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Cristiana Oliveira e Luisa Thiré estreiam a peça “Feliz por nada”

Via Jornal do Brasil

A peça Feliz por nada, do livro de Martha Medeiros, estreia no dia 17 de outubro (quinta-feira), no Teatro das Artes, no Shopping da Gávea no Rio de Janeiro. No elenco, Cristiana Oliveira, Luisa Thiré e Gil Hernandez. A direção é de Ernesto Piccolo e e adaptação, de Regiana Antonini. A trilha sonora é assinada por Rodrigo Penna.

O espetáculo, baseado no best-seller homônimo de crônicas de Martha, fala de amizade. Não da amizade que começa na infância, mas da amizade que surge no meio da vida, por acaso, e que passa a ser fundamental para o resto da vida. 

Assim é a amizade de Juliana (Luisa Thiré) e Laura (Cristiana Oliveira). Elas se conhecem aos 40 anos e passam a ser inseparáveis após um episódio no aeroporto de Tóquio (Japão), quando Laura se perde das filhas. Juliana é quem a ajuda. Nasce, então, uma belíssima amizade que será posta à prova por causa de um homem, o Joca (Gil Hernandez). 

Feliz por nada não trata de um triângulo amoroso, e, sim, da relação humana. O texto trata da mulher, em toda a sua complexidade: os medos, os sonhos, as insatisfações, as inseguranças, as realizações profissionais, o sexto sentido, a atração, a paixão e o amor.  

O elenco da peça: Cristiana Oliveira,

O elenco da peça: Cristiana Oliveira, Luisa Thiré e Gil Hernandez

Na quarta-feira, 16 de outubro, Cristiana Oliveira participa do Programa Roda Viva.

Martha Medeiros com Fátima Bernardes, Giulia Gam e Anderson Rizzi

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Martha Medeiros participou do programa “Encontro com Fátima Bernardes” na quarta-feira, 18 de setembro

Na manhã de quarta-feira, 18 de setembro, a escritora Martha Medeiros participou do “Encontro com Fátima Bernardes”. No programa, Martha, junto com a atriz Giulia Gam (a Barbara da novela Sangue Bom) e com o ator Anderson Rizzi (o Carlito da novela Amor à Vida) debateu sobre como lidar com o fim de um relacionamento.

Martha Medeiros autografa seu livro A graça da coisa hoje, a partir das 19h, na Livraria da Travessa do Shopping Leblon no Rio de Janeiro.

Novo livro de Martha Medeiros chega às livrarias nas próximas semanas

A graça da coisa” é o novo livro de crônicas de Martha Medeiros que está quase chegando às livrarias. A previsão era a de que ele estivesse disponível para compra a partir de 18 de julho, mas um pequeno atraso na gráfica fará com que o lançamento ocorra a partir do dia 23 de julho.

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O Jornal Zero Hora de quarta-feira, 17 de julho, publicou uma matéria em que Martha – diretamente de Londres – falou um pouco sobre “A graça da coisa“. Leia abaixo:

Por uma vida menos rabugenta

Luiza Piffero – Segundo Caderno do Jornal Zero Hora – Pg. 3

Como uma consulta ao psiquiatra que dá certo, os textos de Martha Medeiros partem das neuroses do dia a dia e desembocam num convite para encará-las com mais leveza. Para sentar no divã com a autora, basta abrir A Graça da Coisa, livro que reúne 80 crônicas publicadas em Zero Hora e no jornal O Globo, entre maio de 2011 e junho de 2013, com lançamento nacional amanhã.

– É um convite a enxergar a vida sem tanta rabugice. Por trás de tudo, mesmo das coisas mais sérias, há algo que desperta nosso humor – diz a cronista.

A Graça da Coisa pede que o leitor se deixe conduzir por dúvidas que nem sempre querem ser respondidas, assim como insights sobre as relações humanas, comentários sobre filmes ou anedotas cômicas.

– Escrevo para compreender o que penso sobre determinado assunto, é algo pessoal que reparto com os leitores, uma terapia em grupo – explica a cronista, em entrevista de Londres, onde realiza uma imersão na língua inglesa com retorno marcado para agosto.

Do seu consultório particular, Martha emerge com a convicção de que a saída é encontrar a “graça” da coisa, sendo que essa coisa desforme é a própria vida. Sua maior satisfação é quando o leitor entra mesmo na sessão:

– Me toca muito quando me dizem que, de certa forma, participei de algum momento delicado de suas vidas… Fico impressionada como o colunista pode, à distância, interagir com a vida íntima de quem não conhece.

