Arquivo mensais:abril 2011

Brincando de ser Franz Kafka

Para escrever como Kafka já não é preciso ser gênio. Um grupo de designers analisou os manuscritos de O processo e de outros clássicos do escritor tcheco e criou a fonte FF Mister K, que reproduz a caligrafia de Franz Kafka. Para chegar o mais próximo possível do original, eles criaram várias versões da mesma letra, que permitem simular as variações de tamanho, forma e estilo do fluxo do texto. Não chega a ser uma cópia exata, mas chega bem perto!

Como em qualquer texto escrito à mão, Franz Kafka também rasurava seus manuscritos. Com a fonte FF Mister K, é possível chegar até este nível de semelhança!

Para saber mais sobre a fonte, seus criadores e o processo de criação em detalhes, acesse o site do projeto FF Mister K.

Com tantas facilidades, quem se habilita a ser o novo Franz Kafka e escrever A metamorfose versão-século-21? 😉

via Zupi

As capas de “On the road” pelo mundo

Publicada pela primeira vez em 1957, nos Estados Unidos, a mais famosa novela de Jack Kerouac, On the road, percorreu o mundo e ganhou, em cada país, uma capa diferente. A primeira de todas foi desenhada pelo próprio Kerouac (que ainda assinava “John Kerouac”), em 1952, e enviada para publicação junto com os originais, mas nunca foi utilizada: 

 

Cinco anos depois, quando foi publicado nos Estados Unidos, o livro ganhou uma capa bem diferente da que foi proposta por Kerouac: 

Capa da primeira edição publicada nos EUA.

A história da viagem de Sal Paradise e Dean Moriarty atravessou o Atlântico e ganhou uma capa diferente em cada país: 

Edição publicada na Itália em 2001

Edição francesa de 1987.

Em Portugal, "On the road" virou "Pela estrada fora".

Na Rússia, a capa lembra o rótulo do uísque Jack Daniels

China

A edição chinesa conservou o título original

 Além da edição de bolso de On the road, a L&PM publica On the road – o manuscrito original.

Picasso, o imortal

Picasso se achava imortal. E não era para menos. Morreu numa madrugada quente em seu castelo de Notre Damme de La Vie, na Cote d’Azur em 8 de abril de 1973, depois de trabalhar a noite inteira. Tinha 92 anos. Faria 93 exatamente no dia 25 de outubro, quando nasceu no longínquo ano de 1881 em Málaga na Espanha.

Na verdade, ele tinha razão. Pablo Diego José Francisco de Paula Juan Nepomuceno María de los Remedios Cipriano de la Santísima Trinidad Ruiz y Picasso, dito Pablo Ruiz Picasso, é imortal.

Numa época em que as pessoas acordam célebres e dormem anônimas tal é a ferocidade da máquina de moer da mídia, Picasso conseguiu a proeza de ser uma celebridade internacional absoluta durante 60 anos, enquanto viveu, e uma lenda depois de sua morte. Nenhum pintor pintou tanto (cerca de 40 mil obras entre desenhos, litografias, esculturas, cerâmicas, telas, aquarelas e móbiles) e nenhum pintor teve um influência tão imensa e decisiva sobre a história da arte. O cubismo, criado por ele em 1907, é o marco fundador da arte contemporânea e completa a revolução iniciada pelo impressionismo no final do século XIX. Anarquista, comunista, depois liberal, Picasso deixou atrás de si quilômetros de lendas. Combateu o franquismo, resistiu ao nazismo em Paris, pintou Guernica (que junto com a Monalisa e a Santa Ceia, ambas de Da Vinci são as obras de arte mais famosas da história) e atravessou o século se renovando, inventando, indo sempre além das convenções, surpreendendo, subvertendo. O século XX foi o século de Picasso. E o século XXI segue a reverenciá-lo. (Ivan Pinheiro Machado)

A L&PM publica “Picassona série Biografias.

Snoopy da cabeça aos pés!

Se as tirinhas de Snoopy fazem a sua cabeça, que tal esta Melissa? O modelo Melissa Wanting + Snoopy já é objeto de desejo e vem causando frisson no mundo da moda. Algumas lojas já estão recebendo as suas e, breve, vai ter muita gente caminhando com o Snoopy por aí. No site da Melissa há um link de venda online, mas parece que ainda não é possível comprar por lá. Ainda!

E Peanuts completo volume 4, você já viu?

