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60. Sou o marinheiro Popeye

O blog da L&PM Editores concedeu férias ao editor Ivan Pinheiro Machado*. Sendo assim, o “Era uma vez… uma editora”, série de posts assinados por ele – e publicados neste espaço todas as terças-feiras -, será um pouco diferente até o final de janeiro. Neste período, mostraremos alguns livros que fazem parte da memória da editora. Como “Popeye”, que pertencia à antiga Coleção Quadrinhos L&PM e cuja edição era comemorativa aos 60 anos do marinheiro viciado em espinafre.

Publicado na primavera de 1989, “Popeye” tinha formato 27,5cm x 21cm e trazia duas histórias: “O Rei da Nazília” e “Popeye, Rei da Popilândia”. Com tiras desenhadas por Segar entre janeiro e março de 1933, o livro tinha prefácio de Goida, um dos autores da Enciclopédia dos Quadrinhos, relançada este ano pela L&PM.

*Toda terça-feira, o editor Ivan Pinheiro Machado resgata histórias que aconteceram em mais de três décadas de L&PM. Este é o sexagésimo post da Série “Era uma vez… uma editora“.

Verbete de hoje: Bud Counihan

 

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, o Blog L&PM publicará, nos domingos, um verbete do livro. O de hoje é  o norteamericano Bud Counihan.

Embora todas as páginas da personagem Betty Boop fossem assinadas por Max Fleischer, o verdadeiro desenhista das mesmas era David Francis “Bud” Counihan. Nascido em St. Louis, ele mudou‑se para Nova York em 1910. Logo estava colaborando para a série “Little Napoleon”. Foi assistente também de Chic Young nas HQs Dumb Dora e Blondie. Escolhido para ilustrar “Betty Boop” (que se baseava nos desenhos animados produzidos por Max Fleischer), Counihan conseguiu manter um bom padrão na série. Apesar de sua pouca duração (1934-1937), essas tiras foram marcadas pelo talento de seu criador nos quadrinhos. Para saber mais: Betty Boop (imagem), coleção “Opera King” da Opera Graphica Editora (2003).

Verbete de hoje: Liniers

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, o Blog L&PM publicará, nos domingos, um verbete do livro. O de hoje é  o argentino Liniers (1973)

As tiras de Macanudo, publicadas no La Nacion, de Buenos Aires, são de uma criatividade sem-fim. Liniers (o pseudônimo de Ricardo Siri), desde o início de 2002, faz algo que o diferencia no mundo das HQs. Às vezes, a tira chega a ter 25 quadros. O formato muda todos os dias. Os numerosos personagens são originais e muito engraçados. A menina Enriqueta, o gato Fellini e o ursinho de pelúcia Madariaga aparecem com mais frequência, mas não são mais importantes que os pinguins; Oliverio, a azeitona; gente que anda por aí; a vaca Cinéfila; as ovelhas lanudas; os duendes; o homem‑lobo (que nos dias de lua cheia vira pinguim); o senhor da cabeça pequena; Z-25, o robô sensível; o homem que traduz o nome dos filmes; Ramindez, o melancólico; coisas que passaram a Picasso; Alfio, a bola troglodita e por aí vai. Fontanarrosa (que faleceu em 2008) sempre foi um grande admirador de Liniers. “Tudo parece um pouco ingênuo”, garante ele, “mas cuidado, desprevenido viajante. É a ilusória ingenuidade de um leão cercando uma gazela”. Publicada na Argentina em álbuns pelas Ediciones de la Flor, Macanudo ganhou tradução no Brasil através da Zarabatana Books.

Verbete de hoje: Marge

 

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, o Blog L&PM publicará, nos domingos, um verbete do livro. O de hoje é  a norte-americana Marge (1904-1993)

Com o seu nome real, Marjorie Henderson Buell, ela é uma ilustre desconhecida. Agora, com o pseudônimo artístico, Marge, todo mundo sabe: é a mãe-criadora de Little Lulu (Luluzinha), Tubby Tompkins ( Bolinha) e Little Alvin ( Alvinho). No início, Little Lulu foi “gag cartoon” nas páginas do Saturday Evening Post (1935). O sucesso fez com que a Western Publishing Company obtivesse os direitos para comercializar Little Lulu em forma de comic books (1945) também em tiras diárias (1955-1967). Para todo esse trabalho, Marge contou com o auxílio de vários colaboradores, em particular John Stanley, Woody Kimbrell, Roger Armstrong e o roteirista Del Connel. No domínio do merchandising, Little Lulu e seus amigos venderam-se para os mais diversos produtos, ganhando igualmente uma série de desenhos para a TV. Até 1972, Marge manteve controle geral da série, que existe ainda, com propriedade da Western. As melhores recompilações, porém, são de histórias feitas na década 50 e 60.