Do jornal ao livro, as crônicas sofreram poucas modificações. A transição é importante, diz a autora, para garantir maior vida útil ao pensamento da crônica, além de confirmar a autoria do texto, pois há versões adulteradas de seu trabalho circulando pela web. Em A Graça da Coisa, estão reunidos os escritos mais atemporais e também os preferidos pela autora – a sessão de autógrafos deve ocorrer na Feira do Livro. Por enquanto, Martha segue frequentando a The London School of English. Embora não tenha a intenção de começar a escrever em inglês, ela revela que os estudos foram impulsionados por um convite para integrar informalmente a equipe da The School of Life, iniciativa do filósofo Alain de Botton que está se estabelecendo no Brasil.

 

A graça do novo livro de Martha Medeiros

Está marcado para chegar em 18 de julho o mais recente livro de Martha Medeiros, “A graça da coisa“. A nova obra da autora que é sucesso em todo o Brasil reúne 80 crônicas que abordam o amor, o cinema, os relacionamentos, as relações familiares, entre muitos outros.

Sou uma escritora de apartamento, digo com o mesmo tom pejorativo que classificamos crianças de apartamento. Deveríamos estar cercados por jardins, margens de rio, praias abertas, mas vivemos confinados entre quatro paredes que de certa forma aleijam a inspiração. Escrever, lógico, me oferece várias oportunidades de fuga. Estou onde estou, fisicamente, mas também não estou: invento meu próprio lago, pátio, horizonte. Até que volto a ser atingida pela consciência do inevitável: não é o barulho do mar que escuto, nem o das folhas caindo nesse final de outono, e sim o de betoneiras, perfuratrizes, compactadores, rolos compressores. De poético, me restou apenas a chuva. Quando chove, a obra para. Quando chove, o helicóptero some. Quando chove, o silêncio me pisca o olho: “Aproveita a trégua e me escuta”. (Trecho da crônica “Barulhos urbanos”)

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Revista da Cultura entrevista a escritora Martha Medeiros

A Revista da Cultura traz, na sua edição de junho, uma entrevista com a escritora Martha Medeiros, realizada por Gustavo Ranieri e publicada originalmente no site da revista.  As fotos são de Tânia Meinerz.

Martha Medeiros não está à venda

por Gustavo Ranieri

Da janela da redação, no 11º andar de um tradicional edifício paulistano, à beira da Avenida Paulista, é possível mirar um grande pôster publicitário, fixado em uma banca de jornal, anunciando o último título de Martha Medeiros, Um lugar na janela. É o mesmo livro que, assim como outros de sua trajetória – já são 24 –, estão presentes também em livrarias, supermercados e nas gôndolas em lojas de conveniência e padarias de diversos lugares do país. “Estou quase vendendo mais do que pãozinho”, ela ri quando comento sobre essa popularidade no nosso encontro em seu apartamento em Porto Alegre, sua cidade natal. 

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Acontece que tamanha repercussão, consequência de seu talento para escrever sobre relacionamentos, das colunas semanais para os jornais O Globo e Zero Hora, e aquecida com o sucesso do filme Divã, adaptado em 2009 de seu livro homônimo, fizeram da escritora, a contragosto dela, um mito para parte de seus leitores: o de mulher totalmente resolvida e feliz 24 horas por dia. Martha, em suas próprias palavras, se transformou em certos momentos em uma “escritora particular”. Sim, são infindos os e-mails que recebe: pedidos de conselhos matrimoniais, de dicas para educar os filhos, pessoas querendo ganhar livros de presente, pois se consideram fãs número 1, e até o convite de um leitor que, no dia do aniversário de sua esposa, queria presenteá-la com um jantar ao lado de Martha. “Aquela que escreve nos textos faz o seu trabalho, dá suas opiniões. Isso não significa que estou com uma placa aqui de ‘vende-se’”, desabafa. Por outro lado, se sente maravilhada com o sucesso do trabalho e de saber que já introduziu muita gente na leitura. “Quantas pessoas já me escreveram dizendo: ‘O primeiro livro que li foi o teu e, a partir daí, comecei a me interessar por outros autores’. Estou com a vida ganha quando ouço isso.”