Todos querem ser Marilyn Monroe

Quem nunca quis ser Marilyn Monroe que atire o primeiro beijo. Linda e loura, sensual e fatal, rica e famosa, Marilyn foi desejada por todos e aclamada pelo mundo como nenhuma outra jamais foi. Mesmo em papéis menores, o público só tinha olhos (e suspiros) para ela. Mas como bem mostra o ótimo livro Marilyn, da Série Biografias L&PM, a diva não era – e nunca foi – feliz. Não que a história de Norma Jeane seja novidade. Ela mesma fez questão de expor sua vida de menina carente, os abusos que sofreu, sua mãe perturbada e mais um rosário de dramas pessoais. Insegura, Marilyn acabou se desequilibrando do salto e caindo cedo demais. O que, na verdade, só fez aumentar o mito em torno dessa que, como você pode ver aqui, todo querem ser. Qual a sua preferida?

Angelina Jolie

Naomi Watts

Madonna

Lindsay Lohan

Drew Barrymore

Nicole Kidman

Scarlett Johansson

Paris Hilton

Pamela Anderson

O ator Bruno Garcia (irreconhecível)

James Franco na apresentação do Oscar 2011

Wagner Moura (arrasou!)

Digressões de uma amante de livrarias físicas ou Uma nova forma de vender livros

Por Caroline Chang*

Começou mal a minha última viagem a San Francisco, uns dez dias atrás: nosso hotel ficava perto da Union Square e, a fim de reconhecer o terreno, para lá nos tocamos. Grandes butiques de marcas caras espalhadas ao redor da praça e, numa das esquinas, uma grande loja da Borders, em cujas vitrines faixas e cartazes anunciavam: “Closing sale”, “Everything must go”. A gigantesca rede de livrarias americanas, que já teve 1.329 estabelecimentos no país, há algumas semanas pediu falência e mesmo antes disso já vinha fechando filiais. Eu e meu marido, que trabalhou décadas no mercado editorial e teve sua própria editora, resolvemos entrar e pagar nossos respeitosos tributos à moribunda livraria. Por “everything” era isso mesmo o que eles queriam dizer: até mesmo apetrechos de cozinha outrora usados na cafeteria estavam à venda (pratos, canecas, medidores, etc). O desconto para alguns livros chegava a 60% sobre o preço normal. Um sentimento meio irracional tomou conta de mim e saí à cata de algum título que me interessasse, como que a transmitir meus pêsames ao familiar enlutado de alguém há pouco falecido. Percorri duas, três vezes as prateleiras de ficção, e a verdade é que havia muito pouca coisa sendo oferecida. Alguns livros do Dickens (que eu já tinha) e Jane Austen (idem) misturados com mancheias de romances comerciais de gosto duvidoso. Quando me dei conta de que o setor de FICÇÃO não contava sequer com uma subdivisão do tipo “Literatura de língua inglesa” e “Literatura estrangeira”, me ocorreu: talvez aquela livraria merecesse fechar, mesmo.

Para não dizer que não comprei nada, adquiri uma edição de bolso de Winesburg, Ohio, do Sherwood Anderson, por US$ 3,57.

A Border e suas ofertas / Foto: Sérgio Ludke

Dois ou três dias depois estávamos nós em North Beach, que vem a ser o bairro de imigração italiana de Frisco cujo ponto alto, para mim, foi a City Lights, livraria e sede da editora de mesmo nome de Lawrence Ferlinghetti (empresário, poeta e remanescente da geração beat que há pouco completou 92 anos e mora em cima do estabelecimento – que não tem filiais). Foi lá que Ginsberg fez a leitura do seu poema “Uivo”, publicado em 1956 pela City Lights no volume Howl and Other Poems (cuja edição brasileira, em tradução do Cláudio Willer, a L&PM Editores tem a honra de publicar). Eu achava que conhecia a City Lights da outra vez em que estivera na cidade, mas me enganara: eu jamais teria esquecido se tivesse ido àquela livraria.