Os originais: Luluzinha e Bolinha como Marge começou a desenhar

Verbete de hoje: Mort Drucker

 

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, o Blog L&PM publicará, nos domingos, um verbete do livro. O verbete de hoje é Mort Drucker (1929)

Nos últimos anos, raro foi o filme ou série de TV de sucesso não caricaturizado por Mort Drucker nas páginas da revista Mad. No início, seu estilo ainda poderia lembrar algo de outro grande artista colaborador da Mad, Jack Davis. A continuidade de seu trabalho, entretanto, foi limpando qualquer influência estranha. Quem tentou imitar Mort, por exemplo, foi um artista menor da Mad, Ângelo Torres. Com roteiros de Dick de Bartolo e Stan Hart, Mort muitas vezes em suas sátiras misturava elementos (por exemplo, Sean Connery aparecendo num filme de James Bond interpretado por Roger Moore), com resultados hilariantes. Sua capacidade de caricaturar figuras do mundo do cinema, da TV e da vida sociopolítica-cultural norte-americana foi impressionante. Mesmo no caso de filmes considerados clássicos e sérios (como 2001, Perdidos na noite, Quem tem medo de Virgina Woolf? ou Platoon), o trabalho de Mort é tão criativo e engraçado que a gente acabava perdoando sua irreverência iconoclasta. Mort Drucker, antes de se tornar colaborador quase exclusivo da Mad, desenhou, entre 1948 e 1956, os quadrinhos de Abott e Costello.

Verbete de hoje: Gilbert Shelton

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, o Blog L&PM publicará, nos domingos, um verbete do livro. O verbete de hoje é Gilbert Shelton (1940)

Ao lado de Robert Crumb (veja em C), Gilbert Shelton é o mais popular desenhista dos quadrinhos do underground norte-americano. Seus Freak Brothers (Fat Freddy, Phineas e Franklin) são os reis da confusão de sexo, drogas, ócio, bagunça, birita, festas e rock’n’roll. Shelton, agora estabelecido na Califórnia, nasceu em Dallas, Texas. Ao contrário

de seus anti-heróis, trabalhou duro seis horas por dia na sua Rip Off Press, produzindo histórias cada vez melhores. Começou a carreira no Texas Ranger, publicação subterrânea da Universidade do Texas. Seu primeiro personagem de sucesso, Wonder Hart-Hog, o suíno de aço, era um porco machista, reacionário, repressor e chauvinista. A figura se tornou best seller da revista Help, lançada em 1965 por Harvey Kurtzman (veja em K). A consagração de Shelton aconteceu, porém, com o lançamento dos Freak Brothers em 1967, numa revistinha comix Austin Rag. Em 1968, Shelton mudou-se para a Califórnia onde, depois de algum tempo, junto com amigos, fundou a Rip Off Press. The Freak Brothers é o veículo através do qual Shelton ironiza e denuncia o ilusório “sonho norte-americano”. Também não perdoa os seus anti-heróis, colocando-os como ridículas figuras de uma sociedade marcada pelo moralismo de

fachada e um reacionarismo selvagem. As histórias dos Freak Brothers são geralmente acompanhadas pelas aventuras do Gato do Fat Freddy, deliciosas e irreverentes também. No Brasil, The Freak Brothers apareceram pela primeira vez em 1972, na revista Grilo, e posteriormente ganharam álbuns pela coleção “Quadrinhos L&PM”. Saíram dois volumes com as aventuras dos Freak Brothers e um com o Gato do Fat Freddy. A Conrad também lançou dois álbuns (2004 e 2005) com os personagens.

