Verbete de hoje: Clifford McBride

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, este Blog publicará, nos domingos, um verbete deste livro. O de hoje é  o norte-americano Clifford McBride (1902-1959).

Em 1929, Clifford McBride desenhava uma série de publicação irregular, onde o personagem principal era um tipo simpático, de meia-idade, chamado Uncle Elby. O autor resolveu colocar um cachorro na história, Napoleon, e foi o que bastou para alcançar sucesso. Grande, meio desengonçado, Napoleon conquistou os leitores e transformou o trabalho de McBride numa das melhores man-dog strip. Os mais relembrados momentos da série (páginas dominicais, já que as tiras diárias eram dedicadas ao humor) apresentaram Napoleon e Uncle Elby acompanhando um marujo muito pitoresco chamado Singapore Sam. Mesmo antes da morte do criador, Napoleon e Uncle Elby já tinham ganhado várias reedições em formato de livros e álbuns.

Mensagem

Desde quando mudamos
transamos conversamos trabalhamos
choramos & mijamos juntos
eu acordo pela manhã
com um sonho nos meus olhos
mas você partiu para NY
lembrando-se de mim Bom
eu te amo eu te amo
& teus irmãos são loucos
eu aceito os casos de bebedeira
Há muito tempo tenho estado só
há muito tempo tenho estado na cama
sem ninguém a quem pegar no joelho, homem
ou mulher, tanto faz, eu
quero o amor nasci para isso quero você comigo agora
Transatlânticos fervem no oceano
Delicados esqueletos de arranha-céus não terminados
A cauda do dirigível roncando sobre Lakehurst
Seis mulheres nuas dançando juntas num palco vermelho
As folhas agora estão verdes em todas as árvores de Paris
Chegarei em casa daqui a dois meses e olharei nos teus
olhos

Allen Ginsberg, Uivo e outros poemas

Quem quer um Andy Warhol?

No dia 7 de março, a respeitada Christie’s vai realizar um leilão com uma seleção especial de obras de arte contemporânea do período pós-guerra, entre elas várias telas de Andy Warhol. Quem sempre sonhou em ter uma obra do criador do pop em casa, este é o momento! É possível acompanhar o leilão pelo site da Christie’s e participar com lances pela internet.

Entre as telas de Andy Warhol, estarão à venda um retrato de Jackie Kennedy, dois quadros da série “Campbell’s Soup”, o quadro “Be a somebody with a body” e outro intitulado “$”.

"Jackie", 1982

"Be a Somebody with a Body", 1985

"Campbell's Soup II", 1969

"Campbell's Soup Can", 1985

"$", 1982

Além das obras de Andy Warhol, é possível sair do leilão da Christie’s com obras de outros artistas: Sherman, Hirst, Ruscha, Richter, Chamberlain e Dubuffet que também participam do evento no dia 7 de março.

Quem dá mais por um gibi?

O californiano Michael Rorrer, de 31 anos, bisbilhotava no porão da casa da sua falecida tia-avó quando deparou com uma grande caixa. Ao abri-la, encontrou nada menos do que 345 antigas HQ que pertenceram ao seu tio. Bem guardadas e bem conservadas, ali estavam raridades como as edições de estreia do Superman e do Batman. Rorrer logo percebeu que tinha algo valioso nas mãos. Só não sabia que o valor era tão alto.

Das revistas encontradas, 44 estavam entre as 100 principais da Era do Ouro dos quadrinhos americanos, que durou de 1938 ao início da década de 1950. O segundo número do Capitão América, em que ele enfrenta Hitler, também fazia parte do acervo. Estimada inicialmente em 2 milhões de dólares (R$ 3,4 milhões), a coleção foi arrematada nesta quarta-feira, 22 de fevereiro, por 3,5 milhões de dólares (R$ 6 milhões) numa casa de leilões de Nova York. O lance mais alto foi para a HQ número 1 do Batman, a Detective Comics 27, que rendeu um total de 523 mil dólares (R$ 893 mil).