Os cartazes escritos à mão são outro diferencial da City Lights / Foto: Caroline Chang

O lugar, por si só, já é fascinante e aconchegante: três andares de corredores estreitos, pé-direito alto e simpáticos cartazes humanistas ao estilo contra-tudo-isso-que-está-aí, como “People are not corporations”. Mas a cereja no sundae é a seleção de livros. Havia uma subdivisão de literatura européia! E parecia que de fato alguém havia… lido os livros e os estava recomendando para nós, leitores! Nada de rebotalho, apenas ótimos nomes e livros de autores desconhecidos porém provocadores. Num espaço várias vezes menor do que qualquer livraria de rede americana, Seu Ferlinghetti e equipe conseguem oferecer uma quantidade muitas vezes maior de boas e instigantes opções de leitura. Na City Lights, é claro, o exercício foi o contrário: tive que me segurar para não sair de lá com duas sacolas cheias. Comprei só dois livros: Merchants of Culture: The Publishing Business in the Twenty-First Century, de John B. Thompson (Polity Press, 2010) e The New York Stories of Henry James, com seleção e introdução de Colm Tóibín. E um bumper sticker da City Lights, pois já estou na idade em que a pessoa se torna carente de heróis.

Tudo convida à leitura na City Lights / Foto: Caroline Chang

Breve, a L&PM começará a vender seus e-books (e-Pub) por meio da Distribuidora de Livros Digitais. E-books de títulos clássicos e contemporâneos, como romances da Agatha Christie, Jack Kerouac e livros de crônicas da Martha Medeiros serão oferecidos ao leitor primeiramente no site das livrarias Saraiva, posteriormente em sites de outras lojas.

É só um primeiro passo, claro, que apenas pode ser dado após muitos meses de trabalho. Será que no futuro difuso as livrarias “em papel” vão acabar? Espero que não, pois sou do tipo que gosta de sobrecarregar sua mala com brochuras. Mas sei que o que eu, individualmente, gosto ou deixo de gostar não vai ter peso no desenrolar das coisas, no grande esquema da história. Ecoando o Hobsbawm, serão tempos interessantes para os leitores. Que venham.

PS – Enquanto o difuso futuro ainda não tomou inteiramente parte do presente, aproveitemos as nossas boas livrarias. Blog imperdível para quem gosta de conhecer os melhores estabelecimentos do tipo em todo o mundo: http://www.bookstoreguide.org/

PS2 – A quem interessar possa, a L&PM Editores também tem a honra de publicar Um parque de diversões da cabeça, do Ferlinghetti (long live!), em tradução de Eduardo Bueno e Leonardo Fróes.

*Jornalista e Editora da L&PM 

22. A história do fracasso de Andy Warhol… na L&PM

Por Ivan Pinheiro Machado*

Era o final de 1987 e  ainda ecoava no mundo Pop as lamentações pela morte de Andy Warhol. Um suposto erro médico, numa banal cirurgia de vesícula em fevereiro daquele ano, tinha tirado a vida do inventor da Pop Art. Europa e Estados Unidos preparavam retrospectivas de sua obra gráfica e cinematográfica. Tudo ao som de Lou Read e seu “Velvet Underground”, descobertas de Warhol.

Foi neste clima profundamente andywarhoniano que, na Feira de Frankfurt de 1987, 8 meses depois de sua morte, um agente literário ofereceu a mim e ao Paulo Lima os famosos “Diários de Andy Warhol”, um enorme calhamaço recheado de mexericos e fofocas novaiorquinas do uper jet set com aproximadamente 800 páginas que sairia no início de 1988 no Estados Unidos. É claro que nos interessamos. Nós e outros 15 editores brasileiros. Como havia uma grande procura, o agente fez um leilão via fax (não havia e-mail na pré-história) e, depois de vários lances, fizemos uma oferta de U$ 20 mil dólares de adiantamento de direitos autorais. Lá no período paleolítico, no final dos anos 80, um dólar era um dólar de verdade! Não esta merreca de hoje em dia. Um dólar chegava a ser o que hoje equivale a três reais no câmbio oficial e uns 4 reais no famoso “black”, ou mercado negro. Tudo isto em meio a uma inflação de dois dígitos ao mês. Foi assim que recebemos a “feliz” notícia que todos os outros 14 pretendentes tinham se afastado do leilão e, portanto, o livro era nosso.