Com mais de 800 mil livros vendidos, a publicitária de formação – ela trabalhou 14 anos na área –, fez sua estreia literária com Strip-tease (1985), de poesias. A crônica só chegou dez anos depois, com Geração Bivolt, e não a largou mais. No momento, estão programados os relançamentos, com nova roupagem gráfica, dos livros DivãSelma e SinatraTudo que eu queria te dizer e Fora de mim; e em agosto ela lança uma coletânea de crônicas, ainda sem título, ao mesmo tempo que estreará no Rio de Janeiro a adaptação para o teatro do best seller Feliz por nada, dirigido por Ernesto Piccolo. Ela também está envolvida com a The School of Life, do filósofo Alain de Botton. Mas a agitação profissional é falsa. Prestes a completar 52 anos, Martha Medeiros – a mesma que tem alma de roqueira e está encantada com os livros O azarão e Bom de briga, de Markus Zusak – gosta é de ficar com a agenda bem livre, justamente para viver tudo de que gosta, incluindo o mais trivial do dia a dia. É o que nos conta nesta entrevista, na qual também falamos sobre a falta de controle sobre um texto na web, o tempo do homem consumido pela tecnologia e relacionamentos (óbvio!), mas pelo viés da “utopia”, da busca frenética pela felicidade e por um par ideal.

Seus livros estão à venda em todos os lugares possíveis. Como você observa os lados positivo e negativo dessa exposição?
Por um lado, é absolutamente sensacional, por que quem não quer trabalhar em casa, fazer seus horários, ter seus prazos, gerenciar a própria carreira sem nenhuma limitação e atingindo o público? A gente escreve para ser lido, não é? E a parte negativa, a associo mais à internet. Porque, aí sim, tu perde o controle do teu trabalho.

Você diz em relação à quantidade de textos adulterados que circulam pela rede?
Já aconteceram casos inacreditáveis com textos meus; um, por exemplo, é creditado até hoje ao Pablo Neruda e foi publicado em um livro em espanhol como sendo dele. A Fundação Neruda, no Chile, já tem uma resposta padrão de tantas consultas que eles recebem sobre se é meu ou dele. E uma vez, estava em casa num domingo e toca o telefone: era um repórter querendo que eu desse um depoimento sobre o que estava acontecendo na Itália. Eu digo: “O que está acontecendo na Itália?”. E um político importante de lá [o premier Romano Prodi, em janeiro de 2008] tinha renunciado porque havia sido “pressionado” com esse texto meu, mas que foi lido em plenário como se fosse do Neruda. Só faltou posar pelada (risos) para o Corriere della Sera, porque virou assunto de jornal.

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Qual é o nome do texto?
O nome do texto é Morre lentamente. Publiquei no Zero Hora um dia antes do feriado de Finados. E virou… Não! Chama A morte devagar. Vê como já estou me confundindo? (risos)

Daqui a pouco, você vai admitir que é do Neruda (risos)…
Estou quase admitindo (risos). O texto tem “Morre lentamente quem não sei o quê, não sei o quê. Morre lentamente…” Eram pessoas que iam morrendo em vida. Aquela coisa: não tenho assunto, vou falar sobre isso. E virou uma febre até hoje! Tem agora um francês que entrou em contato pedindo para musicar o texto. Também existem casos de má-fé. Já fizeram propaganda política no meio de um texto meu. Então, a minha falta de controle em relação ao que acontece na rede me perturba, mas não me tira o sono. A maioria das vezes é distração mesmo do pessoal, que vai passando adiante sem saber o que está fazendo. Esses PPS [slide show do PowerPoint], então, que vêm com musiquinhas, Kenny G e aquelas florzinhas (risos), eu tenho vontade de chorar. Tu fez um texto “morado”, meio malandro até, e daí botam um coral gregoriano e aquilo fica de uma cafonice total e ainda botam uma frase, uma moral da história, que nem tinha no texto original. Eu olho para aquilo e digo: “Odiaria ser autora disso aqui”. Mas sou. Digo isso em entrevistas, e sei que é até antipático: preferiria mil vezes ter menos leitores, mas que me lessem só no jornal e nos livros. Não tenho essa vaidade de ter 3 milhões de leitores.