E pensar que, originalmente, elas custavam apenas 10 cents…

Quem dá mais? A estreia do Batman na “Detective Comics” saiu por US$ 523 mil

O gibi da "Action Comics" com a primeira aparição do Super-Homem, de 1938, foi vendido por US$ 299 mil.

“Capitão América” contra os nazistas foi comprada por cerca de US$ 114 mil

Quem gosta de gibis, Graphic Novels e toda a espécie de HQ (raras ou não), tem que ler a Enciclopédia dos Quadrinhos. Aliás, Goida e André Kleinert, os autores, devem estar sonhando com uma caixa como a de Michael Rorrer.

Andy Warhol versus Andy X

O cineasta Jim Sharman aproveitou a onda de homenagens que marcaram os 25 anos da morte de Andy Warhol para lançar seu novo filme Andy X, que tem um mote curioso: Andy Warhol está longe de ser esquecido, é verdade, mas pelo que, exatamente, ele ainda é lembrado?

O filme foi lançado ontem na internet e pode ser assistido online mediante o pagamento de $6,99. Ainda não conferimos o resultado, mas de acordo com a crítica publicada no jornal britânico The Guardian, o filme retrata um Andy Warhol aficcionado pela fama e pelas celebridades e, de certa forma, reduzido a um ícone “cool” moderno. “Sharman parece ter se inspirado mais em biografias sensacionalistas do que na própria arte de Andy Warhol, em seus escritos ou em depoimentos de quem o conheceu”, escreveu o crítico Jonathan Jones.

Judy Garland, Billy Name, Jean Michel Basquiat e até a mãe de Andy, Julia Warhola, também aparecem no filme, que tem ares de musical, como mostra o trailer:

Para conhecer em detalhes a vida e a obra do criador da pop art, vale conhecer os Diários de Andy Warhol, que acabaram de chegar à Coleção L&PM Pocket em 2 volumes.

O adeus de Stefan Zweig

Foto dedicada aos leitores brasileiros

Stefan Zweig amou o Brasil que o acolheu. O escritor austríaco já era famoso no mundo inteiro quando chegou ao Rio de Janeiro, em 1936. Esperava encontrar “uma daquelas repúblicas sul-americanas que não distinguimos bem umas das outras, com clima quente e insalubre, situação política instável e finanças em desordem…”, como escreveu em seu livro Brasil, um país do futuro. Mas ao desembarcar, a sensação foi outra: “Fiquei fascinado e, ao mesmo tempo, estremeci. Pois não apenas me defrontei com uma das paisagens mais belas do mundo, esta combinação ímpar de mar e montanha, cidade e natureza tropical, mas ainda com um tipo completamente diferente de civilização”. Em 1941, sem poder voltar a Europa por causa da II Guerra, mudou-se para Petrópolis, no Rio, com sua segunda esposa, Lotte. Ao lançar Brasil, um país do futuro, foi acusado por alguns de ter feito o livro por encomenda do governo Vargas, o que ele fez questão de desmentir em sua última entrevista: “Em quarenta anos de vida literária, me orgulho de nunca ter escrito um livro por outra razão que a da paixão artística, e jamais visando uma qualquer vantagem pessoal ou interesse econômico.”

Em 23 de fevereiro de 1942, depois de uma alta dose de barbitúricos, Stefan Zweig e sua esposa foram encontrados já sem vida pelos empregados da casa. Abraçados na cama, eles preferiram deixar a vida “de cabeça erguida” a continuar vendo os horrores do nazismo. Sobre a mesa de cabeceira, estava uma declaração em que Zweig agradecia ao Brasil e explicava o porquê de estar indo embora tão cedo.