Confesso que quando baixou a poeira, não chegamos a festejar muito. No começo da operação, quando vencemos o leilão, aqueles 20 mil dólares nos tiraram apenas algumas horas de sono. No final, com o livro nas livrarias no começo do ano de 1989, passaram a nos tirar noites inteiras de sono… Foi assim:

Contratamos o músico e escritor Celso Loureiro Chaves, recém chegado de uma longa estadia nos Estados Unidos, para fazer a tradução. Foram 1.000 laudas. Revisamos em tempo recorde e, finalmente, um ano e pouco depois de assinarmos o contrato, colocamos um belo livro de 800 páginas em corpo 10, formato 16 x 23 cm nas livrarias de todo o Brasil. O preço seria o equivalente hoje a uns 100 reais. Imprimimos 5.000 exemplares para que a tiragem amortizasse o preço do calhamaço. Não precisou mais do que uma semana para que nossas esperanças se esvaissem. Nenhuma reposição. Só devoluções daqueles livreiros que apostaram – como nós – e fizeram pilhas nas suas livrarias. As pilhas foram muito observadas, mas ficaram intactas. Apesar da imprensa ter dado enorme destaque. O grande investimento em direitos, tradução (eram 1.000 laudas!), papel e gráfica tinha ido pelo ralo. Foi o livro mais festejado e não-comprado da história de mais de três décadas de L&PM. E nosso primeiro contato com aquilo que chama-se fracasso editorial. Dez anos depois, decidimos acabar com as enormes, gigantescas, pilhas que se acumulavam no nosso depósito. Aí então Andy Warhol foi um verdadeiro bestseller. Vendemos os 3 mil exemplares que sobraram por R$ 10,00 na Feira do Livro de Porto Alegre de 1997. Foi o saldo mais disputado da história de mais de meio século de Feira.

Sobre o livro, vale dizer que ele foi organizado por Pat Hackett, secretária e amiga de AW, que editou e escreveu o diário baseado nos telefonemas e no convívio diário com ele. Quem espera tiradas geniais e pistas para entender o mega universo Pop, fica profundamente decepcionado. Os diários empilham ti-ti-tis de celebridades, maldades, fofocas, tricôs e não revelam mais do que um personagem fútil, deslumbrado com o mundo dos ricos e das celebridades. Em bom português, pode-se dizer que, apesar das suas 800 páginas, os diários de Andy Warhol possuem a profundidade de uma poça d’ água. E não fazem jus ao seu gênio.

A fábrica do pop

Sua primeira grande criação foi a Factory (estúdio multi-disciplinar, onde Warhol pintava, desenhava e fazia seus célebres filmes underground. Depois criou a revista Interview que tornou-se uma referência no jornalismo cultural mundial. Célebre pela “invenção” da serigrafia como forma de arte, ou da concepção da obra de arte como um múltiplo, ele influenciou gerações. Em suas mãos, o banal se transformou em objeto artístico. Fotos criaram um clima inconfundível com seus alto contrastes e cores fortes. Cada retrato recebia dezenas de versões, sendo colorizado a partir de uma matriz que era reproduzida em várias telas. AW criou também o culto à celebridade e inventou a máxima bilhões de vezes repetida de que “todos teriam seus 15 minutos de fama”. Em 1968, foi alvejado três vezes por uma ex-funcionária da Factory, doublê de dramaturga e lésbica que se prostituía para ganhar a vida. Conseguiu sobreviver. Morreu dezenove anos depois. Foi enterrado em Pittsburgh, cidade onde nasceu, descendente de uma família de judeus húngaros, e onde está hoje o Museu Andy Warhol.

Embora os diários, como livro, não façam jus a dimensão do artista, AW é o último grande esteta num mundo que banalizou-se plasticamente. Ele transformou a arte num objeto de consumo e foi o monstro sagrado das artes visuais. Tímido, adquiriu, post-mortem, a celebridade e a importância do artista que fez a última grande revolução na arte moderna. Andy Warhol também está na série Biografias L&PM.

O mito Marilyn imortalizado pelas cores do pai da pop arte

Para ler o próximo post da série “Era uma vez uma editora…” clique aqui.

Vida longa ao livro de papel

Em busca de novos leitores, as editoras estão se renovando. O novo alvo é um público que não se contenta apenas em ler os livros, mas quer também participar e interferir na história. A saída fácil parece estar nos Kindles e iPads, mas o livro de papel ainda não esgotou sua participação nesta história. Muito pelo contrário!

Editoras como a belga Die Keure provam que criatividade, ousadia e um criterioso projeto gráfico podem transformar a leitura de um livro impresso em um experiência interativa das mais interessantes. O livro Tree of Codes, de Jonathan Safran Foer, deixaria até o pai do iPad, Steve Jobs, impressionado:

Neste vídeo, o autor do livro explica como sua obra funciona:

Interativo, imersivo e sem o risco de acabar a bateria, o livro de papel é ou não é ainda uma fonte inesgotável de criatividade?

