Arquivo mensais:setembro 2010

60 anos de preguiça e sátira

“Uma jornada de mil milhas começa com o primeiro passo, dizem, mas tome cuidado com este primeiro passo; é um dos grandes. Começar uma história em quadrinhos é como dar um passo no escuro. Quem sabe onde você vai parar? Eu não sabia.”

É desta forma que o cartunista americano Mort Walker introduz o livro O melhor do Recruta Zero, criação que completou 60 anos de existência este mês. Walker certamente não imaginava onde o Recruta Zero iria parar. O HQ é publicado atualmente em 1.800 jornais ao redor do mundo.

O jornalista Renato Félix, do Correio da Paraíba, realizou uma entrevista especial com Mort Walker. Veja aqui:

A L&PM publica em pocket O MELHOR DO RECRUTA ZERO com tradução de Marco Aurélio Poli.

Estreia amanhã, nos EUA, filme sobre o Uivo de Allen Ginsberg

Atenção  fãs de Allen Ginsberg, o tão esperado Howl (Uivo) está prestes a entrar em cartaz nas telas de cinema dos Estados Unidos. Para os que não leram nossos posts anteriores sobre o filme, ele gira em torno do profético Uivo, de Allen Ginsberg,  lançado em 1956 e que, sob a acusação de se tratar de uma obra obscena,   foi apreendido pela polícia de San Francisco. Depois de um tumultuado julgamento, o poema foi liberado pela Suprema Corte americana e vendeu milhões de exemplares. Dirigido por Rob Epstein e Jeffrey Friedman, o filme conta esse trecho da vida de Ginsberg e mostra o surgimento da cultura beat. No elenco estão, entre outros,  James Franco (Homem Aranha e Milk) no papel do poeta, Jon Hamm,  Mary-Louise Parker e Jeff Daniels. Torcemos para que o filme venha “uivar” no Brasil. Veja aqui seu trailer oficial.

Na Coleção L&PM POCKET, o longo poema Uivo é acompanhado do também famoso e magistral “Kaddish” e de outros poemas. Na edição em formato convencional, há um ensaio do tradutor e poeta Claudio Willer sobre Uivo que é, sem dúvida, o melhor texto de iniciação ao célebre poema. Willer dissecou os versos com a ajuda do próprio  Allen Ginsberg com quem manteve intensa correspondência.

Um livro que discute um dos mais poderosos mitos do Rio Grande

Para os brasileiros de todas as latitudes entenderem o assunto deste post:

Houve entre 1835 e 1845, no Rio Grande do Sul, a famosa “Guerra dos Farrapos”, onde o exército Farroupilha, chefiado pelo general Bento Gonçalves proclamou a República de Piratini, separando o Rio Grande do Brasil. Os motivos alegados eram econômicos, ou seja, má distribuição de impostos, etc. Embora sem a adesão da capital, Porto Alegre, a República existiu e resistiu ao poder do Império durante 10 anos. Duque de Caxias, chefe do exército imperial, comandou o final da revolução e promoveu uma espécie de “paz honrosa” com o comando rebelde. 20 de setembro de 1845 foi o dia em que assinou-se esta paz e a data é hoje conhecida como o “dia dos gaúchos”. 

Muito se falou e estudou sobre a revolução, principalmente após os anos 1920, quando foi iniciada uma espécie de “culto” político que servia às oligarquias no poder. O mito do gaúcho guerreiro aqueceu lendas e, de certa forma, estimulou o caudilhismo como uma maneira de fazer política no Brasil. A partir do golpe militar de 1964, 20 de setembro passou a ser feriado regional. A Revolução Farroupilha, apesar de servir de “modelo a toda a terra” como diz o hino riograndense composto pelo maestro Medanha, têm sido objeto de vários estudos nos últimos 20 anos. Muitos deles discutem verdades “indiscutíveis” com conceituados intelectuais levantando a cortina de fumaça que faz com este episódio seja praticamente intocável no Rio Grande do Sul.