O último texto escrito por Stefan Zweig

Declaração

Stefan Zweig

Antes de deixar a vida, de livre vontade e juízo perfeito, uma última obrigação me é imposta: agradecer profundamente a este maravilhoso país, o Brasil, que propiciou a mim e à minha obra tão boa e hospitaleira guarida.  A cada dia fui aprendendo a amar mais e mais este país, e em nenhum outro lugar eu poderia ter reconstruído por completo a minha vida, justo quando o mundo de minha própria língua acabou-se para mim e meu lar espiritual, a Europa, se auto-aniquila. Mas depois dos sessenta anos precisa-se de forças descomunais para começar tudo de novo. E as minhas se exauriram nestes longos anos de errância sem pátria.  Assim, achei melhor encerrar, no devido tempo e de cabeça erguida, uma vida que sempre teve no trabalho intelectual a mais pura alegria, e na liberdade pessoal, o bem mais precioso sobre a terra.

Saúdo a todos os meus amigos!  Que ainda possam ver a aurora após a longa noite! Eu, demasiado impaciente, vou-me embora antes.

Stefan Zweig
Petrópolis, 22. II. 1942

Mergulhados na leitura

Enquanto isso, em Aruba, o pessoal não larga o seu leitor digital nem na hora de se refrescar. Estes aqui foram flagrados por Paulo Lima, diretor da L&PM, durante uma recente viagem que ele fez ao Caribe. São os novos tempos…

E por falar no assunto, você já conhece o catálogo de e-books da L&PM?

Um quarto de século sem Andy Warhol

Quando Andy Warhol foi hospitalizado, em 20 de fevereiro de 1987, não havia grandes preocupações no ar. Apesar de magro e anêmico, o pop artista seria submetido a uma cirurgia relativamente simples, considerada rotineira. Realizado no dia seguinte, o procedimento de remoção da vesícula  (e de uma velha hérnia) durou pouco menos de três horas e foi considerado um sucesso. Andy foi para o quarto e, sob os cuidados de uma enfermeira particular, ele assistiu televisão, telefonou para casa, falou com os empregados e, por volta da meia-noite, adormeceu. Não acordaria mais. Às 6h31min, do dia 22 de fevereiro de 1987,  Andy Warhol foi declarado morto. Segundo o hospital, a causa foi um ataque cardíaco. Mas o porquê de seu coração ter entrado em colapso ainda é um mistério.

O primeiro a saber da morte foi Fred Hughes, o braço direito de Andy, que somente no dia seguinte avisou os dois irmãos do artista, Paul e John Warhola. Os irmãos, junto com Hughes, herdaram 250 mil dólares cada um, quantia irrisória diante da fortuna de Andy.  

O elemento central do testamento de Warhol dizia respeito, de fato, ao conjunto de seus bens materiais – que logo se perceberia imenso. Esse conjunto, segundo a vontade de Andy Warhol, se destinaria à criação de uma fundação, a Andy Warhol Foundation for the Visual Arts, com o fim de sustentar financeiramente jovens artistas. O posto de presidente coube a Fred Hughes. John Warhola, e não Paul, foi designado membro do conselho de administração, com um salário anual de 100 mil dólares. Essa desigualdade de tratamento foi evidentemente uma fonte de tensão entre os irmãos Warhola. Mas essas tensões foram secundárias em relação ao ponto principal de litígio referente à herança: os irmãos não herdaram nenhuma obra de Andy Warhol. Nem um esboço. Paul não conseguia acreditar que “seu próprio irmão” não quisera lhe deixar nenhuma tela, e deixara tão “pouco” dinheiro. Ele se lembrava de que Andy lhe dissera várias vezes para pegar o que ele quisesse, mas ele deixava para mais tarde: era “orgulhoso” demais. Ele percebia agora que teria “gostado bastante” de uma Marilyn. No entanto, talvez haja razão para se colocar em dúvida “a intimidade” dois irmãos Warhola. Em 17 de maio de 1984, Andy mencionava nos seus Diários que vira entrar na Factory, com a maior surpresa, seu irmão Paul, que ele não via há… vinte anos. (trecho de Andy Warhol, de Mériam Korichi, Série Biografias L&PM)

Seu enterro aconteceu em 26 de fevereiro, um velório de corpo vestido com um terno de caxemira preta, gravata de seda, peruca platinada e óculos escuros. Estava vestido de festa. Sua última festa.