Verbete de hoje: Phil Davis

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, o Blog L&PM publicará, nos domingos, um verbete do livro. O verbete de hoje é Phil Davis (1906-1964)

Poucos desenhistas da época do ouro dos quadrinhos norte-americanos têm o prestígio de Phil Davis, principalmente na Europa. Alain Resnais, o diretor de Hiroshima, Mon Amour, disse que se inspirou em muitas imagens de Davis para criar o seu O ano passado em Marienbad. Federico Fellini, outro admirador, disse que sempre quis filmar as narrativas de Phil. Nascido em St. Luis, Missouri, em 4 de março, Davis, até os 28 anos, trabalhou principalmente como ilustrador e publicitário. Em 1933, ele encontrou um conterrâneo, Lee Falk (veja em F) e juntos criaram um dos personagens mais famosos do King Features Syndicate: Mandrake, the Magician. No princípio (1934), as aventuras de Mandrake, sempre junto com o seu fiel auxiliar Lothar e depois com a “noiva” permanente, Narda, eram quase convencionais. Logo em seguida, porém, a dupla Falk/Davis, além dos poderes mágicos dados a Mandrake (na verdade, um mestre no hipnotismo), aumentou a dose do imaginário/ fantástico. Mandrake e seus companheiros passaram a visitar mundos paralelos, outras civilizações, o fundo do mar, invasores do espaço, em cenários que primavam pela criatividade. O traço foi eliminando detalhes supérfluos, tornou-se até mais duro que no princípio, mas os mundos que Davis criava eram realmente mágicos. Mandrake foi vendido (e vende até hoje) em todos os quatro cantos da Terra. Lamentavelmente a saúde de Phil não era boa. Nos seus últimos anos de vida, o desenhista foi muito auxiliado por sua esposa, Martha, que já tinha fama como figurinista e estilista de moda. Quando Phil morreu de um ataque cardíaco, Martha tentou continuar sozinha as tiras e páginas dominicais de Mandrake, mas realmente não tinha pique para tanto. A série passou então para as mãos de Fred Fredericks.

Verbete de hoje: Peyo

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, o Blog L&PM publicará, nos domingos, um verbete do livro. O verbete de hoje é PEYO:

Asterix, Lucky Luke e os Smurfs. Sem dúvida, e nessa ordem, eis os personagens de humor mais conhecidos da escola franco-belga. Enquanto os dois primeiros destinam-se também ao público adulto, os Schtroumpfs (como se chamam no original) fazem a alegria principalmente da garotada. Estão em muitos outros meios também: ajudam a vender os mais variados produtos e viraram inclusive desenhos para o cinema e a TV. Os Smurfs é a criação mais conhecida do desenhista Pierre Culliford, que sempre assinava seus trabalhos como Peyo. Nos quadrinhos desde 1945, foi companheiro de Jijé, Franquin, Morris e Paape (todos citados nesta obra). Desenhando para o jornal La Derniére Heure, Peyo criou um personagem chamado Johan, que vivia suas aventuras marcadas pelo humor na Idade Média. Quando “Johan” foi para a revista Spirou, a série enriqueceu-se com outras figuras, e nela surgiram os pequenos duendes chamados Schtroumpfs. Fizeram tanto sucesso que Johan desapareceu e eles tomaram conta de tudo. Mudaram inclusive a vida de seu ilustrador, que criou uma empresa para cuidar dos múltiplos caminhos por onde passaram a caminhar seus pequenos duendes. Peyo foi igualmente o criador de “Benoit Brisefer”, um garoto de força sobre-humana (1960), série depois continuada por Will e Walthéry.

Enciclopédia dos Quadrinhos

por Jorge Furtado*

Ótima notícia: acaba de ser lançada pela L&PM a nova “Enciclopédia dos quadrinhos”, do Goida e do André Kleinert, muito ampliada e atualizada. São mais de 500 páginas com o que há de melhor na história dos quadrinhos no Brasil e no mundo. O livro tem muitas e boas ilustrações, bibliografia e referências, incluindo sites, e ainda uma pequena história da história em quadrinhos, do Goida. É um daqueles livros fundamentais, que para de pé na estante e ao qual sempre voltamos. Presente de Natal perfeito para pais e filhos espertos.

Os quadrinhos vão muito bem, obrigado. São tantos os bons lançamentos que fica difícil escrever sobre eles, há que se encontrar tempo para lê-los. Enquanto as indústrias da notícia, da música e do audiovisual travam uma luta inglória contra a internet, os livros – especialmente os livros bonitos e com boas ilustrações – aumentam sua vendas: nada como o papel para ler ou apreciar bons desenhos. (…)

Reproduzo aqui parte de um texto que escrevi (no século passado) sobre quadrinhos:

Aviso que não sou nem de longe um conhecedor do assunto. Sei o nome de bem pouca gente e detesto a maioria dos novos gibis que estão nas bancas, quase todos envolvendo heroínas modelo barbie (peitudas de cintura fina) enfiadas em roupas colantes de borracha, saltando de nada para lugar nenhum enquanto disparam armas ridículas e dizem coisas que eu nem cheguei a ler mas aposto que são bobagem. Me interesso pelos quadrinhos pelo mesmo motivo que me interesso por cinema, literatura, artes plásticas ou qualquer forma de expressão dos nossos medos e desejos: o prazer de entrar em contato com o que os seres humanos tem de melhor e me sentir menos estranho numa terra estranha.

