Arquivo mensais:março 2012

180 anos depois de sua morte, Goethe continua sendo… Goethe

Como Goethe, só Goethe. Tanto que a literatura alemã divide-se em antes e depois de Os sofrimentos do jovem Werther, livro escrito por ele em 1774. 

Goethe era uma celebridade, um pop star da sua época. Escreveu Os sofrimentos do jovem Werther em apenas quatro semanas e sempre se gabou de que Napoleão havia lido o livro sete vezes e o carregava consigo em sua Biblioteca de Campanha. Quando o escritor e o imperador se encontraram, aliás, em 2 de outubro de 1808, Napoleão o louvou, afirmando “Eis um homem”, ao que Goethe, descontente pela invasão francesa na Alemanha teria respondido laconicamente. Ao final do encontro, Napoleão convidou-o para visitá-lo em Paris, mas o encontro jamais aconteceu.

Em 1831, já com mais de 80 anos, Goethe terminou sua obra-prima, aquela que ocupou por muito tempo: Fausto. O manuscrito da parte final foi então selado e guardado para ser publicado apenas depois de sua morte, o que viria a acontecer cerca de um ano mais tarde, em  22 de março de 1832, há exatos 180 anos.

"Goethe e Napoleão I", gravura feita a partir do desenho de Eugène Ernest Hillemacher

O encontro de Goethe e Napoleão - Desenho de 1828, feito por Jahrgang Angsburg, "Goethe e Napoleão I", gravura feita a partir do desenho de Eugène Ernest Hillemacher

Pocket News em nova fase

A ideia nasceu há um ano atrás: produzir um programa diário em que pudéssemos contar as novidades da editora na WebTV. Aproveitando o nome da mais conhecida coleção de livros da L&PM, nasceu o Pocket News. E assim, de segunda a sexta, desde março de 2011, mostramos as novidades que chegam, as reedições que surgem e as datas comemorativas do dia como o aniversário de algum autor publicado pela casa.

Apresentado pelas meninas do Núcleo de Comunicação, o Pocket News agora ganhou, em comemoração ao seu primeiro aniversário, uma nova abertura, uma nova trilha e uma edição mais dinâmica que passa a contar com interações do pessoal de outros departamentos. Até agora foram três programas nesse novo formato que promete trazer ainda mais novidades. A responsável pela produção e edição é Nathália Silva.

Assista a um dos programas e sinta o novo clima:

O sucesso de Flávio Tavares no Rio

Muita gente foi até a Livraria Argumento do Leblon, ontem, 20 de março, para ver e ouvir os escritores Flávio Tavares e Zuenir Ventura. Os amigos de longa data conversaram sobre “1961: o golpe derrotado“, novo livro de Flávio que, após o bate-papo, teve sessão de autógrafos. “1961: o golpe derrotado” conta os bastidores do Movimento da Legalidade e mostra que ele foi um prenúncio do que aconteceria três anos mais tarde. Uma das perguntas que a plateia fez ao autor foi se ele acha que o povo deveria ter resistido ao golpe militar de 1964. Flávio respondeu que sim, que na sua opinião, as pessoas deveriam ter resistido como resistem ao crime e à violência atuais, pois o golpe de 64 foi um crime. Neste momento, ele foi aplaudido pelos presentes. O evento, que começou às 19h, estendeu-se até às 22h, com uma longa fila para os autógrafos. Uma equipe da Globo News acompanhou todo o lançamento e preparou uma matéria que vai ao ar nesta sexta-feira, 23 de março, as 21h30min.

Flávio Tavares e Zuenir Ventura na Livraria Argumento do Leblon

Entre as centenas de presentes, estiveram por lá o presidente da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), Maurício Azêdo; o escritor e tradutor Eric Nepomuceno; a juíza e ex-deputada Denise Frossard; o  neto de Leonel Brizola,  vereador Leonel Brizola Neto; o embaixador e acadêmico Affonso Arinos de Mello Franco; a colunista social Hildegard Angel; os cineastas Tetê Moraes e Silvio Da-Rin; o novelista Manuel Carlos; o jornalista Wilson Figueiredo e a filha de Luiz Carlos Prestes, Zóia Ribeiro Prestes.