E nem existe mais a utopia de que é possível evitar coisas desse tipo na web.
No caso da bifurcação do texto, é incontrolável. Eu ainda tenho a sorte de ser confundida com Quintana, com Jabor. É só gente quentíssima (risos). E tem esse lance também que todas as crônicas saem no jornal com o meu e-mail. Então, recebo um monte de mensagens, na maioria das vezes pessoas elogiando, algumas criticando, mas tudo com educação. Mas a quantidade de solicitação…

Que tipo de solicitação?
Solicitam primeiro: leia meu blog. Isso daí é 20 por dia. Eu não faria mais nada da vida. Tem gente que me considera uma escritora particular. Tenho pensado muito nisso. Tem muita gente que diz: “Martha, como eu me identifico com o que tu pensa”, “Parece que tu vive aqui dentro de casa”. Isso é recorrente, o tempo inteiro. As pessoas vão achando que elas são donas de ti. Aconteceu essa semana uma coisa superchata. A mulher contou a vida dela, o problema que está tendo com as filhas e ainda me pede: “Por favor, escreva um texto a respeito disso para eu colocar no Facebook das minhas filhas para elas verem. Para tu me apoiar”. Daí explico: “Olha, respeito tua dor, agradeço tua confiança, mas não é essa a minha função. Espero que tu consiga solucionar e tal”.

E ficam bravos com esse tipo de resposta?
Ficam furiosos, porque é como se eu estivesse à venda. “Martha, a minha amiga te adora, ela te ama, ela só te lê. Ela vai fazer 18 anos. Por favor, manda um livro autografado para ela. O endereço dela é tal tal tal”. Eles nem perguntam. Acham que eu vou parar minha vida, vou pegar um livro, vou aos Correios… Eu não tenho staff nenhum. Não tenho assessora, agente, secretária. Uma vez, um cara me disse assim: “Martha, quero te dar de presente de aniversário para a minha mulher. Eu te mando uma passagem, hotel e tu vem jantar com a gente no dia do aniversário dela”. Eles não têm muito noção do que é vida privada, que sou uma mulher como qualquer outra, levo minhas filhas ao colégio, vou ao supermercado, tenho uma vida. Estou tentando me entender por meio do que escrevo. Mas, por alguma razão, os textos criaram essa empatia e as pessoas acabam querendo te sugar mais do que podem. Enfim, não quero reclamar disso. Seria ridículo! Porque é fruto também de um trabalho que deu supercerto.

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E essa identificação, que acaba se tornando invasão de privacidade, não teria a ver com uma “credibilidade” sua ao falar de sentimentos?
Mas isso é uma besteira! As pessoas olham para mim e dizem: “Martha, tu é tão bem resolvida”. E digo: “Gente, é muito fácil ser bem resolvido por escrito, porque eu vou ali, escrevo de novo em outro dia, faço uma faxina no texto, repenso”. Mas eu me atrapalho como todo mundo, faço um monte de besteiras. Mas aí tu vai notando como é que tu cria um mito.

Sim, porque você se torna a mulher perfeita para os seus leitores.
Que é um pé no saco! Acaba sendo uma escravidão. Outro dia, eu falei que tinha vontade de matar uns passarinhos que me acordam às 4h da manhã e todo mundo ficou apavorado: “A santa quer matar passarinho”.

Te elevar a um pedestal como mulher perfeita não está relacionado também ao ideal da busca pela felicidade, que nunca é encontrada?
Porque não existe! Mas aí é que fiquei com mais esse rotulozinho de “a feliz”, porque tenho um livro chamado Feliz por nada. E escolhi esse título [é também o nome de uma das crônicas da publicação] porque é o meu estado de espírito. É a noção de que não existe um motivo para ser feliz. Ter um estado de espírito aberto, e isso eu tenho, para receber balaço e elogio, receber tudo, assimilar, entender que faz parte do processo de viver. Eu não dramatizo as coisas. As encrencas de trabalho e estresse do nosso dia a dia estão dentro do pacote. Isso é o que chamo de felicidade.

Mas em sua opinião, a falta de conhecimento de si próprio influencia nessa busca frenética por algo que se rotule felicidade?
Acho que isso é de cada um. Vamos entrar num papo muito psicanalítico aqui… Tem pessoas que, realmente, têm doenças. Isso é uma questão que tem que se respeitar e tratar. E tem outros casos a ver com criação, com essa sociedade maluca em que tu passa por qualquer revistaria e vê Caras. Uma coisa absolutamente irreal! As mulheres terminam o casamento e duas semanas depois estão namorando outro maravilhoso…

E saem na capa declarando: “Nunca estive tão feliz”.
É tudo maravilhoso. E ficam lindas e magras. Aí, as pessoas consomem isso. Mas também por falta de leitura, de consistência. E, quanto mais inconsistentes, mais assimilam bobagem: a fórmula de felicidade, a fulana que tem coisas que eu não tenho…

