que o necessário. Uma leitura perfeita para este fim de ano agitado e flamejante.

* Escritor, editor e poeta, tradutor de vários livros publicados pela L&PM (principalmente Bukowski) autor de “Falso Começo”. Este texto foi publicado originalmente no Caderno da Feira do Jornal Zero Hora de 4/11/2013.

Claudia Tajes autografa Sangue-quente nesta segunda-feira, 4 de novembro às 18h na Feira do Livro de Porto Alegre.

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O show de sabores de J.A. Pinheiro Machado

Anonymus & Alarico em Show de Sabores é o novo livro de J.A. Pinheiro Machado que será autografado nesta segunda-feira, 4 de novembro, na Feira do Livro de Porto Alegre. Além de receitas, o livro traz dicas do Anonymus. Clique sobre a imagem e leia a matéria publicada no Jornal Zero Hora:

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Queda e exílio de Jango em debate

Jornal Zero Hora – 4/11/2013 – Por Guilherme Mazui 

Uma audiência pública às 19h de hoje, em Porto Alegre, contará com a participação de Waldir Pires, ex-ministro de João Goulart

Bastidores da queda de João Goulart, a tensão política com as reformas de base em 1964 e histórias do exílio do presidente deposto pelos militares serão contadas em uma audiência pública às 19h de hoje na Câmara de Vereadores de Porto Alegre. São memórias do ex-ministro Waldir Pires, membro do primeiro escalão do governo Jango.

Organizado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência e pela Comissão Nacional da Verdade, o encontro serve como etapa preparatória da exumação do líder trabalhista. No dia 13, em São Borja, peritos brasileiros e estrangeiros removerão os restos mortais de Jango na tentativa de esclarecer se ele morreu de causas naturais ou se foi envenenado no exílio, em dezembro de 1976.

Aos 87 anos, Pires é vereador em Salvador. Ex-governador da Bahia, ministro nos governos Sarney (Previdência) e Lula (CGU e Defesa), foi consultor-geral da República de Goulart – posto equivalente ao atual ministro da Advocacia-Geral da União. Pela natureza do cargo, Pires despachava quase todos os dias com Jango no Palácio do Planalto. Acompanhou a tensão dos últimos dias que antecederam a queda do gaúcho e sua posterior ida para o exílio.

– Fui um dos últimos a deixar o Planalto, escondido na madrugada. Só reencontrei Jango no Uruguai. O presidente evitou que o Brasil vivenciasse uma guerra civil – afirma Pires.

Passados quase 50 anos do golpe militar, o ex-ministro apoia a decisão do governo de exumar Goulart, forma de tentar retirar as dúvidas sobre o suposto envenenamento.

– Com o sistema de perseguição armado pela ditadura, não duvido que Jango tenha sido envenenado – diz.

Além de Pires, também palestram na audiência pública a socióloga e feminista Lícia Peres e familiares do líder trabalhista – outra audiência deve ocorrer na próxima semana em São Borja.

– Os encontros se inserem no que chamamos justiça de transição. É a capacidade de refletirmos sobre os atos realizados nos períodos de ditadura – explica a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário.

Neto do ex-presidente e advogado do instituto que leva o nome do avô, Christopher Goulart reforça a importância de reunir representantes dos movimentos sociais, em especial jovens, para recuperar o legado de Jango,.

A família também acompanha a definição dos detalhes da exumação, coordenada pela Polícia Federal. Depois de abrir o jazigo da famíia Goulart, em São Borja, peritos levarão o corpo para Brasília, onde serão realizados exames antropológicos e de DNA. Os testes toxicológicos serão feitos em laboratórios no Exterior. Não há prazo para divulgação dos resultados nem certeza se os laudos serão conclusivos.

Jango – a vida e a morte no exílio, de Juremir Machado da Silva, aborda justamente este tema. No dia 14 de novembro, às 17h na Feira do Livro de Porto Alegre, Juremir e Christopher Goulart, neto de Jango, conversam com os leitores sobre os fatos que despertaram a suspeita de que o ex-presidente possa ter sido assassinado. Logo após o bate-papo, às 19h, o escritor vai autografar o livro.

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Já começou a 59ª Feira do Livro de Porto Alegre!