Juremir Machado da Silva pesquisou durante três anos as causas e o processo da guerra Farroupilha. Estudou 15 mil documentos com a ajuda de mais 10 pesquisadores. O resultado foi História regional da infâmia, um livro que desnuda a Revolução Farroupilha do manto de mitos que a envolve. É um ensaio, ao mesmo tempo, sobre a história da revolta e sobre ‘a questão do mito’. Há no livro um estudo minucioso sobre o célebre combate de Porongos, onde foram massacrados mais de 100 soldados que faziam parte do batalhão dos lanceiros negros. Juremir alimenta a discussão sobre se houve ou não traição em Porongos. História regional da infâmia é um livro ímpar pela profundidade com que ataca assuntos considerados tabus no Rio Grande. É a história contada na contramão do mito. O famoso “contraditório” que estabelece a polêmica e enriquece o debate. (IPM)

Kristen Stewart na pele de Marylou Moriarty

A Bella da Saga Crepúsculo de repente se transforma na beat Marylou de On the Road. Kristen Stewart está loira, com cabelos mais volumosos, fumando e quase sempre de óculos escuros anos 50. Sob o comando de Walter Salles, a atriz gravou cenas no Canadá e foi fotografada fumando e comendo banana no set de filmagem. Em uma entrevista recente, Kristen afirmou: “Eu interpreto Marylou e eu estou enlouquecendo graças a isso. Ninguém nunca tentou fazê-la (…). On the Road é meu livro favorito, um amigo me apresentou a ele quando eu tinha 14 anos e eu já li um monte de vezes.” Mesmo assim, os amantes do clássico beat de Jack Kerouac torceram o nariz para a atriz. Se ela foi (ou não) uma boa escolha para viver a insaciável mulher de Dean Moriarty só o filme poderá dizer. Façam suas apostas.

Moleskine nos 60 anos de Peanuts

Mais uma marca célebre juntou-se às comemorações dos 60 anos de Charlie Brown e sua turma (que acontece oficialmente no dia 2 de outubro). A Moleskine, marca do mais legendário e desejado caderno de notas do planeta, acaba de lançar uma edição limitada que traz, além dos personagens de Peanuts na capa, seus gostos, afetos e desafetos na parte interna. Pra completar, vem acompanhado de uma cartela de adesivos e uma árvore genealógica que une os personagens entre si. Por enquanto, esses caderninhos especiais estão à venda no Japão, mas a Moleskine promete que logo eles chegarão em outros mercados via Amazon. Até porque, se não for assim, vai ter gente cometendo “harakiri”.

A partir de hoje em NY, a exposição sobre o homem que inventou a literatura americana

Vai a Nova York até o final deste ano? Então inclua na sua to do list a exposição sobre a vida de Mark Twain. Em cartaz até dezembro, e com uma programação diversificada, a mostra está na The Morgan Library & Museum. O material reunido na exposição ajudará você a entender o imaginário do americano que, em grande medida, é criado por Twain, através de sua literatura. William Faulkner foi categórico em seu julgamento: este foi “o primeiro escritor verdadeiramente americano, e todos nós, desde então, somos seus herdeiros”. Mark Twain foi escritor, romancista, ensaísta e mestre da sátira. Nasceu em Missouri, na Flórida, e foi lá que o escritor angariou as histórias de seus livros mais conhecidos. Viajante inveterado, Twain cruzou o Atlântico mais de uma dúzia de vezes. Visitou a Turquia, Palestina, Hawaii, Austrália, Índia e África do Sul. A exposição inclui, além dos manuscritos, uma numerosa quantidade de fotografias e desenhos para Sequência do Equador, um de seus livros. Na mostra, estão presentes também quatro páginas do maior trabalho de Twain, As Aventuras de Huckleberry Finn, chamado por Ernest Hemingway de “a fonte da literatura moderna americana”. A exposição é complementada com as cartas e correspondências, desenhos e ilustrações para as edições impressas, fotografias e objetos que pertenceram ao autor, entre outros, de O príncipe e o mendigo (Coleção L&PM POCKET).