E no meio de tudo isso tem a procura pela mulher e homem ideais?
A gente está muito antigo nisso. No passado, era muito mais fácil dar essa segmentação. Ou tu era casada ou solteira. Hoje, o mundo virou um grande supermercado, tem mil maneiras de se relacionar, tu pode ser gay, pode ser solteiro o resto da vida, pode só trabalhar, pode ser pegador. E não precisa ser para sempre. A gente está mais longevo também, então, tem mais chance de mudar durante uma vida. Hoje em dia, digo por mim, acho que ainda tenho estrada, ainda posso realizar muita coisa mesmo com 50 anos, e não preciso ser a mesma que fui com 40, 30 ou 20. E continuo achando muito importante ter um grande amor. Fui casada durante 17 anos, 21 se contar o tempo de namoro. Terminei o casamento e em seguida comecei uma relação que durou seis anos. Agora, eu saí desse relacionamento e, pela primeira vez, estou sozinha mesmo. E estou muito bem, feliz, tocando o meu trabalho, mas sinto realmente como é importante ter um relacionamento, como isso te preenche a vida! Não estou falando de pegação. Estou falando de um relacionamento íntimo. O que acho que está em falta não é homem nem mulher, é intimidade. É uma coisa que tu cria e realmente tem que ter uma dedicação. Tem que estar aberto, disponível, com tempo, e isso acho que as pessoas não têm mais. Está todo mundo querendo solução mágica. Daí, fica todo mundo sozinho.

A tecnologia não teria ajudado a consumir esse tempo? Hoje, é comum todo mundo olhando o celular – e atrapalhando os outros –, até no cinema e no teatro.
Essa coisa da conexão é uma estupidez. As pessoas ficam nervosas quando esquecem o celular em casa. E elas vão jantar fora e põem o celular em cima da mesa, que é uma coisa que não consigo explicar, a não ser que tua mãe esteja passando por uma cirurgia no cérebro naquela noite. Nesse aspecto, eu me sinto completamente fora do mundo, mas até com certo orgulho. Não sou tiranizada pelo trabalho ou pela tecnologia e tenho um tempo ocioso. As pessoas têm a impressão de que sou uma workaholic, porque nego ir a tanta coisa que me convidam e sempre digo que estou com a agenda cheia. Na verdade, não existe essa agenda cheia, porque faço questão de tê-la muito livre para fazer as coisas de que gosto, incluindo deitar no sofá e ler um livro, receber minhas amigas aqui em casa, sair para viajar, ir passar um dia na praia e voltar. Isso é a minha grande matéria-prima para tudo o que escrevo e faço. Sou fã do e-mail. Como facilitou a vida! Óbvio que tenho alguns recursos, mas tudo dentro do meu controle.

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Martha, como você se situa como escritora no meio dos outros escritores? Já sentiu algum tipo de desdém de alguém que, de repente, te rejeite por você ser muito popular?
Nada. Todo mundo me trata superbem. Acho até que deve ter muito nos bastidores e entendo perfeitamente. Estou longe de ser um Cristovão Tezza, um Phillip Roth, Clarice Lispector… Eu mesma, como leitora, vejo essa tremenda diferença. Eu era uma menina que começou a escrever poesia, tive a maior sorte de conseguir ser lançada pela Cantadas Literárias, que é a coleção da Brasiliense que lançou Caio Fernando Abreu, Alice Ruiz, Leminski. Eu era publicitária. E depois passou um tempão, achei que iria ser para sempre a propaganda e a poesia, e então comecei a fazer crônicas. Me chamaram para escrever e, de repente, deu certo. É quase como se eu me sentisse culpada de ter dado certo, mas tenho plena consciência: é um texto fácil, pop, que pegou. Agora, não posso sair pelas ruas dizendo: “Perdão por eu estar vendendo”. O Feliz por nada, agora, chegou a sua 49ª edição. O pessoal suando para chegar à segunda e, de repente, estou na 49ª. E não sei explicar isso. É uma febre, as pessoas adoram. Então, se os caras quiserem malhar, entendo e deixo que malhem. Eu não tenho uma vida literária.

Você não faz questão de participar do círculo de escritores, é isso?
Sim, eu gosto mais de viajar! Agora, estou indo para Londres, vou passar um mês estudando inglês. Vou realizar com 51 anos o sonho que não pude realizar com 18. Isso, para mim, é o que eu mais amo na vida. Vou estudar um idioma que não domino bem e preciso dominar em função de outro projeto que estou me envolvendo.