Ainda está para nascer alguém como Gogol

No ministério de… Não, é melhor não dizer seu nome. Ninguém é mais suscetível do que funcionários, empregados de repartições e gente da esfera pública. Nos dias que correm, todo sujeito acredita que, se nós atingimos a sua pessoa, toda a sociedade foi ofendida.

Não, o trecho acima não faz parte de alguma crônica recente publicada no jornal mais próximo. Ele foi escrito em 1842 e dá início a O Capote, conto escrito por Nikolai Gogol. “Todos nós viemos de O Capote” proclamou Dostoiévski referindo-se ao mais célebre texto de Gogol e dando força à teoria de que foi a partir dele que a literatura moderna russa surgiu.

A história de Akaki Akakiévitch, personagem de O Capote, seria trágica, não fosse cômica. Sua narrativa traz o burocrata em sua forma mais pura. Só que aqui, ao contrário de alguns funcionários públicos de hospitais do Rio de Janeiro, a maior ambição de Akaki é comprar um capote novo. 

Nascido no dia de hoje, 20 de março, há exatos 203 anos atrás (alguns dizem que, na verdade ele nasceu ontem, em 19 de março), em 1809, o ucraniano Nikolai Gogol criou textos que orbitam entre o fantástico e o real e deu vida a personagens que perdem tudo – o nariz, a razão, o sentido, o juízo, a identidade – e que parecem flertar, ao mesmo tempo, com Deus e o diabo. Criado sob forte influência religiosa e muito ligado à mãe, Gogol jamais teve um amor na vida, conforme atestam seus biógrafos.

Mas se Gogol foi incapaz de amar, ele conseguiu despertar em muitos leitores, paixões nunca antes experimentadas. Seu estilo, seu jogo de palavras, seu ritmo e sonoridade, permanecem tão fascinantes e modernos quanto na época em que vieram ao mundo. Prova de que, assim como alguns aspectos do funcionalismo público, há coisas que não mudaram  nos últimos 200 anos. (Paula Taitelbaum)

"O Capote" está na Coleção L&PM Pocket

“Romeu e Julieta” em tempo real

Quando se fala em Romeu e Julieta, é difícil não cair no clichê de dizer que a peça resistiu ao tempo e se mantém atual até hoje. Só que agora, o que já era clichê virou literal: a adaptação feita pelo Royal Ballet, de Londres, para a peça mais famosa de Shakespeare será transmitida ao vivo direto das terras da Rainha para nove salas de cinema de São Paulo. Ou seja, se o tempo já era barreira ultrapassada, com uma ajudinha das tecnologias o espaço também virou etapa vencida e a aura de obra-prima que já rondava a história de Romeu e Julieta ganha força.

Cena da montagem de "Romeu e Julieta" do Royal Ballet, de Londres

O Royal Ballet já apresentou Romeu e Julieta mais de 400 vezes e cada encenação traz diferenças sutis. Ao longo do espetáculo, o par que dá título à peça é interpretado por vários casais de bailarinos diferentes e cada um ressalta um aspecto específico da destemida paixão entre os dois jovens de famílias inimigas. E quem já viu a adaptação do Royal Ballet garante que os cenários com detalhes renascentistas originais restaurados especialmente para a montagem são um espetáculo à parte.

A transmissão será legendada e acontecerá no dia 22 de março, às 16h15, simultaneamente nos cinemas dos shoppings Cidade Jardim, Market Place, Iguatemi, Eldorado, Higienópolis, Paulista, Mooca, Santa Cruz e Tamboré, em São Paulo. Os ingressos custam R$60.

Filme de Woody Allen muda de nome pela terceira vez

Ele já se chamou “Bop Decameron” e depois ganhou o nome de “Nero Fiddled”. Mas agora parece que o novo filme de Woody Allen encontrou seu título definitivo: “To Rome with Love”. Pelo menos é o que afirmou na semana passada a  distribuidora Medusa Filmes, que também é co-produtora do filme.