Outro exemplo de inovação editorial é o livro em 3D criado pela agência Van Wanter Etcetera para a campanha Dutch Book Week, que tem o objetivo de incentivar a leitura na Holanda. O corte das páginas forma o contorno do rosto dos autores. Até o pintor holandês Vincent Van Gogh já ganhou sua esfinge literária:

Tree of Codes foi dica da leitora Elisa Viali
Livro em 3D via Zupi

Rum em dose dupla

Prepare-se para duas doses especiais de Rum: diário de um jornalista bêbado, de Hunter Thompson. A primeira vem em formato pocket, já que a L&PM prepara o lançamento do título para breve. A segunda é “The Rum Diary”, filme baseado no livro e que traz Johnny Depp no papel principal. E vale lembrar que não é a primeira vez que Depp encarna um jornalista bebum saído de um livro de Thompson. No filme Medo e delírio em Las Vegas, ele literalmente entrou na pele de Hunter Thompson, assumindo sua careca, sua barriga e sua personalidade pra lá de maluca. Dessa vez, no entanto, as imagens revelam um Depp bem mais charmoso, vivendo Paul Kemp, jornalista que vai trabalhar em Porto Rico e, claro, acaba se metendo em muitas e alcoolizadas confusões. Em tempo: além de fã de Hunter Thompson, Johnny Depp era bem amigo do escritor que é considerado o pai do Gonzo Jornalismo.

De Hunter Thompson, a L&PM publica Medo e delírio em Las Vegas e Hell´s Angels. Rum: diário de um jornalista bêbado está previsto para chegar entre final de abril e início de maio. Leia aqui um trecho do primeiro capítulo.

Seria o mentiroso um sábio?

Em vários países do mundo, o dia 1º de abril é tido como o Dia da Mentira, a ocasião perfeita para pregar peças em desavisados e distraídos. E fazer isso sem culpa. Neste dia, toda mentira tem perdão. Mas o que parece apenas uma brincadeira lúdica e banal já motivou verdadeiros tratados filosóficos como a conversa transcrita a seguir entre Sócrates e Hípias, publicada no volume sobre Platão da Série L&PM Pocket Plus.

Nela, o filósofo sofista Hípias propõe que o mentiroso só é mentiroso porque é sábio e capaz de dizer mentiras. Como não poderia ser diferente, Sócrates o desafia. Leia um trecho:

Sócrates: – Você está dizendo que os mentirosos são, por exemplo, incapazes de fazer algo (como os doentes) ou capazes de fazer algo?

Hípias: – Capazes – digo eu – e como! Entre muitas outras coisas, de enganar os homens!

Sócrates: – Capazes então – como é de se esperar – eles são, e também multiformes, não é?

Hípias: – Sim.

Sócrates: – E multiformes eles são, e também enganadores, por estupidez e falta de inteligência, ou por malícia e certa inteligência?

Hípias: – Por malícia, com toda certeza, e por inteligência!

Sócrates: – Inteligente eles portanto são, como é de se esperar…

Hípias: – Sim, por Zeus, e muito!

Sócrates: – E inteligentes que são, não sabem o que que fazem, ou sabem?

Hípias: – E como sabem! Por isso mesmo praticam o mal.

Sócrates: – E sabendo isso que sabem, são ignorantes ou sábios?

Hípias: – Sábios, realmente – ao menos nisto: enganar.

Sócrates: – Espere aí! Relembremos o que é que vocês está dizendo: você afirma que os mentirosos são capazes, e inteligentes, e conhecedores, e sábios naquilo em que mentem.

Hípias: – Afirmo, realmente.

(…)

Sócrates: – Muito bem! De acordo com seu discurso, entre os capazes e sábios estão, como é de se esperar, os mentirosos…

Hípias: – Com certeza!

Sócrates: – Mas quando você diz que os mentirosos são capazes e sábios, você está dizendo que são capazes – caso queiram – ou que são incapazes de mentir naquilo em que mentem?

Hípias: – Capazes, digo eu.

Sócrates: – Para dizer então de forma resumida: os mentirosos são os sábios e os capazes de mentir…

Hípias: – Sim.

Sócrates: – Então um varão incapaz de mentir e ignorante não poderia ser mentiroso…

Hípias: – Assim é.

Bem, se nem Sócrates e Hípias chegaram a uma conclusão sobre o assunto, não somos nós que vamos tentar dar uma resposta num simples post. Leia a conversa completa no livro Sobre a inspiração poética & Sobre a mentira, publicado na Série L&PM Pocket Plus.