Pode revelar qual?
Estou envolvida com a The School of Life (A Escola da Vida, que teve filial inaugurada em São Paulo em abril último), do [filósofo] Alain de Botton. Ele veio para o Brasil e a GloboNews fez uma entrevista separadamente comigo e com ele sobre felicidade. E o Alain viu essa entrevista depois, se interessou pelo meu trabalho e fez o convite. Não tem nada formal, não sou contratada, não sou sócia, não tem grana envolvida… É puro idealismo!  Tudo o que existe na vida de prosaico, de rotineiro, como tu pode incrementar isso com uma visão mais filosófica e como isso pode melhorar a tua relação com o mundo e com os outros.

Dentro do universo literário, além dos relançamentos confirmados, tem algum novo livro previsto?
Será lançada em agosto uma nova coletânea de crônicas, que eu faço de dois em dois anos. No Feliz por nada eram crônicas de 2009 a 2011, e agora será de 2011 a 2013. Não sei ainda o nome do livro, mas tenho uma inclinação para Simples, fácil e comum, que é o título de uma crônica e também uma busca minha pela simplificação; viver e pensar de forma mais simples.

Na edição de maio da Revista da Cultura, há uma reportagem sobre escritores, como J.K. Rowling e Nicholas Sparks, que vendem os direitos de seus livros para o cinema e chegam a roteirizar e até dirigir. Você pensa em se infiltrar nessa indústria?
Vou te dizer uma coisa: gosto de uma vida mansa (gargalhadas). Não tem dinheiro que me tire da minha paz. Eu poderia ser milionária. O que recebo de convite para isso, tu não tem ideia. Palestra seriam três, quatro por dia… E não vou a nada mais. Viver na estrada? Isso eu parei. Fiz muito. Já rodei o Rio Grande do Sul, já viajei Brasil inteiro. Agora, escolho só três ou quatro lugares por ano para ir. E essa coisa de roteirizar, é outra questão. Eu não sei fazer, então, deixo para quem sabe.

Você tem prazer de ver suas histórias adaptadas para o cinema ou o teatro?
Tenho uma curiosidade muito grande, porque delego totalmente. Não participo de roteiro, não participo de ensaio, não dou palpite. Eu entrego de uma maneira perigosa até. “Façam o que quiserem”. Daí, a primeira vez que fui ver Fora de mim, não tinha ideia do que iria ver. Não conhecia as atrizes. Mesma coisa foi com o Divã. Quando a Lília [Cabral] me ligou, autorizei e vamos embora. E todos foram assim! Doidas & Santas, com a Cissa Guimarães… É claro que bate um estranhamento. Mas tenho plena consciência de que aquilo não é mais meu. Fui só o ponto de partida para um projeto que passa a ser de equipe. Agora, o Feliz por nada vai virar peça também.

Quando estreia?
Em agosto, no Rio. O Ernesto Piccolo que vai dirigir. E eu relaxo, dou liberdade. Acho que é legal. Isso muda teu público. É manter vivo um livro, manter vivo teu trabalho. E gosto muito de teatro. Me divirto. Conheço pessoas interessantes.

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Passa pela sua cabeça publicar novamente poesia?
Tenho um material e pretendo voltar, mas não estou escrevendo. A crônica me absorveu de uma maneira! Gostaria ainda de continuar fazendo poesia, mas não adianta forçar essa barra. E gostaria de me voltar mais para ficção, que é o que tenho muito mais dificuldade de fazer, mas como leitora é o meu gênero preferido. Adoraria ser uma grande romancista, só que não vou ser nunca. Mas vou morrer tentando. Mas tem a crônica e prazo de entrega. É o meu trabalho mais burocrático.  São duas no domingo, uma para O Globo e outra para o Zero Hora. E uma na quarta-feira, para o Zero Hora também.

Independente do prazer, escrever é um ofício que te cansa em algum momento?
Não o ato de escrever. A exposição me cansa. Adoraria tirar um ano sabático, sair fora. Eu canso de mim, porque me coloco muito em tudo o que escrevo. Mas é normal também, são mais de 25 anos escrevendo.

E escrever para jornal e revista são compromissos que não podem falhar…
Não tem essa de “ficou doente”, nem nada. Se vai viajar, tem que deixar pronto antes. Mas o que me preocupa um pouco é que não tem mais assunto. O mundo não é tão original. Vejo as coisas acontecendo e não tenho vontade de comentar sobre isso mais, pois já foi comentado.

É como o Mick Jagger cantando Satisfaction mais uma vez.
Exatamente. E não tem mais o que fazer. E às vezes digo: “O que interessa o que penso sobre isso, caramba?”. O mundo está saturado de opinião. Eu preferia mil vezes não estar dando opinião e estar caminhando à beira-mar. Mas aí entra o lado profissional. Não é só porque ela é pública, tem um lado artístico, que será menos cansativo do que obturar uma cárie ou projetar um prédio.