Quadrinhos só são tratados como arte de segunda categoria por quem: a) não teve a sorte ou a curiosidade intelectual de conhecê-los; b) ao conhecê-los, não teve a sensibilidade ou paciência para distingui-los; c) é ignorante mesmo. Para quem não gosta e se enquadra nas categorias a ou b, sugiro a leitura de “Desvendando os Quadrinhos“, de Scott McCloud, um estudo ainda mais abrangente que o clássico “Quadrinhos e Arte Sequencial“, do Will Eisner. É um curso completo, melhor que a maioria dos livros sobre cinema que eu conheço.  McCloud analisa com perfeição o nascimento simultâneo da representação pictórica e da palavra escrita no teto das cavernas. Imagem e palavra nasceram juntas, representando um homem, um boi ou uma arma de caça. Lentamente o ícone se afasta da imagem que o gerou e o homenzinho vira a letra T ou A, e o boizinho vira Mu e logo ninguém lembra mais porque e surgem as escolas de alfabetização. Pobre do Ivo, vê a uva mas não sabe como se escreve.

Cinema e quadrinhos são formas de expressão muito semelhantes, pelo uso simultâneo de imagens e palavras. (Na manipulação de ritmos e no fazer sentir o passar do tempo, cinema se parece mais com música. E na construção dramática, com o teatro.) Detesto usar a palavra arte, mais gasta que corrimão de asilo, para definir qualquer coisa, mas partindo da definição de Gombrich de que “não há arte, só há artistas”, acho que há cada vez mais arte nos quadrinhos e menos no cinema. O cinema é cada vez mais (sempre foi) uma forma de expressão coletiva. O cinema é cada vez mais (nem sempre foi) um negócio. O artista raramente convive bem com as dezenas de filtros que a indústria coloca entre intenção e gesto. Seria impossível para Robert Crumb sobreviver a uma série de reuniões com agentes, produtores e patrocinadores para fazer seu primeiro filme. Bem mais fácil para ele foi abrir um caderno e riscar com um lápis. Que depois tenha virado capa de disco da Janis Joplin ou frequentasse milhares de pára-lamas dos caminhões americanos foi conseqüência do seu talento, óbvio até para o pior dos fariseus.

Texto integral publicado no “Não” em 12.06.1999:
http://www.nao-til.com.br/nao-63/imagens.htm

*Jorge Furtado é diretor de cinema, roteirista e escritor. Pela L&PM publicou Meu tio matou um cara. O texto acima foi escrito originalmente para o blog da Casa de Cinema de Porto Alegre e postado em 07 de novembro de 2011.

Verbete de hoje: Jim Davis

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, o Blog L&PM publicará, nos domingos um verbete do livro. O verbete de hoje é JIM DAVIS:

Depois de trabalhar por algum tempo como assistente de Tom K. Ryan (o criador da tira Tumbleweeds Kid Farofa, no Brasil), Davis estava pronto para lançar sua série própria. Surgiu, em 1978, através da United Feature Syndicate, Garfield, uma animal strip sem grandes novidades ou aparentes possibilidades de sucesso. Afinal, os felinos já haviam frequentado demais os quadrinhos, desde O gato Felix, de Pat Sullivan (década de 30), A gatinha Princesa, de Ruth Carrol (década de 40) até o Fritz, the Cat (década de 60), de Robert Crumb, isso para citarmos apenas os mais famosos. Garfield (imagem), porém, surpreendeu. Gordo, preguiçoso, hipócrita com o seu dono e o cachorro desse, esse novo gato dos quadrinhos em pouco tempo se tornou o “best seller” da UFS. Veiculado em mais de 2.500 jornais do mundo inteiro, Garfield transformou-se num grande e duradouro sucesso. Seus álbuns vendem como água, assim como as mercadorias diversas com imagens desse gato gorducho. Até no cinema Garfield foi parar (dois longas-metragens, onde se misturam atores reais e o gato feito por animação computadorizada). No Brasil, além dos pockets feitos pela L&PM – já em dez volumes, publicados entre 2005 e 2010 – há uma edição especial, com mais de 600 páginas e 2.582 tiras, na coleção “L&PM Série Ouro” (2009).