68. Um comovente relato de amor

 

No outono de 1993, a L&PM Editores lançou um livro que trazia as cartas de amor trocadas entre duas escritoras. A correspondência que Violet Trefusis enviou para Vita Sackville-West entre os anos de 1910 e 1921. Editado pro Mitchell A. Leaska e John Phillips, o livro “De Violet para Vita” foi publicado com 304 páginas e um caderno de fotos. A introdução escrita por Leaska conta um pouco da vida de ambas e de como esta paixão acabou vindo à público, somente após a morte do marido de Vita, Harold Nicolson e de Violet em 1971. 

“Como se podia esperar, o marido de Violet, Denys Trefusis, queimou todas as cartas de Vita para Violet quando seu casamento atingiu seu grau mais destrutivo e, obliterado o lado de Vita da correspondência, restou apenas a confissão em si para iluminar seu papel no caso, tornando-a, em essência, a história de Vita. Agora, dezoito anos após a morte de Violet, as cartas aqui publicadas, a sua maioria pela primeira vez, documentam seu lado desta paixão infortunada. Essa é a única justificativa para este volume.” escreveu Leaska na introdução. 

O livro publicado pela L&PM em 1993, hoje esgotado

Vita Sackville-West mais tarde seria confidente e amante de Virginia Woolf, como mostra a biografia de Virginia, publicada na Coleção L&PM Pocket.

Verbete de hoje: Nani

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, este Blog publicará, nos domingos, um verbete deste livro. O de hoje é  o brasileiro Nani (1951) que, em meados de 2012, lança novo livro pela L&PM: “Humor mais grosso, humor menos grosso”.

Em 1984, quando a Record editou um álbum com as tiras de Vereda Tropical, criação de Nani, publicadas originalmente em O Bicho e depois no Jornal do Brasil, Luis Fernando Verissimo escreveu: “O desenho de Nani tem um jeito inexplicavelmente brasileiro. É um desenho deliberadamente simples, que, no entanto, escapa do ‘faux naif’, como dizem na Praça Mauá, malandramente. Diz tudo o que quer dizer com economia, mas não tão rapidamente que falte o detalhe, que pode não ser essencial, mas é engraçado. O humor de Nani também é o humor do Brasil do nosso infortúnio: irreverente e perplexo, impaciente e pacífico. O humor de quem olha o que se passa nesta vereda tropical com uma mistura de espanto, divertimento, impotência, revolta e resignação, mas não se entrega”. Ernani Diniz Lucas é de Esmeralda, Minas Gerais, nascido em 27 de fevereiro. Desde 1972 colaborou profissionalmente em O Pasquim, Ovelha Negra, Status Humor e Ele & Ela (onde criou a divertida página mensal de Aspone) Participou das edições do Almanaque do Humordaz (seção de cartuns e quadrinhos humorísticos do Estado de Minas) e teve as histórias de seu personagem Zé Zebrinha reunidas num miniálbum da Codecri (editora de O Pasquim). Até hoje é figura constante nas revistas nacionais de humor, quer como cartunista ou quadrinista. Nani chegou a ter uma revista só dele, chamada (muito apropriadamente) Onanista. Trabalhou para a publicação de Ota, Cerol Quadrinhos Urgentes. Para Ota também colaborou nas edições da Mad (Vecchi e Record). Seu traço também esteve na Megaquadrinhos e, a partir de 1999, na revista Bundas, onde fez as páginas (charges, HQs e textos) Nani pinta e borda. Na coleção “L&PM Pocket ”, publicou Humor politicamente incorreto (2002), Foi bom prá você? (2004), É grave, doutor? (2005), Orai pornô (2005) e Batom na cueca (2008). Na Desiderata, teve editados dois livros de charges e HQs, Humor 100% sexual (2006) e Humor de bar (2007).