Dentro da programação, no dia 25 de setembro, será exibido The Adventures of Mark Twain, filme de 1944. Confira, abaixo, o trailer (só para deixar você com vontade de assistir!). Para ver a programação completa, clique aqui.

Para Woody Allen, não há diferença entre um biscoito da sorte e as religiões organizadas

Saiu no jornal The New York Times dessa semana: questionado se era apropriado lhe desejar um feliz Ano Novo Judaico, Woody Allen disse “Não, não, não” com uma risada. “Isso é para o seu povo” falou ele ao jornalista. E completou “Eu não a sigo. Eu até gostaria. Seria uma grande ajuda nas noites escuras”. A religião, no entanto, está mais presente do que nunca no seu mais recente filme: “You Will Meet a Tall Dark Stranger”, que será liberado pela Sony Pictures na semana que vem. Nele, quando o casamento de um casal londrino (Anthony Hopkins e Gemma Jones) se desfaz, a mulher procura conforto no sobrenatural, o que acaba trazendo consequências imprevisíveis sobre o casamento de sua filha (Naomi Watts) e seu marido (Josh Brolin). Em uma conversa com Dave Itzkoff, Woody Allen falou sobre o filme (leia aqui a entrevista no The New York Times) e sobre suas crenças: “Pra mim, não há diferença real entre uma cartomante, um biscoito da sorte ou qualquer uma das religiões organizadas. Eles são todos igualmente válidos ou inválidos. E igualmente úteis.”

Cena de "You Will Meet a Tall Dark Stranger" com Gemma Jones e Naomi Watts - Keith Hamshere/Sony Pictures Classics

De Woody Allen, a L&PM publica em pocket Adultérios, Cuca fundida, Que loucura! e Sem plumas.

Nem Poirot conseguiu resolver o maior mistério de Agatha Christie

O carro de uma novelista inglesa é encontrado abandonado, com as portas abertas, à beira de um lago. Não há nenhum bilhete e nem sinal da condutora que sumiu sem deixar vestígios. As buscas começam, passam-se alguns dias e a polícia começa a supor que possa ter acontecido um rapto, talvez suicídio, quem sabe até assassinato. O marido da desaparecida, que dias antes havia confessado à esposa que a deixaria por outra mulher, passa a ser o principal suspeito. Os jornais noticiam o fato nas primeiras páginas.

Na capa do jornal Daily Mirror, de 7 de dezembro de 1926, o desaparecimento de Agatha Christie

A trama poderia ser a sinopse de algum livro de Agatha Christie. Mas o acontecimento não foi ficção: na realidade, teve a “Rainha do Crime” como personagem principal. Em 3 de dezembro de 1926, Agatha desapareceu, após a crise de seu casamento culminar com o marido Archie dizendo que estava apaixonado por outra, no caso, Nancy Neele. Depois de abandonar seu carro, a escritora ficou 12 dias sumida até que o empregado de um hotel na cidade de Harrogate contatou a polícia para informar que uma das hóspedes parecia-se muito com as fotos divulgadas nos jornais. Chegando ao local, os investigadores descobriram tratar-se mesmo de Agatha Christie. Ela estava registrada no hotel como nome de Theressa Neele, o mesmo sobrenome da amante de seu marido. Alguns falaram em jogada de marketing, mas o fato é que esse mistério de Agatha jamais ficou realmente resolvido. A declaração oficial foi a de que ela sofrera amnésia temporária devido a um colapso nervoso já que, na mesma época, sua mãe havia falecido.

Em cartaz: Agatha Christie

Desde 1928, a obra de Agatha Christie vem ganhando ainda mais vida graças à sétima arte. O detetive Hercule Poirot, Miss Marple, Tommy e Tuppence, além de outros personagens como Mr. Quin e Parker Pyne, foram parar no cinema. De todos os livros, O caso dos dez negrinhos foi o mais adaptado, a primeira vez em 1945 como “And then there were none” (Então Não Sobrou Ninguém) e, nos anos 60, ganhou nova versão com o nome de “Ten little Indians” (Os dez indiozinhos).  Aqui, separamos alguns dos mais célebres cartazes.