“To Rome with Love” ainda não tem tradução para o português, mas significa “Para Roma, com amor”. O filme, uma comédia não romântica, foi gravado na capital italiana e contará quatro histórias paralelas que se passam na cidade. No elenco estão Penélope Cruz, Alec Baldwin, Jesse Eisenberg, Roberto Begnini e Ellen Page, além do próprio Woody Allen.

A justificativa para a primeira mudança de nome, no ano passado, foi que “Bop Decameron” era muito confuso e não comercial. “As pessoas achavam que eu estava fazendo uma adaptação da obra de Boccaccio, o que não é verdade”, disse Allen.  Mas ninguém chegou a explicar o porquê do nome “Nero Fiddled” ter sido abandonado, título que fazia alusão ao imperador romano que, reza a lenda, ateou fogo em Roma e, enquanto a cidade ardia em chamas, ficou tocando cítara.

Entre suas histórias, “To Rome with love” traz Woody Allen como um pai que viaja com sua esposa para a Itália a fim de conhecer a família do noivo de sua filha. Segundo o site IMDB, parece que o filme vai estrear primeiro na Itália, no dia 20 de abril de 2012. Em seguida, ganha as salas de cinema dos EUA. No Brasil, provavelmente chegará no segundo semestre deste ano.

Penélope Cruz e Woody Allen nas filmagens em Roma

 A Coleção L&PM Pocket publica quatro livros de Woody Allen.

O verbete de hoje é Jean Giraud (Moebius)

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, este Blog publicará, nos domingos, um verbete deste livro. O de hoje é  o francês Moebius que faleceu há pouco mais de uma semana, em 10 de março de 2012, aos 73 anos. 

Também conhecido por Gir ou Moebius, dependendo do gênero que ilustra, Jean Giraud é hoje um dos mais prestigiados desenhistas não só da França, mas do mundo inteiro. No álbum da L&PM, O homem é bom?, aparece a seguinte apresentação do autor: “Aos 16 anos, em 1954, Giraud entra para a École des Arts Apliqués, em Paris. Aos 18 anos começa a colaborar ativamente em periódicos, onde realiza suas primeiras histórias no estilo faroeste. Discípulo de Jijé, entre 1963 e 1980 desenha a famosa série “Tenente Blueberry” (imagem), a partir de roteiros de Charlier. Paralelamente começa, sob o nome de Moebius, algumas histórias maravilhosas de fantasia e ficção científica, como O desvio (1973), O homem é bom? (1974), As aventuras de John Watercolor (1974) e O pesadelo branco (1975). Enfim, pode-se dizer que ele definiu seu estilo feito de fantástico, de poesia e de insólito, quando realiza para a revista Metal Hurlant, Arzach e, mais tarde, A garagem hermética (O major Fatal – publicada no Brasil pela L&PM). Muito ativo, Moebius também desenha posters, cartazes publicitários e ilustra, com roteiro de Dan O’Bannon, The Long Tomorrow. Desenhou o storyboard do filme que Jodorowsky tentou realizar a partir do clássico Duna (mais tarde filmado por David Lynch). Em 1978, colaborou estreitamente com Giger em Alien, o filme de Ridley Scott. Em seguida, fez os storyboards dos filmes O garoto do espaço (Les Maitres du Temps) e Tron, esse último produzido por Walt Disney. Jean Giraud é um dos desenhistas mais premiados do mundo: Estados Unidos, França, Bélgica, Itália e Holanda. Em toda parte, ganhou medalhas e prêmios de Melhor Desenhista. Às vezes, duas vezes! Uma pelos seus álbuns assinados por Jean Giraud ou Gir. Uma segunda por aqueles assinados por Moebius!”. Resta acrescentar alguns trabalhos mais recentes de Moebius, como a série “O Incal Negro” (roteiro de Alejandro Jodorowsky) já com seis álbuns e “Os Mundos de Edena”. A série “Tenente Blueberry” também foi ilustrada por um ótimo  assistente que ele formou, Colin Wilson. Usando o pseudônimo Moebius, depois de 1990, ele participou de dois álbuns coletivos, Au Secours (Amnesty International) e O muro antes e depois (Meribérica Liber, 1991) – esse último organizado por Christin e Knigge. Também por essa mesma editora portuguesa saíram álbuns do Incal negro (Uma aventura de John Difool), em primeira edição, depois pela Editorial Futura. O Incal negro recebeu edição no Brasil pela Devir. O ciclo de Edena, sem a ajuda de Jodorowsky, como fora em Incal, foi publicado até o volume três pela Meribérica/ Liber. No prefácio do volume 3, Os jardins de Edena, Moebius anunciava novos volumes para breve. Embora não ilustre mais a série “Tenente Blueberry”, Giraud apareceu como apenas roteirista nos álbuns desenhados por William Vance, À ordem de Washington e Missão Sherman (editados em Portugal pela Meribérica/Liber). Também saíram, ainda com roteiros de Charlier e desenhos de Colin Wilson, os álbuns de Blueberry, Os demônios do Missouri, Terror no Kansas e O raid infernal (traduções pela Meribérica/Liber).