Então, depois 28 anos de profissão como escritora, milhares de livros vendidos, adaptações de suas histórias para o teatro, cinema e TV… O que te sacia e move realmente hoje?
É tão difícil fazer isso sem parecer sentimentaloide. Eu não separo trabalho de vida. Não existe a Martha mãe, a Martha mulher, a Martha profissional, tá tudo enrolado. Reclamo que fico cansada, mas é óbvio que tenho muito prazer em escrever. E, provavelmente, se alguém dissesse: “Martha parou de escrever”, eu iria continuar escrevendo para mim mesma. O que me move é tudo. Uma vez, vi o Domingos Oliveira falando uma coisa que acho absolutamente genial. Ele adora sair para dar uma volta no quarteirão, para ver o que a vida oferece. E, cada vez que acordo, é essa a minha volta no quarteirão. Eu tenho um amor pela vida… Viver por viver… É a única coisa que a gente tem e ponto.

 

22 de maio: Dia do Abraço

Dentro de um abraço

Martha Medeiros*

Onde é que você gostaria de estar agora, nesse exato momento?

Fico pensando nos lugares paradisíacos onde já estive, e que não me custaria nada reprisar: num determinado restaurante de uma ilha grega, em diversas praias do Brasil e do mundo, na casa de bons amigos, em algum vilarejo europeu, numa estrada bela e vazia, no meio de um show espetacular, numa sala de cinema assistindo à estreia de um filme muito esperado e, principalmente, no meu quarto e na minha cama, que nenhum hotel cinco estrelas consegue superar – a intimidade da gente é irreproduzível.

Posso também listar os lugares onde não gostaria de estar: num leito de hospital, numa fila de banco, numa reunião de condomínio, presa num elevador, em meio a um trânsito congestionado, numa cadeira de dentista.

E então? Somando os prós e os contras, as boas e más opções, onde, afinal, é o melhor lugar do mundo?

Meu palpite: dentro de um abraço.

Que lugar melhor para uma criança, para um idoso, para uma mulher apaixonada, para um adolescente com medo, para um doente, para alguém solitário? Dentro de um abraço é sempre quente, é sempre seguro. Dentro de um abraço não se ouve o tic-tac dos relógios e, se faltar luz, tanto melhor. Tudo o que você pensa e sofre, dentro de um abraço se dissolve.

Que lugar melhor para um recém-nascido, para um recém-chegado, para um recém-demitido, para um recém-contratado? Dentro de um abraço nenhuma situação é incer-ta, o futuro não amedronta, estacionamos confortavelmente em meio ao paraíso.

O rosto contra o peito de quem te abraça, as batidas do coração dele e as suas, o silêncio que sempre se faz durante esse envolvimento físico: nada há para se reivindicar ou agradecer, dentro de um abraço voz nenhuma se faz necessária, está tudo dito.

Que lugar no mundo é melhor para se estar? Na frente de uma lareira com um livro estupendo, em meio a um estádio lotado vendo seu time golear, num almoço em família onde todos estão se divertindo, num final de tarde à beiramar, deitado num parque olhando para o céu, na cama com a pessoa que você mais ama?

Difícil bater essa última alternativa, mas onde começa o amor, senão dentro do primeiro abraço? Alguns o consideram como algo sufocante, querem logo se desvencilhar dele. Até entendo que há momentos em que é preciso estar fora de alcance, livre de qualquer tentáculo. Esse desejo de se manter solto é legítimo, mas hoje me permita não endossar manifestações de alforria. Entrando na semana dos namorados, recomendo fazer reserva num local aconchegante e naturalmente aquecido: dentro de um abraço que te baste.

* Crônica do livro “Feliz por nada”

No Dia do Abraço, abrace quem você gosta, incluindo seus livros

Texto atribuído a Mário Quintana vira mantra de casamentos moderninhos

Folha de S. Paulo – 03/03/2013 – Por Roberto de Oliveira

“Promete que fará sexo sem pudores, que fará filhos por amor e por vontade, e não porque é o que esperam de você…” Esse trecho do texto “Promessas Matrimoniais” vem causando burburinho e suspiros em casamentos.

É claro que nada disso acontece sob a tutela da igreja. Tratado como um poema, “Promessas” tornou-se uma espécie de mantra moderninho em oposição aos clássicos sermões dos padres. Caiu nas graças daquela turma que não é chegada às celebrações tradicionais, geralmente casais jovens, de perfil, digamos, “descolado”. Nesses eventos, assim como em redes sociais, sites e blogs sobre casamentos, “Promessas Matrimoniais” costuma ser atribuído ao poeta Mario Quintana (1906-1994), mas não é dele.