Filme de 1945, baseado em O caso dos dez negrinhos (que será publicado em HQ pela L&PM):

Filme de 1947, baseado em “Philomel Cottage”, história de Agatha publicada na revista Grand Magazine em 1924:

Filme de 1960, baseado em A teia da Aranha (Coleção L&PM POCKET):

Filme de 1963, baseado em Depois do funeral (Coleção L&PM POCKET):

Filme de 1966, também baseado em O caso dos dez negrinhos:

Filme de 1974 (Oscar de melhor atriz coadjuvante para Ingrid Bergman), baseado em Assassinato no Expresso do Oriente (publicado em HQ pela L&PM)

Agatha Christie na crista da onda

Você aí, que acha que Agatha Christie já nasceu com aquele seu  jeito de vovó, prepare-se para mudar seus conceitos em relação à Rainha do Crime. Em fevereiro de 1922, ela e o marido, Archie (Archibald Christie), partiram para uma volta ao mundo que duraria dez meses. Entre outras aventuras, o casal surfou na África e em Honolulu. Ou melhor, em Honolulu eles tentaram, como a própria escritora contou em sua Autobiografia (publicada em 1979 no Brasil pela Nova Fronteira).

“Nossa viagem foi lenta, parando em Fidji e em outras ilhas antes de chegarmos. Achamos Honolulu muito mais sofisticado do que pensáramos, com muitos hotéis, estradas e automóveis. Chegamos cedo, pela manhã, fomos para nosso quarto do hotel e, imediatamente, vendo pela janela gente a fazer surf, correndo para a praia, alugamos pranchas e mergulhamos no mar. Éramos, claro, totalmente ingênuos. Estava um dia ruim para fazer surf – um desses dias em que só os peritos vão para o mar; mas nós, que havíamos feito surf na África do Sul, acreditávamos que surf para nós, já não era mistério algum. Acontece que em Honolulu era diferente. A prancha, por exemplo, era um grande pedaço de madeira, quase que pesado demais para que o pudéssemos erguer. Deitamo-nos em cima dela e nadamos vagarosamente até os recifes, a uma milha de distância – pelo menos foi o que me pareceu. Aí, colocamos-nos na devida posição e esperamos por uma dessas ondas que nos atiram pelo mar a fora até a praia. Não é tão fácil quanto parece. Primeiro, temos que reconhecer a espécie de onda própria para isso e depois, ainda mais importante, temos que reconhecer a onda que não serve, porque se somos apanhados por uma daquelas que nos arrasta para o fundo só Deus nos poderá ajudar! Eu não era uma nadadora tão experiente quanto Archie, de modo que demorei mais tempo a atingir os recifes. Por essa altura já perdera Archie de vista; presumi que estivesse flutuando em direção à praia, negligentemente, como os outros estavam fazendo. De modo que me coloquei apropriadamente em cima da minha prancha e esperei pela onda. Ela veio. Era da espécie imprópria. Num abrir e fechar de olhos eu e minha prancha fomos atiradas para milhas uma da outra. Primeiro, a onda, depois de me arrastar violentamente para o fundo do mar, sacolejou-me muito. Quando atingi a superfície, sem respiração e tendo engolido enormes quantidades de água salgada, avistei minha prancha, flutuando a meia milha de mim, em direção à praia. Nadei laboriosamente atrás dela. Foi recuperada para mim por um jovem norte-americano que me cumprimentou com as seguintes palavras: `Escute, irmã, se eu fosse você, hoje não faria surf. Você está arriscando demais. Tome a prancha e nade direitinho para a praia.´ Segui imediatamente seu conselho.”

Agatha e sua prancha em Honolulu