Moebius e seu personagem, Major Fatal, publicado pela L&PM nos anos 80

A foto mais curtida, inspirada em On the Road

Para comemorar o aniversário de Jack Kerouac, que completaria 90 anos em 12 de março de 2012, fizemos uma promoção especial. Os fãs de On the Road deveriam postar em nossa página do Facebook, do dia 12 até hoje, uma foto inspirada no livro. A mais curtida levava de presente um kit com todos os títulos de Kerouac da Coleção L&PM Pocket: Big Sur, Cenas de Nova York e outras viagens, Despertar: uma vida de Buda, Geração Beat, O livro dos sonhos, On the road, On the road – o manuscrito original, Os subterrâneos, Satori em Paris, Tristessa, Os vagabundos iluminados e Viajante solitário.

Foram 23 fotos publicadas e a vencedora foi curtida 623 vezes. Divulgamos aqui, também, o segundo e terceiro lugares que, decidimos agora, vão levar como prêmio o livro On the road – o manuscrito original em pocket. Parabéns a todos os participantes e continuem assim, colocando o pé na estrada.

A foto de Demetrius Veiga foi a grande vencedora com 623 likes

Em segundo, ficou Arthur Filipe com uma foto que lembra a personagem Tristessa. Ela teve 416 likes

O terceiro lugar ficou com Rafaela Sánchez que levou 363 likes

A foto de Rafaela, que foi a terceira mais curtida, vinha companhada do seguinte texto: “Desejo evocar essa música triste indescritível da noite dos Estados Unidos – por razões que nunca são mais profundas que a música. É o verdadeiro som interior de um país.”

Til, de José de Alencar é leitura obrigatória

Eram dois, ele e ela, ambos na flor da beleza e da mocidade. O viço da saúde rebentava-lhes no encarnado das faces, mais aveludadas que a açucena-escarlate recém-aberta ali com os orvalhos da noite. No fresco sorriso dos lábios, como nos olhos límpidos e brilhantes, brotava-lhes a seiva d’alma. Ela, pequena, esbelta, ligeira, buliçosa, saltitava sobre a relva, gárrula e cintilante do prazer de pular e correr; saciandose na delícia inefável de se difundir pela criação e sentir-se flor no regaço daquela natureza luxuriante. Ele, alto, ágil, de talhe robusto e bem-conformado, calcando o chão sob o grosseiro soco da bota com a bizarria de um príncipe que pisa as ricas alfombras, seguia de perto a gentil companheira, que folgava pelo campo, a volutear e fazendo-lhe mil negaças, como a borboleta que zomba dos esforços inúteis da criança para a colher.

Assim começa Til, narrativa escrita por José de Alencar em sua maturidade e publicada em 1872 no formato de folhetim diário no jornal A República. Título do vestibular Fuvest 2013, Til acaba de chegar na Coleção L&PM Pocket com introdução do poeta e linguista Guto Leite, especialista, mestre e doutorando em Literatura Brasileira pela UFRGS. Mas Til não é apenas uma leitura obrigatória do vestibular. É uma leitura que não pode faltar na vida dos que apreciam a boa literatura. Uma prosa poética de um dos autores mais importantes e celebrados do Brasil.