Foi criado em maio de 1998 pela escritora e colunista gaúcha Martha Medeiros, 52. O texto faz parte do livro de crônicas “Montanha-Russa“.

O casamento de Juliana Paes com o empresário Carlos Eduardo Baptista, no Rio, em setembro de 2008, ajudou a “bombar” “Promessas Matrimoniais” na web.

Só que a autoria estava equivocada.  Erro dos sites de celebridades, de quem realizou o casamento ou dos pombinhos?  Pastor queridinho dos famosos, Luiz Longuini, que celebrou a união da atriz, conta que sempre soube que o texto “era do Mario Quintana”.

Ele diz que Juliana Paes não sabia quem era o autor. “Depois do casamento descobri, pelo sucesso na mídia, que é da Martha Medeiros.” Hoje, Juliana Paes jura que sempre soube que o texto era de Martha. “Gosto desse texto faz muitos anos. Muito antes de pensar em me casar.”

Para a fotógrafa carioca Fabricia Soares, 36, o poema é “lindo”. “Há uma grande discussão na internet sobre a autoria. Uns dizem que é do Quintana, outros dizem que é da Martha Medeiros”, diz. Durante a cerimônia de sua união com o fotógrafo Alexandre Marques, 42, a juíza bolou um texto que emocionou a todos, um “pot-pourri” de trechos que falavam dos noivos, suas manias e amores, e, de quebra, enxertava partes de “Promessas”.

O ambiente era a tradicional confeitaria Colombo, no centro do Rio, em uma área reservada para um almoço com 12 convidados, entre amigos e parentes. Fabricia não conhecia o texto, tampouco o autor. A juíza de paz Lilah Wildhagen, 56, não incluiu no discurso a parte que trata de sexo. “Evito porque o Conselho de Ética pode vir em cima da gente”, justifica. “Apesar de o sexo ser inerente ao casamento, não é mesmo?” Às vésperas de celebrar 2.000 casamentos, Lilah conta que sempre usa trechos do texto nas cerimônias. “É uma forma de personalizar.”

A juíza pinça partes do texto com base em respostas de um questionário com 32 perguntas aplicado aos noivos antes da cerimônia. A autoria? Ela ignora. “É de um autor desconhecido. Na internet, dizem que é de Mario Quintana. Não é. Nem dele, nem da Martha Medeiros, nem de Carlos Drummond de Andrade. Apesar de a Martha ser genial”, diz ela.

Assim começa "Promessas Matrimoniais", de Martha Medeiros

Assim começa “Promessas Matrimoniais”, de Martha Medeiros

EFEITO COLATERAL

Segundo a professora Lucia Rebello, do Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em toda a obra de Quintana “não existe nada sobre casamento, promessas matrimoniais e sermões”. “Mesmo o estilo do texto não tem nada a ver com a poesia de Quintana.”

Martha, a verdadeira autora, lembra que talvez a ideia de escrever a crônica tenha surgido quando ela foi a um casamento de uma amiga. Antes de entrar com os tópicos iniciados com a palavra “promete”, ela faz uma introdução na qual explica que “achava bonito o ritual do casamento na igreja, com seus vestidos brancos e tapetes vermelhos”, mas que o sermão do padre lhe desagradava.

“Promete ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-lhe e respeitando-lhe até que a morte os separe? [sic]’ Acho simplista e um pouco fora da realidade. Dou aqui novas sugestões de sermões.”

Segundo a escritora, há uma série de textos creditados a ela incorretamente e textos seus atribuídos a outras pessoas. “É uma chatice com a qual a gente tem que aprender a conviver”, diz. Martha considera “impressionante” o volume de créditos errados veiculados na internet. Cita nomes como Carlos Drummond de Andrade, Caio Fernando Abreu e Clarice Lispector, que também costumam ser “vítimas” desse “troca-troca autoral”. “Confesso que não gosto, mas não dá para fazer disso uma cruzada. É um efeito colateral da internet”, diz ela.

A escritora avisa que não gostaria de parecer “antipática”, mas que preferiria ser lida só em seus livros e nos jornais. “Além de autoria trocada, colocam enxertos, dão outros finais às histórias, criam finais melosos.”

Seja do poeta, seja da cronista, o que importa para esses casais é tentar cumprir as promessas. E ser feliz!