Começou nesta sexta-feira, dia 1º de novembro, a 59ª edição da Feira do Livro de Porto Alegre, a maior festa da literatura a céu aberto da América Latina. A banca da L&PM já está pronta e fica na Rua dos Andradas, próximo ao Clube do Comércio.

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No primeiro fim de semana, serão 5 lançamentos com sessão de autógrafos. Agende-se:

Sábado, 2 de novembro

19h – David Coimbra autografa As velhinhas de Copacabana e outras 49 crônicas que gostei de escrever

Domingo, 3 de novembro

15h – Luís Augusto Fischer autografa Coruja, Qorpo-santo e Jacaré
17h – Iotti autografa Radicci 30 anos
18h – J.J. Camargo autografa A tristeza pode esperar
20h – Armindo Trevisan autografa Adega imaginária

A Feira do Livro de Porto Alegre segue até o dia 17 de novembro. Confira a agenda completa de lançamentos da L&PM:

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(clique para ampliar)

Peanuts de volta ao mundo da moda

A coleção “The Rodnik X Peanuts” da marca inglesa The Rodnik Band ganhou destaque no site da editora e consultora criativa da Vogue japonesa Anna Dello Russo. As peças da coleção, que já estão a venda em lojas selecionadas desde setembro deste ano, têm um ar pop e lúdico e são estampadas com imagens de Snoopy, Charlie Brown e toda a turminha, olha só:

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Bukowski no novo livro de David Coimbra

Neste sábado, 2 de novembro às 19h, David Coimbra autografa na Feira do Livro de Porto Alegre. As velhinhas de Copacabana e outras 49 crônicas que gostei de escrever, seu novo livro, traz textos que oferecem a experiência genuína, gratificante e insubstituível do prazer da leitura. Entre o mais variados temas das crônicas, até Bukowski está presente:

O velho Buk

Lembro bem quando me caiu nas mãos o meu primeiro Bukowski.

Cartas na rua.

Li aquilo e fiquei pensando: então alguém escreve assim! Alguém que faz a história escorrer página abaixo e faz com que ela penetre aravés dos poros dos dedos do leitor e logo a história já se lhe infiltra nas veias e lhe toma o corpo e a mente e o leitor é tomado, como se lhe atacasse a Bolha Assassina.

Ah, o Velho Buk não era como aqueles estilistas nacionais, chatos para parecer profundos.

Como há desses por aqui, Deus! No colégio, uma vez eles me vieram com O tronco do ipê.

Cara, foi uma dor ler O tronco do ipê.

Todas aquelas mocinhas que enrubesciam ao ver os rapagões cofiando os bigodes.

Passei a odiar personagens que cofiam.

Um personagem simplesmente não pode cofiar.

Sobre o que se trata O tronco do ipê? Quem é mesmo o maldito autor de O tronco do ipê? Não faço ideia.

Só sei que nunca mais quero ler O tronco do ipê, nem nada que seja remotamente parecido.

Mas o velho Buk não tinha nada disso.

O velho Buk escrevia sobre pessoas de verdade, que não falam por mesóclise.

Bem.

Tempos depois, alguém me disse, acho até que foi meu amigo Sérgio Lüdtke:

– Todas as pessoas precisam ler o John Fante!

Uau! Era importante aquilo. Fui ler o John Fante. Pergunte ao pó.

Mal abri o livro e com quem deparo na apresentação? Ele: o Velho Buk. E o Velho Buk dizia ali, sobre o John Fante, o que eu dizia sobre o Velho Buk: que John Fante escrevia com as entranhas.

Bukowski confessou ter se apaixonado de tal forma pelo personagem de Fante, um candidato a escritor chamado Arturo Bandini, que , certo dia, ao discutir com uma de suas ex-mulheres, brandou:

– Não me trate assim! Eu sou Arturo Bandini! Eu sou Arturo Bandini! Eu sou Arturo Bandini.

Gostaria de poder dizer isso.

Porque Arturo Bandini era um homem de verdade, que cedia aos seus desejos, sem ceder à sua integridade. E é disso que o mundo precisa: de pessoas que saibam aproveitar a vida sem se aproveitar das outras pessoas.

(Crônica de As velhinhas de Copacabana, de David Coimbra)

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